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História Não vele, revele - Se eu for capaz de expressar...


Escrita por: twofold

Notas do Autor


Olá, olá ♡

Mais uma atualização de ‘NVR’.

Este capítulo é mais leve que os dois anteriores, mas não deixa de explorar bastante a emoção dos personagens.

Espero que gostem, boa leitura ♡

Capítulo 3 - Se eu for capaz de expressar...


Fanfic / Fanfiction Não vele, revele - Se eu for capaz de expressar...

Eu sei que é difícil continuar acreditando em mim...
já que a promessa foi quebrada uma vez...


 

Capítulo Três

 

Num tempo remoto, onde as brigas eram apenas uma exceção aos dias de extremo cansaço, e não uma regra do cotidiano, Baek Hyun e Chan Yeol costumavam dormir virados para lados opostos — naquela pirraça de um dar as costas ao outro em nome do orgulho — mas ao acordar, estavam tão unidos quanto a física lhes permitiam.

Chan Yeol sempre achou engraçada a forma como o subconsciente deles entendia o quanto precisavam um do outro em meio a noite. Pois era ridículo estarem tão próximos e não poderem se tocar.

Mas...nos dias atuais, eles dormiam separados, e acordavam ainda mais distantes.

Era o que Baek Hyun constatava ao olhar para o lado direito da cama, onde seu marido dormia.  

Baek Hyun despertou cedo, como de costume para o domingo. Ao se mexer embaixo das cobertas, notou que a indisposição estava aparecendo com mais frequência. Temia que fosse um progresso maior da sua depressão. Ele já acompanhou Chan Yeol no processo de superação dessa maldita, e sabia que se livrar dela era tão difícil quanto evitá-la.

Fatigado, ele olhou para o marido ao lado, que até dormindo parecia tenso e sério. Antes não costumava ser assim, ele sempre ria da forma desengonçada e relaxada que Chan Yeol dormia. Geralmente o acordava com beijos e mimos. Às vezes faziam amor e perdiam a hora para os compromissos. E em outros momentos, olhavam para o teto do quarto com as mãos dadas e as pernas entrelaçadas sobre o colchão. Eles apreciavam o silêncio de forma plena, sem palavras, pois se sentiam completos por sentimentos no momento.

Mas nada era o mesmo.

Então desistiu de relembrar das coisas que não poderiam voltar e saiu da cama. Fora em direção ao banheiro, para sua higiene pessoal e logo depois para a cozinha. Afinal, nos domingos ele era o responsável pelo café da manhã. Foi o trato que havia feito com o marido, que geralmente cozinhava a semana inteira, já que possuía mais tempo para fazê-lo.

Mesmo que as meninas só acordassem na hora do almoço aos domingos, Baek Hyun nunca deixou de fazer o café da manhã para Chan Yeol. Mas ao olhar para todo o espaço da cozinha, se perguntou por que faria aquilo, se seu marido sequer parecia ser, de fato, seu marido.

— Não tem café? — a voz grave, e rouca pelo sono, o fez sobressaltar no lugar.

E ao olhar para o relógio na parede, bem em frente, reparou que passara muito tempo em meio a cozinha sem fazer absolutamente nada.

Aquilo era algo bem preocupante.

— Têm para fazer. — respondeu com desinteresse, resolvendo que iria voltar para o quarto.

Dando meia volta, Baek Hyun iria retomar o caminho até sua cama. Estava prestes a passar por Chan Yeol quando ele segurou seu antebraço, e pela constante falta de contato entre eles, aquele pequeno toque fez com que ambos sentissem um breve choque de reconhecimento transpassar por eles.

Nesse momento, os olhos se encontraram com um fervor que ambos em seu ínfimo temiam que houvesse morrido. Mas não, estava bem ali, numa troca firme de olhares que não durara muito, mas que fora o suficiente para lhes causarem impacto.

Algo dentro dos dois se agitou.

