História My Soundtrack - 2 Temporada - Eu e minhas garotas

- Ai meu Deus, eu não acredito que você está aqui – choraminga, Naty. Abraço mais apertado elas duas.

 - Quanto tempo hein, mocinha – diz Mel, se desgrudando do abraço. - Você está tão diferente!

 - Eu tive que mudar – digo olhando para ela.

 - Sim. E agora vai contar para a gente toda essa mudança - exclama, Naty. Elas estão tão animadas.

Noto Pattie ao nosso lado, e imediatamente solto as meninas envergonhada. Tento limpar apressadamente as lágrimas que insistem em cair.

 -Ah, por favor, não parem. Continuem. Não quero atrapalhar vocês - ela diz. - Só quero avisar que vou ficar no meu escritório, se quiserem qualquer coisa, podem pegar. A cozinha está abastecida, e eu comprei uns mimos pra Kim que acho que todas vão gostar.

 - Nossa, muito obrigada, Pattie. Eu não sei nem como agradecer, você está me ajudando tanto...

 - Não precisa agradecer, está tudo bem agora. Aproveite a noite com suas amigas, nos falamos amanhã. Boa noite.

Ela saiu, nos deixando sozinha ali. Quando me viro, encontro Mel me olhando com aquele olhar que nunca muda.

 - Ela é a mãe do...

 - Sim!

- Além da bicha ser linda e poderosa, ela é uma boa pessoa, Kim – concluiu, Naty.

- Sim. Foi ela que me ajudou quando eu voltei de lá. Ela estava aqui, me esperando.

 - E ele? - perguntaram em juntas.

- Ele não estava. Ainda não o vi.

- E agora? - questionou, Naty

 - E agora nada. Eu só quero voltar com a minha vidinha. Sei que não vai ser a mesma coisa, nem eu não sou a mesma. Não posso negar, isso me magoa, a indiferença dele, mas o que eu posso fazer? 8 meses se passaram, lutei pela vida e sobrevivi. Estou com vocês agora, e está tudo bem. O pior já passou!

[...]

 - Fui demitida daquele estágio horroroso – soltou, Mel

 - Ué, o que houve? - perguntei enquanto lambia a colher de brigadeiro

 - O meu chefe era muito grosseiro.

 - Ele estava se divorciando – defendeu, Naty

 - Isso não é motivo! - berrou, Mel – Ok, é uma fase complicada, não é fácil..., mas poxa, descontar no estagiário. Isso é uma palhaçada. E eu não estava muito boa, então caímos na porrada.

 - Vocês brigarão? - gritei incrédula

 - Discutimos – corrigiu – Fim das contas, fui demitida. O que foi bom né, assim eu não perdi meus direitos. Mas o velho se vingou, sujou minha carteira de apresentação e ainda manchou minha imagem na faculdade, como 'the Brazilian without education'

Não me segurei e comecei a rir, ou melhor, gargalhar. Mel é bem do tipo de garota que leva essa reputação, nunca foi diferente. Que saudade das minhas meninas. Até que o assunto evitado, começou a ser questionado.

 -E como foi lá? - perguntou Mel, de repente.

 -Foi a pior experiência que eu já tive.

 -Eu fiquei completamente transtornada. Em um minuto estávamos aquele racha. E no outro, eu estava no galpão super. assustada.

 - Me levaram para um lugar muito estranho, parecia uma gruta, só que era alto... lembro-me de ficar com muito medo, e quando eu vi o Justin ali, no mesmo estado que eu, eu fiquei pior.

 -Ainda bem que o Matt morreu. Eu fiquei com tanta raiva, eu... Queria matá-lo. - disse Naty, entredentes.

 -Sempre ameaçavam a gente, mandam a gente ficar calada. Os meninos nos protegiam, e combinamos de não contar nada. Tudo era muito maior. Eles tinham tudo em suas mãos - Mel estava raivosa

 -Até a polícia eles estavam pagando. Ainda mais quando o corpo do Justin não foi encontrado.

As meninas me explicavam o que tinha acontecido depois que eu fui sequestrada pelo Matt. Fiquei desesperada e bastante surpresa em ouvir seus relatos. Então tudo era muito mais do que parecia. Matt não só tomou os negócios do Justin, como também alguns dos seus trabalhadores, e havia comprado a polícia. O que não é surpresa para mim com a grande quantia de dinheiro que ele oferecia e poder que ele tinha, era fácil de manipular quando se precisa de dinheiro ou se está com medo. Disseram também que nunca mais tiveram notícias da Gigi, que ela sumiu logo depois que fui sequestrada. As últimas informações que tiveram, foi que ela havia se mudado.

