História Não é assim grande coisa... - Amor discursivo (Capítulo único)

– Eu queria começar falando sobre o que eu penso que é o amor e porque de eu achar que ele está por toda parte. – Nara suspirou. – Mas eu acho que vou começar contando um pouco sobre mim.

Era a primeira vez que estava discursando para tanta gente. Sua “grande” platéia de trinta ou quarenta (Nara desistiu de contar) alunos roendo as unhas ou usando seus celulares, parecia assustadora.

– Quando eu era criança. – continuou. – mais ou menos uns sete, oito anos de idade, meus pais me ensinaram que o amor não era assim grande coisa. Eu lembro bem do dia em que me perdi naquele parque de diversões no porto da cidade. Foi meio desesperador. – Nara riu fraco. – Eu estava sozinha, andando no meio de todas aquelas pessoas, sem nem ao menos tirar os olhos do meu balão que fugia de mim. Foi então que eu vi minha mãe, e corri em direção a ela. Eu lembro que ela estava usando um vestido florido e um dos chapeis de praia do meu pai, porque ela tinha esquecido o chapéu favorito dela em casa. Meu pai ficou tão feliz em me encontrar que me levantou no ar, mesmo que eu não fosse assim tão leve com oito anos.

Antes de continuar, Nara cobriu seus olhos com as mãos, levemente espiando entre os dedos para ver se alguém (específico) estava assistindo. E lá estava Lukas, olhando para seu celular sem parecer notar que Nara estava falando.

– Foi então que, um dia depois desse, meus pais tiveram uma briga feia. Eu os ouvi gritando do meu quarto, enquanto me protegia debaixo das cobertas. Minha melhor amiga Julie estava conversando comigo pelo telefone, cantando minha música preferida e me contando histórias que ela mesma inventou. Aquele foi um dos dias em que eu comecei a achar que o amor realmente não era grande coisa. O amor entre meus pais não era assim grande coisa. – Nara olhou para baixo por alguns segundos. Suas mãos estavam trêmulas, e o papel da redação quase escorregara por entre seus dedos.

– Eles brigaram muito depois desse dia, quase que todos os outros dias da semana, como se eles tivessem marcado em um calendário em quais dias deveriam brigar e em quais não. Meus pais, que sempre foram meu exemplo de amor, agora estavam assinando papéis de divórcio. Era como o fim de um reino para mim, o reino em que meu pai era o rei e minha mãe a rainha. Eu sei que isso parece bobagem... – Nara sorriu.

No fundo da sala, um grupo de meninos gritava e sua professora dormia sobre seus livros, mas Nara não ligava mais sobre isso. Ela só queria terminar logo com aquilo e receber qualquer nota que fosse.

– Agora que eu tenho dezesseis anos, eu moro em uma casa de dois quartos com a minha mãe. Meu pai vem nos visitar de vez em quando, e agora ele tem uma família nova. Eu ganhei mais duas irmãs, e elas são gêmeas! Eu nunca pensei que teria irmãs gêmeas. – pensou vagamente, olhando para baixo. – E por isso, hoje, como a Nara de dezesseis anos, eu não diria que o fim do casamento dos meus pais foi assim tão ruim, porque eles não se amavam mais como eu pensava que eles se amavam... e hoje eu também não diria que o amor não é assim grande coisa. – Nara olhou para Lukas, que conversava com uma garota ruiva no fundo da sala. – Porque, mesmo não correspondido, eu descobri que o amor é sim mais do que uma grande coisa.