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História My Sassy Girl - Loving Can Hurt


Escrita por: SrtAnonymous

Notas do Autor


Olha elaaaa :)

Voltei com mais um e não demorei, espero que gostem e boa leitura <3

Capítulo 9 - Loving Can Hurt


Fanfic / Fanfiction My Sassy Girl - Loving Can Hurt

Lauren's Point Of View

Cheguei em casa faltando menos de uma hora para encontrar Camila. Lucy já não estava mais, deixou apenas um rastro de bagunça no meu apartamento, não teria tempo para arrumar, apressei-me em separar alguma roupa decente, o ‘The View’ não era qualquer restaurante, pessoas de todo o mundo visitavam o local. Era praticamente um ponto turístico em Nova York, além de sua ótima comida, havia um atrativo ainda maior no restaurante, ele tinha simplesmente uma vista de tirar o folego. O Prédio era rotatório, os clientes poderiam apreciar vários pontos de Nova York, enquanto saboreavam uma das melhores comidas. Confesso que o convite de Camila me intrigou um pouco. Por quê escolher um lugar tão formal?

Depois de alguns minutos no banho e outros para me vestir, desci até o térreo do prédio em busca de um táxi que me levasse o mais rápido possível, já estava dez minutos atrasada e isso me deixava levemente irritada. Pontualidade é uma qualidade minha que preso muito, eu simplesmente odeio deixar os outros esperando, assim como também não gosto de esperar.

Finalmente, um taxista parou para mim e conseguimos chegar em menos de quinze minutos ao local marcado. O restaurante ficava no último andar de um prédio comercial, pegar o elevador foi quase uma aventura, era rápido demais o que fez minha barriga embrulhar um pouco. Na recepção fui recebida pela hostess do lugar, a mulher trajava um lindo terninho, provavelmente feito sob medida. Nunca vi tanta perfeição em uma única roupa e é claro que a mulher também contribuía para tamanha beleza, parecia mais uma das angels da Victoria’s Secret. Me aproximei um pouco amedrontada.

–Boa noite, Senhorita! Em que posso ajuda-la? – Perguntou assim que cheguei ao atril de leitura em que se encontrava atrás, folheando um livro repleto de nomes.

–Boa noite, eu vim encontrar com alguém. – Falei tímida e ela me sorriu gentilmente.

–Então provavelmente foi feito uma reserva. Como se chama?

–Lauren. Lauren Jauregui. – Respondi nervosamente. Essa coisa de ser elegante não era para mim, estava me sentindo completamente fora do meu ambiente natural e senti que todos perceberam isso, pois muitos estavam direcionando seus olhares a mim.

–Aqui esta você! – Sorriu ao encontrar meu nome em sua grande lista e fez um pequeno risco ao lado confirmando minha presença. Respirei aliviada.

–A senhorita Cabello já está a sua espera, você pode entrar. – Agradeci e antes que eu pudesse adentrar o local, um rapaz, também bem vestido se ofereceu para guardar meu casaco. O tirei já que o ambiente estava quentinho e aconchegante, deixando o meu mais belo e único vestido à mostra. O tecido era de seda na cor preta, adequado ao meu corpo e seu cumprimento ia até meus joelhos, porém ao lado esquerdo havia um caimento um pouco maior, como se fosse uma cauda. A alça fina permitia que meus ombros ficassem visíveis, junto de um decote discreto.

Eu não costumo me produzir tanto, mas Camila vinha me transformando em uma pessoa mais vaidosa. Patético, eu sei!

“Seja você mesmo Lauren. Você não precisava agradar ninguém. ” Esse era praticamente um mantra em minha vida, o recitei durante muito tempo, até o momento em que não precisei mais faze-lo, eu já me sentia segura de si, a autoestima elevada na medida certa. Agora, confesso que perto da Camila me sinto estranha, como se eu não fosse o suficiente... E acabo chegando onde estou agora, produzida como se fosse participar de algum photoshoot. Tudo para ter os olhos daquela mulher presos a mim. 

Droga! Por quê ela tinha que ser tão perfeita?   

 

Caminhei um pouco sem rumo, sem saber onde Camila estava, passeava meus olhos por cada mesa, mas nem sinal de seus traços ou qualquer esboço característico de seu sorriso. Comecei a me sentir um pouco desconfortável e deslocada, as pessoas me olhavam como se eu estivesse as encarando e nessa procura infrutífera, de repente meu corpo tencionou com a presença de alguém as minhas costas, colando seu rosto ao meu.

–Oi, Lauren. – Camila aproximou sua boca ao meu ouvido e senti a vibração de sua voz quente amaciar aquela região. Me virei encontrando-a com um sorriso travesso no rosto.

–Oi, Camila. – Ela estava tão linda. Ainda era uma batalha interna acostumar-me a sua imagem, a beleza singela que exibia. Todas as vezes meus olhos pousavam sobre Camila era como a primeira vez, o mesmo espanto e admiração tomavam conta de mim. Seu corpo era um grande espetáculo sendo iluminado por intensos holofotes, Camila se tornava única e meus olhos admiravam incansáveis cada detalhe seu.

–Onde você estava? Eu tenho certeza que olhei para cada uma dessas mesas e não vi você. Aposto que estão achando que sou algum tipo de maníaca. – Perguntei emburrada, não querendo mais ser notada por aquelas pessoas. Camila apenas riu, fazendo-me sentir ainda mais idiota.

–Digamos que eu não permiti que você me notasse... – Respondeu me oferecendo aquele sorriso brincalhão de quem acabara de aprontar.

–E por que você faria isso?

–Por que você está fantástica... – Camila levou uma mão até meu rosto e deixou as pontas dos dedos acariciar minha pele, seu toque era leve e cuidadoso, que mais parecia uma preocupação em não me machucar. E meu corpo reagiu como sempre reagia ao seu toque. Minha respiração travou e meu coração festejou em meu peito. –Eu precisava de mais tempo para te admirar.