 -E os meus pais? - perguntei com medo da resposta.

 -Ah, a tia Beatriz e o tio Carlos não souberam de nada. Nos primeiros dias eles ligavam direito quando deram sua falta, e os caras sempre vinham aqui...

 -Os primeiros dias foram os piores

-Eles queriam manter a gente na linha, e bom... era nossa única chance né.

Soltei um suspiro de triste. Tudo que aconteceu comigo acabou afetando não só a mim, mas como minhas amigas, meus pais. Todo mundo sofreu com esse sequestro.

 -Obrigada – digo pegando a mão delas suas duas – Obrigada por se arriscarem por mim, obrigada por ajudarem minha família. Sei que não foi fácil, sei que deve ter sido muito difícil fingir que está tudo bem quando vocês nem sabiam a resposta, ou sequer alguma informação. E me desculpa por esconder tudo isso, todo aquele segredo...

 -Kim, está tudo bem... Você queria proteger a gente, queria proteger a sua família e acabou entrando em um problema muito maior. - disse Naty compreendendo tudo o que eu não sabia explicar.

 -Só não deixe um segredo ser maior que a resolução do problema. Peça ajuda! Estamos aqui, amamos você e iremos te ajudar – Mel me abraçou forte

Tentei segurar as lágrimas, mas era inevitável. Estava me sentindo muito bem em saber que elas sempre estariam ali, e que me apoiavam apesar de tudo o que fiz e escondi. Me sentia mau por tê-las colocado em maus lençóis, mas feliz por tudo já ter passado, e agora tê-las aqui, bem, comigo e livre de toda a bagunça que nos atormentava.

Passamos a noite toda assistindo filme, conversando sobre assuntos aleatórios, ouvindo música e comendo muito. Pattie havia me dado alguns presentes, encheu meu guarda roupa com novas roupas e acessórios incríveis, me comprou um celular de última geração e um notebook para que eu pudesse falar com a minha família. Apesar de estar louca de saudade, eu preferi não me manifestar. Ainda era surreal tudo isso. Sentia-me ótima, mas era como se de uma forma ou de outra o pesadelo ainda estivesse aqui. Acredito que seja porque ainda não caiu a ficha que eu finalmente estou livre e que tudo isso acabou e eu posso respirar.

Olho ao redor e encontro as meninas adormecidas na cama gigante do quarto. Sinto-me mal em saber que até dias atrás eu ainda era motivo de tristeza para elas duas. Quão ruim deve ter sido? Ficar calada sem poder ajudar. Meus pensamentos voaram automaticamente para o homem que me trouxe tudo isso... Matt. Sua morte me trouxe a liberdade, mas será que trouxe a minha paz? afinal, seu sangue está em minhas mãos. Eu o matei.

Tomo um susto ao sentir um aperto no ombro, era Mel.

 - O que está fazendo aí? - perguntou esfregando o olho. Estava olhando a janela pensando com tudo, apenas dei de ombro.

 - Sabe Kim, eu fiquei com inveja de te ver viver um amor tão louco com o Justin. Era isso que eu queria, era isso que eu sempre buscava, e bom... Eu e Ryan não demos certos. E você e o Justin sempre estavam ali, apesar dos pesares – ela soltou uma risadinha sem graça e olhou para mim - Daí eu vi que tinha muito mais do que aparentava, tinha esse segredo, e toda aquela confusão, e quando você foi sequestrada... vi era ridículo eu querer um amor louco, quando eu já tinha uma amiga louca. Encarar tudo isso, lutar e enfrentar aquelas caras por mim e pela Natália, pela sua família, e até por esse garoto... Kim, eu estava sendo tão boba.

 - Mel...

 - Não, é verdade. Eu estava tão deslumbrada. E esse sequestro me acordou. Hoje eu dou muito mais valor ao quer eu tenho.

 - Isso mexeu com todas nós.

 - É... mas isso te afetou muito mais. Eu fiquei com tanto medo – notei que ela estava prestes a chorar - Não com medo das ameaças, e de todo aquele interrogatório da sua família, mas com medo do que pudessem fazer com você. Nunca pensei que fossemos passar por isso, esse segredo, tudo... eu não tinha estruturas. Mas eu segui em frente, me convenci que precisava ser positiva por você. Eu até fui na igreja – ela disse me fazendo rir junto com ela.

