História Não Sou Todo Mundo - Sobre sentimentos e coração partido

— Posso entrar?

Os olhos totalmente perdidos denunciavam o que Luhan já sabia, mas tinha medo de confirmar. Cedeu espaço, numa forma muda de aceitar o pedido do mais novo. Foi só ao fechar a porta que sentiu o corpo menor chocar-se contra o seu, num abraço necessitado e transbordando saudades. 

— E-Eu saí de casa, não tenho pra onde ir — Sehun informa, com a voz chorosa.

— Shhh, não fala nada.

As mãos grandes faziam um cafuné calmo no outro, que se aconchegava ainda mais em seu peito.

— Quando foi que nos perdemos tanto? — perguntou, após um tempo, inspirando o aroma doce dos cabelos alheios.

Sehun se afasta um pouco, para conseguir responder:

— Acho que quando você beijou outro cara — sorriu triste.

— Aigoo, Sehun! Você não acredita em mim, né?

— Não é que eu não acredite… só não consegui assimilar tudo ainda. É coisa demais acontecendo ao mesmo tempo.

Luhan suspirou indo sentar-se na cama, chamando o outro para realizar a mesma ação.

— O Xiumin é um amigo, primo do BaekHyun, e tem namorado. Chen — começou. — Quando você chegou ele ia me comprimentar e acabou tropeçando. O resto você já sabe.

Sehun arregalou os olhos por um tempo, tentando absorver todas as informações possíveis. Chanyeol até tentou convencê-lo a falar com o chinês, e para o amigo fazer isso ele devia realmente acreditar em Luhan. No fundo Sehun sabia que ele falava a verdade, só era orgulhoso demais para admitir. Mas agora não deixaria seu orgulho falar mais alto que o amor que sente pelo homem. Não mesmo.

— Eu sou um idiota… — pôs as mãos no rosto. — Se eu tivesse acreditado em você desde o início nada disso teria acontecido.

Luhan o abraçou de lado e o trouxe para seu peito.

— A culpa não é sua. Concordo que a situação era comprometedora — disse com um tom amargurado. — Eu só pensei que você acreditaria em mim, mas nem ao menos a chance de me explicar você deu.

— Me perdoa, por favor... eu te amo tanto… — Sehun já começava a chorar descontroladamente sobre o corpo do amado.

— E eu a você — Luhan desencostou o mais novo de si e encarou-lhe, limpando as lágrimas que já desciam. — Vamos só passar um borracha nisso tudo, hm?

Sehun não respondeu verbalmente, apenas balançou a cabeça positivamente para a felicidade do chinês. Já era o suficiente.

[…]

— Que plano? — Chanyeol perguntou, escorando-se ao batente da porta.

Sua expressão era desafiadora enquanto indagava e esperava por uma resposta. Baekhyun, que até então não mostrava reação alguma, arregalou os olhos ao perceber que Chanyeol ouvira tudo. Lay apenas murmurou um "merda" e voltou para o sofá.

— Não é nada importante — o ruivo tentou despistar o outro, falhando miseravelmente.

— Ah, é mesmo? Pois eu me lembro muito bem de ter ouvido ele dizer sobre um plano para "me conquistar" — apontou para Lay que apenas observava a cena, pronto para interferir na futura discussão assim que necessário.

Baekhyun suspirou, já era tarde demais. Não podia simplesmente negar tudo aquilo. Deveria agir como um homem e arcar com as consequências de seus atos.

— Eu queria apenas que você gostasse de mim, Chanyeol! É pedir muito?

O Park riu irônico, ignorando a batida falha inconveniente de seu coração. Não era hora para reações indesejadas.

— E resolveu fazer isso criando um plano pra me conquistar? — elevou um pouco o tom de voz. — Precisava ser tão manipulador?

— Eu não quis manipular ninguém, caramba! Só queria que gostasse de mim…

— Mas eu não gosto! Nunca gostei, nem um pouco se quer, e agora menos ainda — tentou ao máximo parecer convicto de suas palavras e pareceu funcionar, pois Baekhyun se encolheu, desviando o olhar.

— Porque você me odeia? — encarou Chanyeol com os olhos um pouco marejados. — O que eu fiz pra você me odiar tanto? Não me lembro de ter feito nada de ruim para você antes. E todo mundo gosta de mim, não entendo por que você não.

— Aparecer na minha vida já é motivo o suficiente — o mais alto cuspiu aquelas palavras. — E você precisa entender que eu não sou todo mundo!