–Oh...obrigada... – Sorri tímida e meu rosto corou violentamente. Se ela soubesse o quanto suas palavras significavam para mim... –Você também está incrível.

Camila me surpreendeu com um abraço, suas mãos envolveram meu pescoço e seu rosto descansou em meu ombro. Ainda raciocinando o contato inesperado, minhas mãos apenas pairavam ao redor de sua cintura, estáticas, indecisas entre toca-la ou não. Apesar de toda a intimidade que já havíamos vivido, ainda é desconcertante tê-la em meus braços, me permitindo senti-la.

Sem pensar mais, envolvi sua cintura apertando-a com delicadeza, unindo ainda mais nossos corpos. E não fazia mais de sete horas que não nos víamos, mas ao sentir seu corpo novamente, percebi o quanto eu sinto falta dela, senti o quanto sua ausência já me é dolorosa.

Ficar longe dela é como estar em abstinência, meu corpo não é o mesmo, se torna fraco sem que ao menos eu venha a perceber, e então quando há tenho em meus braços, consumindo-a, sinto a calmaria e o preenchimento de um vazio que ela mesmo criou e somente ela pode ocupar.

Camila nos afastou e percebi alguns olhares curiosos sobre nós e surpreendendo-me novamente, a latina desferiu um leve soco em meu braço direito.

–Ai! Por quê me bateu? – Perguntei esfregando meu braço que no momento ardia.

–Você está atrasada! – Respondeu exibindo o fino relógio que decorava seu pulso.

–Desculpa... – Sorri sem graça.

–Vem, vamos sentar. Eu tenho uma surpresa para você. – Ela riu puxando-me até a mesa que ocupava, no canto menos movimentado do restaurante.

–Você tem? – Perguntei com estranheza.

–Sim! Foi concedida a você uma entrevista com o vampiro. – Sentamos e estranhei o fato de haver mais uma cadeira em nossa mesa.

–Do que você está falando?

–Estágio, Lauren. Eu consegui uma entrevista para você. – Camila tirou de sua bolsa o que parecia ser uma correspondência e entregou a mim e para minha surpresa era uma carta destinada a mim, era da universidade e onde a coordenação do meu curso alertava-me sobre a importância da experiência profissional para minha formação e o tempo que me restava para conseguir esse período de prática.

–Onde conseguiu isso?

–Na sua caixa de correio... – Respondeu sem me olhar nos olhos, tentando esconder a expressão de culpada que a entregava.

–Roubou minha correspondência? Por que você faria isso? Isso é ilegal. – Era nítido tom de incredulidade em minha voz. Por Deus, quem rouba correspondências? Perguntei-me brevemente se Camila poderia ser uma stalker e confesso que a hipótese me amedrontava um pouco.

–Vamos mesmo discutir sobre isso? – Perguntou entediada, como se eu estivesse criando tempestade em copo d’água. 

–Vamos!

–Ou vamos ter um ótimo jantar, você uma ótima entrevista e quando tudo isso acabar você vai me agradecer? – Seus argumentos eram convincentes e logo que percebeu minha expressão de aborrecimento se aliviar, Camila voltou a sorrir abertamente, sabendo que acabara de ganhar aquela discussão. De uma maneira não tão convencional ela estava tentando me ajudar, talvez eu deva apenas aceitar sem criar tanto caso.

–Tudo bem, mas tente não roubar mais minhas cartas, por favor.

–Eu não prometo nada... – Camila me sorriu travessa e senti uma vontade insana de beijar aqueles lábios capazes de criarem o sorriso mais iluminado desse mundo. Camila só precisava sorrir uma única vez para me ter a mercê de seus desejos.

Camila arrastou timidamente suas mãos sobre a mesa até que alcançassem as minhas e passou a desenhar círculos aleatórios sobre elas com as ponta dos dedos.

–Sobre ontem a noite... – Camila estava hesitante e mordia os lábios constantemente, parecia insegura com suas próprias palavras e seu olhar alternava entre meus olhos e minha boca, o que só aumentava a minha vontade de agarra-la sobre aquela mesa. Mas provavelmente seriamos expulsas dali se eu fizesse o que desejava, e contive-me ainda mais por querer saber o que ela tinha a dizer sobre o ápice do delírio que compartilhamos.

 –Eu queria que você soubesse... – Quando Camila finalmente havia tomado coragem para terminar, a inconveniência de outra pessoa nos interrompeu.

 –Mila! – Uma voz desconhecida chamou a atenção de nós duas e Camila subitamente encerrou o carinho que fazia em minhas mãos, tão rápido que minha pele parecia estar queimando-a.

Direcionamos nossos olhares para a pessoa parada diante de nossa mesa e quando meu cérebro processou sua imagem, o meu queixo quase veio a chão e por alguns segundos achei que jamais fecharia minha boca novamente.

 Abria e fechava repetidamente os olhos, era difícil de acreditar que a mulher que eu deseja ser profissionalmente estava na minha frente, impecável como nas capas de revistas e jornais que estampava. A Dona de um grande império, que nem me atrevia a sonhar em fazer parte.

–Mani! – Camila levantou-se com um sorriso largo no rosto e abraçou fortemente a mulher. Pareciam bem íntimas e depois do rápido cumprimento, as duas olharam em minha direção.

–Mani, essa é Lauren Jauregui. A sua futura aquisição. – Aquisição? Camila estava me vendendo agora?

A minha expressão de confusão deveria estar a coisa mais ridícula do universo, mas não conseguia me controlar.

–É um prazer, Lauren. Me chamo Normani...

–Hamilton. Eu sei bem quem é você. – Completei enquanto apertava sua mão que se erguera para me cumprimentar, firmemente. –Meu deus... eu nem consigo acreditar. Eu admiro tanto você e seu trabalho, e como você levou uma empresa falida ao ápice dos negócios.

