História My Soundtrack - 2 Temporada - Loucamente apaixonada

Era assim que eu me sentia; nervosa. Havia relaxado em relação a Pattie, mas sua expressão e toda essa tensão e mistério que ela trazia nas palavras, me deixou apavorada. Alguma coisa estava errada, e ela estava aqui para comunicar algo, disso eu não tinha dúvida.

Por isso, assim que ela me informou que queria conversar comigo, assenti e esperei o que quer que ela tenha pra dizer.

 -Você não sabe, mas eu nasci no Canadá. Sou canadense, sempre fui apaixonada por lá. Meus pais são cristões... devotos de Deus. Sempre íamos a igreja todo domingo, eu e meus irmãos. Nossa família é grande. E por ser grande demais, sempre fomos muito conhecidos, todo mundo conhecia os filhos do Bruce e Diana – ela se levantou. Ficando de costas para mim. Quando ela virou, eu entendi que falar deles, era difícil.

- Sempre fui a diferente, eu não me encaixava ali, já era adolescente quando fui procurar diversão lá fora. Onde ninguém me conhecia. A família pode ser um fardo ás vezes. Então eu fui embora!

 - Você fugiu de casa? - perguntei incrédula

 - Fugi para mundo. Coisa que meus pais nunca admitiam que eu fizesse. Mulher não deve frequentar festas, casas dos vizinhos ou até brincar com garotos. E eu sempre fui contra tudo isso, sempre gostei de ter muitos amigos e conhecer lugares novos. Eu tinha sede da vida, queria me afogar no mundão lá fora, e eu nunca faria isso ali, com meus pais.

 -Então você fugiu...

 - Sim! Vim pra Nova York. Era um sonho... Trabalhei duro, entendi que nada vem fácil, foi difícil no começo, mas eu conheci muita gente bacana, a Cora, o pai do Alan, Alvin... E foi daí que conheci o James.

Pattie abriu um sorriso tão lindo que era inevitável não pensar quem era motivo dele. Era o mesmo sorriso que eu dava quando falavam algo bom do Justin, algo especial.

 -Pai do Matt – disse. Ela olhou para mim e assentiu.

 -Ele mesmo. Ah, Kimberly... Ele era um sonho. Era o meu sonho todinho. Era como se ele tivesse escapado dos meus devaneios para o mundo real, eu claro, me apaixonei de cara. Ele não... fez jogo duro. E eu entrei no jogo. Não nos desgrudávamos, ficamos assim por três meses. Eu e ele, em um amor só na cidade de Nova York. - Ela se sentou na poltrona a minha frente e fez uma expressão frustrada, e foi ali que percebi que havia um lado ruim nesse sonho todo. Como sempre têm, afinal, não existe sonhos.

- O que eu não sabia, é que ele tinha um lado cruel. James comandava as exportações marítimas ilegais. Isso explicava muita coisa, a grana, o lucro, a fama, e o meu sonho.

- Imagino o quão difícil deve ter sido para você. Está apaixonada e está também no meio de uma situação difícil e errada. Você não quer está ali, mas está, porque é ali que está tudo que ama.

- Sabia que iria entender! - Pattie disse para mim. - E foi por isso que eu não me importei. Ele era o amor da minha vida, tinha tudo isso, mas era a pessoa que eu mais confiava e amava de toda minha vida. A partir dali, vivíamos uma vida perigosa. Era louco, mas tão divertido. Conheci tantos lugares, rodamos por todos os cantos, passamos por momentos difíceis, até eu me deparar com meu irmão, Paolo. A minha espera, com minhas coisas na mão, pronto para me arrastar ali.

- Ai meu Deus. O que você fez? - perguntei aflita com toda a história que ela estava me contando.

 - O que eu fiz? - ela riu e se levantou – Corri para James, o que não foi uma ideia inteligente. Ele ficou furioso e queria matar o meu irmão, eles brigaram e se eu não intervisse, a situação iria ficar pior. Peguei minhas coisas e fui embora. Eles podiam nos separar, mas nunca acabariam conosco.

- Eu não estou entendendo. Você deixou o James e voltou para casa? - perguntei.

- Sim, voltei. Kimberly, meu pai tinha controle de tudo, todo mundo adorava a minha família, eles iam acabar ferrando o James, tudo por minha causa. É claro que eu voltei, foi triste, mas era a única saída.

O famoso e cliché, sacrifício por amor. Ele está em toda história. Ele é aquela parte que chamamos de clímax de toda história de amor, e eu tenho certeza, que essa história da Pattie, esse sacrifício foi essencial ou talvez a pior coisa que ela fez.

 -Quando eu cheguei em casa, levei uma surra, minha mãe estava decepcionada e meu pai, ah... esse daí me odeia até hoje. Mas eu não me importei, fiz o que me mandavam!

- Eu não entendo. Você abriu mão de tudo isso, de toda sua liberdade, sua paixão para obedecer seus pais? Você fez isso a vida toda, Pattie.

