História Mysterious Heart-Nas asas de Aruan Felix - Doce Neura

Vagando por uma imensa escuridão à passos leves, ouvi lentamente meu coração bater, o som foi aumentando, aumentando, até que senti minha respiração quente no mesmo ritmo leve que o coração.

Despertei daquela prisão escura, mas permaneci de olhos fechados, havia alguém do meu lado direito, bem próximo.

-Não Dudu...- A voz masculina familiar sussurrava baixinho.- Eu sei disso...-  Parecia impaciente.- Hoje faz cinco dias...-

Cinco dias? Tô apagada à cinco dias? Merda.

- A gente grava Escadona outro dia, hoje eu não tô afim não...- Sussurrava baixo sem perder o tom ríspido ao falar. Então encerrou a ligação seguido de um suspiro profundo.- Amanhã...venho visitar você de novo...- Senti sua voz muito próxima, o perfume levemente adocicado exalou.

Com passos leves ele foi se afastando, ouvi um som de maçaneta... e se esvaiu.

Visitar você de novo? Pensei comigo mesma. Senti meu coração acelerar. Demorei um pouco para associar a voz ´´familiar´´ a quem realmente pertencia... Aruan. Sua voz era tão diferente daquela fria e seca do Instituto.

Mas...o  que ele estaria fazendo aqui? Perdendo seu tempo comigo...parecendo tão preocupado, a culpa foi dele mesmo... aquela pílula.

Esperei alguns segundos para ter certeza que não tinha mais ninguém ali e abri os olhos. Um quarto branco de hospital, com luzes na penumbra. Eu estava deitada em uma caminha de hospital, os lençóis brancos me cobriam até o tórax, eu estava com um blusão de cor azul clarinho, minha mão esquerda estava enfaixada com um cateter enfiado, estava dolorido assim como todo o meu corpo.

Minha visão ainda um pouco turva melhorava aos poucos, olhei ao redor... do leu lado direito tinha uma cadeira acolchoada cinza de rodinhas, seu assento estava afundado, como se alguém tivesse passado muito tempo sentado ali, me observando.

Até agora não acredito no que estou passando, fiquei o que? Em coma? Por cinco dias?

Ouvi alguém destrancar a porta levemente, meu coração disparou só de pensar que poderia ser ele...

-Anna, minha filha...- O sorriso preencheu todo aquele rosto de leves rugas.

-Tia.- Sorri levemente ao ver ela se aproximar.

-Que bom que está bem, estava tão preocupada...- Me abraçou levemente, seu vestido vermelho claro exalava cheiro de rosas.-O que aconteceu com você?- Questionou com uma expressão preocupada.

-Não lembro...- Respondi secamente desviando o olhar para a frente, menti. Ela não insistiu, continuou me olhando por alguns segundos, depois mudou de assunto.

-Veja...- Ela apontou para uma mesinha do meu lado esquerdo, eu não tinha reparado ela.

-Flores?- Arregalei os olhos.

-Sim... um rapazinho as deixou pra você hoje de manhã.- Ela caminhou até as flores e as abriu.- Veio com essa carta.- Ela me entregou as flores e a pequena carta dobrada em um papel amarelo queimado. Depois voltou e se sentou na cadeira de rodinhas.- Ele parecia bem preocupado com você...qual era mesmo o nome?- Impacou em pensamentos- Sim... Aruan.- Suspirou ela com um sorriso amigável.- Ele veio todos esses dias ver você...-

- Aruan?- A encarei.

-Sim... é algum colega de classe seu?-

-Sim...- Respirei fundo, eu ainda não acreditava que isso estava acontecendo comigo. Tantas coisas em tanto pouco tempo.

-Não vai ler?- Questionou tia Rose.

-Não...- Suspirei e devolvi a cartinha de volta ao buquê.

Como você é hipócrita Aruan... pensei. E além do mais.. eu odeio flores.

-Por quê?-Ela franziu a testa

-Não tô com cabeça pra ler nada...- Menti, eu não iria ler mesmo, ainda que a curiosidade estava imensa, preferia não ter neura agora.

-Tudo bem.- Com um leve sorriso, ela se aproximou e beijou minha testa.- Vou ver com o médico quando você pode levar alta querida.- Ela se levantou lentamente.- Você quer algo?- Ela se virou para trás quando pôs a mão na maçaneta.

-Sim... quero ir embora daqui. Eu não queria vê-lo, não queria que me visitasse... mas meu outro lado queria vê-lo, senti-lo.

Mas que droga...

Depois da visita do médico, fui liberada do hospital. Cheguei em casa no dia 12 de Março, um sábado lá pelas 20:43, cinco dias depois do primeiro dia de aula mais fracassado da minha vida.

Tia Rose me ajudou a subir as escadas para o segundo andar.

-Você precisa descansar...- Sussurrou ela me apoiando pelo braço esquerdo, minha mão esquerda ainda estava enfaixada.

-Tudo bem tia, daqui já me viro sozinha.- Abri a porta do meu quarto.

-Cuidado...- Disse ela.- Qualquer coisa berre.-

-Ah seu vou.- Ironizei.

O quarto escuro estava iluminado apenas pelo luar que adentrava a janela aberta, a brisa gélida entrava intensamente. Caminhei e sentei-me na cama lentamente. Minha mochila estava no pé da cama e meu celular do lado do meu travesseiro.

Me sentia cansada, minhas pálpebras pesavam, então deitei e me embrulhei. Adormeci rapidamente... e acordei em um sonho lúcido.

Com um sentimento de medo, eu adentrava uma floresta escura, parecia de madrugada, meu caminho era iluminado apenas pelo luar, com um vestido rosa claro e descalça, eu corria incansavelmente... Até encontrar um campo aberto.

Uma silhueta masculina à minha frente uns 50 metros, o cheiro de grama exalava por todo o lugar, a grama verdejante molhada... era um sonho lúcido até demais.

Eu me aproximava lentamente, o luar iluminava todo o campo aberto.

-Ei...- Gritei, continuei me aproximando, era uma silhueta masculina, um garoto, estava de costas... e nem me deu moral.

Apenas de calça preta e descalço, seu corpo suado reluzia ao luar, em sua costa dois cortes profundamente verticais e paralelos, o sangue escuro escorria lentamente pela pele branca.

-Sabia que viria...-  Sussurrou ele.