Louis olhava-me furioso, eu via toda a raiva percorrer-lhe o corpo. Os olhos intensos, os punhos cerrados, o maxilar tenso, o peito subindo e descendo freneticamente. Mas isso não me intimidava. Eu não podia deixar que ele tivesse algum impacto em mim, como se isso me fizesse repensar nos meus actos. Eu apenas estava a priorizar a minha carreira ao invés de ir a uma festa qualquer. Mas Louis não percebia isso, para ele, eu tinha de ir nessa festa e faltar no workshop. Porque ele achava que eu não o valorizava se optasse pela aula.
- Louis, eu não vou na aula porque ele pediu, eu vou na aula porque é bom para mim. - expliquei com o resto de calma que ainda tinha.
- E é bom para ele que tu vás. - rebateu.
- Estás a ouvir-te, Louis? - disse mais alto - Não comeces com essas insinuações, parece que não confias em mim.
- Já te disse que o meu problema é com ele. Não lhe chega ocupar o teu tempo durante a semana, tem de ocupar também o fim-de-semana? O fim-de-semana é o único momento em que estamos apenas os dois em minha casa, apenas a aproveitar a companhia um do outro.
- Ir à aula não impede que passemos o fim-de-semana afastados. Eu vou e volto. - expliquei como se ele tivesse apenas cinco anos de idade.
- Não. Eu quero ter-te de manhã até à noite, não é justo para mim, Katerina. - pronunciou o meu nome com certa mágoa - Nem justo para ti.
- Eu faço as minhas escolhas. - disse convicta - Se eu quero trocar a festa pela aula, eu troco.
- Estás a trocar-me por ele.- disse frio e suspirei.
- Não mistures as coisas. - pedi irritada - Magoas-me com essas desconfianças.
- Vem à festa comigo.- pediu olhando um ponto qualquer no jardim.
- Não vou. Entende que só porque tu queres aproveitar as festas todas, eu posso não querer a mesma coisa. - gritei - Além do mais, neste momento estou mais preocupada em terminar esse workshop. Depois teremos todo o tempo do mundo para ir a festas. - disse mais contida.
- Vem à festa comigo. Não te vou pedir mais nenhuma vez. - disse sério encarando-me autoritário.
Olhei-o não acreditando no que ouvia, Louis estava a exigir algo de mim sem se colocar no meu lado. Ele não era egoísta assim. Eu não podia deixá-lo vencer esta disputa. Não podia deixar que ele pensasse que eu o obedeceria. As coisas não eram assim. Eu sei que quando me encontrei minimamente na pessoa que sou hoje, priorizei muitas vezes Louis e renunciei a outras coisas. Mas isso não podia continuar assim, eu tinha de me impor.
- Eu não vou, Louis. - disse decidida - Não vou porque tu estás apenas a pensar em ti. Coloca-te no meu lugar.
- Achas que eu estou a ser egoísta? - indagou incrédulo. Ele não estava? Confesso que fiquei confusa com a sua reação - Pelo amor de Deus Katerina. - disse novamente o meu nome lembrando-me que ele nunca o dissera tantas vezes como agora.
- Não estás? - questionei e ele olhou-me desacreditado.
- Não. - gritou - Não estou. Tu não percebes que nas últimas semanas só te preocupas com a a faculdade? E contigo, e comigo, não te preocupas? - disse como se provasse algo amargo.
- Deverias saber que as coisas iriam mudar com a faculdade, Louis. Não somos mais crianças que podem se dar ao luxo de faltar ou não prestar tanta atenção. É tudo novo para mim, entende que eu até poucos meses atrás nem sabia o que queria. Deus, eu nem sabia cozinhar. - olhei para cima respirando fundo procurando alguma calma - E agora eu tenho de aproveitar tudo isso.
- Então preferes aproveitar isso do que viveres bons momentos comigo?
- Tens sempre de colocar duas coisas na balança como se eu fosse a porra de uma juíza para decidir qual tem mais peso?
- Queres saber de uma coisa. - olhei-o esperando - EU vou nessa festa, com ou sem ti.
- Vai. - disse alto - Vai mesmo. Afinal tu adoras festas, não queres perder uma. Vai, vai nessa porcaria de festa. Podíamos passar a sexta juntos mas queres tanto estar com outras pessoas, então vai.
Ele não respondeu, ficou apenas a encarar-me enquanto eu também devolvia o seu olhar mortal.
- Vocês são dois idiotas ou fazem-se? - Rayna gritou chamando a nossa atenção para si. - Caralho, não podem discutir a porra das vossas diferenças no quarto, tem de ser na frente do meu filho.
Só então dirigi o olhar ao pequeno que olhava para mim e para Louis assustado. Louis fechou os olhos e encarou os chão.
- Foda-se Louis, tu sempre tiveste atenção nisso. - Rayna disse chateada.
