~MAS QUE MERDA, TIAGO - disse enfurecido - DEVOLVE ESSA CARALHA.
O menino esguio correu pela casa com um emaranhado de fios brancos, que talvez fossem fones de ouvido, mas seria impossivel distinguir nas pequenas mãos da criança.
~VEM PEGAR HAHAHAHA - a voz estridente do menino ecoou pela casa, antes do menino tropeçar e cair no sofá.
~DEMONIO, DEVOLVE ESSE FONE, EU TÔ ATRASADO - exclamou ele, vestindo a farda do colégio.
Arrancou o fone das mãos da criança, ela protestou com um grunhido aborrecido fazendo uma careta.
~TIA ZILMARA, JOSIAS TA ME BATENDO - Tiago mentiu, como sempre fez.
~VAI TOMAR NO CU TIAGO, PARA DE MENTIR
Josias desfere um tobefe leve na nuca da criança, impaciente, quando Zilmara o flagra da cozinha. Ela desaprova sua atitude lançando-lhe um chinelo, porém, por pura sorte, ele consegue escapar. Pega sua mochila e sai de casa.
Dando passadas longas e rápidas, ele tenta chegar o mais rapido possível na parada de ônibus. Atravessa ruas, trupica em alguns buracos, e chega ao ponto de ônibus. Foi tarde demais, tinha acabado de passar um, e iria demorar mais de meia-hora pra outro chegar.
~Ai que inferno do caralho, EU QUERO MORRE - disse enxugando sua testa transpirada.
Ele se acalma, e aceita o fato que ja está atrasado e irá perder a primeira aula de Matemática, sua favorita. Lembra que esqueceu de pentear-se ao sair, e tenta organizar os seus cabelos rasos olhando num espelhinho. Faz caretas contorcendo seus olhos pequenos e redondos e contraindo seu nariz. Pentea suas sobrancelhas e devolve o espelho ao bolso.
Ele não notou que estava sendo observado, coisa que o incomoda muito. Há algum tempo uma moça morena o fitava cutucar o próprio rosto. Seus cabelos cacheavam aos ombros, negros. Ela se encostava na parede paralela à rua, e tentou ficar em silencio para não ser notada. A quietude foi inquestionável, porém sua presença foi delatada pelo seu perfume. Primaveril, seu odor suave chamou a atenção do rapaz. Ele se vira e encontra um rosto familiar, aqueles olhos... De louca dissimulada, olhos de uma beleza rara, olhos profundos e negros, olhos de Capitu. Eles o fuzilvam, inocentes, como quem quer reconhecer um velho amigo. Talvez ele também esteja com o mesmo olhar inocente, pois não conseguia lembrar da dona desses olhos.
Acenou, como faz com conhecidos pela rua, para disfarçar o fato de que não se recordava. Ela acenou de volta, puxando uma mecha de cabelo para atrás da orelha e sorrindo pelo canto da boca. Corado, ele desvia seu olhar à rua, espera pelo seu ônibus aflito.
No ônibus...
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.