História Não odeie Park Chanyeol - Garoto de lugar nenhum

         
 Meu sonho está incrivelmente bom, daqueles que fingimos que estamos dormindo só para continuar no sonho. 

Eu estava sentado a uma mesa com as melhores delícias que eu já provei na minha vida. Inclusive o bolo que fizemos ontem está lá também, aquele bolo de chocolate era melhor do que o da minha mãe, sem exagero algum. 

— Ei, tenho que arrumar a cozinha — ouço uma voz ao fundo e logo depois sinto alguém me cutucar. Já dizia minha avó que coisas boas duram pouco. 

— Que luz é essa? — Assim que abro meus olhos percebo uma claridade além do normal do meu quarto, em seguida reparo que realmente não estou no meu quarto.

— Você está na cozinha, meu jovem. Agora levante e vá embora, eu preciso preparar o café da manhã — Levanto rapidamente, antes que ela peça para eu limpar alguma coisa. 

Antes de sair daquele lugar onde estranhamente eu vim parar, vou dar uma conferida nos bolos que deixamos ali ontem, pois o fogão do clube está no conserto. Então utilizamos o da cozinha principal. E noto que só tinha dois, o de chocolate não estava lá, bem só tinha metade, passo a mão na boca e compreendo a situação. 

Droga, aconteceu de novo.

Bem, meu sonambulismo é a pequena sequela de um acidente que tive com meu pai aos 16 anos. Infelizmente ele não sobreviveu e como eu estava bem acordado quando tudo aconteceu, acompanho um psicólogo desde então para aos poucos lidar melhor com esse meu problema.

Por eu aparecer durante a madrugada perambulando por aí, me deram até um apelido. Mas isso era de menos, pois eu tinha muitos apelidos. Tenho até uma lista dos mais famosos: 

"Lista de apelidos de Byun Baekhyun: 

1- Terror do corredor — Para ganhar um dinheiro extra eu faço turnos de inspeção na biblioteca e no dormitório masculino em que eu residia. Me deram esse apelido por não deixar ninguém sair ou entrar no dormitório depois do toque de recolher.  

 No final do ano passado Momo estava fazendo uma festa de despedida para os veteranos, muitos garotos foram pegos por mim, mas a melhor coisa que me aconteceu foi dar uma advertência para Park Chanyeol, mesmo eu sabendo que isso não impediria ele de ir à festa foi bom mandar nele, nem que seja por alguns minutos. 

2- Bunda gostosinha — Esse é o mais estranho que tenho, bilhetes ficam surgindo no meu armário com coisas do tipo. O primeiro que recebi estava inscrito: 

"Você não é mais o mesmo, mas continua com uma bunda gostosinha". 

Não sei como, mas o apelido pegou. O pessoal de artes cênicas só me chama assim eu não ligo, considero um elogio. Sem contar que o pessoal é super gente boa. 

3- Líder dos putos — Esse eu nem preciso dizer quem foi que inventou né? A primeira vez que ela me chamou assim foi quando nos encontramos pelos corredores da faculdade, eu estava no primeiro semestre, então faz bastante tempo que eu sofro com isso, ela simplesmente cochichou isso para as amigas, fazendo questão que eu ouvisse.
 
Outra vez ela pegou a chave reserva da porta da biblioteca e me trancou lá dentro, era inverno e dormi no chão entre Neil Gaiman e Stephen King. 

Uma vez relatei para o Reitor as coisas que ela dizia sobre mim e meus amigos. Ele deu uma suspensão para ela e ficou por isso mesmo. Eu me irritava mais no início, hoje eu finjo que não é comigo. Uma hora ela vai parar e buscar a atenção de outra pessoa. 

4- Número 7 — É um pouco difícil de explicar, mas todos os novatos quando passam pelo portão de entrada recebem um número, os números são dados pelos grupos de veteranos populares da faculdade, os veteranos que me deram um número já se formaram a algum tempo, mas o número continua. 

E meu número foi um mísero 7. 

5 - Garoto da água — Esse é o pior de todos, pois é o time de futebol que me chama assim. Como eu odeio educação física e para continuar a ter minha bolsa, tenho que fazer algumas atividades extras relacionadas ao esporte. Eu não fiz nada nos dois primeiros anos, então quase fui chutado para fora. Me submeti a virar mascote, pelo menos tampava meus olhos e eu não teria que ver Park Chanyeol, mas a fantasia era grande demais. Então fiquei com a água. 

