- Então é isso? Você mal chega ao lugar e já se envolve com o bonitão da cidade? – Emma usava um tom cômico e irônico quando Regina as encontrou em uma mesa ao lado de um jukebox.
- Eu não estou envolvida com ele ou... ou me envolvendo – respondeu Regina rindo e balançando a cabeça. – Nós só estávamos dançando. – Falou juntando-se a elas na mesa.
-Eu deveria saber! Eu deveria ter percebido que você é dessas que mal chega e já rouba a atenção de todos! É isso, Mary, estamos acabadas aqui, Regina vai atrair todos os bons pretendentes.
- Pare com isso, Emma! – Regina tentava ser firme, mas não parava de rir.
- Olhe isso, Mary, ela mal consegue parar de sorrir, está louquinha pelo cara! – Mary deixava escapar poucas risadas enquanto tomava uma dose de Martini.
- Eu não estou louca pelo cara, foi só uma dança. Talvez... Talvez você esteja louca pelo cara, está com ciúmes? – As duas riram do sarcasmo na ultima frase de Regina, e Mary as observava séria.
-Aconteceu alguma coisa, Mary? – Regina agora olhava diretamente para a baixinha de cabelos curtos ao seu lado.
- Regina, escute, eu... Esquece.
- Ah, vamos lá, fala!
-Eu não quero dar pitacos em sua vida, principalmente porque nos conhecemos a muito pouco tempo, mas eu gostei de você e preciso dar esse conselho. – O sorriso que Regina tinha foi desaparecendo quando percebeu que a amiga falava sério.
- O que? Que conselho?
-Olha... Robin é um cara legal com o irmão, e bom, nós nos conhecemos muito pouco, mas... Sua família, eles... Eles não são tão legais quanto Robin, eu acho que você não deveria se envolver com ele...
- Você está louca? Eu não estou me envolvendo com ele, Mary. –Regina colocou as mãos na cabeça como sinal de total descrença com o que ouvia.
- A família dele não é das melhores, Regina, eu só estou te alertando para isso...
-E eu aprecio sua preocupação, mas só foi uma dança.
- Eu sei, é só que...
- Não é como se fossemos casar, ou algo do tipo! Você sabe que Emma estava brincando quando disse que eu estava louca por ele, não sabe? Eu nem o conheço!
Mary se deu por vencida e Regina virou-se a tempo para ver Emma dar de ombros.
- Vamos dançar, afinal viemos para isso! – Emma as puxou da mesa e se dirigiu ao jukebox para escolher a canção.
Dançar sucessos dos anos 80, com direito a ver Emma cantar Girls Just Wanna Have Fun depois de duas doses de tequila, e rir de Mary que caiu nos braços de um cara porque escorregou no próprio vestido longo e solto que vestia com certeza aliviou a tensão que se instalou sutilmente depois da conversa anterior. O resto da noite não durou muito e as conversas se resumiram em quem dançava melhor e quem iria ao bar pegar mais bebida. Estavam cansadas, o dia tinha sido longo, e não queriam admitir, mas já não sentiam a disposição para festas como tinham na adolescência, então resolveram voltar e dormir.
Caminharam os dois quarteirões de distância entre o Pub e seus apartamentos, ao som de comentários de Emma sobre como Mary poderia cair a qualquer hora, enquanto estava claro que ela é que ameaçava desabar no chão a qualquer momento. Emma ficava “um pouco” alterada depois de algumas doses de tequila e isso era algo que Regina lembraria. Enquanto deixava que Emma se apoiasse em um de seus braços, Regina olhou para o céu que não parecia nada preparado para chover. Havia milhões de estrelas, e era possível vê-las brilhando acima de sua cabeça. A tempos não via um céu assim. Dentre todo luxo que Nova York poderia proporcionar, um céu como esse definitivamente não era um deles.
Subir as escadas foi o momento mais difícil. Mesmo que a loira tivesse bebido um pouco mais do que as outras não queria dizer que elas também não tivessem bebido, e subir as escadas em trio e rindo descontroladamente não ajudou muito. Emma quase caiu para trás, Mary bateu o lado direito de seu corpo contra o corrimão, e isso definitivamente doeria o dia seguinte, e Regina tropeçava em quase todos os degraus. Por fim, sentaram a cinco degraus de distância do destino final e resolveram controlar os risos para que conseguissem subir o resto. O que levou uns 10 minutos.
Mary foi a primeira a conseguir colocar a chave no trinco e abrir a porta, despedindo-se com um aceno e mais uma gargalhada. Enquanto Regina procurava qual maldita chave abria aquela porta, Emma a chamou.
- O que, Emma? Eu já disse que não vou dar banho em você! – Ela ria, mas a loira tinha uma expressão séria no rosto.