Dito isso saiu do apartamento do chinês o mais rápido que pôde, bufando e querendo matar alguém. Não aguentaria olhar para aqueles mentirosos por mais tempo. Todo o percurso até seu apartamento foi pisando fundo e se segurando para não socar qualquer estranho que aparecesse na sua frente. Por fora estava com raiva, quase explodindo, no entanto por dentro estava magoado.

Não sabia explicar aquele novo sentimento. O normal para si seria apenas morrer de raiva do outro rapaz e agregar aquele fato à sua lista de motivos para não gostar dele. Mas seu corpo e mente pareciam ter armado um complô e quererem fazê-lo sentir coisas extremamente desnecessárias.

Precisava chegar logo em seu apartamento, para surtar sozinho em seu quarto, sem correr o risco de machucar ninguém. Apressou o passo para logo alcançar seu destino. O estrondo que a porta fez quando foi batida fez até as paredes tremerem. Com certeza seria chamado atenção pelo sindico por isso, mas não se importava.

Constatou que sua mãe não estava em casa com isso, afinal ela já estaria na sala enchendo-lhe de perguntas caso o contrário e Chanyeol sabia que ela arrumaria alguma forma de inocentar Baekhyun. Todos sempre veem o lado fofo e benigno do homem, mas nunca as coisas perversas e imbecis que ele pode fazer. Nunca veem o que Chanyeol sempre viu.

Sem pensar muito antes, pegou pegou um objeto qualquer da mesa de centrou e atirou contra a parede, só então percebendo ser de vidro, devido ao som dele se estilhaçando. Só conseguia pensar em como odiava pessoas Baekhyun, que fazem de tudo para terem aquilo que não podem, e em como não suportava o fato de se sentir manipulado.

Tantas recordações lhe invadiam a mente, ele só queria gritar e acabar com aquele incômodo estranho no peito. A raiva em si já tinha passado em sua maior parte, deixando apenas a mágoa para trás.

Chanyeol cai sentado no sofá, com os braços jogados sobre as coxa, enquanto encarava o nada. Perguntava-se o porquê de estar assim por Byun Baekhyun, aquele que jurava de pés juntos não sentir nenhum tipo de afinidade. Queria apenas que aquele sentimento, que o remetia a lembranças dolorosas, sumisse de uma vez e voltasse a sentir raiva do pequeno enganador. Seria muito mais fácil.

Porém, seu subconsciente parecia não querer colaborar, atormentando-lhe com a imagem da confissão do outro professor:

"— Eu queria apenas que você gostasse de mim, Chanyeol. É pedir muito?"

Precisava sair dali, respirar ar fresco, só assim conseguiria se acalmar. Mas não adiantaria muita coisa apenas ficar sozinho com seus pensamentos incurraladores. Precisava conversar, precisava de Sehun. Apanhou o celular, discando o número já memorizado.

"Hyung?"

O amigo perguntou preocupado do outro lado da linha.

"Aonde você tá? Preciso conversar"

"Na casa do Luhan…"

O som foi abafado e algumas vozes ouvidas de fundo, antes do garoto voltar a falar:

"Pode vir pra cá, ou prefere que eu vá pra aí?"

"Eu vou, preciso arejar a cabeça. Daqui a pouco chego aí"

"Ok, vou mandar as coordenadas por mensagem"

[…]

Chanyeol passou o caminho todo, para a casa do outro professor, com a música no seu fone de ouvido no último volume. Algumas pessoas fumavam para diminuir o stress, outras bebiam, ele ouvia música eletrônica para ver se seus tímpanos explodiam.

Sua mente estava nublada de tanta raiva, ao mesmo tempo que seu coração estava quebrado. E isso era perceptível até mesmo para Sehun, que se aproximava com cautela do amigo.

Chanyeol sentou-se no meio fio,achando que Sehun demoraria uma eternidade, mal sabendo que o rapaz já estava bem atrás dele.

— Vai acabar ficando surdo por causa do fone alto — SeHun disse, tirando um lado do ouvido e sentando ao lado do amigo.

— Quer me matar do coração, infeliz? — Chanyeol responde com a mão no peito.

— Eu estou muito feliz, obrigado — sorriu divertido. — Mas eu te perdôo por isso. Só por que é I love too do Mamamoo, minha música favorita delas.

— Estava tão alto assim pra conseguir identificar?

— Imagina... — o Oh respondeu. — Aliás, não sabia que gostava delas.

— Um dos únicos grupos que prestam nesse país. — Chanyeol diz mal-humorado.

— Ih, o negócio é sério mesmo. Quer entrar?