E os dedos longos de Chan Yeol se firmando com ainda mais firmeza no aperto e a pele febril de Baek Hyun onde era tocado provava isso.

— Você não pode fazer nem isso?

— Eu deveria? — Baek Hyun indagou ao olhá-lo com mágoa — Acho que não é mais minha obrigação fazer agrado para ex-marido.

Chan Yeol estreitou os olhos, fechando os dedos com mais intensidade, mas Baek Hyun não reclamou, visto que mesmo odiado a situação em que estavam, não sabia quando seria a próxima vez que teria a palma quente do marido sobre sua pele.

— Não estamos separados, ainda. — Chan Yeol murmurou entredentes.

— Apenas no papel, porque na convivência em si, já fazem anos que estamos.

— Você fala como se a culpa fosse apenas minha. — riu seco.

— A culpa é de quem decidiu isso sozinho.

— Claro, — disse ríspido, não resistindo a necessidade de se aproximar mais — porque a culpa é de quem estava lutando sozinho pelo casamento, não é mesmo?

Indignado, Baek Hyun respirou fundo e abriu a boca para gritar umas verdades, mas um barulho alto de algo indo contra o chão tomou a atenção de ambos. Eles se entreolharam, e sem mais palavras, correram para a escada, subindo-a e indo até o quarto das meninas.

Chan Yeol fora até o quarto de Yoo Ra, enquanto Baek Hyun fora ao de Charlotte. Se certificaram que ambas dormiam tranquilamente. Ainda desconfiados, saíram sem fazer barulho e se entreolharam no corredor.

— Ela está dormindo. — Baek Hyun murmurou ao se aproximar.

— A Yoo Ra também.

Eles estavam prestes a descer as escadas novamente, quando repentinamente escutaram o baque de uma porta se fechar com força, e se assustaram. Chan Yeol adiantou o passo, sendo seguido por Baek Hyun logo atrás. Chegando no fim do corredor, onde uma única porta no fim dava para uma escada, que degraus acima revelava outra porta para o porão. Esta era de um metal pesado, era aberta apenas no lado de fora.

Chan Yeol se arrepiou por completo. Detestava aquele porão. O lembrava dos filmes de terror que tanto odiava.

— Como essa porta se abriu? — Byun indagou, abrindo-a novamente e olhando para cima, vendo que a porta velha do porão também estava aberta — Nós a trancamos também.

— Eu disse para não escolhermos uma casa com porão, mas você nunca me escuta. — Chan Yeol reclamou emburrado.

Baek Hyun olhou para o marido frouxo de cima a baixo, estalando a língua no céu da boca em desaprovação.  

— E onde iríamos guardar sua tralha?

— Não é tralha, são nossas lembranças. — murmurou ao passar por Byun e subir as escadas. Baek Hyun rodou os olhos, dando as contas e pronto para se afastar — Você não limpou nem o porão?! Que droga! Baek Hyun! A única coisa que te peço para fazer! Merda!

Chan Yeol gritou ao longe, fazendo os nervos de Byun esquentarem. Ele havia deixado aquele porão maldito, e que nunca gostou, um brinco. Tirou todo o mofo e separou todas as caixas empoeiradas. Ah, como ele ia esfregar isso na cara do idiota que se casara. Subiu os degraus com pisadas fortes, adentrando o cômodo, pronto para liberar a frota de coisas que estavam entaladas na garganta a tempos.

No entanto, assim que adentrou o local, encontrou algo bem no meio do porão. Estranhou pois era algo que não havia deixado ali. Varreu os olhos pelas coisas espalhadas, estava confuso, e encontrou o olhar impaciente e inquisidor do marido.

— Eu não fiz isso! — Baek Hyun disse em sua defesa.

Não subia até aquele cômodo desde que fizera uma limpeza. E isso foi há um bom tempo.

Mas estranhamente, tinham coisas espalhadas por ali, como se alguém tivesse ocupando o lugar antes deles chegarem.