-Olha, a Mary é muito... Boa, acho que essa é a palavra, e ela, ela não concorda com alguns posicionamentos da família do tal cara, o Robin. Ela só estava preocupada com você.
- Eu sei, Emma.
- Ela consegue ser... Muito preocupada, acho que é isso.
- Acho que percebi isso. – As duas riram.
Regina entrou em seu apartamento com um pensamento em mente: deitar e dormir. Tomou um banho rápido e deitou-se achando que dormiria assim que deitasse, mas assim que encostou sua cabeça no travesseiro milhões de pensamentos inundaram sua cabeça. Repassou incontáveis vezes a dança com Robin e jurava que podia ouvir Linger com a mesma clareza que ouviria se a musica estivesse realmente tocando. Arrepiava-se sempre que lembrava do rosto dele próximo ao seu, próximo a seu pescoço.
Tentou, em vão, diversas vezes pensar em outra coisa, mas sua cabeça a levava de volta ao toque dele em sua cintura, a sua respiração em seu ouvido, a profundidade a qual ele a olhara enquanto dançavam. “Ah, pelo amor de Deus Regina, você não pode estar atraída por ele!” se repreendeu mentalmente, e depois de tentar mais algumas vezes parar de pensar naquele cara desistiu e aceitou que sua cabeça, diferentemente dela, queria pensar em Robin então direcionou seus pensamentos para uma parte menos “romantizada” daquela noite. Ela não quis parecer curiosa para as vizinhas, e principalmente porque não queria que elas achassem que ela estava interessada em Robin, o que não estava mesmo, mas o que Mary falou a intrigou de verdade. O que ela quis dizer com “a família dele não é legal”? E porque ela tinha ficado tão preocupada com o fato de Regina chegar a ter algo com Robin? Regina prometeu pra si mesma que descobriria essa história, ela era advogada, não era? Era seu trabalho descobrir a verdade.
Uma brisa gelada, que passava pela porta que dava para a varanda do quarto que ela decidira deixar aberta, chicoteava seu corpo e entre o balançar da fina cortina que separava o quarto da varanda podia ver o céu. Estava frio, mas não a ponto que não pudesse aguentar. Foi finalmente vencida pelo sono e dormiu ali, olhando para o raio de luz da noite que entrava no quarto.
O raio de sol batia diretamente em sua bochecha e seu quarto estava banhado por uma luz pálida e sem muita vida, mas o suficiente para acordá-la. Regina olhou o relógio que marcava 7:30 da manhã. Deitou a cabeça no travesseiro de novo sentindo pena de si mesma por acordar tão cedo em um domingo. Depois de revirar por alguns minutos a procura de algum resquício de sono que a proporcionasse mais algumas horas na cama, resolveu levantar e tomar um banho quente. Deitou na banheira e resolveu checar as mensagens e ligações perdidas, tinha se desconectado do seu mundo durante esses dois dias e uma hora tinha que voltar. Mensagens de texto de sua irmã e mais algumas ligações, algumas ligações e mensagens de Belle também, precisava ligar pra ela, algumas do chefe e também de sua mãe, como sempre. Resolveu responder a todos e Belle seria a primeira já que Regina não falara com ela por ligação desde que chegou a Storybrook.
-Hey Bells, me desculpe ligar tão cedo. – Na verdade não era cedo para a ex-colega de apartamento de Regina, Belle sempre acordou com o sol, era esse tipo de pessoa que ama a natureza e acredita em sua energia, ou como Regina chamava: Hippie. Era bem difícil de acreditar que tinham conseguido passar tanto tempo morando juntas, mas a garota interessada em política, livros e salvar os animais transmitia muita paz para Regina, viverem juntas era como estar em equilíbrio, à paz e o caos vivendo em harmonia.
- Regina! Eu já sinto sua falta! Como está? – Mesmo quase aos gritos a voz da ex-colega era terna.
Regina contou um pouco sobre como era Storybrook e como em pouco tempo já agonizava de saudades da cidade grande enquanto Belle sonhava em conhecer a calma cidadezinha do interior. A verdade é que, Belle é quem deveria ter ido morar ali, os papeis estavam invertidos. Regina passou mais alguns minutos a ouvindo contar como conseguiram salvar coelhos que estavam sendo maltratados em uma loja de animais. Era isso, era nisso que a amizade delas se baseava, contar sobre o dia-a-dia. Nunca saiam juntas, e os interesses pessoais eram totalmente contrários, e principalmente, Regina jamais se abriu para a colega, ou contou coisas mais profundas sobre si mesma, só aquelas que “dá pra contar”, mas inúmeras vezes chorou no colo de Bells quando se mudou para Nova York, e a garota a entendia, sempre a entendeu, essa era a beleza da relação (que Regina mal sabia se chamava realmente de amizade) das duas, elas não precisavam contar muito para que entendessem o que sentiam.
