As palavras de _____ resoavam dentro da minha cabeça enquanto eu tentava digerir o que ela havia acabado de dizer.
Respirei fundo.
— Você tem certeza disso? — perguntei, tentando acalmar, tanto ela, quanto a mim mesmo.
— Bem... — disse _____ pelo celular. — Não, mas eu sinto que alguma coisa aconteceu com ele, pois eu liguei para todas as pessoas que os meninos sabem que são conhecidos do Jimin e todos disseram que ninguém viu ele na festa. — eu podia sentir a angustia dela pelo aparelho.
— Mas isso não quer dizer que ele esteja desaparecido. — conclui. — Era uma festa _____, você realmente acha que as pessoas lembram claramente do que aconteceu? Além do mais...
— Bom então tente falar com ele e mande ele vir para casa. — disse irritada, me interrompendo e desligando o celular logo em seguida.
— Mas que merda! — praguejei, bloqueando o celular e guardando no bolso da calça.
— O que houve? — perguntou Yoongi ao meu lado.
— _____ acha que Jimin desapareceu. — disse enquanto retomávamos a caminhada até o carro.
— Como assim? — disse o mais velho com a testa franzida.
Destranquei o automóvel e ambos entramos ao mesmo tempo.
— Não sei. — coloquei a chave na ignição e dei ré com o carro, até que a luz do sol nos atingiu. — Provavelmente ele deve estar na casa de alguma garota. — disse enquanto manobrava para a saída.
— Duvido muito. — disse Yoongi. — Os anos passaram, Jimin continua o mesmo menino de sempre, é bonito e sexy, mas idiota demais para conquistar uma garota.
Por incrível que pareça, em meio a todas as últimas noticias, eu ri ao me lembrar de todas as garotas na qual Jimin estava apaixonado, mas que nunca evoluíram para algo á mais do que beijos e amassos.
Ao chegarmos no portão, Yoongi desceu novamente e repetimos o mesmo processo de quando entramos. Ao pegarmos a estrada, voltando ao centro da cidade, eu continuava a me questionar sobre o que Barata disse, mas eram tantos pontos que não ligavam a nada. Nenhuma resposta. Apenas mais e mais perguntas.
— Ele não atende. — a voz de Yoongi me desperta dos meus pensamentos.
Olhei para a rua. Estávamos parados na sinaleira, os carros passavam correndo, cruzando a nossa frente, um monte de vultos sem importância.
— Eu não sei o que fazer. — desabafei, seguido de um suspiro.
Desde que saímos d’O Buraco essa frase vem ecoando no fundo dos meus pensamentos, até que eu finalmente a disse em voz alta. Pelo canto do olho eu podia ver Yoongi me encarando. Eu não queria falar aquilo, pois sabia o que aconteceria; se um chefe não sabe o que fazer, quem mais saberia? Era uma crise sem dúvida e nessas horas é que o chefe, o pilar central, deveria mostrar a sua força e resolver o problema.
Mas eu estava perdido.
Um apito soou chamando a minha atenção para a rua novamente. Era um apito que a prefeitura instalou para que os cegos soubessem quando deveriam atravessar ou não. Quando o sinal ficou verde eu coloquei minha mão e dei a marcha, pisando no acelerador no exato momento em que uma van preta cruza a nossa frente, me forçando a pisar no freio.
Por causa da súbita mudança de ação, tanto eu quanto Yoongi tivemos nossos troncos lançados para frente, o impacto com o painel só foi impedido, pois ambos estávamos de cinto de segurança. Mas eu não tive muito tempo para sequer entender o que houve, nem mesmo passou pela minha cabeça aquilo ser um acidente. No mesmo instante em que eu elevei meus olhos para o automóvel a porta lateral foi aberta e de lá foi jogado um homem, que outrora tinha cabelos vermelho-alaranjados e agora eram da exata cor do sangue.
— JIMIN! — gritei.
No tempo em que eu e Yoongi levamos para desafivelar o cinto e sair do carro, a van já havia partido, sem nem ao menos mostrar um rosto sequer. Yoongi seguiu a van, puxando uma pistola, o mais velho atirou, fazendo alguns civis correrem desesperados, até o automóvel sumir de vista. Quanto a mim, fui até Jimin, segurando o mais novo que começava a deslizar pelo carro.
Tentei ser delicado, ao menor toque o ruivo gemia de dor. Jimin estava amarrado com cordas que cortavam a sua pele, puxei um canivete e cortei as cordas das mãos e dos pés. Nesse momento Yoongi chegou e com sua ajuda eu pude virar o mais novo de barriga para cima. O rosto do mais novo estava praticamente coberto de sangue, eu nem conseguia distinguir onde estava o ferimento que causou tudo aquilo. Apoiei sua cabeça em minha mão esquerda e pude sentir seu cabelo molhado, então pude notar que seu cabelo estava naquela cor pois era sangue de verdade.