Baek Hyun reconhecia bem o colchonete redondo que ocupava o chão amadeirado, bem no centro do cômodo. Acima dele, havia travesseiros e algumas almofadas. Ele as reconhecia também. Comprou todas ao lado de Chan Yeol. Na verdade, tudo o que estava ali eram as lembranças dos dois, que ele costumava referir-se a elas como tralhas, ou simplesmente velharias.

— Eu achei que eles estivessem na casa da sua irmã. — Chan Yeol apontou para a mini geladeira, e o mini refrigerador e aquecedor, de estilo retrô e avermelhado, que ocupavam o canto da parede. Esta que possuía um papel decorativo que imita tijolos aparentes, o que dava um ar rústico ao cômodo.

— Ela trouxe isso ontem e… — Baek Hyun ponderou.

A última pessoa a adentrar aquele lugar fora sua irmã, na noite anterior. Lembrava bem, afinal, todo sábado às suas filhas passavam o dia na casa dela e depois Baek In Ha as trazia de volta. Contudo, na noite anterior ela insistiu em devolver os mini eletrodomésticos, e se não lhe enganava a memória, havia se demorado bastante ali com suas filhas.

— Ela subiu aqui com as meninas, então acho que isso é obra delas três.

— Mas por que elas mexeram em nossas coisas? — Chan Yeol indagou ao se abaixar ao lado de uma caixa aberta, ela estava caída e fazia com que seus pertences se espalhassem pelo chão de forma descuidada — Elas nunca fizeram isso antes.

— Talvez tenha sido a In Ha. — deu de ombros — Sempre disse que ela não é boa influência para as meninas.

Chan Yeol o olhou aborrecido, estava pronto para replicar, mas sua atenção acabou por ser tomada pela figura de suas filhas no batente da porta. Elas sorriram para si, acenando em despedida, bem antes de fechar a porta num baque alto.

Baek Hyun, que não conseguiu acompanhar o olhar do marido a tempo, se sobressaltou no lugar, pelo susto, e correu até a porta, sendo seguido por Chan Yeol. Ambos podiam escutar o ferrolho da porta sendo posto no lugar enquanto as filhas cochichavam e riam.  

— Byun Yoo Ra e Byun Charlotte, abram essa porta! Agora! — Baek Hyun ordenou.

— Vocês estão de castigo. — as meninas disseram ao mesmo tempo.           

             — E vocês estarão numa enrascada sem tamanho, quando eu sair daqui! — retrucou bravo.

            — Só vamos abrir a porta quando vocês fizerem as pazes. — Charlotte respondeu.

           — Chan Yeol! — Baek Hyun exclamou irritado, o olhando com os olhos arregalados — Faz alguma coisa!

          — Eu deveria? — indagou ao olhá-lo com deboche — Acho que não é mais minha obrigação fazer agrado para ex-marido. — disse com todo seu cinismo, revidando as palavras que Baek Hyun havia lhe direcionado há pouco, na cozinha.

— Não podemos ficar aqui para sempre. — voltou a reclamar. Ignorando Chan Yeol, que sempre foi de fazer tudo o que as meninas queriam.

— Podem sim. — disseram em uníssono.

— Vocês vão precisar comer alguma hora.

— Eu sei cozinhar. — Yoo Ra retrucou.

— Não sabe, não.

— Papai Chan me ensinou. — Baek Hyun fuzilou Chan Yeol com o olhar, este, que mantinha um sorriso orgulhoso no rosto.

— Nós vamos precisar comer, alguma hora.

— Tem comida na mini geladeira. — gritaram — E tem um banheiro aí. Então, não tem desculpas.

— Eu vou precisar trabalhar amanhã. — Baek Hyun choramingou — Vocês também tem escola amanhã...mas que droga.

— Não fala essas coisas na frente das crianças. — Chan Yeol reclamou, o olhando com repreensão — Meus amores, o papai Baek tem razão.

