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História Não conte nada aos girassóis - A Tempestade de flores acinzentadas - Pássaros livres.


Escrita por: HeyMaxi

Capítulo 6 - A Tempestade de flores acinzentadas - Pássaros livres.


 

O que fizemos naquela noite, foi o que nos libertou. Movidos pela raiva, por conta do amor que nos foi tirado à força.

Naquela noite nos demos conta. De que ouvir e obedecer, não é sempre o melhor a se fazer.

 Depois daquilo, finalmente estávamos livres. Seja aqui, ou no que há depois daqui, eu poderia ama-lo o quanto quisesse. Encontramos um jeito, de partir, de dizer que não pertencemos a ninguém. 

Decidimos nosso destino...

Segurei sua mão... Me abracei ao que me restava de amor.

Plantamos nossas sementes secas. Vingamos nossas pétalas machucadas.

E colocamos um fim em toda aquela injustiça.

Nos libertamos.

 

Com raiva nas veias, uma dor no peito, fardo nos olhos, flores... E fogo!

 

REBELIÃO

 

-Ele tem que pagar por isso. Se eu não puder gostar de você como eu quero. Se eu não puder viver com você. Eu prefiro não viver mais...

Xiumin, ao seu lado, olhando pela janela, deixou que sua revolta transbordasse nos olhos negros. Contra o pai, contra as flores.

Não havia mais família embaixo daquele teto, não havia mais ordem. Não havia mais ordens. Havia apenas raiva. E desejo por liberdade.

-Não pertencemos mais a ele, Jongdae. Eu vou fazê-lo entender isso.

 Assim seria a partir de agora. Quando não tinham pra onde fugir. As flores queimavam.

Naquele começo de noite, as estrelas ainda se escondiam. A lua estava distante, o vento esqueceu-se de soprar a campina. Quando saíram de dentro do celeiro, sustentando em cada mão, um galão de combustível dos tratores.

E com mentes que protestavam, invadiram os girassóis.

Xiumin e Jongdae espalhavam o liquido inflamável nas pétalas, jogando por cima dos girassóis que passavam de suas cabeças. As flores só não eram maiores que a raiva que sentiam.

Decidiram por separarem-se, espalhando um rastro de combustível por parte da extensão da plantação, dispostos a cobrir a maior área possível. O breu tomou o céu, as luzes amarelas vindo da casa deixavam de serem vistas à medida que adentravam ainda mais na plantação.

O fogo no pequeno pedaço de madeira encontrou as flores banhadas, e as chamas passaram a consumi-las. Queimavam pontos aleatórios, riscando fósforos e jogando contra o amarelo, um pela esquerda, outro pela direita. E ponto por ponto:

Xiumin e Jongdae incendiaram os girassóis.

Contemplavam com seus próprios olhos toda a adoração do homem arder na mesma intensidade em que se enfureciam. Cheirava a folhagem, gasolina, e vingança.

Estava feito. A sua frente, o motivo de todo seu sofrimento, em combustão.

 

Mas o fogo não era um amigo...

 

Os pontos em chamas cruzaram-se rápidos demais, queimava por todos os lados. O calor já podia ser sentido. Xiumin passou a gritar por Jongdae: era hora de saírem dali.

Porém as labaredas os traíram.
A fumaça se ergueu como uma venda sobre seus olhos, e a luz do fogo confundia sua visão ardida. Começou a afastar-se andando de costas, tentando se encontrar por entre as folhagens, Xiumin não sabia por onde ir, não era dono de sua própria rota de fuga. Pois por todos os lados, as passagens ardiam.

Escapava por onde o fogo ainda permitia, corria na terra, dobrando em todas as direções, afastando as paredes de folhas que lhe impediam de prosseguir. Tentando escapar das violentas chamas. Nada podia ser visto, além do fogo, e das flores que começavam a murchar, e morrer, sendo consumidas pelo laranja vivo. E nada podia ser ouvido além dos estalos dos caules.

O campo de girassóis tornou-se um labirinto em chamas.

Xiumin ofegava tentando escapar da ardência em sua pele, e da fumaça densa.  O cheiro de combustível queimando castigava suas narinas a cada passo corrido que ele dava, sem saber onde estava realmente indo. Gritava por Jongdae, entre tosses, mas o estalido das labaredas não lhe permitia ouvir resposta alguma.

Encontrou a cerca de madeira, e atrás dela, mais girassóis, que de onde estavam, não demorariam a estar em chamas também. Só neste momento pôde perceber que corria na direção errada.

Correu na direção contraria num salto, tentando driblar a fumaça e o fogo enquanto seus braços exasperavam para remover as flores de seu caminho. Já estava ofegante demais, e perdido, quando houve uma explosão ao seu lado, de um dos galões que largaram ao solo, o fazendo jogar-se ao chão pra proteger-se. E assim as chamas aumentaram seus domínios sobre as flores.

Precisava escapar dali, Jongdae o estaria esperando fora dos girassóis. Precisava seguir por onde não houvesse fogo, e encontrar a frente da casa novamente. Assim o fez.

Pode finalmente respirar, aliviado. O vento batendo nas gotas de suor que se formavam em seu rosto. Apoiou-se aos joelhos, quando seus passos largos levaram seus pés a tocarem na grama, e a casa azul pode ser avistada por ele.

Suas costas ainda sentia o calor atrás de si. E olhando de um lado para o outro, girando em todas as direções, correndo o olhar por toda a frente da casa.

Constatou:
 Seu irmão não estava ali...

Só havia um lugar pra onde olhar, uma direção na qual buscá-lo: atrás de si, dentro das flores... Dentro do fogo.

De onde veio um grito. Que rasgou o ar, e fez o corpo de Xiumin vibrar.

Um grito esganiçado e estridente
Um grito de arder o peito
Um grito de dor.
 

Um grito de Jongdae, que corria com medo demais pra pensar em qual direção seguir, que tinha a pele queimando pela aproximação das chamas. Correndo em busca de Xiumin, esperando encontrá-lo fora da do labirinto de flores em chamas. Tinha muita fumaça ardendo em seus olhos, o fazendo esquecer que corria sobre um campo minado.

Sua perna esquerda travou no lugar, prendeu-se ao chão. E com um grito que fez sua garganta queimar, seu corpo caiu no solo, pois, com um barulho metálico,  dentadas pontiagudas fincaram-se em sua pele.

A dor era de fazê-lo grunhir e mastigar os próprios dentes.

Sentiu o fogo começar a aproximar-se. O calor queimando sua tez. Estava caído ao chão, imobilizado. Não havia oxigênio no ar que respirava, apenas fumaça, que entrava e fazia seus pulmões arderem. Os olhos que lacrimejavam apenas sonhavam em apagar aquelas chamas, que se espalhou e o cercou por todos os lados.

O cansaço, a falta de ar, e o fogo, o faziam beirar cada vez mais a inconsciência. Ao tempo que urrava de dor.

As labaredas eram velozes, enraivecidas, ardentes e gritantes.

Faltava-lhe voz pra chamar, quando ouviu passos ao seu redor, e viu os girassóis se afastarem. Ouviu gritar seu nome, mas nunca era encontrado.

Jongdae ouvia em meio ao estalido do incêndio o tênis serrando o solo, quebrando as folhagens, aproximando-se.