6- O virgem — Como vocês já sabem a Momo não presta, então vamos ao próximo e mais trágico. 

Um certo dia estava eu lá, encostado em uma árvore em uma tarde tendo uma conversa íntima com Kyungsoo. Ele me contou como foi a primeira vez dele com o namorado e que doeu como inferno. E eu falei que não tinha dado pra ninguém ainda. 

A merda estava feita quando ouvi risadinhas do outro lado da árvore. Bendita seja essas meninas que ficam me escutando pelos cantos e contam para tudo pra Momo. 

Eu não tinha vergonha disso, cada um dá a hora que quiser e minha hora não tinha chegado ainda. Paciência. Pois falta de vontade não é!"
       
Depois voltei para o dormitório, levei bem a cara e botei uma roupa que não fosse de dormir, empilhei os bolos em um prato bonitinho que tínhamos no clube, enquanto os meninos arrumavam nossa barraca. 

Ao ver que só tinha metade do bolo, peguei uma faca e fui cortando em pedaços. Já íamos fazer isso mesmo, então por que não agora? Eles nunca iriam saber.          

Quando voltei ao quarto para pegar a faixa do clube que eu, diga-se de passagem, tinha esquecido. Levei um susto ao ver o Donghyun ali.

— Bom dia Dong! - chamei sua atenção. 

— Bom dia, senhor urso sonâmbulo — devo lembrar que eu estava usando meu pijama de ursinhos quando, nesta manhã, acordei no refeitório. 

— Nem vem falar de mim, senhor sexto sentido — ele fez uma careta e voltou a ler a revista que estava em suas mãos. 

— Seu sonambulismo voltou? - perguntou sem tirar seus olhos da tal revista, quem lê revistas hoje em dia? Só o estranho do Donghyun.

— Não acho que voltou, eu só estou um pouco ansioso com alguma coisa, ou nervoso. Eventos isolados, sabe? 

— Entendo sua situação, acredite, eu entendo mesmo o que você está passando — balançou a cabeça — Acredita em ET? — ele me mostrou a página da revista que tinha exatamente conteúdos do tipo. 

— Não, mas acredito em sexto sentido graças a você? É suficiente por enquanto — ele riu concordando comigo — Vai fazer alguma coisa hoje?

— Acredito que não posso nem sair daqui.

— Por quê não? —  Pergunto realmente curioso, mas ele não me responde. Apenas, me lança um olhar como se eu já deveria saber a resposta.       

...       
  
O dia estava com uma temperatura ótima, não estava quente o suficiente para suar e o ventinho que batia era refrescante. O espaço de encontros era ao ar livre e estava bem arrumado, tinha vários clubes ali recepcionando os novatos mais ansiosos. 

A maioria estava em volta das líderes de torcida que se apresentavam com suas mini saias vermelhas e a outra metade estava em torno dos jogadores do time que davam uma amostra improvisada. 

Demorei um pouco até encontrar nossa barraca e quando eu estava próximo, três míseros passos eu de estar ali, junto com meus queridos amigos, fui atingido por algo bem na cabeça, que me fez cambalear com os bolos. 

Olhei para o objeto que estava no chão, não podendo esperar outra coisa, uma bendita bola de futebol americano. 

 — Joga a bola! — olhei para o idiota que dizia aquilo e não me surpreendi, Chanyeol — joga a bola, garoto da água! — repetiu mais impaciente. Olhei para a esfera de couro vermelha que estava ao meu lado e sorri. 

 Entreguei a bandeja com o que restou dos bolos ao Luhan e peguei uma faca que estava na bancada. 

 — Baek, o que você vai fazer com essa faca? — o loiro perguntou - não faça nenhuma besteira, por favor. Você sabe que...

— Apenas aproveite o show — peguei a bola que estava no chão e o encarei, eu não sabia se aquilo ia funcionar, mas eu fui na fé. Perfurei aquela maldita bola que murchou na hora. Se ele queria brincar eu vou entrar na brincadeira também, joguei a bola murcha e por céus acertei bem em sua cara. 

 — Não acredito que fez isso, que porra! — esbravejou assustando as várias pessoas que estavam à sua volta, eu nem me mexi pois já conhecia a peça.

— Pode acreditar que eu fiz! — rebati alto, olhando no fundo de seus olhos. 

  Vai ter briga e eu me importava? Claro que não!