— Jimin! — chamei, com urgência, desesperado por qualquer sinal de que ele pelo menos estava consciente. — JIMIN! — gritei.
O ruivo gemeu baixinho, apertando os olhos e depois abrindo um pequeno feixe, mostrando os olhos castanhos.
— Jimin! — chamei, novamente. — Você vai ficar bem agora.
O mais novos não parecia entende muito do que eu falava, mas sorriu, o mesmo sorriso de sempre, mesmo com dor era algo imutável, mas com isso seus olhos se fecharam e eu voltei a ficar preocupado.
— F... — um pequeno som de f saiu de sua boca.
— O que? — aproximei meu ouvido de sua boca, tentando escutar por sobre o barulho das pessoas desesperadas e das sirenes ao longe.
Jimin tossiu forte, um pouco de sangue jorrou de sua boca, sujando a lateral de meu rosto.
— Chefe, não força. — disse Yoongi ao meu lado, colocando sua mão esquerda em meu ombro direito, sua expressão era de preocupação e dor.
— Foi mal. — disse Jimin por fim, tão baixinho que quase não escutei.
— CHEFE! — olhei para Yoongi. — Temos que ir.
Assenti. Com a ajuda de Yoongi, nós dois carregamos Jimin até o carro, tentando ter cuidado, pois não sabíamos quais tipos de ferimentos ele tinha. Colocamos o mais novo no banco de trás do carro, evitando posições que poderiam prejudicar ainda mais seu estado grave, sabíamos dos riscos de fazer isso, mas não tínhamos escolha.
Liguei o carro novamente, arranquei cantando pneu, deixando uma multidão de motoristas bravos e confusos. Enquanto eu dirigi desesperadamente pelas ruas, ultrapassando sinais vermelhos e quase batendo em carro ou quase atropelando pedestres, Yoongi estava com o praticamente todo o corpo virado para trás, seus olhos preocupados não desgrudavam de Jimin.
— Pare de olhar ele e ligue para o doutro Do! — exclamei, quase gritando.
Sem dizer nada, Yoongi puxou do bolso do paletó o celular e discou, desajeitadamente, o número do nosso médico e cirurgião de confiança.
— Doutor! — disse Yoongi depois do segundo toque. — É o Jimin... eu... eu não sei ao certo, ele está coberto de sangue... não o senhor não está entendendo, ele está tão coberto de sangue que mal da pra identificar onde estão os olhos dele... não sei... tudo bem... até. — desligou o aparelho, colocando o objeto no bolso novamente.
— Ele está indo?
— Sim.
Se instaurou o silêncio entre nós dois, mas lá fora buzinas e o cantar dos pneus soavam alto. Ao virar um esquina, por causa da velocidade, acabei fazendo a curva muito fechada, Yoongi quase caiu por cima de mim e Jimin soltou um gemido.
— Ei! — exclamou o mais velho.
— Eu sei, foi mal.
“Foi mal”, porque ele estava se desculpando? Provavelmente por ter falado alguma coisa, afinal, era óbvio que o sequestraram e o torturaram para falar sobre os Bangtan, talvez até mais. Meu coração acelerou de medo em pensar que os inimigos sabiam sobre _____ e Minjee.
— Nunca vi algo assim. — disse Yoongi, no exato momento em que dobrei a esquina, entrando na rua de casa.
Assim que viram meu carro chegando, os seguranças já abriram o portão, mas aquela merda era muito lenta, quando parei na frente daquele trambolho de aço ele ainda estava na metade. Quando já havia um espaço considerável, acelerei o carro, sem me importar com o fato de que o portão arranhou a lataria.
Parei o carro bem na entrada e buzinei três vezes, sendo a última buzinada a mais longa, isso era um dos nossos sinais para avisar de que tinha acontecido algo grave. Yoongi desceu primeiro e já começava a retirar Jimin do carro, meio desajeitado, enquanto tentava ser cuidadoso.
— O que houve? — ouvi a voz de Jungkook enquanto o mais novo saía de dentro da casa, deixando a porta bater.
— Alguém pegou o Jimin. — foi tudo o que eu pude dizer.
Assim que conseguimos tirar Jimin de dentro do carro, Jungkook o pegou sozinho nos dois braços e o levou para dentro de casa. Ás vezes me esquecia do quanto aquele pirralho era forte e aquela máscara infantil não ajudava muito.