A mulher que me inspirava profissionalmente estava a um passo de distância de mim e eu só conseguia me sentir como uma fã encontrando seu ídolo. Minha mão ainda apertava a dela, presa em um cumprimento eterno. Percebi seu desconforto em ter minha mão balançando freneticamente a sua, mas sem deixar de sorrir com a situação embaraçosa. Deveria estar pensando o quão boba eu era.

–Desculpe, eu estou nervosa. – Falei envergonhada enquanto libertava sua mão.

–Por favor, não fique. Você logo irá descobrir que não sou tão diferente das outras pessoas. – Seu perfeito sorriso passou uma segurança e de certa forma me senti mais à vontade ao seu lado e seu tom de voz era tão imponente que não ousaria contraria-la, recebi seu conselho mais com uma ordem e me forcei a relaxar.

Normani puxou a cadeira sentando-se entre mim e Camila. Encarei a latina que assistia nossa interação com uma risada presa a boca. Ela queria rir de mim e da minha expressão de idiota, mas se segurou e eu apenas a olhava de forma ameaçadora.

–Então... –Ela quebrou nosso contato visual para iniciar uma conversa entre nós três. –Lauren, Normani é uma amiga de longa data e quando vi que você estava precisando de ajudinha com o estágio, lembrei dela imediatamente, por motivos dos quais você já pode imaginar. –Finalmente a cubana se pôs a explicar a situação inesperada que me encontrava e agradeci mentalmente por meus pensamentos estarem se organizando agora. –Hoje será apenas um jantar agradável, para que vocês possam se conhecer melhor. Enfim, resolvi juntar o útil ao agradável. – Sorriu fraco parecendo envergonhada de seu próprio feito. – E amanhã você vai participar oficialmente de uma entrevista. O que acha?

Suas palavras pareciam inverdades aos meus ouvidos descrentes, nem em anos de aspirações tive a coragem de sonhar em fazer parte de uma empresa como a Distribuidora Hamilton e agora a ideia de fazer parte dela, era mais concreta do que qualquer outra coisa que um dia sonhei. Nem em um milhão de anos conseguiria agradecer a Camila por isso e fiz uma nota mental sobre como devo fazer isso daqui para frente, todos os dias. Além de um carinho imensurável, Camila também teria minha eterna gratidão.

–O que eu acho? Eu nem sei o que dizer, Camila. Eu... muito obrigada, de verdade. – Eu senti que poderia chorar de felicidade, mas me contive, já passei vergonha o suficiente por uma noite. Camila me sorriu tão alegremente e pude ver seus olhos brilharem em satisfação.

Eu queria tanto beija-la... passar através dos meus lábios toda a euforia que preenchia meu peito. 

–Agradeça depois que você conseguir. – Normami falou pela primeira vez sobre o assunto, fazendo com que eu saísse do transe que estava imersa. Camila nem precisava se esforçar para roubar minha concentração. –Mas não pense vou facilitar por você ser amiga da Camila. Na verdade, eu não costumo aceitar novos funcionários, mas Camila falou tão bem de você e da sua capacidade, que me vi obrigada em ao menos dar uma chance. – Meus olhos conectaram com os mais belos castanhos que já vi e Camila enrubesceu. As maçãs de seu rosto em uma tonalidade vermelha, tão linda, tão adorável.  

–Você é uma garota de sorte, Lauren. Camila dificilmente gosta de alguém, as vezes até acho que ela não gosta de mim, mas de você... – Normani falou sugestiva, com as sobrancelhas levemente arqueadas e um sorrisinho malicioso na boca.

Vi o rosto da cubana entrar em chamas e seu espanto evidente com o que acabara de ouvir, provavelmente era um segredo de amigas. Camila a reprendeu com o olhar, mas Normani não pareceu se sentir ameaçada  pela garota, deu de ombros como quem não se arrepende do que fez.

Meus pensamentos entravam em combustão com que acabara de escutar, e isso me deixou notavelmente feliz. Era disso que eu precisava, algum um sinal de que Camila de alguma de forma se importa comigo, que talvez também compartilhe os mesmos sentimentos que eu. Mesmo que a confirmação tenha vindo a contragosto, foi bom saber que talvez exista a mínima chance de Camila sentir algo por mim, além de um desejo sexual.

Eu não suportaria outra desilusão.

–Camila se tornou alguém muito importante para mim. – Respondi, interrompendo a briga entre olhares que as duas trocavam. Camila olhou diretamente para mim e seus olhos eram tão intensos que me sentia imersa neles, perdida e apaixonada. E provavelmente, eu não estava atrás, meus olhos a devoram carregados de desejo e fascínio. O clima de excitação que pairava sobre nós e era quase palpável de tão pesado. Camila umedeceu os lábios que se tornaram secos de repente e esse simples gesto fez minha carne queimar com lembranças de sua língua explorando várias partes do meu corpo. "Foco, Lauren!"

–É uma grande amiga e espero um dia conseguir retribuir o que está fazendo por mim. E se não preocupe, Normani, eu prometo que não irá se arrepender de me ter como funcionária. – Apressei-me em desfazer qualquer ideia de um envolvimento amoroso com Camila e sobre eu ser uma folgada aproveitadora. 

–Eu estou contando com você, Lauren. – A mulher sorriu e senti um depósito de total confiança pesar sobre mim. Meu corpo estremeceu, eu não poderia decepcionar a dona da maior distribuidora alimentícia dos Estados Unidos. Respirei fundo e incentivei-me mentalmente, eu daria meu melhor. –Então, vamos pedir? Estou morrendo fome.

–Claro. – Camila sinalizou elegantemente para o garçom que veio prontamente atender nossos pedidos.

 

 

O tempo passava e com ele a timidez que me impedia de conversar sem transparecer meu nervosismo. Porém, Camila estava me ajudando com isso também, sempre encontrando assuntos do meu conhecimento e envolvendo-me sempre na conversa. Logo nós parecíamos três grandes amigas matando a saudade. Falávamos sobre a comida maravilhosa que nos era servida, o vinho de boa qualidade que combinava perfeitamente com nossos pratos.