O desespero de Xiumin aumentou quando surgiu por entre as chamas. E encontrou o irmão tirado ao solo, preso a armadilha de ursos que o pai espalhou por entre as flores.

A visão o fez correr mesmo com o ar lhe faltando. Se jogou na terra, e agarrou o metal com as mãos, ignorando os protestos vindos de Jongdae, que aos prantos, implora para que fugisse dali.

-Sái, Xiumin  Sái daqui. Para! Você tem que sair!

Ele chorava a cada grito entrecortado, chorava de dor, e pela vida do irmão mais velho.

Que  passou os dedos por entre os dentes de ferro, e tentou separar a mordida. O aperto afrouxou apenas alguns centímetros, e voltou a fincar-se a perna de Jongdae, cortando a pele de seus dedos com a força contrária. O sangue de suas mãos se misturava ao da calça dele.  Mas não iria desistir.

Com mais força, os músculos tremendo e sentindo suas mãos cortarem ainda mais, após um estalo meio enferrujado, os dentes separaram-se, e livraram a perna de Jongdae, que já lutara por ar há muito tempo, e sua visão sumia aos poucos.

Precisavam agora encontrar um caminho por onde fugir dali.

Agora eram eles, e o fogo.

Usou de toda a força que tinha nos músculos, e levantou o irmão do chão jogando seu braço por trás do pescoço. Todavia, não deram sequer dois passos, e caíram ao solo, com  Dae desacordado dessa vez.

Agora era apenas Xiumin, e o fogo.

Estapeou em desespero o rosto do irmão, chorando de medo, em pânico, clamou por seus olhos abertos.

-Jongdae, acorda, acorda agora! Eu não vou te deixar, eu não vou deixar você aqui!

Jogou o corpo do irmão desmaiado por entre as pernas, atou seus braços no torso. E sem ar, em seu ultimo fio de esperança, enquanto seus olhos ardiam e seu pulmão fumava, começou a arrastar os dois corpos pra fora dali.

Ouviu sirenes e pneus que começavam a correr pra dentro das terras, haviam vindo socorrê-los, mas nada podia ser visto, e nem ouvido, nada que viesse de dentro do fogo.

Não pensou em gritar, pois com o pouco de fôlego que lhe restava, se o fizesse, não demoraria dez segundos até estar inconsciente também.

Iniciou uma luta, mas pela vida de seu irmão do que pela própria. E de encontro a isso, começara também uma corrida contra o tempo: Pois os girassóis enraivecidos, e incendiados, começaram a despencar no chão, um seguido do outro, rápidos demais. Podia vê-los caindo ao solo a sua frente, se aproximando mais a cada segundo.

Empurrava a terra com o tênis, remava no chão com as costas, arrastando todo o peso de Jongdae sobre as pernas. Precisava tira-los dali, ou morreriam soterrados pelos girassóis em chamas.

O fogo mordiscava sua pele, o fazia tentar gritar de dor, mas quase som algum podia ser ouvido. Seus cotovelos já estavam ralados de se arrastar.

E então... Inevitavelmente, lhe faltou forças, pra continuar lutando por suas vidas.

Seu corpo não respondia, parecia ser incapaz de se mover, cada membro que pesava como uma pedra havia desistido daquilo.

Mas seus pensamentos ainda estavam em salvar Jongdae.

 

Ouviu vozes próximas demais, sabia estar perto quando ouviu os animais agitados, e frases inteligíveis. E foi com as ultimas gotas de força que seus músculos doloridos tinham. Que ele nadou, e arrastou-se na terra.

Pra fazer com que os vissem
Sussurrar um movimento, e dizer que ainda estavam ali.
 

Pra fazer uma única mão sair pra fora da plantação
E aqueles que cortavam o escuro com uma lanterna, jogar a luz  naquela pequena extensão de seu corpo. E seus dedos sujos de terra serem vistos...

 

 

Sua mente já ia e voltava da consciência. Quando um feixe de luz foi jogado em seu rosto. Não demorou até que seres com máscaras agarrassem os dois corpos, vestidos de vulto na concepção de seus olhos se fechando. E rapidamente, tiraram os dois de dentro dos girassóis.
 

Que estavam sendo consumidos pelas chamas, espalhando cinzas no ar.

Boa parte deles havia se tornado uma tempestade de neve cinzenta.

Uma enorme tempestade de flores acinzentadas...

 

A última visão que teve foi o corpo de Jongdae ser erguido sobre uma maca de salvamento. E pela forma como se elevava no ar, também devia estar sendo carregado da mesma maneira. Meteram os dois numa ambulância, às pressas, e a partir daí, tudo o que Xiumin sabia, se resumia a vozes.

 

Não tinha noção de tempo, tampouco de espaço. Mascaras de oxigênio foram colocadas em seus rostos. E pessoas falavam alto, em tom de ordem, dando instruções.

Mas por que seu corpo se recusava a se mover? Por que seus músculos não respondiam e ele não se levantava dali pra ir de encontro a Jongdae?

 

“Esse aqui inalou fumaça demais, ele não vai morrer, é impossível que morra assim .Mas por que ele não reage a nada?”
 

“Os batimentos estão diminuindo rápido demais... Isso não é bom!”

“Ele não reage a nada, ele não tá reagindo a nada!”
 

Por que gritavam? Afinal estavam a salvo, iriam curá-los.  Por que aquelas pessoas pareciam estar com medo?

 

...

 

“Aquela foi uma noite, onde muita coisa se comprimia dentro de mim. Quando os trovões antecedem a chuva, como um aviso, e nada parece estar em seu devido lugar. Se a calmaria bate em retirada e você não sabe se ela voltará um dia”

“Após os raios, não há aonde ir. Parar, e  deixar que seus olhos chovam é o melhor a se fazer”

“E naquela noite... eu agradeci por Jongdae ter me ouvido.” 

 

AFASTE DE MIM TODOS OS CORVOS

 

 

Soube a resposta, quando seu corpo despertou minimamente. E ainda atordoado, as horas seguintes foram marcadas por choro, e gritos.

Era um espaço pequeno demais pra manter sentado um Xiumin que chorava pelo irmão, desacordado a sua frente, cercado por pessoas dentro daquela ambulância.

Desacordado a sua frente, desacordado...

-Dae, não seja tão fraco. Não seja tão fraco Jongdae! – lhe pediam calma, e lhe empurravam contra o assento. O impediam de remover a máscara do rosto enquanto ele intercedia pelo irmão.

Por que ele não estava bem? E acordado, assim como o mais velho estava? Por que Jongdae tinha de ser tão diferente? Por que tinha de ser sempre aquele que devia ser protegido de tudo? De corpo tão magro, de feições tão doces.

Por que tinha de fazer Xiumin quase afogar-se em suas próprias lágrimas, sentindo como se tivesse falhado.

Só queria pegar a mão dele
E ir embora.

Afinal sempre foi seu dever, protegê-lo.

Mal podia andar, quando entraram naquele mesmo lugar, de muitos corredores, que cheirava a desespero. Tinha de ser ajudado, por homens que o mantinham de pé. Ao seu lado, a cama de ferro corria sobre rodas. Com pessoas agindo sobe ordens.