— Não! — Charlotte disse alto, surpreendendo o casal com sua seriedade — Eu quero que vocês pensem no que fizeram, procurem onde que erraram um com o outro e se desculpem. Porque é assim que pessoas de bom coração se resolvem. — concluiu cabisbaixa, a vozinha falhando pelo choro preso na garganta, fazendo um aperto no coração dos papais surgir

Baek Hyun e Chan Yeol se entreolharam, a culpa transpassando por eles. Pois reconheciam bem a fala da caçula, eles mesmo diziam aquilo para elas, sempre que brigavam uma com a outra.

— Assim como vocês, eu e a Yoo Ra também éramos duas estranhas, mas que aprenderam a se amar, e até hoje, com altos e baixos, fazemos isso. Porque o que queremos para o nosso futuro é mais forte que os obstáculos do presente.  

Dito isso, Charlotte fungou baixinho e resolveu descer de vez, fazendo seus papais escutarem seus passos apressados que desciam a escada.

Sweetheart? — Baek Hyun indagou, após o silêncio.

— Ela está muito mal, — Yoo Ra respondeu, igualmente cabisbaixa — e eu também.

Mais uma troca de olhar entre os dois foi necessária, a preocupação era evidente e quase palpável.

— Querida…

Chan Yeol a chamou, seu coração num aperto de angustia.

— Eu sei que um casal é diferente de irmãs, mas...tentem...nós tentamos por vocês...então tentem não só por nós, mas por vocês mesmos… — disse ela, igualmente triste — Não se preocupem com a escola. Tia In Ha vem nos buscar e vamos para a casa dela. Eu pedi para que ela falasse com o chefe de vocês, caso não consigam ir trabalhar amanhã. Então...até amanhã. Nós amamos vocês.

Desta forma, os passos da filha foram sumindo até que por fim a porta no fim da escada foi fechada. Causando um desespero em Baek Hyun.

— Yoo Ra… — ele bateu na porta — Filha… — outra batida. Não queria acreditar que aquilo estava mesmo acontecendo — Droga!

Após ceder mais um murro na porta, se virou e olhou para Chan Yeol, que o retribuiu com indiferença.

— A culpa é toda sua.

— Não fui eu quem nos prendeu em um porão. Eu nem queria uma casa com porão. — disse em sua defesa — Então, tecnicamente, e pelos fatos, a culpa é sua.

— Se você não tivesse tanta tralha, não precisaríamos de um! Nem estaríamos preso em um, porque se não tivéssemos um porão, não teríamos uma porta que só abre pelo lado de fora. — acusou num fôlego só.

— Já reparou que nos últimos meses, sempre que abriu a boca para falar comigo, era para me acusar de algo? — indagou sério.

— Já reparou que você tem um problema de vitimização?

— Olha aí, — ergueu a mão frustrado — agora eu sou o louco dos problemas psicológicos. Semana passada eu era o irresponsável, na retrasada, o cozinheiro medíocre. Hoje de manhã, o culpado pelo nosso casamento não dar certo, quando na verdade, eu sou o único que tenta fazer isso dar certo. Ou melhor... tentava.

Baek Hyun respirou fundo, sua indignação fervendo dentro de si. Cruzou os braços rente ao peito nu e se virou, ficando de frente para Chan Yeol, que fez o mesmo ao lhe encarar com as sobrancelhas arqueadas.  

— Fui eu quem correu atrás de um advogado sem o seu consentimento? Que decidiu sozinho que era melhor pular do barco do que afundar nele? Que jogou para nossas filhas que nosso casamento estava uma merda? E quem jogou os papei do divórcio na sua cara?

— Ficou com raiva porque quem teve a iniciativa foi eu, e não você? — indagou com deboche — Eu sei do seu orgulho, Baek Hyun! — riu seco ao revirar os olhos — Você nunca gostou de ficar em segundo plano. Você veio até mim primeiro. Me beijou primeiro. Me pediu em namoro primeiro. Depois me pediu em casamento, e depois disse que iriamos ser pais.

