Talvez minha pontualidade e a minha pouca paciência fosse o pior contraste da minha personalidade. Mil vozes, saltos batendo irritantemente no piso envernizado, barulhos de cliques de canetas, bip de celular. Isso com certeza é a maior prova de que eu amo o que eu faço. Dois minutos de atraso é normal, por mais que eu não o cometa. Agora quase meia hora de atraso e o juiz MANDA esperar? Quem aquele homem pensa que é para estar acima da lei?
Eu não costumo obter ódio gratuito, mas alguém que acha ter privilégios no tribunal é no mínimo inaceitável! Meu pé esquerdo não para de balançar inevitavelmente, a ansiedade me corroía naquele fim de tarde.
O caso é o seguinte: uma audiência com o dono das empresas Uchiha era algo quase, se não inédito, o Sr. Uchiha usa seus advogados para não chegarem a isso. Mas eu não seria comprada por qualquer um desses advogados vendidos. A empresa Uchiha que foi responsável por vazamentos tóxicos que poluíram dois grandes rios, onde estava o Green Peace e a mídia? Todos eram escravos do dinheiro. O cheque do silêncio.
Uma foto dele poderia valer mil dólares, mas não tirar uma foto dele, valeria dois mil dólares. Vê-lo entrando acompanhado por dois seguranças altos e fortes me fez engolir cedo. O que foi coração? Para de bater rápido! Ele é só um homem bonito e podre por dentro, isso que você tem que se concentrar.
– Está aberta a audiência. – O juiz anunciou. Entravamos ao mesmo tempo na sala, não ousei olha-lo novamente. Sentamo-nos à mesa a frente do juiz e ele prosseguiu. – Sinto-me que tenha que estar aqui. – Ele ponderou. Cordialidade? Desculpas? Isso não é padrão, era puxação de saco. Bufei, ignorando a ética, assim como o juiz. Ele pigarreou enquanto o “grande CEO” arqueava a sobrancelha pela minha reação.
– Dê o que ela pede. – O homem falou assinando um papel. No mesmo momento que arregalei os olhos, eu os estreitei. Quebra de protocolo. Abusado. Pensei em dizer algo, mas minha voz vacilou e a do juiz se fez presente:
– Mas Sr. Uchiha, são 58 milhões de dólares que ela pede! – Ele informou como se o homem não tivesse nenhum conhecimento com o caso, o advogado dele não estava presente, aquilo era uma grande piada.
– Eu sei o quando a senhorita pediu. – Ele disse sério, quase ofendido pelo juiz o alertar. – Como eu disse, aceito o acordo, pagarei a indenização aos rios. – O juiz nada disse, assim como eu. Então ele levantou, ajeitou a gravata. Pegou o papel que havia assinado e colocou para que eu pegasse e assinasse. Ele aceitara os termos do acordo e só.
– Declaro fim da sessão. – O juiz bateu o martelo e esperou o escrivão terminar de digitar aquele padrão de quem disse o que. A sala era esvaziada e eu sem ação naquela mesa. Não deixaria tanta preparação para enfrenta-lo ir por água abaixo.
Levantei me apressando para alcança-lo, deixei minhas coisas na sala, voltaria depois para buscar. Os dois enormes seguranças não me deixaria aproximar, então como uma mulher de 28 anos cheia de classe, acelerei meus passos e estufei o peito, acumulando toda a coragem que eu não havia tido dentro daquela sala e gritei:
– Uchiha! – Brava e decidida. Ele virou e me encarou, eu parei e levantei a cabeça, recompondo minha postura. – Como ousa? – Perguntei estrategicamente para ele se aproximar e iniciar um diálogo comigo. Os seguranças tomaram a frente, mas com um mínimo gesto eles não prosseguiram.
– Algo errado senhorita? – Ele se aproximou sozinho. O poder dele, a presença dele me fez querer sair correndo. Talvez a autoconfiança dele e seus aproximados 1,90 de altura me intimidaram, mas não poderia recuar, não sem parecer uma completa retardada.
– O que acha que fez naquela sala? – Eu disparei, não podia pensar. Se pensasse mais eu não falaria. – Me fez esperar por mais de meia hora, assina um papel e vai embora como se fosse um café? Isso tudo é sério, estamos em um tribunal e não na sua sala de reuniões. – Eu jurei não exceder a voz, mas o lance de não pensar fez eu me esquecer dessa parte.
– O que mais você quer? – Ele perguntou com uma paciência invejável, mas por trás, sabia que ele estava com pressa e sem nenhum interesse em tudo aquilo.
– Humanidade. O mundo não precisa de mais pessoas como você! – Eu desdenhei olhando dele aos seguranças, que pareciam prontos para me tirar da vista do chefe.
– Então ele precisa de mais pessoas como você? – Ele voltou a perguntar e me fez ficar sem palavras, o que mais eu diria após isso? Não havia ensaiado esse tipo de pergunta. – Reconheço seus valores e sua irá, mas entenda, nem tudo está em nossas mãos. – Foi o que ele disse antes de colocar a mão por dentro do terno e retirar um cartão preto e me entregar.
– O que é isso? – Perguntei sem pegar o cartão. Louco estava se compraria meu silêncio.
– Quem seria mais humana que você? – Ele retrucou, não entendi. Ainda com a mão esticada, se cansaria eu não iria pegar.
– Se torne humano e parará de comprar as pessoas. – Cruzei os braços, séria. Ele abriu um meio sorriso. AQUELE SORRISO. Eu não poderia ceder, mas como se me ouvisse e me contrariasse, ele se aproximou mais um pouco, acelerando meus batimentos com os passos.
– Creio que não será possível, mas se quiser fazer isso por mim. – Ele colocou o cartão entre meus braços ainda cruzados. E seus olhos negros me engoliram. – Mude o mundo por dentro e não por fora. – Completou se virando e voltando a andar com os seguranças.
Eu sei que deveria ter reação, eu não sou comprada, claro que não. Mas ele disse que não mudaria. Quem eu estava tentando enganar? Mudar o mundo por dentro seria trabalhar com ele e por fora seria pegar a cola que ele comprou e colar o que ele quebrou... Trabalhar nas Empresas Uchiha é evitar desastres ou fazer parte deles. Aquilo me tentou mesmo sendo possíveis desculpas para me aproximar do Uchiha. Sim, eu seria a advogada do diabo, mas não conte a ninguém!
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