Normani mudou completamente a visão de empresária durona que eu havia criado sobre ela. De fato, a mulher era uma grande empresária sim, porém de uma elegância e simpatia surpreendente, bem diferente do que ela demonstrava em suas entrevistas. Mas entendo que nesse mundo dominado por homens, onde o tempo todo a capacidade de uma mulher e posta em dúvida, é normal adotar uma postura mais rigorosa e aparentemente sem fraquezas.

Camila estava risonha e seu rosto corado alertou-me sobre sua condição. Ela já estava moderadamente bêbada. Normani e eu bebemos uma única taça e vendo que a garrafa já estava com menos da metade, sem eu perceber, Camila já havia bebido mais do que deveria.

–E vocês, como se conheceram? – Normani perguntou depois que Camila diminuiu sua empolgação após contar sobre a adolescência das duas e como seus caminhos haviam se cruzado.

–Bem, depende de qual história você acreditar... – A cubana respondeu entre risos e seu olhar parecia perdido, talvez estivesse recuperando a memória do nosso encontro na estação de metrô.

–Como assim? – Normani perguntou com uma expressão confusa, seguida por mim, que também estava confusa sobre o que Camila tentava dizer.

–Ou eu estava bêbada e desmaiada no metrô... –Camila fez um gesto com a mão como se aquela alternativa fosse a menos provável, o que me fez rir baixo da cara de pau que a garota tinha, até o momento em que ouvi a segunda hipótese sobre nosso primeiro encontro. –Ou ela me drogou e depois acordei na casa dela.

Meu queixo caiu e comecei a rir debilmente, forçando a ideia de que a última suposição era a mais improvável de todas e que Camila não passava de uma brincalhona.

–Da para acreditar? Ela é tão bobinha. – Falai ainda entre uma risada forçada, quando na verdade estava era rindo de nervoso. Só de imaginar Normani Halmilton acreditando nessa história, minha possível futura chefe, senti vontade de me esconder de tanta vergonha.

–Não se preocupe, Lauren. Conhecendo bem Camila, tenho certeza de que a primeira é a real. É mais provável que ela tenha drogado você. – Rimos, menos Camila que revirou os olhos e mostrou a língua como uma menina birrenta.

Camila entornou mais uma vez a garrafa de vinho para dentro de sua taça, deixando-a praticamente vazia. Mas antes que ela derramasse o liquido até a última gota, puxei a garrafa de sua mão e não me deixei intimidar por seu olhar de reprovação. Sabia bem como isso iria terminar e minhas costas não estão preparadas para mais uma marota com Camila em cima de mim, ainda mais com esses malditos saltos.

–Talvez você já tenha bebido demais. – Falei depositando o que havia sobrado em meu copo, por fim secando a garrafa e criando um ambiente mais seguro para Camila.

–Aprenda uma coisa, Lolo: muito é sempre pouco pra mim. – E dizendo isso, levantou-se pegando a carteira de sua bolsa. –Vou até o bar, querem alguma coisa? – Perguntou com um sorrisinho bobo nos lábios. Ninguém respondeu. –Ok! Sobra mais pra mim. – E se retirou.

Quando tentei me levantar para seguir os passos de Camila e impedi-la de beber mais, Normani travou meu braço sobre a mesa.

–Não tente controla-la, Lauren.

–Eu me preocupo com ela... – Minha voz saiu baixa e Normani me fitou compreensiva.

–Eu entendo você, Lauren e acredite eu também já tentei faze-la parar de beber, mas falar com Camila é o mesmo que sozinha. – Normani sorriu fraco, quase que rindo de seu próprio fracasso. – O que ela precisa é de um choque de realidade, alguém que mostre a ela que a vida segue e não podemos parar e deixar que nossas vidas entrem em uma fossa de tristeza e depressão. Ainda podemos fazer muito por nós e por quem precisa da gente, temos tão pouco tempo na terra, que chega a ser pecado desperdiça-lo... – Falou e senti uma grande pontada de tristeza misturada a arrependimento em sua voz, percebi seus olhos marejarem um pouco, mas a empresária se apressou em seca-las rapidamente.  A mulher estava imersa em seus próprios pensamentos, refletindo sobre o que acabara de dizer.

Assim como qualquer outro ser humano, Normani também parecia ter suas dores e tormentos. O fato de ser rica e bem-sucedida não a tornara imune contra as fraquezas humanas.

–Você está bem? – Perguntei enquanto acariciava seu ombro, senti a necessidade de conforta-la de alguma forma, mesmo que fosse com apenas um misero carinho no ombro.

–Sim, sim! Não se preocupe comigo, alguns meses atrás eu perdi minha mãe e isso ainda me afeta um pouco. – Se explicou recompondo a postura da empresaria que não se deixa abalar, por mais difícil que a situação seja.

–Sinto muito... – Eu entendia bem as dores pelas quais ela sofria.

–Se concentre em Camila e tente ajuda-la, mesmo contra sua vontade. Salve ela, Lauren antes que ela se afundi em seu próprio mundinho e seja tarde demais.

–E como você pode ter tanta certeza que eu sou a pessoa mais indicada para isso? – Normani sorriu e percebi que ela estava rindo de mim.

–Você é do tipo que não percebe as coisas mesmo se estiverem berrando na sua cara, não é? Escuta, eu só tenho certeza de que desde que você entrou na vida da Camila, ela voltou a sorrir, poucas vezes, mas sorriu. E acredite, fazia meses que não via um único dente brilhar naquela boca.

Que Camila era uma pessoa triste não era novidade, lembro perfeitamente do dia em que a vi pela primeira vez: uma garota bêbeda e desamparada, arriscando a própria vida em uma estação de metrô. Lembro-me do olhar melancólico e a expressão de cansaço em seu rosto. O quanto ela já havia chorado? O quanto havia bebido na esperança que sua angustia desaparecesse? Camila estava tão frágil.