Ela soltou uma risada que me deixou incomodada. Qual era o motivo da graça? Eu não estava entendo nada. Ela estava me contando a história com que intuito?

- Eu não abri mão do meu amor, eu o escondi para protege-lo. James era tudo o que eu tinha, e por ser tudo isso, eu preferi esconder para que ninguém tomasse o que tinha de mais precioso.

Assenti o que ela quis dizer, entendo todo aquele sentimento que ela sentia. Quando amamos alguém e querem tomar esse nosso amor, quando tentam destruir, você tem que mantê-lo seguro, protege-lo, para que ninguém tente acabar com aquilo que você mais ama. Foi assim que eu me senti quando Matt queria a todo momento me transformar em algo que eu não era, para que ele não me tirasse a esperança e todo o amor por Justin, eu preferi esconder, mantê-lo para mim, bem guardadinho no meu coração, para que quando a poeira abaixasse, eu pudesse o trazer de volta, seguro e com vida, para que eu finalmente pudesse amar novamente. Porém não posso amar por dois quando esse amor não está aqui.

- Voltei com meus estudos, minha vida normalmente. Eu não tinha mais contato com o James, mas havia prometido que entraria em contato, mas não consegui, meu pai havia colocado todo mundo na minha cola, havia me deixado de castigo, foi uma confusão. Só que ele havia feito uma coisa muito errada subestimado o James, e ninguém pode subestima-lo. - ela abriu um sorriso enorme e olhou para mim – Era domingo de manhã, quando ele invadiu a igreja, pediu desculpas ao padre, e me tirou dali. Eu fiquei assustada, e completamente apaixonada. Foi uma loucura, e a coisa mais desafiado e corajosa que alguém fez para mim. Mas não deu certo. Bom, meu pai não deixou ele sair da cidade, e quase o prendeu. Ele iria fugir comigo, mas eu decidi ficar, eu não podia acabar com ele assim, meu pai estava me chantageando, foi a maior decisão que eu fiz...

 -Você decidiu ficar – conclui. Ela assentiu triste.

 - Meus pais resolveram se mudar para uma área mais restrita, e me isolarão completamente. Até eu conhecer o Jeremy. Eu sabia que tinha algo ali, e tinha... Jeremy era o herdeiro de uma boa família, e meu pai havia se associado a eles, e claro... a filha rebelde tinha que sossegar com um homem direito, de boa família e que cuidasse bem da filha deles.

A partir dali eu já tinha noção do que havia acontecido realmente, e logo a empatia chegou em mim, me trazendo um aperto no coração. Pattie sofreu, sofreu por amor, sofreu como mãe, sofreu como amiga, e acredito que viver sozinha, sem todos que amam, deve ser parte de um sofrimento pessoal e triste.

- Bom, ele era um cara legal... Eu me encanei, ele era um homem bom, generoso, elegante, charmoso e... e não era o James. Mas eu o amei, amei por me amar e por colocar acima de tudo o que ele mais amava.

- Ele sabia do James? - perguntei

- Não! Eu nunca contei... - ela soltou um suspiro e continuou – Nos casamos e fomos morar em uma pequena cidade no Canadá. Até que eu descobri que estava grávida, e eu e Jeremy tínhamos poucos dias de casados, então...

- Era do James! - completei - Você e eles ficaram quando ele veio te buscar e você acabou engravidando.

 - Sim – ela abriu um sorriso tímido - Eu me senti a mulher mais feliz do mundo, eu estava grávida do homem que mais amava do mundo todo. Mas essa felicidade foi preenchida pela culpa, porque eu não podia criar essa criança sem o pai, sem o James.

 - Mas você não podia traze-lo de volta... Tinha o Jeremy.

 -Exato! - confirmou – E tinha a minha maldita escolha.

Não era difícil de imaginar o quão deve sido triste e doloroso para ela encarar todos os dias o arrependido da escolha que teve de deixar o grande amor da sua vida ir.

 -Jeremy e eu cuidamos do Justin, o criamos, e bom... Não foi fácil, Jeremy sempre estava no meu pé, ele ficou diferente. Eu decidi me concentrar no trabalho e passei a me divertir mais... achei que foi por isso. Conheci a Mary, uma ótima amiga, era casada, tinha um estilo diferente do meu e tinha um filho da mesma idade que Justin, até que um certo dia eu conheci seu marido...

 - Ai meu Deus – exclamei chocada.

- Ele estava tão diferente, tão mudado, mas quando nos vimos era como se o tempo não tivesse passado. Embarcamos em uma relação secreta e nossa... Foi a coisa mais errada que eu já fiz, mas meu coração dizia que era o certo a se fazer e bom... Durou pouco. Ele foi assassinado pelo próprio filho. E por medo, eu não sei, eu... Só queria ir embora, não queria estragar a vida do Justin com as minhas crises, quase matei o Matt, eu estraguei uma família, se eu não tivesse me aproximado dele James ainda estaria vivo, estaria vivo e bem...