Sobre ela, Jongdae, de cabelo queimado, roupa suja e esburacada, a perna jorrando sangue mal estancado, e seu corpo inerte. 

Se aproximavam de uma porta dupla, e seus passos começaram a ser barrados. Empurravam a cama cada vez mais rápido, e impediam seus pés a progredirem cada vez mais forte. Até que uma mão foi colada em seu peito, e o impediu de prosseguir.

Os dedos finos de Jongdae caiam pra fora da mesa de aço.

E segurar suas mãos sempre teve um significado maior

As rodas travaram no piso
Os médicos travaram o passo
E os homens agora travavam uma guerra

 

Pois não havia ninguém que o fizesse soltar a mão de Jongdae. Nem quem empurrava a maca, nem quem lhe puxava as costas. Xiumin gritava e esperneava, com os pés nadando no piso. Os dedos da mão embranquecidos, impedidos de correr sangue graças à força que mantinha pra que não deixasse Jongdae sumir de sua vista. Seus olhos estavam vermelhos e castigados, seu nariz escorria, o choro, e o soluço, formavam uma quantidade espessa de saliva no fundo da garganta.

-Jongdae! Me soltem, me soltem! Dae...Jongdae! Não solta  a minha mão, não solta da minha mão! Me deixem em paz, ele é meu irmão! Eu preciso dele, nós vamos colher maçãs. Eu prometi! Você tem que me soltar!

Seus braços foram tomados, e puxados em força maior. Alguém que apertava sua pele, e o desvencilhou das mãos que segurava com tanto ardor. Os dedos dele desataram dos seus, mal teve tempo de ver Jongdae partir, quando foi sentado num banco grande no pavilhão, e suas costas foram apoiadas a parede do corredor. Por um homem que gritava. Com roupas de oficial, e olhos arregalados. Mais assustados que raivosos.

O policial amigo da família segurou seu rosto com as duas mãos, e começou a agitá-lo enquanto gritava em desespero próximo a sua face.

-O que vocês fizeram? Queriam se matar?! Xiumin o que tá acontecendo com essa família, hã?! Fala pra mim!

Ele gritava, fazendo seus fios loiros cheirando a fumaça se agitar. O garoto soluçava, e chorava como uma criança, sem conseguir dizer uma frase conexa sequer, além de:

-Jongdae! O Jongdae...

-Se não tivessem passado pela rodovia e ligado pra policia assim que viram o fogo vocês podiam estar mortos agora! Xiumin olha pra mim! – sacudia seu rosto –  Por que fizeram aquilo? o que diabos tá acontecendo com vocês?! 

-Eu preciso do Jongdae, Ele não acorda...

-Me escuta! – ele fixou seu rosto num único ponto, em desespero, impedindo o garoto de tremer ou de desviar o olhar, o forçando a mirá-lo direto nos olhos – Me diga que isso tudo é culpa do seu pai, vamos, eu só preciso que diga. Eu vou tirar vocês daqui, eu vou ajudar vocês dois, só me diga, Xiumin... – ele respirava de maneira animalesca – Diga que foi seu pai quem matou Anabeth, fale que a culpa é dele, e eu coloco ele atrás das grades. Eu sei que assusta, mas vocês vão estar sobe poder da justiça, eu vou decidir o melhor pra vocês dois, acredite em mim!

 

Existem palavras, que não se dizem a qualquer flor.

 

E Xiumin trouxe o fogo em seus olhos. Suas orbes arderam encima do policial descuidado.

“Sobe poder da justiça; iria decidir o melhor pros dois;” Quem ainda ousa dizer a ele o que fazer?

Xiumin colocou fogo nos girassóis pelo mesmo motivo, e incendiou também o homem a sua frente, que estava assustado, com o ódio que via naquele rosto.

Ninguém mais decidiria seu futuro por ele, ninguém mais ficaria entre ele e Jongdae. Foi isso o que disse, quando transformou todo o amarelo em cinzas.

Segurou com força as mãos do policial, apertando a junta de seus dedos, e afastando trêmulo, de ódio, as palmas de suas bochechas, olhando direto em seu rosto surpreso:

-Você... Não é... Meu pai!!!

 

 

 O homem recuou alguns passos. Ainda com os olhos cravados em si.

-Me desculpe... – Engoliu em seco, e se recompôs contravontade, afastando-se – vou saber sobre o Jongdae...

 

...

Os corredores estavam mais barulhentos e movimentados naquela noite, medicas e enfermeiros corriam de branco, de um lado a outro.  Comparado ao irmão, seu estado sequer era preocupante. Tanto que uma mulher veio cuidar de seus ferimentos ali mesmo, no corredor. “Me perdoe, estamos com muita gente, e muitos casos hoje” ela dizia de educação. Era notável o tanto de trabalho que teve – E ainda teria – na velocidade e até mesmo em certa falta de cuidado com a qual lidava com as feridas de Xiumin. Ao terminar, ela depositou todos os utensílios prateados numa bandeja ao seu lado, ao tempo que se virou pra conversar com um superior. E ele usou disso pra esconder no bolso, discreto, uma tesoura.  E ela apanhou suas coisas e saiu dali sem sequer dar falta de nada.

A pele cortada dos dedos ardia por baixo dos curativos. Assim como sua mente, por trás do olhar raivoso, fixo a porta de saída do hospital. Estava uma bagunça, com curativos na pele, cobrindo as queimaduras de primeiro grau. Roupas sujas, rasgadas  e chamuscadas.

Xiumin já aguardava a presença de alguém.

O estacionamento na frente do prédio não estava por pouco totalmente vazio. Havia muitos carros, e nenhuma pessoa. Quando, com o carro emprestado, Adkins chegou ao hospital.

Estacionando na frente da entrada, ainda dentro do veículo, os faróis do carro lhe deu visão, do rapaz raivoso parado a porta, respirando forte, olhando sádico, com uma tesoura em mãos.

Abriu a porta, desceu, deu pequenos passos em sua direção. E a tesoura foi apontada em seu sentido.

-Você não vai entrar aqui. – ditou, entre dentes.

-O que vocês fizeram?

E xiumin riu, de raiva. E gritou cada palavra, pois era como se apenas ele visse toda a destruição que aconteceu a sua volta. Já que o pai, sempre com aquele mesmo tom, quando não estava em estado de insanidade, falava como se nada estivesse acontecendo. E aquele show de cinismo lhe revirava as entranhas.

-O que eu fiz? – repetia risonho a si mesmo, antes de queimar a garganta em gritos – Eu fui o filho perfeito a minha vida toda! Eu obedeci cada maldita palavra que você disse. “Não faça isso” “não diga essas coisas” “não veja aquilo”, tudo por que eu era grato por você ter me salvo um dia. Você me deu tudo, e depois tirou tudo de mim!   O que eu fiz? Você quer mesmo saber? Eu amei meu irmão! Eu beijei meu irmão um dia, e depois disso eu comecei a me questionar sobre tudo. Mas de uma coisa eu nunca duvidei... Eu amo o Jongdae! E se isso é errado... Eu não quero estar certo. Eu não quero ser seu filho perfeito. E enquanto isso você tava fazendo da nossa vida um inferno. Enquanto todo mundo tentou te ajudar você só queria saber daquela porcaria de plantação, fingindo que tava tudo bem, e não tem nada bem!!!

