Recuei a vista para a frente encolhendo-me.
-Que sorriso sinistro...- Sussurrei baixinho. Tentei relevar meus próprios pensamentos sobre esse garoto.
Sabe...não é por nada mas, desde o primeiro minuto nessa sala ele não parou de olhar, me sinto observada, acuada por ele, mas... não posso tirar conclusões precipitadas sobre ele se eu ainda nem o conheço.
-Atenção.- O Prof. levantou o tom de voz ao falar, levantou-se e caminhou para a frente da turma.- Fiquem todos quietos, sei que a situação é crítica, mas gritaria e bagunça não ajudarão em nada.- Ele foi firme ao falar, todos se calaram e se sentaram, depois com o apagador removeu toda a escrita do quadro negro.
-Odeio esse velho.- Larissa se debateu ao sentar.
Fitei meu relógio de pulso. 8:30 da manhã e nada se desenrolou, ainda sem notícias, continuávamos socados nessa maldita sala gélida.
-Ei...- Senti um leve cutucado em meu ombro direito.- Você copiou o que o Jaime passou no quadro?- Com um leve ar de riso.
-Sério mesmo que você quer copiar?- Larissa arfou antes que eu respondesse.- Olha em que situação nos encontramos.-
-Você quer que eu faça o que?- Rafael franziu a testa ao encará-la.- Que eu vista uma capa, arrombe a porta e procure o assassino? Está bom pra você?-
-Gente, por favor...- Tentei acalmá-los.
Ainda para piorar tudo, um blackout em provavelmente todo o prédio nos deixou às escuras, a única iluminação que tínhamos era a solar adentrando pelas quatro janelas de vidro da parede da minha fileira, sem os ar-condicionados funcionando, teríamos que abrí-las.
-Ai que ótimo.- Uma garota loira que estava em pé no meio da sala berrou.
-O juízo final é hoje, tenho certeza.- Larissa levou as mãos às têmporas massageando-as.- Vou começar a pedir perdão dos pecados...-
Depois de todo o climão entre Larissa e o Rafael, eu tinha uma sensação de que algo iria arrombar a porta e matar todos nós, com muitas pessoas na sala e um clima pesado, senti a claustrofobia me abraçar.
Meu corpo começou a sufocar, como se meus ossos comprimissem a cada segundo, senti as paredes se fechando como se me sufocassem a cada respiro, como se algo enfiasse os dedos nas minhas narinas me impedindo de respirar.
-Larissa...- Apertei seu ombro.- Não tô me sentindo bem...-
-O que foi mana?- Ela arregalou os olhos e com a costa da mão direita, verificou minha temperatura encostando-a em meu pescoço.- Você está queimando.- Disse ela com uma expressão preocupada.- Se eu tivesse algum remédio, sei lá.-
-Não posso tomar qualquer um...sou alérgica.- Minha vista ficou turva, levei as mãos aos olhos e massageei-os levemente.- Maldita claustrofobia.- Gruni.
-O que você toma quando tem essas crises?- Disse Larissa.
-Calmante ou analgésico...mas eu não tenho na minha bolsa.- Tirei as mãos dos olhos e respirei fundo.
-Professor!! - Rafael exclamou atrás de mim.- A Anna tá passando mal.- Todos olharam.
-E o que você quer que eu faça?- Disse Jaime.
-Posso pelo menos abrir a janela?- Questionou Rafael.
O professor balançou a cabeça dizendo sim, enquanto Rafael fazia esforço para abrir a grande janela de vidro do meu lado, Larissa se distraiu com alguém la de trás.
-Já volto mana...- Sussurrou ela se levantando rapidamente. Não virei para ver aonde ela se dirigia, eu estava muito grogue para isso, e além disso, a sala estava na penumbra.
-Não vá tropeçar- Falei.
- Pronto.- Bufou Rafael ao abrir a janela.
-Obrigada...-Sorri levemente.
-Se precisar de algo.- ele sentou-se novamente. -É só me pedir- Ele era tão meigo por dentro quanto por fora.
-Tudo bem...- Suspirei ainda voltada para a frente, senti a leve brisa entrar pela janela. Mas minha febre aumentava a cada momento.
-Voltei.- Larissa surgiu do lado da minha mesinha, colocando uma garrafinha preta e me entregando algo.
-O que é isso?- Franzi a testa, meus olhos estavam doloridos.
-É remédio... toma.- Disse ela desenroscando a tampa da garrafinha preta.- Não se assusta, isso é agua.- Brincou ela indo para seu lugar sentando e virando-se par trás.
Ela havia me entregado uma pílula, pequena, branca e com um pequeno símbolo cravado nela, um yin yang.
-Mas que diabos de remédio tem um yin yang cravado nele?- Franzi a testa segurando a pílula com o polegar e indicador. Tinha certos tipos de remédios que eu não poderia tomar, tenho algumas alergias nada legais.
-Toma logo isso mulher...- Larissa mexeu os cachos.- Se é remédio, não importa.-
-Com quem você pegou?- Disse Rafael atrás de mim.
-Virou fiscal de vigilância farmacêutica?- Larissa franziu a testa.
-Chega...- Bufei colocando a pílula na língua, logo em seguida virei a garrafa na boca.
A água gelada empurrou a pílula garganta abaixo, meu corpo estremeceu e minhas respiração diminuiu, foi como se todos ao meu redor ficassem mais lentos.
-Tá vendo? O yin yang não matou você.- Larissa brincou, Rafael bufou impaciente atrás de mim, dei um leve sorriso deixando a garrafinha de volta na mesa.
-Mas...- Tentei disfarçar a dificuldade que eu tinha de falar, meu coração estava palpitando na minha garganta e a minha vista parecia mais turva a cada segundo.-Com quem... conseguiu?-
-Ahn...- Larissa ajeitou o cabelo atrás da orelha e desviou o olhar.- Aruan...- Disse ela me fitando nos olhos.
-O quê?- Tentei me levantar mas minhas pernas fraquejaram, minha cabeça rodopiou.
-Calma...- Senti Rafael me apoiar por trás.
Meus olhos pesaram e fui derramada em uma imensa escuridão.
Close your eyes Feche seus olhos
So many days go by Tantos dias passam
-Breaking Benjamin. Dance with the Devil
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.