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História Nada mais tem sentido - Quando penso que as coisas não podem piorar...


Escrita por: 4LL

Notas do Autor


Boa leitura!

Capítulo 9 - Quando penso que as coisas não podem piorar...


Quando nossas bocas se separam o encaro por alguns momentos,mal conseguindo acreditar no que aconteceu.Uma onda de raiva toma conta de mim; raiva por ele ter me beijado,raiva por retribuir o beijo,raiva por ele ter me enganado, raiva por te-lo deixado me enganar,e acima de tudo, raiva por me sentir atraída por ele.

Desvio o olhar e tiro minhas mãos dele,deixando-as cair ao lado do meu corpo.Além de furiosa também estou constrangida,e antes que eu possa impedir as lágrimas começam a escorrer pelo meu rosto e em poucos segundos não consigo respirar sem fazer barulhos que parecem uma mistura de suspiros e soluços.

Cássio convenientemente sai de cima de mim e pelo canto do olho vejo-o se sentar ao meu lado.Se eu estivesse com o revólver agora não pensaria duas vezes para atirar nele,obviamente não para mata-lo, mas não me importaria em vê-lo se contorcer de dor...

- Eu sinto muito. – Ele diz. – Não deveria ter feito isso.

Sinto muito,sinto muito,será que é tudo que ele sabe dizer?Enxugo minhas lágrimas, o que não adianta muito pois novas começam a escorrer.Respiro fundo e digo:

-  N-não sente,não é você quem f-foi sequestrado e está no meio da mata c-com um desconhecido a-armado.

- Eu não teria feito nada disso se não precisasse.

Me sento espanando as folhas de minha roupa e cabelo.Encontro seus olhos e reunindo toda a minha coragem pergunto ironicamente:

- Então quer dizer que você precisava me beijar?

Ele pensa por alguns instantes  e então responde:

- Não, não precisava, mas eu queria, desde a primeira vez que eu te vi, tem alguma coisa em você que me atrai. – Diz. - Mas eu não me orgulho do que fiz, foi uma atitude desprezível.- Ele termina com um suspiro.

O encaro incrédula.O cara que me sequestrou acaba de dizer que se sente atraído por mim.Acho bom que ele saiba se controlar, não tenho a mínima intenção de me envolver com um bandido.

O sol já se pôs a algum tempo e agora já mal consigo distinguir os contornos do rosto de Cássio,ainda assim meus olhos estão fitos nele,esperando qualquer movimento.

Ouço um barulho a minha direita,sincronizadamente Cássio e eu nos viramos para investigar a fonte do ruído.Meu coração dispara quando vejo um par de olhos brilhantes nos observando.

- Uma onça. – Sussurro.

Localizo o revólver no chão, que para minha infelicidade está exatamente entre nós e o animal.Temos uma vantagem de mais o menos uns dois metros, mas não acho que seja o suficiente para chegar até ele antes de virar picadinho.

Sei que humanos não são o prato preferido de onças-pintadas, e também que ela não irá nos atacar a não ser que se sinta ameaçada,além do mais nós que não deveríamos estar aqui,não ela, então decido que o melhor a se fazer é ficar bem quietinha e torcer para que ela vá embora.

Me viro para Cássio bem a tempo de vê-lo fazer a coisa mais idiota e sem noção que alguém poderia fazer em nossa situação:Pular em direção a um revólver a no mínimo uns quatro metros de distância com uma onça observando cada movimento seu.

Sem nada que eu possa fazer fico olhando nossa amiguinha raivosa interceptar Cássio em sua ridícula tentativa de chegar até a arma.Correr ou ajudar?penso enquanto ele e a onça rolam pelo chão.Tomo minha decisão quando ouço um estridente grito de dor.

Me levanto, corro até o revólver e o pego.Coloco o dedo no gatilho e só então me dou conta de que há boas chances de eu acertar Cássio ao invés do animal.Se você não fizer isso logo ele vai morrer,digo mentalmente para mim mesma.Então miro e atiro três vezes seguidas, acertando somente o último tiro, que atinge a onça na base do pescoço,fazendo com que esta caia no chão ao lado de Cássio.

As lágrimas que haviam parado de escorrer durante os últimos desesperadores segundos voltam a inundar meus olhos.Desvio o olhar,incapaz de continuar vendo o sangue do animal formando uma poça no chão enquanto seu corpo se contorce em seus últimos espasmos de dor.

Pego uma lanterna na mochila que eu havia trazido e vou até onde Cássio está caído ofegante.Ilumino seu corpo a procura de ferimentos e além dos arranhões que eu fiz mais cedo só encontro quatro cortes superficiais na lateral de seu abdômen,onde a onça deve te-lo arranhado.

- Minhas costas. – Ele geme.

Viro-o com cuidado, estremeço ao ver outros quatro talhos, dessa vez profundos e jorrando uma quantidade alarmante de sangue.

- E então, vou morrer? – Ele pergunta sorrindo, o que é surpreendente levando em consideração a dor que deve estar sentindo.

- Provavelmente. – Respondo amarga.

Volto até a mochila e pego uma garrafa de água e uma camisa limpa.

- Flávia? – Cássio chama.

 - O que? – Respondo.

- Quantos tiros você deu?

- Três, por quê?

- Essa era a quantidade de balas que tinha no revólver... Gastei todas as outras durante a perseguição.

- Ótimo! – Digo irritada. – Se aparecer outro animalzinho por aqui eu subo em uma árvore e deixo ele devorar você.Aliás senhor prevenido,você por acaso também esqueceu o kit primeiros-socorros?Por que eu não o vi em lugar algum...

- Hum... acho que sim.

- Você é um inútil sabia?Prefere carregar dúzias de pacotes de bolachas nessas sacolinhas do que algo realmente necessário!