-Não... Está tudo bem meu filho. Eu vou fazer tudo ficar bem – tentou progredir os passos.

-Não! Você não vai fazer nada ficar bem, você não vai a lugar nenhum! – lhe apontava  a tesoura.

-Vamos voltar pra casa, vamos ser uma família feliz de novo, tá bem? Eu prometo. Solte isso, me deixe entrar e vai ficar tudo bem.

-você acabou com as nossas vidas!

-Eu não fiz nada... – o homem se enfurecia.

-Você destruiu nossa casa!

-Xiumin você’

-Você apontou uma arma pra gente!

-Você não sabe do que tá falando moleque, calado!

-Você matou a minha tia!!! – e as lágrimas, impiedosas, vieram... – você tirou o pouco de uma mãe que a gente tinha. Você acabou com a única coisa que me fazia sentir seguro. Jongdae nunca viu uma mãe, eu nem lembro da minha... Eu só tinha a ela, tia Betty era minha mãe. Você matou a minha mãe!!!

...

As palavras do homem foram engolidas com força – Minhas flores, por que você queimou minhas flores?

-Por quê? – repetia a ele – por que quando eu voltar pra casa, vou pegar minhas coisas e Jongdae e eu vamos embora, pra bem longe de você. E quando estiver enlouquecendo sozinho, quero que você olhe pro que restou da porcaria daquelas flores, e saiba exatamente o motivo! Eu vou pegar meu irmão, e vou sumir daqui, e nem você, e nem ninguém vai saber aonde fomos. Ninguém mais vai decidir minha vida e  a do Dae.  

-Jihyo estaria envergonhada de você! – ele gritou.

-E daí? – respondeu, em falso lamento, deu de ombros martirizados – Eu não sou filho dela!

-Você está negando a Jihyo!

-Ela faz parte do seu passado. Assim como Jongdae e eu, nós não pertencemos a você. Não mais...

Sustentou seus olhos com peso. Convicto do que dizia. Pois chega uma hora, em que você tem de tomar nos braços aquilo que ainda te resta, e afastar todos os corvos, de perto de todas as flores.

 

Garth andou de costas até o automóvel. Deu vida ao motor, e em poucos segundos o barulho do carro queimando o asfalto ia se distanciando.

 

Ele nada disse a respeito, deixou ali de pé, Xiumin, apertando uma tesoura na palma,  e os dentes na boca. Com o peso de sua vida e a do irmão nas costas. Peso esse, que ele teve de tomar pra sí a força. Flores e  fogo.

 

MEDO, POR SEUS OLHOS FECHADOS

 

Onze horas e nove minutos...

Aquela noite estava fria. E parecia não acabar nunca. Diferente da ultima vez que estivera ali, os ponteiros estavam colados no lugar, deviam pesar mais que seu peito. A cada único minuto, Xiumin era capaz de reproduzir em sua mente tudo o que se passou neste dia. Seu olhar deixava o relógio de parede do quarto pequeno, e desciam até os cabelos negros de Jongdae, que estava ali, deitado na cama, há horas, ainda desacordado.

Trouxeram-lhes roupas limpas, e tudo o que tinha de fazer era esperar, até que os olhos a sua frente se abrissem, e ele pudesse rir do vestido de velhinha que lhe puseram pra deitar. Junto aos fios do medidor de batimentos. Era tudo o que queria: Que despertasse, e lhe acalentasse o peito com um sorriso largo.

E de Jongdae, seu olhar se voltava pra lua. Tão brilhante dali. Talvez ela nem soubesse que a espiavam pela janela. E era a única luz que alisava as paredes.

Lá fora, as vozes em rebuliço, audíveis, mas incapazes de serem compreendidas. Aqui dentro, Nenhum som além das respirações, e do medidor de batimentos. O cheiro característico de luvas e álcool etílico estava por todos os lados.

E a noite demorava a passar de tal forma que já considerava que talvez ainda tivesse algo mais pra acontecer.

Seu peito doía. Tinha os olhos inchados, que não perderam a umidade em momento algum. Vermelhos, pesados. Lamentosos...

Não era como se estivessem a  beira do abismo. Ou como se o garoto a sua frente estivesse a ponto de morrer. Ele tomou coragem pra livrá-los das cercas. Mas agora, estava tudo em suas mãos. E isso o assustava.

Os olhos fechados de Jongdae o assustavam.

Segurar sua mão, vê-lo desacordado. Não poder ouvi-lo, não tê-lo por perto. Vê-lo chorar ao invés de sorrir. Essas pequenas coisas, significavam tantas estrelas dessas no céu. Uma para cada sentimento que lhe tomava.

Tamanha melancolia entrou pela janela com a brisa, e soprou os fios pretos do menino desacordado. Xiumin sentiu com as costas dos dedos a pele fria de seu rosto. E seu peito só queria gritar por socorro.

Mas a quem?

 

Onze horas e onze minutos... O tempo deitou-se.

E junto do frio, veio o medo, e a vontade de chorar a alguém.

Lá no céu, afastada da lua, uma estrela se destacava de todas as outras, tão brilhante. E a imagem que lhe veio à cabeça, foi um sorriso, que cintilava igualmente, com olhos azuis, e bochechas marcadas.

 

-Oi...

E impressionou-se com a forma, que a voz falhou já na primeira palavra. De tão fraco e mentalmente castigado que estava.

-Eu não tenho como saber, mas, se eu pudesse desejar algo, desejaria que estivesse me ouvindo agora. Ainda tem coisas que eu preciso dizer, duas delas...

Os olhos ardem, a boca seca, a garganta se fecha. E parece que uma bola de ferro precisa sair do seu peito.

-A primeira coisa que eu não tive tempo de te dizer, foi sobre mim e o Dae. Ele tá aqui do meu lado agora, e ele não acorda. Eu não sei por que, mas ele ainda não acordou. Você precisa saber, não é? afinal, você morreu por isso.

E de tão pesadas, podia jurar que as lágrimas fizeram barulho nos lençóis.

-Teve um dia, que eu ganhei um irmão. Ele era muito pequeno, e fazia muita sujeira. Ai ele foi crescendo, e a gente começou a aproveitar junto tudo o que tinha naquela fazenda. Afinal, Nós dois tínhamos acabado de chegar... Eu sempre fiz tudo com o Dae. Brincar, conversar, trabalhar. Espantar aquelas galinhas todo santo dia. Ele era a única pessoa, com quem eu dividia tudo. Ele estava lá, todos os dias... Ai a gente cresceu, e nada mudou. Eu continuei cuidando dele, foi tudo o que eu fiz a minha vida toda, como uma família. O Dae é a minha família, e família cuidam uns dos outros. Por que tinha de ser diferente quando descobrimos todas essas coisas? Por que eu teria de dividir meu primeiro beijo com alguém diferente? Afinal,  Sempre foi ele, nunca houve mais ninguém além dele. Descobrimos juntos que as coisas morrem, descobrimos juntos que os dentes caem, e descobrimos juntos que da pra gostar ainda mais de alguém. Tinha de ser ele... Foi isso o que você viu aquela noite. Era eu, gostando do Jongdae...

Seus olhos aguados pousaram no rosto adormecido sobre o colchão inclinado.  Ajeitou-se na cadeira, pra tirar do peito aquela outra coisa, que pesava ainda mais que tudo.