— Você nunca reclamou. — foi sua vez de sorrir de canto, presunçoso.

Se tinha uma coisa que tinha certeza, era na satisfação de seu marido em todas as suas iniciativas. Mas não podia mentir que algo em si se remexeu com medo de Chan Yeol não se agradar mais com aquilo.

— Porque quem ama, geralmente, suporta essas coisas chatas do parceiro.

Baek Hyun descruzou os braços, olhando para Chan Yeol, sua expressão repleta de surpresa.

— Então agora que você está falando que não suporta mais, quer dizer que não me ama mais também?

— Isso se chama casamento, Baek Hyun. Depois de tantas brigas, após nos ferirmos tanto, acabamos nos tornando apáticos sobre o sentimento do outro, e nos voltamos para nós mesmos.

Confessou mais ameno, suspirando enquanto se virava ao dar as costas para Byun. Ele olhou para suas lembranças largadas ao chão de forma tão displicente. Aquilo era errado, suas preciosidades deveriam estar bem guardadas, não podia perder nada ali. Se aproximou do colchonete, que já fora testemunha de tantos momentos marcantes ao lado de Baek Hyun, e se sentou por ali, tratando de começar a juntar tudo com cuidado.

— E eu não quis dizer que não te amo mais, — Chan Yeol explicou, erguendo o olhar para encontrar o de Baek Hyun sobre si, cheio de incertezas — o que quero dizer com isso é que...estou cansado e rabugento. Nós não somos mais carinhosos e isso está nos afetando...o ser humano precisa de amor para ser feliz.

Byun piscou um pouco desnorteado, mas cruzou os braços e deu de ombro. Chan Yeol apenas fez um bico emburrado e voltou a se concentrar na sua arrumação.

Já Baek Hyun ficou escorado na porta, em silêncio por um tempo.

Mas ao olhar pelo cômodo, se incomodou com a bagunça. O que o fez lembrar de organização, e assim, de sua profissão, que era seu sustento e envolvia muita organização. Ele tateou os bolsos da calça de moletom, a única peça de roupa em seu corpo, e arregalou os olhos. Seu celular! Sem o aparelho iria perder um dia inteiro de trabalho e planejamento, fora as informações.

— Está surtando sem aquela porcaria de celular, certo? — Chan Yeol indagou, não escondendo o sorriso de satisfação nos lábios.

— “Aquela porcaria” é importante para o meu trabalho.

— Deveria ter se casado com o celular então, fica mais com ele do que comigo. — Chan Yeol resmungou.

Baek Hyun estreitou os olhos, fuzilando o marido com os mesmos. Aquele idiota sabia como lhe provocar com uma pequena frase. Ele deveria ser mais compreensivo, pois como um produtor de eventos, Baek Hyun precisava estar a par de todas as notícias e informações. Tudo poderia dar errado por uma única mensagem perdida. Ele estava se corroendo por dentro, imaginando as mil coisas que perderia naquele tempo longe do aparelho.

— Pode esquecer o trabalho apenas por hoje? — Chan Yeol indagou alto, evidenciando sua impaciência.

Baek Hyun tentou manter-se indiferente, então deu de ombros e o olhou com tédio. Chan Yeol agora tinha um álbum já aberto entre suas pernas, o folheando lentamente, um sorriso bobo vez ou outra surgindo em seus lábios.

Aquilo pareceu ser o suficiente para atiçar a curiosidade de Baek Hyun.  

— O que está fazendo?

— O dever de casa, — Chan Yeol respondeu com um meio sorriso — as meninas nos pediram para tentar.

— Então ao invés de conversar, você senta em silêncio e fica olhando essa velharia?

— Eu...— parou para respirar profundamente. Sempre detestou a forma que Baek Hyun tratou suas lembranças. Ele ergueu o olhar e encarou seu marido, aquele que um dia já fora o motivo do seu sorriso de felicidade extrema — Apenas quero encontrar onde foi que nos perdemos.  

