História Não é o fim - Naquele nascer do sol

A conheci numa noite de verão. Madrugada para falar a verdade. A festa acabava de começar e lá estava ela em meio a multidão. Todos dançavam, todos cantavam, riam e se exploravam. Mas ela, ela não. Em meio aquela multidão de gente bêbada, sem noção, sem razão, quase não se percebia sua farsa. Fingia estar bêbada, fingia se divertir, fingia ser alguém que nunca quis ser.
  Mas quando seus olhos foram alcançados pelos meus sua máscara foi quebrada. Eu podia ver naquela carinha sorridente, nada estava certo, tudo estava a se perder. E naquela multidão ela estava sem saída. Seus olhos tristes lamentavam o que fizera com uma alma tão bonita. Levada pela ambição, o amor e o desejo, por coisas que na verdade nunca quis.
  E mais tarde lá estava, a menina corrompida, deitada na grama a chorar. Não era isso que ela queria pra si, queria poder no tempo voltar. Por coisas tão fúteis jogou fora alguém de quem podia se orgulhar. O que seria então dessa menina abobalhada, sem amor, sem valor, sem motivos para continuar. 
  Mais tarde, já estava amanhecendo, o sol construía a silhueta de cabelos longos no alto do prédio onde morava. Maldito seja quem fez um terraço sem grades para impedir a queda de alguém que já estava morta. E no seu último suspiro, se permitiu uma lágrima solitária, achava que estava sozinha, que não havia problema se não a vissem chorar. Mas quando foi dar seu último passo, passo tão covarde, e tão ao mesmo tempo tão corajoso. Ela ouviu uma voz familiar.
"Não faça isso" ela se virou assim que me ouviu.
"Peter... O que faz aqui?" parecia surpresa por me ver, mas ao mesmo tempo, muito feliz.
"Ainda não é seu fim"
"Mas eu..."
"Pare de besteiras. Vamos" eu entendi minha mão para ela "vamos para casa"
  Eu menti, não conheci ela naquela madrugada.