-A segunda  coisa que eu não tive tempo de te dizer...foi...

E o peito falhou. Onde estava o ar? De onde vinha aquilo que lhe apunhalava o coração e castigava seus olhos que ardiam em choro.

-Foi Adeus... Eu queria dizer, só uma vez, Adeus! Então por favor... por favor, me escuta. Você é a melhor mulher do mundo. Você foi a pessoa que preencheu todo aquele espaço onde faltavam abraços, e conselhos, e carinho também. Você me pegou no colo e disse que eu não tava sozinho.

Que ninguém o ouvisse quase gritar aquilo...

-E você não sabe o quanto dói ficar sozinho! Meu Deus eu to com tanto medo. Tanto medo... Eu me lembro tão bem... Ele me disse, que ia sair, e que eu não me preocupasse por que ele ia voltar logo.  E demorou tanto, eu fiquei tão assustado. Demorou tanto! Faltou luz...e eu me escondi embaixo da mesa. Tava tudo escuro, e eu chorei, eu chorei até soluçar. Eu não sabia, mas naquele momento, eu não tinha mais ninguém. Eu era uma criança sozinha no mundo, por que meu pai nunca mais ia voltar.

Xiumin recostou a testa no colchão, e apertou os lençóis nos dedos. E mais uma vez essa noite. Desabou...

-E agora depois de tanto tempo eu tenho medo de novo! Eu não quero ficar sozinho de novo! Você prometeu que não ia deixar a gente, você disse pra mim, e eu sempre acredito no que você diz! Então por que você partiu assim? por que parece que todo mundo a minha volta sempre parte? Sem dizer nada, sem avisar...

Parou pra chorar. Pra deixar que tudo aquilo derretesse e escapasse de seu peito. Aguar o colchão era o que ele mais precisava.

-Tia, não somos bons. Nós não somos mais seus meninos bondosos. Nós queimamos as flores... Nós queimamos os girassóis.  E depois não conseguimos mais sair. Eu fiquei com medo, e fiquei esperando você vir nos salvar. Mas você não ia vir. Eu tive que me arrastar pra fora… Eu quase matei o Dae… me desculpa...

 

 

E todo o conforto do qual precisava invadiu os fios de seus cabelos. Dedos finos, um deles preso a um aparelho, grande demais pra não ser sentido. Um carinho da pessoa, de quem Xiumin mais precisa agora.

E ouvir sua voz, mesmo fraca, por um fio.  Foi como ser salvo de afogar-se.

-A gente tá livre agora... Ela vai nos perdoar.

-Dae...

Segurou sua mão, com suas duas, com seu rosto, com seus lábios. Quase deitou-se nela.

-Eu não vou te deixar sozinho Xiumin. Nunca... – e Jongdae encontrou na janela, a mesma estrela com quem ele falava – Ela nunca vai deixar você sozinho também, eu tenho certeza.

 

-Dae...  – Xiumin quase ignorou suas palavras pra segurar seu rosto. Quase subindo na cama junto a ele. E encostou suas testas.

-Não deixe ele chegar perto de mim... Nunca mais, eu não quero.

 

...

 

 

Os dias foram até silenciosos. Não é como se tivéssemos total certeza de tudo, e nem que fosse fácil. Não falamos muito, principalmente com aquele homem nos policiando. Insistindo que era responsável por nós. Não sabemos quando o Jongdae vai poder andar normalmente. E nesse tempo, sinto que envelhecemos uns dez anos.

Somos responsáveis pelo que dizemos agora, é como se cada palavra nossa pesasse, cada coisa dita tinha um significado maior. Parecia que até monossílabas decidiriam um caminho por onde iríamos andar. “Sim” “não” “Eu...” “Nós...“

Por isso ficamos calados, Jongdae e eu, ignorando tudo o que o homem dizia, respondendo de má vontade suas perguntas.

Ele nos trouxe, num carro de polícia, de volta pra dentro das campinas verdes.

E nós vimos o que restou dos girassóis.

Pela ultima vez…

 

A terra estava negra, as cercas brancas estavam sujas de preto. Restaram  de pé algumas flores persistentes. O resto, eram cadaveres. Aquele mar de poeira escura, no lugar  do que um dia foi amarelo. Só me fazia pensar, que foi ali no meio, que dividimos nosso primeiro beijo. E foi em trevas que a terra se tornou após isso.

 

O policial disse que voltaria em breve pra conversar com todos, abrir sua boca, e dizer o que pensa saber sobre o que um dia foi a nossa família.

Nem mesmo as flores sabem de tudo, quem dirá um homem, que recebe dinheiro pra não dar multas, e fuma em lugares proibidos. (E se ele for casado...)

 

Hoje, imagino sua reação, diante do que provavelmente encontrou dentro daquela casa ao ter voltado.

Sim, a tempestade passou. Todas elas... Acredite, nós sobrevivemos a tudo.

Mas naquele dia, pela ultima vez em que estivemos lá, houve uma ultima sentença. Uma ultima tentativa de dar um veredito, ao que seria do meu amor por Jongdae.

Este garoto, que por vezes acorda assustado a noite. Chorando e buscando qualquer parte de mim pra apertar entre os braços e sentir-se bem. Graças aquela imagem, daquela tarde, que ficou gravada em sua memória. Assombrando-lhe os sonhos. Lhe arrematando o sono.

 

A GRAMA DENTRO DESTAS CERCAS SEMPRE SERÁ MAIS VERDE

 

 

Foi em silêncio que desceram da viatura de polícia, e em silêncio – até dos animais – foram recebidos dentro das terras.

Xiumin amparava o tronco de Jongdae quando passaram pela porta, que de muletas, teve de escalar os degraus pra subir. Seus rostos olhavam apenas um o outro, ou o pé enfaixado. Sendo encarado com cuidado dos fios dourados. Para que caminhasse sem se ferir (novamente)

 

Assim como a casa azul estava manchada de preto, na porta, ainda havia cinzas do incêndio que invadiram a morada quando os andares foram cobertos pela fumaça de neve cinzenta. Sequer direcionaram um olhar ao homem, que na cozinha, preparava uma mistura de veneno para ratos, e pólvora. Subiram sem olhar a madeira da casa, os móveis, as fotos, e o pai.

 

Lá encima, novamente em seu quarto, Jongdae olhou pela janela, e por alguns segundos, vislumbrou as duas crianças que há anos atrás brincavam naquela grama.  Mas tinha convicção, de que deixar tudo àquilo pra trás era o que já devia ter sido feito. Não tinha espaço para lágrimas em seus olhos. Não iria chorar dessa vez, não iria ser ele a olhar pra trás.

Arrumavam suas coisas em malas e mochilas. E levariam apenas o necessário. Qualquer lugar, agora, era melhor que dentro daquelas cercas.

 

E ouviram baterem a porta:

Uma
duas, e quase não houve a terceira vez...

 

Para os fios dourados, não era novidade encontrar o pai parado no corredor. Mas não esperava encontrar seus olhos, tão sadios.
Azuis, puros, sem qualquer vestígio de loucura ou desordem.

