Carl Pov's
Abro meus olhos e os pisco rapidamente diversas vezes. Já faz três dias que ando acordando assim, tentando sair desse pesadelo terrível em que me encontrava. O sol entrava pela varanda, eu conseguia ouvir o barulho da comunidade e o típico aroma de bolo que me cercava toda manhã. Mas ainda faltava algo, algo que não poderia nunca ser substituído ou esquecido. "Balões verdes" duas palavras que estariam pra sempre comigo, pra sempre cercando minha mente e perturbando meus sonhos. Duas palavras que por pouco não seriam ditas, duas palavras que saíram como um tropeço por cada sílaba. Como um tropeço por causa de um taco, que destruiu o que um dia foi minha namorada.
Tento não chorar mas foi em vão, as lágrimas já invadiam meu rosto e a dor voltava ao meu peito. Não conseguia aceitar, porque se eu aceitasse significaria que tudo realmente acabou. Já fazem três dias que estou assim, sem raciocinar direito e sem saber o que fazer. Meu pai vem aqui quase sempre, ele não fala nada somente vem ver como estou. Talvez ele ache que eu tentaria me matar mas eu nunca o faria. Nina jamais me perdoaria por isso.
Jogo minhas pernas para o lado de fora da cama e me levanto, sigo em passos cambaleantes para o banheiro e tento ao máximo ficar apresentável, mas não é fácil quando se está acabado. A luz do sol me atinge completamente quando saio de casa, e a normalidade que Alexandria se encontrava me incomodava um pouco. É como se ninguém estivesse sofrendo, como se ninguém sentisse falta dela. Mas eu sei que estava errado. Sigo pela rua tentando afastar essa sensação de angústia que havia dentro de mim.
No fim da rua vejo Glenn, ele estava parado em frente ao túmulo, toda manhã ele estava lá pra ser exato. Ele é o único que entendia pelo que eu estava passando, e se sentia do mesmo jeito que eu. Talvez pior, visto que o que ele e Nina tinham era algo que nunca serei capaz de explicar, o vínculo mais forte que vi em toda minha vida foi o deles. Glenn se levanta e coloca um boné na cova, me viro pra ele e sigo em sua direção.
- O que é isso? - pergunto.
Ele se vira pra mim e vejo seu rosto pálido, olheiras e olhos vermelhos. Me enxerguei nele, estávamos acabados.
- Nina me deu no meu aniversário, fomos num jogo de baseball.
Assinto, e sento ao seu lado.
- Sinto falta dela. - sussurra Glenn.
Suspiro.
- É, eu também.
Ele se apressa pra enxugar uma lágrima que escorre em seu rosto.
- Ela com certeza iria mandar a gente parar de chorar. - falo.
Glenn ri e eu o acompanho.
- "Não chorem que nem bebês, otários." - brinca Glenn, imaginando o que ela falaria.
Sorrio, isso era exatamente o que ela ia dizer.
- Disse pra ela que iríamos viver, que tudo ia ficar bem. Prometi a mim mesmo que nada machucaria ela, e eu falhei.
- Você não falhou, você deu seu melhor, mas tem coisas que não podemos enfrentar. - digo. - O que precisamos agora não é se culpar, é pensar no que faremos.
- Vamos matar ele. - diz Glenn.
Isso não é algo que o Glenn que conhecia diria, ele ficaria em silêncio e deixaria o grupo decidir o melhor caminho. Ele apoiaria mas não sujaria as mãos sem ser necessário.
- É, nós vamos. - concordo.
Ele enfia a mão no bolso e tira um papel um pouco amassado, olha pra ele por alguns segundos e o entrega pra mim. Era uma foto, minha e da Nina, tiramos quando chegamos aqui. Ela estava feliz e sorria, enquanto eu olhava pra ela como um tonto. Eu tinha uma foto como essa mas não sabia onde ela estava. Me concentro pra não deixar nenhuma lágrima escapar e levanto minha cabeça em direção a Glenn.
- Você não quer? - pergunto.
- Tenho a foto da minha família, não preciso desta. Sem contar os quinze anos de memória. - ele garante.
Assinto e a guardo no meu bolso. Encaro a cova, Nina Rhee estava escrito na madeira em letras de forma e era horrível pensar que ela estava ali. Sem vida, sem cor, sem encher o saco de ninguém, sem me provocar, sem sorrir. O boné dos Giants junto a cova, como um lembrete do que ela sempre foi. Uma torcedora. Continuamos ali, parados e encarando o nada. Tentando entender como iríamos prosseguir agora.
- O que vamos fazer sem ela? - pergunto.
- Eu não tenho a mínima ideia.
Suspiro e caio deitado na grama. Encaro o céu, sei o quanto ela gostava disso. As nuvens brancas estavam por todo o lado, a brisa suave batia em meu rosto e sol me esquentava. Mas não era o bastante, acho que nada nunca seria o bastante. Fecho meus olhos e tento senti-la comigo, sentir seus dedos acariciando meu braço, sentir seus lábios junto aos meus, seu olhar me encarando. Sorrio, mesmo sabendo que se alguém olhasse pra mim agora me acharia um idiota. Vamos matar o Negan e ele vai pagar pelo que fez, Glenn terá uma vida normal do jeito que ela queria. Era o mínimo que eu podia fazer. Ela era minha nova esperança.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.