E depois, quando nos encontramos no “cave bar”, ela ainda carregava a mesma tristeza consigo, era tão nítido, que seu corpo todo expressava o quanto estava vulnerável, por mais que tentasse parecer forte. Me lembro do seu choro ao falar que seu noivo havia terminado com ela.

Deveria ser um imbecil, só alguém assim magoaria uma mulher como Camila.

“Estou passando por uma fase irresponsável. ” Essas foram as palavras de Camila quando perguntei o que a levava a beber tanto. E agora refletindo sobre isso, entendo que seus problemas estão longe de ser apenas por um termino de relacionamento. Havia algo bem maior que isso, algo que a privava de ser feliz. Camila as vezes parecia se autoflagelar, era como se sentisse culpada por algo. E pensar em nela desse jeito, quando não estou ao seu lado, faz com que meu coração se comprima dolorosamente em meu peito.

Eu preciso saber o que acontece com ela.

–Você é a única que conseguiu fazer Camila evoluir de alguma forma, por favor não desista dela. – Normani conclui e agora sentia-me inteiramente responsável pela felicidade de Camila e admito que isso me assustava um pouco. Eu não posso falhar com ela.

–É difícil ajudar quando eu nem sei pelo que ela está passando... – Falei em tom de lamentação e Normani me olhou surpresa.

–Então você não sabe? – Neguei com a cabeça e Normani suspirou em resposta. –Eu sinto muito, Lauren, queria poder te ajudar com isso, mas não cabe a mim te contar isso. Se Camila não o fez, é porque ainda não está preparada para isso. – Concordei com a empresaria que me observava com pesar. –Seja paciente.

–Eu serei... – Um sorriso preguiçoso se formou em meus lábios em forma de agradecimento pela conversa sincera e sensata que tivemos.

Terminei o vinho que ainda restava em minha taça e lancei meu olhar em direção a Camila, que ainda estava no bar do restaurante, a enxerguei no exato momento em que virava uma dose de tequila e ri da careta de desgosto que fez a engolir o liquido forte.

Até em seu estado mais deplorável, ela conseguia ser fofa.

–Desculpa, Lauren, mas eu preciso atender essa ligação. Eu já volto. – Normani me arrancou dos meus devaneios e eu mal compreendia o que estava dizendo, só concordei com a cabeça sem pensar e a vi deixar a mesa que estávamos.

Voltei meus olhar para o Camila e a garota também estava saindo, meus olhos a seguiram e vir ir em direção ao banheiro. Sem perder mais tempo e aproveitando a deixa de Normani, fui atrás dela.

 

Entrei no banheiro fechando a porta silenciosamente atrás de mim. Camila jogava água em seu rosto e só notou minha presença quando levantou o olhar vendo meu reflexo no espelho.

–Veio me vigiar, babá? Não se preocupe, eu já consigo fazer xixi sozinha. – Falou enquanto secava o rosto e ri com seu tom de deboche.

Me aproximei inteiramente de seu corpo e a vi recuar com minha proximidade inesperada. A prensei contra a bancada de mármore e suas mãos espalmaram-se na estrutura, alertando-a que não poderia mais evitar meu contato. Levei uma mão até seu rosto, segurando seu queixo e com a outra retirei o lenço de sua mão. Camila me olhava apreensiva, e eu era capaz de sentir seu nervosismo. Meus olhos descansaram sobre seus lábios carnudos e vermelhos, sua língua umedeceu a região, ela estava esperando por minha boca na sua e eu tive que conter meus impulsos para não a sufocar com beijos desesperados.

–Mas pelo visto ainda não apreendeu a se maquiar. – Finalmente voltei a me concentrar na mancha de batom que fugia do limite de seus lábios e esfreguei suavemente o lenço sobre o borrado no conto da sua boca. Senti o corpo de Camila relaxar e ela fechou os olhos esperando que eu terminasse de limpa-la. – Obrigada por hoje e pela oportunidade de estágio. – Agradeci bem próxima ao seu rosto, eu precisava senti-la o mais perto que conseguisse e ela pareceu apreciar minha voz contra seu rosto, a vi inspirar meu hálito e murmurar algo que não consegui compreender. Ela parecia lutar contra si mesma, mas a vi se render quando encostei meu nariz no dela, e passei a roçar nossos lábios. Uma briga entre o querer e o não poder.

–Eu devia isso a você... – Falou e instantaneamente inalei o hálito delicioso de tequila que saia de sua boca, parecia ainda mais inebriante agora. Nossas respirações brigando por espaço, uma corrente de ar se formava entre nossas bocas, puxando-me cada vez mais para perto dela.

–E eu devo agradecer de maneira correta... – E sem pedir permissão, sujeitei sua boca a um beijo quente e indecente. Camila não hesitou em responder e impulsionou sua língua para dentro da minha boca, chupando, lambendo e mordendo cada pedaço de mim. Era um beijo molhado e insano, era a necessidade reprimida se concretizando.

Por Deus! Por que parecia tão errado e ao mesmo tempo tão certo, estar com Camila?

Por alguns segundos achei que poderia ter orgasmos com seu beijo, o contato de nossos corpos era tão excitante que não resisti em sustentar Camila e coloca-la sentada sobre a bancada. Ela entrelaçou minha cintura com suas pernas e minhas mãos passearam desgovernadas por debaixo de seu vestido, apertei suas coxas sentindo cada contorno delicado daquela carne macia, enquanto Camila distribuía beijos molhados por toda extensão do meu pescoço e foi involuntário o gemido que escapou da minha boca.

 

E o beijo de pura inocência se transformou em um sexo delirante.

 

Camila afastou a alça do meu vestido e iniciou outra sessão de beijos, só que agora em meu ombro. Sem cerimônia, alcancei seu sexo por debaixo de sua roupa, a calcinha estava encharcada, não tão diferente da minha. Passei a acariciar a região e assim que meus dedos fizeram uma leve fricção ali, Camila choramingou em meu ouvido, arfando em ansiedade. A torturei mais um pouco, com esfregadas lentas sobre sua intimidade antes de afastar sua calcinha para o lado e por fim meus dedos mergulharam na sua boceta quente e molhada, gemi junto com ela ao sentir meus dedos tocarem aquele lugar tão macio e melado. Parei em sua entrada e empurrei dois dedos e era tão apertada, mas meus dedos foram acomodando-se lentamente dentro dela.