Pacífico. O fez lembrar que Adkins era irmão de Anabeth, herdara ele o mesmo céu nos olhos. E até imitou a mesma voz acalentadora. Que a muito já não ouviam. Isso só tornou mais difícil dizer Adeus.

 

-Não vou pedir que fique... Eu não posso... Não tenho mais esse direito.

E Xiumin apenas encarava seus olhos, sem baixar a guarda, sem deixar de julgar com cada traço de sua face.

-Eu só vim saber, se a menos... Podemos jantar uma ultima vez. Como uma família. Não importa o que digam, ainda somos uma família.

Voltou seu olhar pra dentro do quarto, por cima dos ombros, perguntou a Jongdae em silêncio, se fariam este ultimo favor. E ainda dobrando suas camisas, ele assentiu.

E o filho mais velho deu-lhe a resposta.

-Nós vamos descer...

O homem agradeceu, com os olhos pesados. E quando a porta foi fechada, os dois ficaram em silêncio, ouvindo seus passos irem sumindo na escada de madeira.

Olharam cada detalhe do quarto, com tom de Adeus. Suas camas, o espelho, o guarda roupas. Os lençóis que dividiam nas noites frias. E dessa vez, não mais em segredo, abraçaram-se.

 

Jongdae decidiu que não levaria apenas mágoas dali. Foi até o quarto da tia, e abrir aquela porta pesou em seu peito, o fez respirar fundo, antes de dar o primeiro passo. Separou uma foto do retrato sobe a mesa de cabeceira, e rasgou-a ao meio, ficando apenas com a parte que continha o sorriso bonito, e os olhos carinhosos dela. Uma ultima imagem, que levaria entre seus panos.

Revirou suas gavetas, explorou sua caixa de joias, e tomou pra si uma gargantilha. Que com duas voltas ele prendeu ao pulso, e a rosa na ponta como pingente.

Custou, muito até, mas ao juntar-se a Xiumin na beira dos degraus, começaram a descer para o andar de baixo. 

E enganaram-se, ao achar que aquele seria um Adeus azul pacífico.

 

Da sala até a cozinha, a muleta batia o assoalho, seu tênis com cadarço encardidos deram passos vagarosos. E de brusquidão, seu pé direito parou, e se recusou a progredir. Ambos, estáticos, parados, diante do que viam.

E a voz, nunca ouvida tão rouca daquela forma, selvagem, maníaca, fez Jongdae engolir em seco.

 

 

Sentem.

 

Jongdae, de medo, segurou e apertou a mão de Xiumin, que estava à frente, de olhos assustados e boca entreaberta.

Não tem mais flores

Não tem mais nada.

Acabou, filhos

Agora vamos nos sentar

E comer como uma família

Uma ultima vez

 

Garth, sentado a cabeceira da mesa, estava no clímax de sua desordem. Seus olhos vermelhos, irritados. Os dentes rangendo, as mãos que tremiam, os globos oculares em colapso. Estava em tempestades, novamente. Parecia não ter controle de seus ossos, não parava com uma única expressão no rosto. Ou sentia tudo, ou não se atinava de nada.

 

Comam

Depois disso teremos sopa...

 

Ele até sorriu, e a garganta de Jongdae se fechou de medo. 

Duas cadeiras, já afastadas, esperavam por suas presenças. Uma adjacente a cada ombro, à direita, e à esquerda dele. Em cima da mesa, pratos brancos.

Sobe os pratos, servido a eles:

Resto de areia preta de adubo. E flores de girassóis.

Em cada prato
O ultimo jantar em família...

 

 Depois disso teriam sopa. Com batatas, repolho cozido, veneno pra ratos e pólvora.

Garth tinha terror no olhar, e um sorriso tenebroso. 

Um último jantar em família...

Jongdae, sem conseguir tirar o olhar dele. Com todos os pelos de seu braço eriçados e um arrepio friento na pele das costas. Sentou-se a esquerda. E Xiumin, engolindo em seco qualquer coisa que estivesse sentindo agora, com orgulho no pomo do pescoço, sentou-se a direita.

O homem começou a destroçar as pétalas e partindo o núcleo com as mãos sujas de terra até dentro das unhas.

Curvou a cabeça a nível do prato e meteu os dedos dentro da boca.

 Despedaçava, levava a boca, e mastigava cada pedaço, do que restou de sua plantação como um animal faminto.  Com a respiração torpe, e os olhos pedrados.

Xiumin se recusava a olhar, perdia a visão na parede, incrédulo. E Jongdae  engolia o choro, forçando a não deixar escapar mais do que aquela lágrima que escorria por sua bochecha.

 

COMAM!

 

O homem engolia a planta, pedaço por pedaço do que despedaçava com as unhas. As folhas, as pétalas, e forçou o caule a descer a garganta.

Seu corpo começou a estrebuchar e forçar-se a frente, fazendo barulhos aguados, escorrendo saliva pelo canto da boca, suja de terra.  O som arenoso rangendo em seus dentes.

Era agoniante ouvi-lo engolir a planta, até que ela travou em sua laringe.

O homem arranhava a madeira, e levou a mão até o pescoço, tremendo, e buscando por ar. Fazendo a mesa e os pratos acima dela agitarem. Mas não parava de tentar comê-la com a mão livre.

Jongdae fechou os olhos, aos prantos, e tapou os ouvidos com as duas mãos na cabeça. Era agonizante ouvi-lo engasgar daquela forma.

Xiumin, mesmo sem exprimir um único som, não conseguiu segurar as lágrimas, de susto, e de ódio. Ambos não se moviam da cadeira, deixaram, a sangue frio, que Adkins Garth se consumisse em sua própria loucura.

E tombando na mesa com o corpo trêmulo.

Engasgar com as flores de girassóis.  E dar seu ultimo suspiro, diante de seus olhos.

Aquele foi um momento, que mesmo de olhos fechados e ouvidos tapados. Acompanharia o pobre Jongdae por muito tempo.

 

...

 

FIM. ABAIXEM AS CORTINAS AGORA

 

Nem um som.
Nem uma silaba.
Nem um barulho de animal.

Nenhuma palavra ao vento, ou frases de conforto. Um gesto ou uma mímica.

Fizeram tudo no mais absoluto silêncio.

 

Percorreram de novo a casa. Não ousaram se aproximar de qualquer peça do que aconteceu ali.

Xiumin buscou sua caixa, ainda sem ter noção do quanto de dinheiro havia ali, junto a uma foto do pai biológico o segurando no colo quando pequeno.

Aquilo era muito, mas não era tudo. Por desconfiança e sexto sentido, Jongdae encontrara um resto - muito, mas ainda assim um resto -  do que o pai conseguiu em todos esses anos com as sementes.

Dinheiro em notas, dinheiro em plástico, dinheiro em códigos.

 

Em um ultimo momento de reflexão, enquanto palavras corriam em ascensão por sua mente. Xiumin usou do que um dia poderia ser um novo galinheiro, pra deixar uma ultima mensagem.

Bateu três pregos numa taboa de madeira, juntando-a a uma haste. E em sua superfície pintou letras em tinta branca das cercas.

Ele, os próprios fios dourados. Fincou uma placa na calvície da terra. No meio do pouco que restou da plantação.