— Jimin! — _____ exclamou ao abrir a porta para Jungkook passar com o mais velho nos braços.
Yoongi, _____ e eu seguimos Jungkook até a dispensa, onde o moreno colocou o ruivo sobre a maca. Imediatamente nós começamos a procurar os remédios necessários para limpar os ferimentos de Jimim, ou pelo menos tentar tirar aquele monte de sangue havia sobre ele. _____ limpava o rosto do ruivo com extrema delicadeza, com as mãos pequenas ela colocava as gazes que desgrudavam do rosto pegajoso de Jimin completamente encharcadas de sangue.
A campainha soou, fazendo Yoongi se levantar do banco ao lado e seguir acompanhado de Jungkook para ver quem havia chegado. Observei o rosto concentrado de _____ enquanto trabalhava, era engraçado como o seu rosto formava uma linha grossa entre as sobrancelhas. Ouvi passos se aproximando e me virei para a porta, por onde Jungkook entrou.
— É o doutor.
Senti os músculos do meu corpo relaxarem, até então nem havia notado que estavam tensos. Me virei para ____ que não havia progredido muito, e receosa, deixou as gazes de lado se afastando da maca. Nós dois saímos da dispensa no exato momento em que o doutro Do entrou, quase nos atropelando, fechando a porta logo em seguida.
Fomos para a sala, para esperar o médico terminar seu trabalho, sentei ao lado de ____ e a trouxe pra perto de mim enquanto Jungkook se jogava na poltrona e Yoongi se mantinha de pé, preocupado.
— Espero que não seja nada demais. — sussurrou _____.
— Não é. — disse, beijando o topo de sua cabeça logo em seguida. — Você vai ver.
Subitamente _____ deu um salto e s pôs de pé, correu até a mesa da cozinha, pegou seu celular, discou algum número e o encostou na orelha esquerda.
— Alô? — disse _____ ao segundo toque. — Hoseok! Vai no colégio da Minjee e vê se ela está bem... sim ele já está aqui... — silêncio. — O quê? — _____ olha em minha direção, meu corpo inteiro gela. — Está bem.
E em seguida desligou o celular, colocando novamente sobre a mesa. Engoli em seco.
— Você contratou um homem para se infiltrar no colégio da sua filha e ficar de olho nela?
Silêncio.
— Desculpe. — foi a única coisa que eu soube dizer.
— Namjoon! — exclamou, fechando o punho em seguida. — Você prometeu!
— Eu sei! — rebati, me levantando e indo até onde ela estava. — Mas o que você queria que eu fizesse? Deixasse minha filha desprotegida por aí? Sabe que não posso me dar a esse luxo.
Eu pensei que ela iria me xingar, por quebrar a promessa que fiz para nossa filha, mas ela respirou fundo e sorriu levemente.
— Obrigada. — dizendo isso, _____ me puxou para uma abraço apertado, o melhor abraço do mundo.
Eu poderia ficar ali para sempre, eu queria ficar ali para sempre, por mais que estivesse de pé, mas a voz do médico me trouxe de volta a realidade.
— Senhor. — chamou, ao retornar para a sala.
Jungkook e Yoongi se aproximaram, _____ desfez o abraço para poder encarar o doutor, seu olhar de preocupação voltou a se desenhar em seu rosto.
— E então doutor? — perguntei.
— O Jimin está bem? — perguntou Jungkook.
O médico tirou suas luvas e arrancou a máscara cirúrgica, que até então estava em seu pescoço.
— Ele está ótimo.
— Como assim? — perguntei.
— Ele não tem nada, nenhum corte, nenhum ferimento interno. — fez uma pausa, guardando as luvas sujas de sangue num saco plástico. — Saudável como um touro.
— O senhor está falando sério? — perguntou _____.
Abaixei meus olhos para os meus próprios pés, pelo canto do olho vi Jungkook ir até a dispensa, sem acreditar no que o médico dizia.
— O sangue que cobria praticamente todo o seu corpo não é dele, provavelmente deve ser de algum animal. — prosseguiu.
— E por que ele parecia tão mal? — ouvi Yoongi perguntar.
— Provavelmente deram alguma espécie de droga para ele dormir ou ficar dopado.
— Mas qual o sentido de tudo isso? — perguntou ____. — Porque alguém sequestraria o Jimin e faria toda essa cena?
Silêncio.
Levantei meu olhar e encarei os pequenos olhos de Yoongi ao meu lado, ele sabia.
— Não foi um sequestro. — disse Yoongi.
— Então o que foi? — disse _____, seus olhos corriam de mim para Yoongi.
— Foi um aviso.
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