Sem falar nada os rapazes levantam, caminhando até o prédio em que Luhan reside. Ao chegar no apartamento do chinês, Chanyeol repara bem o lugar. É algo completamente diferente de onde Sehun morava. É bem mais simples, mas não deixava de ser bonito. Ao entrarem na casa, a primeira coisa que veem é o professor de humanas sem camisa, sentado num sofá cama.

— Olá — Luhan diz sorrindo.

— Eu atrapalhei algo? - ChanYeol perguntou para Sehun.

— Estávamos apenas assistindo um filme — Sehun respondeu sentando no sofá e convidando o amigo para se sentar também. Chanyeol demonstra alívio, suspirando e sentando móvel.

— Mas não dissemos o gênero. — Luhan provoca, tendo os olhos ainda mais arregalados de Chanyeol como resposta. — Sehun-ah, não sabia que ele era mais inocente que o BaekHyun... — comentou divertido.

— Existem muitas coisas sobre o Chanyeol que você não sabe. Sabia que ele gosta de Mamamoo? — o coreano mais novo perguntou.

— É sobre isso que vim falar…

— Sobre Mamamoo? — Luhan pergunta jogando a cabeça pro lado.

— Não, né!

— Mas poderíamos — o chinês resmungou ao receber um tapinha do amante.

— Estou falando do BaekHyun e é um assunto que você sabe muito bem.

Os rapazes trocam olhares, ambos temendo não estarem mais vivos depois da conversa.

— Vou à cozinha e já volto — o mais velho da sala levantou rápido e saiu.

— Você já sabia, Sehun?

— Sobre o quê? — era óbvio que o rapaz sabia sim do que o outro falava, no entanto queria apenas confirmar se era aquilo mesmo. — O plano?

— Caramba! Até em você não posso confiar? — Chanyeol exasperou-se.

— Ya! Eu fiquei sabendo disso hoje, praticamente agora, quando estávamos vendo o filme. — tentou se defender. — Se eu soubesse há mais tempo teria te falado ou ido atrás do BaekHyun, sei lá. Não diga isso sobre mim!

— Me desculpa… estou nervoso, com raiva, magoado, não sei dizer. — encarou o chão. — Esse misto de sensações me fazem lembrar da Jiyeon. Essa é a pior parte.

Luhan apareceu com uma vasilha cheia de pipoca em mãos e voltou a sentar no sofá.

— E quem seria Jiyeon?

Chanyeol sorriu triste e amargurado antes de responder:

— Minha ex-namorada… é uma longa história. Ele sempre me lembrou dela… — referiu-se a Baekhyun. — Agora mais do que nunca.

— Você está tão pra baixo assim? — Sehun perguntou.

Presenciou de perto o caso "Park Jiyeon". Viu o quão quebrado e impotente o amigo ficou após ser traído por ela. Não sabia que o caso "Byun Baekhyun" havia surtido o mesmo efeito.

— É tão complicado — o Park murmurou. — Eu não consigo entender o porquê.

— Pois eu consigo — Luhan se intromete na conversa, entregando a vasilha para Sehun. — Você está de coração partido. — ambos os coreanos franziram o cenho. — Aish! Qual era o plano do BaekHyun?

— Você sabe como ninguém, foi até cúmplice — vociferou. Luhan murmurou um "responde", fazendo-lhe revirar os olhos. Me conquistar… eu nem sou gay!

— O plano dele não consistia em te conquistar dessa forma. — explicou. — Ele queria apenas que você gostasse dele, como todos nós. Afinal, ele nunca fez nada de ruim para receber esse seu ódio gratuito.

— Isso não explica o chacoalhar estranho do meu estômago.

— Ele é lerdo, né?! - Luhan pergunta, suspirando, para Sehun. — Ele conseguiu, querido! O Baekhyun te conquistou.

— Essa foi a maior asneira que eu já ouvi na vida!

Mesmo tentando negar para si mesmo tudo o que Luhan dizia, Chanyeol ficou pensativo por um tempo, analisando toda a situação. Perguntava-se sobre a possibilidade de realmente estar gostando de Baekhyun. De fato, a dor que sente agora foi a mesma que sua namorada do passado fez.

Por um momento pensou apenas nos bons argumentos para que gostasse do menor. Sua memória lhe mostrava o sorriso do professor, em seu jeito de andar, falar. Os momentos que passaram juntos, mesmo sendo poucos.

O homem fizera de tudo para que gostasse dele, apenas para que se tornasse amigos, e só recebia o desgosto e o ódio de uma pessoa fria como recompensa.

Então ele realmente foi conquistado por Byun Baekhyun? Não podia ser…