Antes de, novamente, entrelaçar seus dedos ao de Jongdae. E deixar pra trás, de uma vez por todas, as campinas verdes. Os animais, as arvores, os vegetais na terra, o vento que sopra de um jeito único no campo. As nuvens que têm formatos singulares sobre os pastos, o azul que não há em nenhuma outra paleta de cores no céu de qualquer outro lugar. Os cheiros que ninguém sentiria de nenhuma outra terra molhada.

Saíram a pé, finalmente, de dentro das cercas.

 

GIRASSÓIS

 

Helianthus annus, cujo significado é “flor do sol” . Pode chegar a atingir três metros de altura. Famosa por ser heliotrópica. Sempre posicionando seu caule na direção do sol.

A flor de girassol significa felicidade. Sua cor simboliza o calor, o entusiasmo, lealdade e vitalidade. Remetendo a energia positiva do sol. Porém, pode também significar Altivez.

Segundo crenças populares, sua semente, se deixada aos raios solares, pode curar a infertilidade.

Na mitologia grega, Clítia, a ninfa, apaixonada pelo deus do sol, Hélio, ganhou raízes nos pés, e seu rosto transformou-se numa flor, para que ela continuasse seguindo o sol, para onde ele fosse…

 

 

 

O SOL NÃO SABE AONDE FOMOS

 

 

 

 

Éramos uma família de mentira.

 

 

 

 

 

 

 

 

Com uma mãe de mentira.

 

 

 

 

 

 

E um filho de mentira.

 

 

Agora, somos eu, e Jongdae.

 

 

 

 

Saímos dali, deixamos aquela cidade. Fomos além das casinhas modestas. Talvez o homem que nos deu carona saiba aonde fomos, ele nos viu, até tomarmos o primeiro ônibus. Talvez uma ou duas pessoas, naquele primeiro veículo, nos tenham visto. No segundo, o motorista que nos saudou talvez se lembre dos meus cabelos loiros ou do pé machucado do Dae. Mas a partir do terceiro. Ninguém nos conhece. Não sabem aonde fomos, e pra onde ainda iremos. E pra todas essas pessoas, não somos ninguém.

Pois apagamos nossos rastros, deixamos pra trás quem um dia fomos. E a vida que tivemos. Enterramos nossa história. Pra escrever algo novo, sobre linhas livres, desimpedidas e longe dos quilômetros de trigo.

Nossa vida nos pertence, e depois de tudo o que aconteceu me alegro em saber, que Jongdae ainda pode ver o amarelo do sol, o amarelo dos meus fios de cabelo; E o amarelo das flores, bom, isso é algo que, infelizmente, ele nunca poderá esquecer.

Pra mim, a história se repetiu novamente. Me vi órfão mais uma vez. Contudo, graças a Jongdae, e esse sorriso lindo, de cabelos pretos e bochechas firmes, não esperei que alguém viesse me resgatar. Ele nos salvou, por sua causa, tomei coragem, deixei de ser uma criança assustada, segurei sua mão. E agora sou dono do que será de mim.

E essa é a melhor sensação que posso sentir. Poder ama-lo. Poder tê-lo, de longe enquanto o obervo. E  de perto, enquanto o beijo e tiro suas roupas.

Eu posso... Alguém deve duvidar disso?

 

No fim, pelo sim ou pelo não, se a lua quiser ou não permitir. Estamos felizes...

E só pra me tirar dos meus devaneios, Jongdae ainda come como um porco.

 

Rio da forma como se lambuzava de molho. Os dedos fincados como se o hambúrguer fosse fugir, a cabeça baixa como se estivesse impossibilitado de se recompor e levar o alimento até a boca.

-Não é meio cruel?

- o que? – fala de boca cheia.

-A vaca...

-Ah, eu não tenho culpa se ela é deliciosa...

E novamente, fez risos da forma, como comer aquele hambúrguer pareceu perder um pouco a graça por conta do comentário.

Jongdae, olhando pro menino loiro, pensa no quanto ele fica bem vestido de couro. As roupas aqui são mais bonitas, chegam a ser misteriosas, algumas até, excitantes. Os prédios autos à noite se enchem de cores, vagalumes eletrônicos. Uma variação criativa das luzes amareladas que ele era acostumado a ver.

Eles nunca mais viram um macacão jeans. Só jaquetas, casacos de frio, couro. Bonés, e tudo o que  Jongdae conseguir colocar em volta do pulso.

E o cabelo de Xiumin. Esse nunca foi tão brilhante, liso, e vivo como agora.

Se tornaram meninos da cidade grande.

 

E por cima de seus ombros, enquanto o via comer, a imagem na TV tirou a atenção de Xiumin. Lá encima presa ao teto, exibia o noticiário, com uma mulher que falava dando ênfase a certas silabas. Livres, era como se sentiam, mas não era lá a melhor palavra para definir a forma como tudo terminou. Sendo realista, custando dizer, ainda não terminou.

 

[...] “Seis meses após o incidente a policia decidiu levar a publico, que a mulher que teria morrido no acidente de carro na rodovia principal, era na verdade irmã de Adkins Garth. Os filhos, desapareceram, e até então não se tem nenhuma noticia do paradeiro deles...” [...]

 

Fomos parar nos jornais do estado inteiro. Seis meses depois de tudo, nos tornamos uma história assustadora que entretém turistas. O pai da família perfeita, que foi encontrado com flores presas a garganta. Um incêndio em sua plantação, e seus dois filhos desaparecidos.  

E desde então, a policia local nos procura...

 

Alertou a si mesmo que uma foto apareceria. Se policiou de que seus rostos seriam expostos a qualquer momento. Esperou dois segundos, e... “Merda!”  uma foto dos dois preencheu a tela. Com maestria abriu a carteira e num tapa deixou notas encima da mesa “Vem Jongdae...”.

E sobre um olhar suspeito de um garçom, passaram pela porta daquele Diner da cidade, e trotaram até o carro.

Em casa, o noticiário, seis meses depois, passava também na TV. Por sorte, ainda teriam algumas horas sozinhos.

 

A tomada é puxada da parede. Apaga a imagem. Se entreolharam, abriram um sorriso de canto da situação, sabiam o que tudo aquilo significava. E, de pé na sala daquele apartamento, uma excitação pareceu rastejar do chão, engatar seus pés e deslizar até todo o resto do corpo. Jongdae puxava – já ensaiando um andar de costas – a blusa de frio, e ainda incomodo com a branca que tinha por baixo.

E Xiumin já forçava o ar forte pra dentro, se preparando pra perder o fôlego mais uma vez essa semana.

O fato é que, quando estava prestes a chegar esse momento, o de dizer ao mundo que ninguém mais os encontraria, a pele já esquentava em antecedência.

A liberdade se tornou algo que excitava os dois dentro das calças.

Ele foi até Jongdae e o tomou pela cintura com uma força que lhe desestruturava os pilares. Beijaram-se, quente, ofegante. Colaram os corpos.

Começou com dedos que tentavam invadir a barra da cueca de Jongdae. E o resto do trajeto que faltava até o quarto dos dois era espaçoso demais pra que as roupas ficassem abandonadas pelo meio do caminho.  E a forma como o de fios pretos tinha ganho massa nos últimos dias tirava Xiumin de órbita.

Seu peito estava mais firme, sua barriga, que sempre foi magra, ganhava linhas e desenhos de gomos que faziam ele sentir... A liberdade. Xiumin sentia a liberdade. Bem abaixo do umbigo. Crescendo... Aquela liberdade...