Ficamos em silêncio por um tempo. Nunca pensei que a Mel tivesse inveja de todo aquele mundo ilusório que eu vivia, ainda bem que ela descobriu a verdade. Ela me falando isso, me mostra o quão perigoso esse mundo é, triste e inesperado. Em um momento estávamos

chegando em Los Angeles para ingressar na faculdade e na nova vida, e no outro, elas estavam tristes e depressivas pela amiga sequestrada por um bandido louco. Claramente imprevisível.

 -Ainda doí. - Confessei – Sonhei tanto em sair daquele lugar, em fugir, que quando isso finalmente aconteceu meu corpo e mente não reage. É como seu eu estivesse acostumado a ideia de estar prepara para tudo, e principalmente, para o pior.

 -Kim, a melhor maneira de lidar com a dor é seguindo em frente!

[...]

No dia seguinte, as meninas já não estão mais aqui. Pattie havia pedido para que levassem elas para casa. Mel e Naty ainda tinham aula e trabalho. Penso que se eu tivesse feito outras escolhas, eu provavelmente também estaria estudando e trabalhando. Apesar dos protestos, pedi que fossem para seus compromissos. Não queria prejudica-las mais do que já havia feito. Por isso, passei o dia no meu quarto, atualizando minhas redes sociais e tudo o que eu havia perdido nos últimos 8 meses. Muita coisa aconteceu, a empresa em que eu trabalhava entrou em falência, Mel e Naty não moravam mais no apê de antes, Ryan e Chaz compram um apartamento melhor em um lugar de boa condição. Descobri também que aparentemente, Alberto está namorando, e pelo o que parece, minha família não me contou, mas pelas fotos no seu perfil ele parece bem apaixonado e diferente. O país ficou melhor e meu país, Brasil, ficou pior. Músicas maravilhosas foram lançadas e artistas incríveis moraram. Por curiosidade, pesquisei o nome de Justin no google;

' Herdeiro da companhia Bieber, desaparecido'

' Caso não resolvido; Bieber'

'Aonde está Justin Bieber?'

'Procura-se paradeiro do herdeiro e empresário, Justin Bieber'

 -A curiosidade matou o gato – quase caiu da cama de susto. Invés disso, peguei a primeira coisa que vi na minha frente, no caso, um lápis, e tentei furar a pessoa que havia me assustado em legitima defesa.

 -Ei, calma. Sou eu! - Alan estava com os braços levantados se mostrando inocente... aham, sei.

 -Você me assustou!

- É... E por pouco você não me matou com esse lápis - disse rindo

Voltei a sentar na cama, dessa vez, fechando o notebook e esperando o Alan dizer o que ele veio fazer aqui.

 -Se você acha que vai encontrar algo na internet está muito enganada...

 -Anda me espionando? - perguntei

 -Essa é a minha função, ajudar, espionar, resgatar donzelas em perigo...

Ele era bem bonitinho, mas muito novinho. Um magrinho que aparentava muito mais do que sua aparência de moleque. O garoto perfeito para esse trabalho.

 -Então você trabalha pra Pattie? - perguntei curiosa.

 -É... Ela gosta do meu serviço - ele anda pelo quarto xeretando as gavetas, e tudo por onde toca.

 -Como se conheceram?

 - Você é curiosa, hein – ele rir – Ela era amiga do meu pai, daí quando ele morreu, eu fui trabalhar com ela.

 - Ela cuida de você, né

- - Eu não sou um bebê para ser cuidado. Faço a mesma função que meu pai fazia, sou o braço direito dela. - Notei que ele não gosta que o subestimem.

 -Tão novo e já resgatando donzelas em perigo...

 -Pois é... A gente faz o melhor, princesa – disse piscando. Um verdadeiro galanteador. Esperto, malandro, novinho e galanteador. Ri com sua ousadia.

 -Exatamente, fazemos o melhor... - encontro Pattie na porta, sorrindo para mim. - Alan, nos dá licença, por favor.

 -Sim, senhora – ele acena para mim e sai porta afora.

Pattie entra no quarto. Noto a elegância que ela tem ao andar e até em se vestir. Ela olha o quarto todo, observando tudo, até parar em mim. Por puro habito, olho para sua cintura e vejo que ela carrega uma arma. Acho que ela notou meu desconforto com a situação, pois imediatamente fechou o sobretudo, escondendo a arma. Sentou-se à minha frente, deixando o clima mais tenso.

 -Desculpe por isso – diz se referindo a arma – Uma mulher precisa andar protegida

 -Claro, eu entendo

 -Kimberly, precisamos conversa.