Baek Hyun engoliu em seco e desviou o olhar. O que gerou uma leve decepção no outrem. Os dois tinham que fazer a sua parte para que uma reflexão profunda fosse possível.

Levemente chateado com a indiferença do seu marido, Chan Yeol pensou sobre o que sua cunhada lhe aconselhou, então tratou de engolir o orgulho. Muito embora quisesse tratar Byun da mesma forma só para ele ver como é bom ser ignorado. Mas aquilo iria contra o objetivo na qual fizera suas filhas os prenderem ali.

— Não quer vir aqui e...procurar comigo? — Chan Yeol indagou de forma suave.

Queria que aquilo passasse alguma segurança para seu marido.

Se entreolharam por um momento, e que foi tão longo, que Chan Yeol achou que seria novamente ignorado. Mas após um minuto, quando achou que em nada resultaria o seu pedido, acompanhou a figura do outrem ao se aproximar.

Sem mais palavras, e apenas um sorriso fraco, voltou a fitar o álbum grande e grosso. Quando Baek Hyun sentou ao seu lado, retornou ao início do álbum, para que ambos vissem tudo juntos.

A primeira foto era a de Chan Yeol estudando no gramado que ficava em frente ao Rio Han, quando eles ainda moravam na Coreia do Sul. Fora lá que ambos se conheceram, e após decidirem se casar, resolveram que Londres seria um bom lugar para isso. Já que a adoção estava nos planos.

— Eu detestava esses seus óculos. — Baek Hyun confessou — Te deixava com uma cara esquisita de nerd.

Chan Yeol riu, passando a mão pela foto.

— Isso não te impediu de ir me ver todos os dias, para tirar fotos minhas as escondidas.

— Eu ignorava os óculos, pois gostava da forma que você parecia estar completamente concentrado.

— Não gosta mais? — indagou, virando a face para encarar o marido que lhe deu um breve olhar, notoriamente desconcertado e voltou para o álbum.

— Bem… — Baek Hyun pigarreou, varrendo as fotos com mais interesse que antes  — Essa aqui foi da primeira vez que nos falamos.

— Sinceramente, eu te achei esquisito por querer tirar uma foto com um estranho.

Chan Yeol riu, vendo sua expressão receosa na foto, ao lado de um Byun sorridente e muito confiante.

— Você não parecia tão estranho assim, — comentou nostálgico — eu só precisava fazer aquilo porque… — fez uma pausa, olhando a foto com saudades — porque eu sentia que já te conhecia.

— Eu achei estranho, mas...na verdade gostei. — confessou, olhando para todas as fotos de cada encontro que tiveram com o decorrer do tempo — Você começou a prender minha atenção depois disso.

— Você sempre gostou da minhas iniciativas. — afirmou com um sorriso convencido.

— É que era difícil não te olhar, sabe...não é qualquer um que fica andando para cima e para baixo, com uma câmera polaroid pendurada no pescoço, como se fosse um acessório.

Baek Hyun lhe direcionou uma careta e o empurrou com o ombro. Rindo logo em seguida.

— Eu tinha medo de deixar algum detalhe muito importante passar...só queria...tornar tudo inesquecível. — comentou, passando os dedos por uma foto do sorriso do marido — Eu não queria te esquecer… — Baek Hyun confessou em tom de segredo, baixo e terno.

Chan Yeol pôde sentir uma pontada em seu âmago.

Há quanto tempo não via o homem da sua vida tão transparente e desarmado?

— Lembra dessa foto?  — Baek Hyun indagou, notoriamente mais animado — Foi quando decidiu que iria conhecer meus pais.

— Céus! Olha a minha cara. — riu ao lembrar-se — Eu estava prestes a vomitar.

— Eu tinha avisado para não comer demais antes, mas você sempre foi teimoso. — disse ao sorrir — Eu lembro que quando toquei sua mão por debaixo da mesa, você estava tão gelado, que achei que sua pressão iria bater no chão.