De corpos quase nus, Xiumin colou sua boca à orelha dele, e deixou que sua voz, vacilando, soprasse ar quente em seu ouvido.

-Aonde você quer ir agora?

-Pra cama... Apenas...

E atendendo ao pedido caíram de costas no colchão. Já haviam feito, de muitas formas, em vários momentos. Mas eram raras as vezes em que era  Xiumin quem tomava-o pra si. Tê-lo por baixo do seu corpo o excitava em antecedência. De forma que sua boca sabia exatamente onde ir. Já parecia bom ter suas bocas unidas, se saudando, beijando os lábios úmidos um do outro. Mas a sensação de sentir o nariz invadir a pele de seu pescoço, e a respiração quente eriçar seus fios, era de fazer os dedos dos pés se contorcerem.

Xiumin beijara seu pescoço, e deixou um rastro de selares até seu abdômen enquanto acarinhava seus fios loiros. Antes de puxá-lo de volta e olhar em seus olhos.

-A gente não tem tempo pra isso...

Jongdae interviu apenas por precisarem se apressar. E após as ultimas peças de roupas serem descartadas no tapete felpudo. As paredes guardaram bem os últimos sons, dos  gemidos em despudor, das arfadas em descontrole.

Quando os corpos moviam uns sobre os outros. E Xiumin ia cada vez mais fundo dentro de Jongdae. Os rostos próximos, as pernas em volta do quadril e as mil expressões que denotava o quanto ter um ao outro daquela forma era tudo o que precisariam daqui pra frente.

E no ápice de toda a tensão que os consumiam o corpo, fazer sujeira sobre aquele  colchão uma ultima vez, era o que precisavam pra levar adiante o dever, de que cuidariam um do outro pro resto da vida. Os beijos e orgasmos eram belos meros detalhes.

Caíram sobre a cama. Visando o branco do teto, aguardando até que as respirações normalizassem.

 

Uma de suas mãos foi até o rosto de Jongdae, e desenhou a linha de seu queixo com o dedão.

-Você não me disse aonde quer ir agora.

Perguntou a Jongdae. Que sussurrou o destino em seu ouvido. Ninguém mais, além deles, precisa saber aonde irão.

-Eu te amo. – ele disse.

-Xiumin, estamos juntos há muito tempo. Eu sempre soube. Sabemos disso, você nunca precisou dizer...

Seus dedos da mão desciam escorregando pelo suor da pele ainda com marcas de queimadura. Mapeando suas linhas.

Xiumin, Jongdae, e suas muitas formas de se namorarem.

Até parar, no que recentemente o moreno desenhou acima de sua clavícula. Uma das coisas de menino da cidade grande.
Seus olhos pousaram nas letras pequenas tatuadas em sua derme. “ANABETH” junto diminutos pássaros que voavam livremente.

Contemplou os tantos significados daquelas linhas escuras. Até ser tirado de suas ideias pelo barulho da porta do apartamento sendo destrancada. E a voz anunciante partir da sala até o quarto de porta fechada.

-Xiumin. Dae, eu voltei. Estão em casa? De qualquer forma eu vou tomar banho. E vamos ter que ir no mercado depois.

Foi no tempo de o barulho do chuveiro ligado ser ouvido. Que concentraram suas coisas e  arrastaram suas roupas dos cabides. Tomaram tudo o que precisam levar. E em minutos  as malas já estavam feitas novamente.

 

 

"Coisas que adultos não entendem..."

 

 

Já era mesmo hora de irmos embora dali. O tal conhecido da família que morava na cidade, onde buscamos abrigo, era um homem bom, mas permanecer ali já não era mais tão seguro. Há muitos dias ele passou a questionar sobre o Adkins. E o porquê de não termos recebido um telefonema sequer vindo do homem. Agora as respostas estavam na TV.

Foi ouvindo ele se distrair no banho, que cruzamos a sala vestidos, sem tempo pra se lavar. As malas arrastando no piso, as mochilas cheias nas costas. E após tirar algo de comer de dentro da geladeira, ajudei o Dae com as muletas até chegarmos a rua.

Compramos um carro – algo de bom em ter conhecido o rapaz, ele nos ajudou a escolhê-lo. E com todos os papeis e conversas difícil – Onde colocamos nossas malas. Pequenas coisas, meus livros aos montes.  E botamos o pé na estrada, mais uma vez...

 

Não sei o que ele dirá quando ver o guarda-roupas e as estantes vazias. Mas já estaremos longe demais pra saber.

 

No fim, ainda não decidimos nosso destino. Mas eu sei, que seremos apenas nós dois a partir de agora. Ainda quero estudar, e o Dae pensa em comprarmos uma casa fora do estado. Seremos felizes quando o dia chegar. Mas antes ele precisa esperar alguns meses até ter maioridade. E aí nem mesmo a policia poderá interferir no que decidimos.

Até lá, estaremos fugindo.

Hoje mais distante do que estivemos ontem, amanhã, mais distante do que estamos hoje.

Aqui está mais uma longa estrada. E ali na frente está o laranja do sol. Ao meu lado, sorrindo, está a pessoa que amo. Com roupa bordada de pássaros. Assim estamos, assim nos sentimos.

Pássaros livres... Pássaros.

Não há ninguém que possa dizer que um dia fomos irmãos. Ninguém que recorde nosso passado. Não há mais quem precise saber. E se ainda há quem nos conheça, é por que as flores disseram.

Uma coisa eu tenho guardada em mim, algo que aprendi com tudo isso.

Não vale ser perfeito, e obedecer acima de todas as coisas. Somos donos de nossas próprias escolhas. E se são certas ou erradas, dependem de nós decidirmos se é ou não o melhor a se fazer. Depende do que precisamos. E eu só preciso do Dae, e o que eu tive de fazer pra conseguir, não é tido como correto. Se fomos egoístas até aqui, se enterramos tudo o que já vivemos um dia. Foi pra sermos felizes. E não precisamos de mais ninguém pra isso.

Entenda. Você jamais precisaria se rebelar se tudo estivesse certo.   

Fale por si mesmo, haja por suas próprias ideias, siga o que suas flores decidirem. Ame o que seu sol quiser.

Seja você por você mesmo agora. Não espere ficar sozinho no escuro pra isso. Alguém pode nunca mais voltar pra buscá-lo.

Foi o que eu fiz...

Lembre-se do que te digo agora, e lembre-se da ultima mensagem, aquelas cinco palavras, que deixei naquela terra, numa placa de madeira fincada ao chão.

Continue mesmo com medo. Seja forte mesmo que não se sinta assim. Faça seu sim ser sim, e seu não ser um não. Às vezes convém estar errado.

Minta pra todos, menos pra si mesmo. Seja sincero com seu próprio coração. Saiba que as coisas morrem, e que você não deve parar por isso.  
E se um dia você precisar escolher o que parece errado. E sua felicidade estiver num caminho incerto.
Não deixe seu destino nas mãos de ninguém. Não deixe que te tirem a liberdade. Não confie nos corvos. Não solte a mão de quem ama.
E acima de tudo:

 

“NÃO CONTE NADA AOS GIRASSÓIS”

 

 



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