- Desculpa, desculpa Rayna. - disse sentindo-se culpado - Desculpa mesmo. Mas... - olhou-me por uma última vez antes de passar por mim - Ela tira-me do sério. - concluiu grunhindo de raiva entrando dentro de casa.
Rayna olhou-me e negou com a cabeça, soltou um suspiro em seguida e aproximou-se.
- Estás bem?
- Estou, desculpa por não termos respeitado a presença do pequeno, sabes que nós dois quando discutimos acabamos por esquecer do resto.
- Vocês são tão explosivos a discutir como a fazer amor. Meu Deus. - constou e olhei-a intrigada.
- Como assim?
- Ah Katerina, eu fico com sede durante a noite e vou até à cozinha, achas que não se ouve nada... - segurou o riso - Quando vocês mudarem para o quarto de cima, eu espero que segurem esses hormónios. - riu e saiu, deixando-me sozinha ali morta de vergonha e de raiva.
***
Depois da discussão ontem, nem Louis e, muito menos eu, falamos um com o outro. Dormimos de costas viradas, sem nos tocar, sem desejar "Boa noite", como se fossemos um daqueles casais prestes a divorciarem-se. Mas nós não éramos casados então isso não aconteceria. Ainda havia esperança para nós. Não seria uma discussão que nos levaria à ruína. Nós sempre fomos assim, as nossas discussões eram sempre extremas. As pequenas discussões eram resolvidas na hora mas as outras levavam algum tempo a mais, e eu sabia que desta vez não seria diferente.
Saí mais cedo da aula e fui esperar Louis e Ray perto do carro, eles deveriam estar a sair também.
Louis POV
Olhava para o relógio de segundo em segundo, não acreditava que a professora ia levar esta aula até ao último minuto, sempre saímos antes. Bufei frustrado, precisava fumar, a raiva de Katerian ainda não tinha passado e se ela pensa que eu não irei nessa festa e que estava a fazer birra, ela enganou-se. Eu iria, estava até ansioso para isso.
Um toque no ombro despertou-me e olhei para trás dando de caras com uma garota, ela era da minha turma. Nunca trocamos muitas palavras a não ser "Bom dia". Ela era bonitinha, tinha cabelos loiros com as pontas tingidas num verde água, usava um piercing no nariz e dava para ver no seu pulso o começo de uma tatuagem. Katerina nunca mudaria a sua imagem assim, ela gostava de ser o mais arrumadinha possível, sempre impecável.
- Sim? - indaguei depois de a avaliar.
- Queres ser meu par no trabalho?
- Que trabalho? - estreitei o olhar.
- A professora estava a falar disso. - franziu o cenho para mim e abanei levemente a cabeça obrigando-me a acordar de vez.
- Eu estava distraído. Mas acho que sim, acho que podemos ser dupla.
- Boa, quando começamos? - questionou empolgada e ri fraco dando conta de que todos se levantavam, graças a Deus a aula acabou.
- Pode ser hoje. - levantei-me e ela esperou eu dizer mais alguma coisa, foi então que reparei que ela usava uma t-shirt com um fundo espacial e a frase Eletro & House & Trance & Tecno, acho que tínhamos algo em comum, além do mesmo curso.
- Que horas? Onde? - perguntou encarando-me.
- Podes vir comigo agora, almoçamos lá em casa e fazemos o trabalho de tarde, se estiver tudo bem para ti.
- Ótimo, dás-me boleia (carona), certo?
- Lógico.
Saímos da sala e lembrei-me que não sabia o seu nome. Ela caminhava descontraída a meu lado ignorando alguns olhares masculinos na sua direção.
- Qual é o teu nome?
- Anabelle. - assenti - Mas não estou possuída por um espírito do mal, fica tranquilo. - brincou e demorei alguns segundos para relacionar com o filme, notando que ela tinha sentido de humor.
- Ainda bem, não queria chamar um exorcista. - rimos - Eu sou o Louis.
- Eu sei quem és, Louis Tomlinson. - disse certa de si enquanto sorria abertamente mostrando os seus dentes alinhados. - Acompanho a carreira do teu pai desde que ele veio para cá há uns anos atrás. Sempre leio os artigos dele e as entrevistas.
- Não sabia que o meu pai tinha fãs. - descíamos agora as escadas da faculdade.
- Ficas a saber, agora. - riu fraco - Mas não penses que foi por isso que te escolhi para ser meu par.
- Não? - indaguei curioso.
- Não. Apenas não conheço muita gente ainda, parece que a maioria do pessoal não se acostumou muito ao meu estilo. E como tu pareces ser sociável e não ligar para isso... - deu de ombros.
- Acho que o pessoal tem inveja do teu cabelo verde. - fiz graça e ela gargalhou.
- Deve ser isso. - sorriu.
- Eu realmente não tenho preconceitos com o teu estilo, gosto do diferente. - ela olhou-me demoradamente e percebi que talvez falei o que não devia.
