História Namjoon numa gota d'água - Dedo de estrelas

Quando solucionava alguma equação Namjoon se sentia o dono do mundo, como se cada um dos "x" descobertos carregasse numa perna a localização de uma fonte da juventude.

No fim das aulas ele entrava sem bater,  zombava das picadas de mosquito nos meus pés e bebia toda a cerveja do Hoseok. 

"Essas coisas estão atraindo cada dia mais insetos, Yoongi."  

"Não enche." 

"Se eu colocar meu dedo nessa aqui ela vai comer ele?" 

"Ela só come insetos, então... provavelmente." 

"Tira esse livro da cara e diz isso olhando nos meus olhos." 

Eu endireitava  a coluna, o encarava diretamente por uns segundos e tentava segurar o riso. 

"Seu inset-" 

Nem tinha tempo para terminar qualquer insulto antes que uma almofada me atingisse no rosto e ele voltasse a reclamar das plantas. 

Nosso relacionamento sempre foi baseado em provocações sem fundamento algum. Desde que eu me lembro ele mantém os dedos de estrela apontados para o meu rosto, enaltecendo a supremacia da engenharia e dizendo o quanto a botânica era chata. 

Mas sempre que esbarra num dos meu vasos vem correndo perguntar se "a coisa" vai sobreviver. Porque é tudo uma fachada e Namjoon é um egocêntrico de mentirinha. 

Vive falando que é tangente de 90 e tangente de ângulo reto nem existe, ele me ensinou. Se acha um nada grande pra caramba. 

Dizem por aí que eu fui o maior erro da vida dele, e ele nunca discordou. 

"Um gênio como eu, justamente com o doido das flores. O campus está em choque." 

"E o que você acha disso, todo poderoso Namjoon?" 

"Que esse cabelo cinza te deixou bonito pra caralho." 

Só diz pela minhas costas que eu na verdade fui um acerto louco, e que as pessoas deviam cuidar da própria vida. 

Prefere mil vezes o meu quarto minúsculo do que o próprio apartamento, e deita a cabeça no meu colo pra me contar de números. 

O perfeccionismo é um negócio da alma dele, que nem de longe é tão altivo quanto aparenta. Tem afinidade com óculos de armações redondas, rock dos anos 80 e tênis azuis.

A gente não vive dizendo que se ama não, é meio constrangedor quando consideramos nossas personalidades divergentes. 

Mas ele sempre compra sementes pra mim e sabe de um monte de coisas que eu nunca disse, até quantas gotas d'água cabem no meu regador. 

Eu só descobri que ele cabe num sofá pequeno, e nem se importa com os pés sobrando nos cantos. Mais encantador impossível. 

O importante é que Nam gosta mesmo de segurar as minhas mãos sujas de terra, e pra mim isso sempre foi o suficiente.