Iniciei um movimento de vaivém e Camila discretamente passou a se mover conforme eu a invadia e depois de poucos segundos meus dois dedos haviam sido completamente engolidos por aquela cavidade esponjosa. Camila gemia mais alto e tentei sufocar o som com beijos, mas fora impossível não acabar gemendo junto com ela.

–Você é tão quente... – Sussurrei em seu ouvido e Camila se agarrou aos meus cabelos, puxando-me para trás, fazendo com que eu encontrasse seu olhar de lasciva.

–Ah Lauren... – Ela tentou falar, mas meus dedos a estocavam com força e ela se perdia em meio a gemidos.

–Sim...

–Eu preciso que você acabe logo com isso... por favor. – E transformado seu pedido em uma ordem, passei a bombear mais forte para dentro dela, o mais rápido que eu conseguia e Camila não ficava para trás. A cubana também ajudava movendo o quadril deliciosamente sobre minha mão, eu só conseguia imaginar o quão gostoso estaria o liquido da sua excitação. 

Mais duas profundas e fortes estocadas e Camila havia gozado, relaxou o corpo sobre mim, a respiração ofegante batendo em meu pescoço, e não contive a vontade de lamber meus dedos, os tirei de dentro de Camila e os levei diretamente a boca, chupando-os com satisfação.

 

Sexo com Camila era algo de outro mundo. 

 

Ela me beijou e sugou dolorosamente a minha língua, provando do seu próprio tesão.

 

–Você sempre agradeça as pessoas desse jeito? – Falou cansada enquanto levantava do balcão e passou a arrumar o vestido que eu havia deixado embolado no meio da sua cintura. Eu ri sem graça com seu comentário e segui seu exemplo e comecei a esconder qualquer vestígio de sexo do meu corpo.

–Não, mas pra você posso abrir uma exceção. – Camila riu e selou nossos lábios com um selinho.

–Você é mais safada do que aparenta. – Desferiu dois tapinhas em meu rosto e se afastou. –Se arrume e vamos antes que Normani venha nos procurar. – Concordei com cabeça e apressei minha arrumação.

 

 

 

Voltamos ao salão principal e Normani já estava na mesa com uma cara de poucos amigos, e me arrependi subitamente de deixa-la esperando, afinal ela poderia se tornar minha chefe a partir de amanhã.

–Onde vocês estavam? – Perguntou assim que sentamos.

–Desculpa, Mani. Estávamos no banheiro, Lauren estava me ajudando com a maquiagem. – Camila me olhou furtiva e percebi o tom malicioso que sua sentença carregava. Senti meu corpo queimar novamente.

–Então sinto lhe informar, mas Lauren fez um péssimo trabalho, você parece pior do que antes. O que houve com seu cabelo? – Normani pegou no cabelo de Camila com uma expressão de desconfiança estampando seu rosto e alternava constantemente seu olhar entre mim e Camila, que fingíamos estar alheia a sua suspeita.

–Eu acabei de receber uma ligação e infelizmente preciso ir embora. – Fez uma carinha triste e Camila acompanhou amiga. –Obrigada, por hoje Mila, eu estava precisando relaxar um pouco e Lauren... – Olhou para mim e rapidamente ajeitei minha postura para encara-la. – Vejo você amanhã, não se atrase! – Ordenou com um dedo apontado para meu rosto e senti a pressão que seria com ela sendo minha chefe.

–Isso não vai acontecer. – Afirmei confiante e Normani sorriu satisfeita com minha resposta. A morena se despediu e deixou o restaurante em seguida, mas sem antes pagar a conta em forma de gratidão pela noite agradável. Camila não se opôs e muito menos eu que não tinha de onde tirar o valor descrito naquela conta, apenas admirei ainda mais Normani, era verdadeiramente uma mulher invejável.

Juntas descemos ao térreo do grande prédio e lá embaixo um luxuoso carro já aguardava a empresaria, o motorista mantinha a porta aberta apenas esperando que sua chefe entrasse no veículo. Normani fora prestativa e nos ofereceu carona, mas Camila negou dizendo que pegaríamos um táxi e não me fui contra sua decisão, hoje eu a deixaria com segurança em sua casa.

 

Tivemos sorte de chegar antes da chuva torrencial que atingia Nova York. A viagem no táxi fora rápida e silenciosa, Camila passou o trajeto inteiro com as mãos entrelaçadas as minhas e eu sorria internamente com seu gesto afetuoso. A casa ficava em um bairro luxuoso, habitada pela mais alta elite da cidade, não me surpreendi com o fato de Camila ser rica, levando em conta a vida desregrada que ela leva e nunca ter a ouvido falar sobre emprego ou algo do tipo, ela só poderia ser rica.

Descemos do carro e só tive tempo para nos cobrir com meu casaco, enquanto Camila abria o imponente portão de ferro que cercava sua casa.  Nós entramos e respiramos fundo depois da rápida corrida até a entrada, fugindo desastradamente da chuva. Passava das onze horas da noite e o andar de baixo estava completamente escuro, só conseguia ver o contorno do corpo de Camila, graças a fraca luz dos postes na rua, que se lançava através das grandes janelas da mansão.

Ficamos em silencio e somente o som cansado de nossas respirações vibravam no ar. Eu não conseguia ver seu rosto, mas sabia que seu olhar estava sobre mim, tímido em meio a escuridão. Camila caminhou até mim parando a centímetros de distância do meu rosto.