Respondeu aos outros por mensagens, aqueles ela sabia bem que ainda estariam dormindo. Desceu para a lanchonete pouco tempo depois e pediu um cappuccino e alguns bagels. Enquanto comia, Ruby a perguntava sobre a noite anterior, aparentemente ela tinha visto pela janela o momento em que Regina e suas vizinhas chegaram na madrugada. A porta da lanchonete abriu com o som estridente do sininho da entrada atraindo a atenção da morena. Henry a avistou logo disparando com um “REGINA” que fez todos a olharem, inclusive Robin que agora atravessava a porta aberta.
-Hey Henry! Como vai? – Ela perguntou passando a mão no cabelo do garoto. Ele carregava o livro, como sempre.
-Eu tô bem! – Ele sorria animado.
- Regina, você aqui? Que surpresa! – Os dois riram da falsidade de Robin. -Então você já conheceu meu irmão. – Robin fez mais uma afirmação do que uma pergunta. Ele vestia uma camisa verde, calça jeans e botas sujas de lama e seu cabelo estava um pouco despenteado o que o deixava ainda mais charmoso. O “SIM” eufórico de Henry foi só o necessário para arrancá-la da fração de segundos em que se deteve ao corpo de Robin.
-Sim, nós nos conhecemos ontem. – Ela lhe lançou um sorriso irônico. – E ele já é o meu irmão favorito.
-Sério? – Henry sorria e dava pulinhos encantadores. – Você perdeu Robin, Regina gosta mais de mim! – Os dois riram da animação do garoto.
-E o livro, Henry? Já leu mais alguma coisa?
-Sim! Eu li a história do Aladin, posso te contar se você quiser!
-Porque não deixamos isso pra depois? Que tal agora você ir falar com Ruby e fazer o seu pedido? Pode pedir o que quiser hoje. –Robin piscou para o garoto.
-EBA! – O garoto correu para o outro extremo do balcão onde Ruby se encontrava.
- Então quer dizer que você já conquistou meu irmão? – Ele a lançava um sorriso irônico no canto da boca.
- O que eu posso fazer? Isso é o que acontece com as pessoas ao meu redor. – Os dois sorriram juntos.
- Não posso dizer que isso é uma mentira. – O tom sarcástico de Robin saiu para dar lugar a um sorriso e olhar verdadeiro, o que os fez se olharem calados por segundos demais.
-Então, eu mataria você se eu fosse a Vovó. –Regina lançou um olhar explicativo para as botas sujas de Robin e para a trilha que ela havia deixado da porta até ali.
- Oh, merda! Isso é... Isso é horrível, mas eu me desculpo com ela depois.
-Eu o mandava limpar.
-Eu provavelmente deveria, mas não agora. Agora me diga, como foi a festa ontem depois que saí? Conseguiu chegar em segurança em casa?
- Como se algo de ruim acontecesse nessa cidade minúscula. – Robin riu do desprezo de Regina.
- Acredite em mim, é raro, mas acontece.
Os dois conversaram por mais alguns minutos sobre Henry e seu livro enquanto Robin esperava seu café.
-Eu não o via animado assim em um bom tempo, esse livro é... É bom pra ele, mas ao mesmo tempo eu tenho medo dele se perder entende? Não saber diferenciar a realidade do inventado.
-Não, acho que o livro é bom pra ele, quero dizer... É algo em que ele pode se apegar e ter esperança. – Aquelas palavras saindo da boca de Regina pareciam acidas, era tudo, menos o que ela tinha: esperança.
-Está certa. – Ele a olhava com intensidade e seu semblante era sério. Ele se aproximou lentamente de Regina, mas apenas para pegar o açúcar que estava bem atrás dela no balcão.
-Ai meu Deus! Você cheira a floresta! – Os dois riram do comentário de Regina.
Regina beijou a cabeça de Henry para se despedir e o prometeu que ouviria as histórias que ele queria contar a ela, outro dia.
-Tchau, Robin. – Ela acenou com a mão.
-Então só o Henry ganha beijo na cabeça? – Eles sorriram.
- Ele não está cheirando a floresta. – Robin riu alto.
-Eu acho que você gostou desse cheiro. – O sorriso irônico já dançava por seus lábios de novo.
-E eu acho que você precisa de um banho. – Ela riu e se virou em direção à escada.
- Podemos nos ver de novo? –Robin a acompanhou e chegou, mais uma vez, muito perto de seu pescoço.
- Analisando pelo tamanho da cidade e o fato de que você parece me perseguir, acho bem provável que nos esbarremos de novo. – Ela virou antes que ele respondesse e subiu a escada, deixando Robin com um sorriso bobo a observando.
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