- Pattie, você não podia ficar ao lado do Justin passando por tudo isso, pirando.

- Não, Kim. Foi errado, mais uma escolha horrível. Eu tenho esse defeito, e eu nunca vou me perdoar por isso, e entendo que o Justin tenha raiva de mim até hoje. Raiva por deixa-lo com Jeremy, raiva por tudo isso ter acontecido na vida dele. Eu poderia ter sido uma mãe melhor, não fui. Mas eu estou tentando reparar meu erro, todos esses anos me mantendo escondidas, no meio desse mundo obscuro, só observando meu menino, sem conseguir me aproximar... até você aparecer!

Olhei para ela sem entender. Como assim? A minha chegada havia mudado alguma coisa na relação dos dois?

- Justin se apaixonou por você, Kimberly. Meu filho não é o exemplo de homem dos sonhos, ele não chega nem perto, e acredito que grande parte tenha sido por minha culpa. Mas quando eu vejo vocês, e quando eu penso em tudo o que lhe aconteceu, eu lembro de mim e das minhas péssimas escolhas. Eu vejo o quanto você está curiosa e aflita pelo sumiço dele, você o quer perto e tem medo de perde-lo. Mas ás vezes, precisamos aprender quando é hora de abrir mão. E por conhecer e também não conhece-lo, é que eu te peço para larga-lo.

- O que? - perguntei perplexa

Não conseguia raciocinar direito pelo choque de suas palavras. Ela queria que eu fosse embora da vida do Justin? Que eu sumisse? Não posso abri mão do Justin, não posso deixa-lo. Não posso abrir mão do meu amor pelo seu pedido inusitado. Não dá. Eu preciso dele, e ele precisa de mim. Né?

- Por que está me pedindo isso? Você cometeu esse erro com o James, e quer que eu faça o mesmo com o Justin? - perguntei

- Não. De jeito nenhum... Você é minha chance de mudar. Kimberly, você não entende, mas eu preciso que tente. Vocês se amam demais e esse amor está destruindo vocês, está acabando e intoxicando os dois. E para protege-lo, vocês precisam seguir caminhos diferentes, porque agora, não é a hora de se encontrarem

- Está dizendo que nos conhecemos na hora errada? - perguntei sem acreditar realmente o que estava ouvindo.

- Sim! Vocês precisam se afastar. E é por isso que eu já ajeitei tudo, já planejei para o bem de vocês.

Levantei-me da cama e andei pelo quarto procurando algo para responder, mas nada vinha. Nunca pensei em abandona-lo assim. Com tudo isso que passei, esses 8 meses infernais, eu só conseguia pensar na minha família e nele, e agora eu não vou conseguir seguir em frente sem ele aqui. Já está sendo difícil aceitar que logo depois de ter saído daquele inferno com Matt ele não me procurou, agora isso... Não, é loucura!

- Não dá! - soltei

- Claro que dá, Kimberly. - Ela se levantou também e veio até mim - Você não passou por tudo aquilo atoa, você se fortaleceu como pessoa, encarou as piores coisas e tortura pela sua família e pelo meu filho, sofreu e sobreviveu, está aqui agora. Mas não esquece de você. É por você tudo isso, não por ele. Não coloque ele em primeiro lugar. Ele nem se quer veio ver você, porque ele não quer te ver. E é por isso que vocês têm que se afastar, se magoaram demais e passaram por coisas demais, foi doloroso e já chega. Não acha?

- Eu sinto falta dele, e eu preciso dele... eu amo seu filho – deixei que as lágrimas caíssem.

 - E ele ama você! Mas precisa se amar mais do que ama ele. Vai... segue sua vida, fuja dessa confusão toda, você tem uma chance agora, não cometa os mesmos erros que eu... se liberte, viva, e se coloque sempre à frente de tudo.

- É um péssimo conselho – afasto-me dela.

- Mas é o que você precisa ouvir agora! - ela levanta também e se aproxima de mim. - Você se meteu nisso tudo e agora está encurralada, ainda não acabou, Kim. Estão a sua procura, e para que ninguém saiba do seu paradeiro você tem que ir. Vai ser uma ótima oportunidade, e uma forma de você começar do zero, longe de tudo e melhor, dar um tempo para si mesma... como nunca antes.

Depois de tudo isso eu não poderia simplesmente voltar com a minha vida como se nada tivesse acontecido. Havia consequências, e eu tinha que pagar por elas. É tarde demais para voltar atrás achando que poderia retomar a minha vida, achando que eu e ele iriamos voltar o que éramos antes, acabou. Escolhi sacrificar minha vida em prol de todos, agora eu preciso recolher o que sobrou dela e seguir em frente. Tenho que recomeçar.

 -E o que eu devo fazer? - pergunto para ela

 -Primeiro, você vai reencontrar seus pais.