–Você cheira tão bem... – Respirou em volta do meu pescoço e eu arfei ao sentir a calor de sua respiração contra minha pele. Colou nossas testas e seus lábios tocaram o meu suavemente, como quem tentar estudar uma superfície inexplorada. Deslizou a língua sobre meus lábios, ela estava literalmente me provando e isso meu deixou incrivelmente excitada. Não me atrevi a mover um único músculo, a deixei prosseguir como bem entendesse. Depois de passear com a língua por cima deles, Camila o sugou para dentro de sua boca e liberando-os com uma leve mordida e a única coisa que conseguia fazer era arfar em sua boca.

Meus lábios entreabertos cederam passagem para que minha língua escapasse indecentemente e Camila não perdeu tempo em acaricia-la com a sua, em um movimento obsceno de vaivém e cada vez mais molhado. Em um ato acelerado Camila me prendeu contra a parede, seus seios esmagando os meus, a respiração entrecortada, uma sequência de sensações que bagunçavam todos os meus sentidos, deixando-me sem tempo para entender o que estava acontecendo.

Agora era Camila quem me controlava e torturava, sem piedade.

 Ela agarrou minha cintura e desceu lentamente suas mãos até minha bunda, pressionando os dedos agressivamente e meu vestido subia lentamente. Aquela mulher mal havia me tocado e meu corpo já entrava em um estado de dormência descomunal, Camila poderia me pedir qualquer coisa e eu não pensaria duas vezes em obedece-la.

Mas toda o clima excitante que nos embalava, fora desfeito quando sem querer meu braço esbarrou em algo e em seguida ouvimos o barulho estrondoso de algo se desfazendo ao cair no chão. Não era preciso ligar a luz para saber que eu havia acabo de quebrar um vaso, que provavelmente custava mais que minha vida.

Nosso contanto foi desfeito e Camila ligou a luz para ter certeza do que tinha acontecido, e quando o ambiente se iluminou foi possível ver o vaso de porcelana aos cacos.

Camila me encarava como se eu acabasse de executar um truque de mágica, sua expressão era um misto de empolgação e choque.

–Ops... – Foi tudo que consegui dizer completamente sem graça e assustada. Camila gargalhou mais alto, ela não parecia nem um pouco preocupada com a decoração da sua casa, muito pelo contrário, ela ria como se fosse a coisa mais engraçada do mundo. –Desculpa, Camila eu juro que posso consertar isso.

–Vai consertar como? Colando cada um desses cacos? Não se preocupe, Lauren. É só um vaso idiota.

–Um vaso chinês de mais de 100 anos. – Uma voz firme falou do alto da escada, atraindo nossa atenção. Um homem mais velho e com traços que lembravam Camila nos observava com uma expressão evidente de desprazer. Era o pai de Camila e senti um frio percorrer minha espinha ao perceber isso.

–Como eu estava dizendo: um vaso idiota! – Camila sorriu cínica para o homem sem se deixar intimidar pela voz autoritária.

–Andou bebendo de novo, não é? – Falou enquanto descia as escadas agora sem esconder sua irritação. A boca cerrada e narinas infladas, cada detalhe do homem manifestava seu estado de irritação. Suas emoções literalmente estavam a flor da pele.

–Você me conhece tão bem, pai. – Camila zombou mais uma vez.

O homem já a nossa frente, passou os olhos para mim, me analisando da cabeça aos pés, só depois me dei conta de que poderia estar evidente o que Camila e eu estávamos fazendo. Havia resquícios em mim do nosso ato inapropriado, minha boca vermelha, cabelo bagunçado, vestido um pouco acima da onde deveria estar. Passei a me ajeitar discretamente sobre seu olhar de desgosto.

 

–Até quando você vai agir desse jeito, Camila? Sabemos da sua dor, mas já está na hora de superar isso. Amadureça! – O mais velho gritou enquanto agarrava Camila pelo braço causando-me espanto. Para mim uma atitude inesperada, mas para Camila parecia algo cotidiano, nada fora de sua realidade. A mais nova fechou olhos, respirou fundo mediando as palavras que sairiam de sua boca.

–Você não sabe nada sobre minha dor! – Respondeu entre dentes e a amargura de suas palavras nem foram direcionadas a mim, porém senti-me alvo de sua raiva.

Uma parte da vida de Camila, que desconheço, estava sendo reproduzida bem a minha frente e não era nada do que eu esperava. Imaginei essa ocasião como uma resposta para todas minhas dúvidas, porém só acrescentou muitas outras.

Que Camila tem um certo fraco para bebida não era nenhuma novidade, mas saber que era algo tão problemático dentro da sua casa, me surpreendeu.  

Camila arrancou violentamente a mão do pai que marcava seu braço. Eu queria dizer algo, fazer algo, mas a minha razão e receio por criar ainda mais problemas, me impediram.

Eu não deveria estar aqui. Está mais do que óbvio a crise familiar pela qual eles passam e conhecendo bem Camila sei que ela deve estar odiando me mostrar esse lado obscuro de sua vida.

–Acho melhor eu ir embora... – Hesitante, interrompi o momento pai e filha. Os dois direcionaram seus olhares em brasa para mim, que quase senti-me pulverizar diante deles.

–Você! –O mais velho apontou para mim acusativo. – Você é culpada disso!

–O-que? Do que você está falando?

–Você é uma péssima influência, fique longe da minha filha! – Suas acusações não faziam o menor sentindo para mim, mas o sentimento de raiva era inevitável. Ele não me conhece, nada sabe sobre mim ou sobre o cuidado que tenho com sua filha, muito menos o quanto eu quero vê-la bem, me acusar dessa forma é injusto. Ao meu ver a única influência negativa que Camila recebe era dentro da própria casa.

Devolvi seu olhar de fúria com um ainda mais irritado e estava pronta para perder o controle e jogar algumas verdades em sua cara, que talvez nem fizessem sentido, mas que sentira vontade de dizer. Porém, Camila assumiu minha posição, uma posição lhe era de direito.

–Cala a boca, Pai! Você não é ninguém pra dizer com quem eu devo ou não andar. Já sou adulta o bastante pra decidir o que faço da minha vida. – Camila praticamente cuspiu na cara do homem enquanto mantinha um dedo apontado para seu rosto.