- É que eu não pretendia ser atacado por uma onça!

- Talvez se você não tivesse pulado na direção dela isso não tivesse acontecido!

- E o que você sugeriria que eu fizesse?Deixasse ela comer a gente?

-Ah,esquece! Cale a boca e me deixe dar um jeito nesses cortes!

Tiro sua camisa com todo cuidado que consigo,ela está toda rasgada e ensopada de sangue,é meio complicado fazer isso com ele deitado no chão,mas não sei se é uma boa ideia fazer com que ele se levante...

- Não vá se aproveitar de mim em! – Cássio brinca.

- Ah,claro,até porque você está muito atraente todo cortado e cheio de sangue. – Digo revirando os olhos,o que é bem incômodo com as lentes de contato.

Jogo água nos cortes e ele arqueja de dor,seu corpo todo fica tenso.Rasgo um pedaço da camisa que peguei na mochila e o pressiono nos cortes, causando consecutivos estremecimentos em Cássio.

- Pense melhor antes de dar uma de herói de novo! – Zombo.

- Eu tinha cansado de ser o vilão. – Ele responde, a voz carregada de dor.

Resolvo ficar quieta e continuo tentando fazer os cortes pararem de sangrar , o que demora alguns minutos para acontecer.

- Você consegue se sentar? – Pergunto.

- Acho que sim. – Ele responde e lentamente levanta o corpo até estar sentado.

Com  a mão esquerda continuo pressionando o pano nos cortes da parte superior das suas costas e com a direita seguro a lanterna,que passo para as mãos de Cássio a fim de rasgar mais um pedaço da camiseta para limpar os outros cortes.

Molho o pano com água e começo a esfregar o sangue já seco espalhado por todo seu abdômen, tentando ignorar os seus músculos bem definidos,mas não tendo sucesso... Começo a esfregar mais rápido e Cássio reclama:

- Se for pra me esfolar vivo pode deixar que eu mesmo limpo.

Olho para cima e me surpreendo ao ver um sorriso malicioso em seu rosto.Jogo o pano com o qual o estava limpando em sua cara e me levanto.

- Pode continuar você então! – Digo.

- Ei,eu estava brincando! – Ele diz ao tirar o pano do rosto.

Fecho a cara e me afasto dele, todo aquele sangue me deixou enjoada, preciso de um minuto sozinha.Pego o revólver para conferir se ele está mesmo descarregado e fico frustrada ao constatar que sim.Odiaria ter que matar outro animal mas antes isso do que virar jantar,agora vou ter que me virar caso algum outro apareça.

Volto silenciosamente até Cássio e o pego com os olhos fechados e uma expressão de dor no estampada em seu rosto.Pego delicadamente a lanterna de suas mãos e digo:

- Está esfriando, vou procurar alguns gravetos para fazer uma fogueira.

- Você vai voltar?  - Ele pergunta baixinho ainda com os olhos fechados.

- Não faz parte da minha filosofia de vida deixar pessoas morrerem desamparadas, mesmo que esta em especial seja um bandido procurado.

Ele sorri fracamente, e os meus sentimentos ficam divididos entre raiva e pena.Antes de ir de fato procurar os gravetos pego o cobertor em uma pequena mala, jã que não achei mais nenhuma camisa nas mochilas, e o levo a Cássio, envolvendo-o nele.

- Obrigada. – Ele sussurra.

Me afasto e começo a procurar algumas pedras para delimitar a área da minha fogueira , não quero acidentalmente colocar fogo na floresta.Depois de reunir umas dez faço com elas um círculo no chão.Nunca acendi uma fogueira na vida,mas as dos filmes não parecem difíceis de copiar...

Dentro de uns dez ou quinze minutos já tenho todas as folhas e gravetos que preciso para manter a fogueira queimando a noite toda,eu acho.Agora só falta acende-la...

- Cássio?

- O quê? – Ele pergunta me olhando com curiosidade.

- Você trouxe fósforos ou um isqueiro?Ou será que eu vou ter que acender a fogueira esfregando gravetos?

- Está no menor bolso daquela mochila. – Diz ele apontando para uma mochila deixada desleixadamente ao pé de uma árvore.

Vou até lá e encontro uma caixa de fósforos,junto com ela uma foto de família,todos lado a lado em uma praia em um dia ensolarado.Localizo Cássio entre duas mulheres,uma com idade para ser sua mãe e outra alguns anos mais nova que ele com uma criança no colo, ao lado desta um adolescente muito parecido com Cássio.

Sinto-o me observando e constrangida guardo a fotografia.Vou até a fogueira e começo o delicado processo de tentar acende-la.Na quarta tentativa consigo com que algumas folhas comecem a queimar. Coloco as mãos ao redor delas para protege-las do vento, que agora sopra forte.

Em uns dois minutos a fogueira está completamente acesa, um calor aconchegante emana dela.Ajudo Cássio a se levantar para chegar mais perto do fogo e então nos sentamos lado a lado, agradecidos pela fonte extra de calor agora que a noite está ainda mais fria.

- Bem,considerando que eu não sei montar barracas e você não está em condições de fazer isso,vamos ter que dormir aqui e torcer para mais nenhum animal aparecer...

- Venha aqui. – Cássio diz levantando uma parte do cobertor.

O encaro receosa e ele sorri.Resolvo aceitar a proposta e me encosto na lateral de seu corpo enquanto ele nos cobre com o cobertor.

- Se você tentar alguma coisa... – Digo, metade brincando,metade o ameaçando.

- Só se você quiser. – Ele sussurra no meu ouvido.

Sorrio, e fico grata por ele não ler pensamentos. 


Notas Finais


Espero que tenham gostado! *-*


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