— Eu estava soando frio. — relembrou — Mas no fim valeu a pena...eles não gostaram da ideia no começo, mas com o passar do tempo me viram como um filho.

Baek Hyun entendera o tom de voz cheio de gratidão do marido. Chan Yeol não teve a oportunidade de ter uma família quando menor, pois foi deixado no orfanato até atingir a maioridade e saiu de lá por conta própria. Sempre se virando sozinho.

Por isso que seu grandão fazia de tudo por suas filhas. Conseguia se lembrar como se tivesse sido no dia anterior. Quando chegaram ao orfanato, Chan Yeol fora logo atrás das crianças mais velhas, e depois de longos dias de conversas e visitas, encontraram sua filha Yoo Ra. Ela era sul coreana, igual aos pais, mas possuía características caucasianas, e como já tinha dez anos, ninguém a queria. Inexplicavelmente, foi amor à primeira vista.

— Eles tem um carinho imenso por você. — Byun comentou — Você era responsável, educado, estudioso e dedicado. Tudo o que o filho caçula deles não era.

Baek Hyun riu, antes de conhecer Chan Yeol, dava muita dor de cabeça nos pais com sua displicência.

— Você mudou muito.

— Eu havia encontrado um motivo para mudar. — confessou baixinho.

 

“ — O que você quer fazer, amor? — Chan Yeol indagou.

— Eu não sei… — Baek Hyun disse pela décima vez.

Faziam horas que eles estavam em seu quarto, discutindo sobre qual carreira cada um gostaria de seguir. Chan Yeol sempre quisera ser professor, por isso estudava tanto, pois gostaria de obter uma boa pontuação e assim, conseguir uma bolsa para uma ótima universidade.

Contudo, Baek Hyun estava completamente dividido. Ele sempre quis cursar medicina, se tornar um neurocirurgião mas, ele se achava incapaz de chegar até o final do curso e ainda fazer uma pós graduação para conseguir tudo. Era muito tempo, muita dedicação. Ele tinha planos e queria construir uma família. Daria tempo de se dedicar em tudo?

— Você é inteligente… — Chan Yeol o relembrou, deixando um selar no ombro do namorado, que estava de barriga virada para baixo, a cabeça enterrada no travesseiro — É esforçado… — deixou um selar em sua nuca — E vai ser um ótimo neurocirurgião. — afirmou rente ao ouvido dele, o vendo se encolher e depois virar a face, afim de lhe encarar.

— Já discutimos isso, amor. — falou de forma triste — Ou é a medicina, ou é você.

Chan Yeol riu.

— Não precisa escolher, veja bem, enquanto a medicina vai te realizar como profissional, — disse ao depositar um beijo nos lábios do outrem — eu vou te realizar como homem.

Baek Hyun riu da forma sugestiva que o namorado lhe olhava. Mas havia outro sonho que era a produção de eventos, tinha o dom nato para aquilo, afinal ele sempre estivera à frente de todos os eventos de sua escola, assim como em ocasiões especiais em sua família.

— Então você não pode me deixar...mesmo que as coisas fiquem difíceis. — ele sabia que iriam ficar. Apenas queria ter a garantia.

— Porque eu abandonaria o homem da minha vida? — indagou, como se aquilo fosse a coisa mais absurda. Ele sabia que poderia andar por mil vidas, jamais encontraria outro alguém como Baek Hyun.

— Na alegria e na tristeza? — indagou baixinho, desejando que apenas eles e o universo fossem a prova de suas esperanças.

— Até que a morte nos separe. — disse ao selar os lábios do namorado, como se ali, selassem aquela promessa.”

 

Baek Hyun piscou letárgico, saindo de seu devaneio.

Olhou para Chan Yeol, que mantinha-se quieto e animado enquanto revia as fotos.

— Você quer mesmo o divórcio? — Baek Hyun indagou repentinamente.