–Então aja com uma adulta que você se diz ser!

A família Cabello gritava. Destilavam o ódio e as decepções que os perturbavam e quanto mais o pai gritava mais a filha elevava sua voz, que sempre se sobressaia ao do mais velho. E mais uma vez me acovardei, quieta e congelada no cantinho da casa que não ousei sair desde que entrei.

–Você já pode ir embora. E não volte mais. – Ele ordenou.

–Camila? – Chamei pela única pessoa que me faria sair dali agora, mas ela tinha as palavras trancafiadas em sua boca, talvez tão incerta quanto eu sobre o que fazer.

Capturei seus lindos olhos com o meu e estavam brilhando por conta das lágrimas que ela se forçava a prender, o rosto corado, a boca trêmula. Como eu queria abraça-la e dizer que tudo ficaria bem.

E se ela me permitir, ficarei ao seu lado para sempre.

 Nossos olhares conversavam e procurei em suas esferas cor de chocolate uma resposta, um consentimento, qualquer coisa que ela quisesse me mostrar.  Por mais que o pai de Camila me intimidasse, eu só sairia se ela quisesse, só depois de saber que ela ficaria bem, mesmo que no fundo eu soubesse que nada ficaria bem depois dessa noite.

E Camila me respondeu do jeito que não queria. Seus olhos me disseram adeus e como uma assinatura no final de uma despedida, uma lágrima desprendeu-se e trilhou um caminho amargo até sua boca. A Latina balançou a cabeça em confirmação e eu me retirei, sem olhar para trás.

 

Narradora's Point Of View 

Abalada Lauren abandonou a casa sob o olhar hostil de Alejandro.

Mais uma vez a chuva forte bateu em seu rosto, tão agressiva quanto as palavras do homem a expulsando da vida de sua filha. O vento forte fazia com que seu rosto gelasse a ponto de doer, mas nada lhe doía mais do que saber que não ouviria mais o som da sua risada harmoniosa, que não veria mais sorriso que a fazia perder o folego e principalmente seus olhos quentes.

Olhos que eram como o pôr-do-sol em um dia de inverno, tem um brilho debilitado, mas capaz de aquecer qualquer coração gelado.

Eram os sóis de Lauren.

A mulher de cabelos escuros como a noite, caminhou lenta e ainda confusa, sentira vontade de voltar e arrancar Camila de lá, mas era covarde demais para isso.

Continuou apenas a seguir seu caminho pelas ruas alagadas. Os pés afundavam-se em poças de água e folhas mortas, mas parou no meio da rua, a uma pequena distância da casa, quando ouviu mais uma vez o som impar da voz de Alejandro se sobrepor ao barulho da chuva. Mesmo abafado ouvi claramente seu decreto:

–Qual é seu problema, Camila? Eu já havia dito para não encontrar mais com essa moça! –Olhou para o portão pelo qual havia acabado e viu um movimentar de sombras. Eles estavam saindo.

–Não é da sua conta! Me deixe viver minha própria vida! –Camila gritava com todas as forças que ainda lhe restavam, como se mais alto gritasse mais fácil seria para seu pai compreender o que ela queria.

–Fique longe dela! –Foi a última coisa que Camila ouviu enquanto corria desesperada para fora da mansão, deixando um pai perplexo e cansado daquela velha discussão para trás.

Mesmo com a vista embaçada, por conta das gotas de chuva que pesavam em seus cílios, Lauren enxergou a silhueta esguia da pequena mulher atravessar o portão furiosamente, mas para sua infelicidade, Camila fora na direção contraria, não vendo que a garota dos olhos verdes estava no outro lado da rua, observando-a atentamente enquanto o coração perdia o ritmo adequado.

Camila correu e correu, como se sua vida dependesse disso, e talvez dependesse. Era como fugir de sua própria existência, de quem ela era. De tudo.

Suas pernas começaram a latejar, exausta e sem folego, parou sobre os degraus de uma escada de concreto que encaminhava para uma pequena praça, que em dias de sol fazia alegria de crianças da vizinhança, mas agora a paisagem melancólica só servia de cenário para sua tristeza. Suas pernas ardiam e não aguentando mais a dor deixou-se cair de joelhos, rendendo-se a solidão. Como se acabasse de perder uma guerra, onde sua luta fora inútil.

Suas lágrimas rolavam desregradas sobre seu rosto, soluçava a ponto de ficar sem ar, passou as mãos tremulas sobre o cabelo, erguendo o rosto para o céu escuro e deixou que somente a lua fosse testemunha de sua dor, sem saber que a pouco metros dela, a única pessoa que lhe oferecia o equilíbrio que precisava, a assistia compartilhando da intensidade de suas emoções e adotando uma força sobrenatural para não ir até ela. Queria abraçá-la, beija-la, protege-la, mas considerou que Camila precisava disso. Um tempo para si, sem saber que a única coisa que Camila precisava agora era dela.

Lauren virou-se caminhando para longe dali, sem rumo. Tentando manter a cabeça firme, como se não tivesse nada a perder, como se estivesse fazendo a coisa certa para as duas. Lauren também se sentia exausta, era doloroso demais vê-la daquele jeito e saber que não poderia fazer nada, porque Camila não permitia.

Dúvidas, receios, o fato de Camila afasta-la ao mesmo tempo em que parecia a querer por perto, sua incapacidade em se aprofundar sobre a vida da jovem cubana... Era tudo confuso e problemático.

E em seu conceito de amor as coisas deveriam ser simples.

Talvez devesse mesmo se afastar.

“O amor não deveria machucar...” E ao mesmo tempo seus pensamentos fizeram-se um só, em uma única mente, desejando por uma facilidade que jamais seria atribuído ao amor.

Amavam-se o suficiente para deixassem ir, assim ninguém mais teria o coração machucado.

E durante toda a noite, as duas ficariam a pensar que aquele seria o último adeus.


Notas Finais


O que acharam?


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