- Obrigada, namoras não é? - assenti - Ela não se importará comigo?
- Não, somos apenas colegas de turma, não vejo problema nisso.
Dito isso olhei em frente e vi que, talvez, não estava tão certo assim do que falei. Katerina encarava-me com uma expressão vazia e fria. Diria que ela estava a pensar em várias formas de me torturar. Mas lembrei-me da nossa discussão e sorri cínico, ela teria de levar comigo e com a minha nova amiga.
Assim que chegámos ao carro, Rayna chegou logo atrás animada.
- Bem, estamos todos. - constei. - A Anabelle vai connosco, temos um trabalho para fazer.
- Espero que esteja tudo bem para vocês. - a garota disse receosa olhando Katerina que sorriu cínica.
- Nenhum. A não ser que a minha companhia durante a tarde vos incomode. - olhou-me e ri fraco, ela estava com ciúmes, perfeito.
- Claro que não. - Anabelle respondeu segura.
- Deixem-me apresentar-vos. Anabelle é a Katerina, minha namorada e Rayna, mãe do meu filho.
Anabelle olhou-me segurando um riso. Eu também estaria assim vendo a situação em que eu estava, tinha a sua piada, de facto.
- Quero conhecer esse garotão. - disse entusiasmada e ri.
- Falta pouco. - abri o carro e depois de entrarmos segui caminho.
Katerina POV
O que Louis achava que estava a fazer ao trazer aquela garota connosco? Não poderia ter combinado de fazer o trabalho na faculdade? Ou em outro lugar qualquer? Mas pensando bem, talvez, em casa seja até melhor, poderei ficar de olho.
- Não tens workshop hoje? - Louis perguntou com um tom frio e desinteressado.
- Não, só amanhã. - respondi e coloquei o rádio mais alto, não queria conversar com ele, ainda.
Depois do almoço, Louis acomodou-se na mesa que ficava no alpendre perto do jardim. Sentei-me perto deles e abri uma revista que peguei no quarto de Rayna, sobre moda. Observei a garota e notei que ela não tinha nada a ver comigo, ela era mais relaxada na imagem, embora ousasse na cor de cabelo e nos piercings. Não tinha como Louis se interessar nela, certo? O que eu estou a pensar? Ele não me trairia, aquele rapaz era completamente apaixonado por mim, eu tinha a certeza disso. Bufei e obriguei-me a ler a revista, uma entrevista com a maravilhosa da Kendall Jenner e o seu novo corte de cabelo, mais curto. Será que me ficaria bem um corte mais curto assim?
Senti o meu corpo arder e levantei o meu olhar flagrando Louis que me observava atento e pensativo. Mas desviou o olhar imediatamente.
As horas passavam e nada daqueles dois terminarem a porcaria do trabalho. Notei que Anabelle também fumava, sempre acompanhava Louis quando ele tirava um cigarro do maço, como agora. Observei os seus movimentos e notei o quão sexy ele era ao colocar o cigarro entre os lábios sugando-o e libertando o fumo em seguida como se a calma o atingisse imediatamente. Suspirei com aquela imagem e Louis deu conta pois tragou o cigarro enquanto me encarava, bastardo. Xinguei-o mentalmente e levantei as sobrancelhas desafiando-o. Ele riu e negou com a cabeça achando graça aquelas provocações.
- Ainda bem que amanhã é sexta. - Anabelle disse acompanhada de um suspiro. - Preciso sair para esquecer da semana cansativa que tive.
- Somos dois. - Louis respondeu - Vais na Playhouse NightClub? - perguntou e prestei atenção no que eles conversavam como não estava a prestar antes, o que Louis queria com aquela conversa?
- Achas? É um pouco acima do meu rendimento. - lamentou-se rindo fraco.
- E se eu conseguisse VIP's sem nenhum custo?
- Não há como negar um VIP, Tomlinson. - disse e revirei os olhos, ela estava a achar que era íntima dele para o chamar assim?
- Então amanhã vamos os dois, o Avicci vai tocar lá. Vejo que gostas desse tipo de música. - apontou para a camiseta dela e riram. Mas não achei graça nenhuma, ele tinha reparado no que ela vestia, no que mais reparou? Louis seria um homem morto se ousasse ir nessa festa com ela.
- Gosto muito. Também gostas? - Louis assentiu - Boa, sempre tenho de ir sozinha quando quero curtir esses lugares, mais humildes claro. - corrigiu-se fazendo Louis rir.
- Então amanhã vai ser para aproveitar. - ri sarcástica enquanto olhava a revista como se não estivesse a ouvir a conversa mas sei que Louis entendeu, o seu olhar pregou em mim nos segundos depois antes de voltar para o trabalho, novamente.
Então ele pensa que se eu não quero ir nessa festa na boate, ele pode convidar quem lhe apetece como se me substituísse? Louis, que se preparasse porque a Kate bitch iria atacar novamente.
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