Chan Yeol o encarou, parecendo tão confuso quanto ele mesmo. Mas Baek Hyun apenas buscava no olhar do marido o resquício de qualquer conexão existente entre eles. Algo que indicasse que ainda estavam do mesmo lado.

— Você não quer? — respondeu com outra pergunta.

Baek Hyun desviou o olhar para as fotos polaroides. Onde elas marcavam tempos felizes. Onde a única preocupação deles era construir tudo juntos.

— Eu queria apenas voltar no tempo...onde não precisaríamos tomar essa decisão. — Byun confessou.

Chan Yeol surpreendeu Baek Hyun, quando levou seus lábios até o ombro desnudo deste, depositando um selar na pele morninha, que sofreu um leve arrepio com o ato.

— Ainda acho que há uma chance. — murmurou, levando sua mão até a do marido, que descansava em cima das fotos, as unindo sobre suas melhores lembranças — Olhe como éramos felizes...como queríamos e fazíamos de tudo para estarmos juntos.

Byun fechou os olhos com força, negando lentamente com a cabeça.

Respirou fundo, como se aquilo doesse.

— Você ama quem nós fomos. — falou ao voltar a encarar Chan Yeol, da forma que aquela posição permitia — Quando vejo nossa situação, onde chegamos, percebo que você nunca poderia amar aquilo em que nos transformamos.

— Duas pessoas amargas, que sempre estão na defensiva? Não, eu não posso amar isso… — falou ao se endireitar, mas sem largar a mão do marido — Mas ao revermos esse álbum, eu pude nos ver. A quanto tempo não passávamos mais de um minuto sem brigar? Quanto tempo fazia que não ficávamos tão próximos e tão acessíveis? Sequer nos olhávamos e agora...

— Acha que um vislumbre de nós dois nos dando bem por alguns minutos, será suficiente para nos manter juntos? — indagou baixinho, seu olhar era tão dolente e carregado, que fazia pesar no próprio Chan Yeol — Eu não quero viver de vislumbres, nem de minutos contados onde podemos nos suportar até a próxima briga.

Chan Yeol respirou fundo, abaixando a cabeça até que sua testa descansasse no ombro de Baek Hyun. Era tão bom sentir seu perfume com mais precisão, direto de sua pele. Acabou apertando ainda mais as mãos dele entre as suas, queria desesperadamente sentir que aquela proximidade era real. Que Baek Hyun não o estava evitando, ou repudiando seu toque.

— Então...o que quer que eu diga? Que está tudo acabado?

Baek Hyun fechou os olhos, mas não se afastou, pois o calor da proximidade de seu marido fazia aquelas palavras serem suportáveis de ouvir. Era como manter a faca no ferimento, pois se puxá-la a dor será pior.

— Temos até amanhã para descobrir. — sussurrou, sentindo a ponta dos dedos de Chan Yeol enxugar uma lágrima que descia por sua bochecha.

Quando voltou a abrir os olhos, viu que ele também deixava algumas lágrimas caírem. A situação era tão dolente, que elas se derramavam sem esforço. Caiam quentes e pesadas.

Ambos queriam que todas aquelas lágrimas levassem consigo toda dor acumulada daqueles anos de desentendimento.

 


Notas Finais


Bem pessoal, só tenho a agradecer pelos favoritos, e aos lindos comentários. Vocês estão sendo tão receptivos com uma história de poucos capítulos, espero que ela continue agradando a todos, sabe, indo de acordo com a expectativas de vocês.

Agora a interação entre eles realmente vai começar de uma forma mais profunda e sincera. Vamos ser gratos ao trio maravilha, que combinaram tudo e prenderam esses dois teimosos. É isso aí, tem que deixar de castigo mesmo haha

E então, o que será que esse casal vai aprontar nesse porão, hein? Será que rola mesmo a famigerada chance? Eu to aqui torcendo muito por eles, e vocês? haha
Podem me contar, adoro saber o que vocês pensam sobre tudo o que tá rolando.

Até a próxima semana ♡

~exbur


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