História (Não) Venha Me Ver - Fique longe, por favor.

Gosto de lembrar do nosso primeiro encontro como se fosse ontem.

Estava chovendo quando você apareceu correndo, parando na minha frente apenas para me entregar uma flor, me acariciando no ombro antes de voltar a correr, tentando fugir da chuva. Me lembro que seus olhos estavam vermelhos, sua boca toda machucada por causa dos dentes ansiosos e, principalmente, me lembro do seu sorriso que – apesar de toda aquela merda – continuava ali, enorme, bonito.

E desde então nossos encontros tornaram-se frequentes, o que me deixou extremamente feliz naquele período. Eu te via todas as semanas, você se sentava a minha frente, na grama, e contava histórias hilárias e ao mesmo tempo ridiculamente mundanas sobre a sua vida. Mas eu escutava. Não só escutava porque achava tudo muito interessante como também amava a sua voz. Céus, a sua voz me fazia sentir toda aquela coisa... eu me sentia vivo. E as flores, ah, as flores! Seu cheiro se impregnava nelas e, quando você ia embora, eu ficava ali, quieto, sentindo você de longe enquanto elas descansavam comigo, murchando lentamente.

Mas as coisas mudaram quando você veio, pela primeira vez, acompanhado. Eu não entendi logo de cara, só que o tempo me fez entender e, consequentemente, odiar você. Não conseguia acreditar como você estava ali, na minha frente, beijando outro alguém. E, pior, você o abraçava, pedia carinho para ele enquanto tinha a mim! Eu sempre estive ali por você. Eu sempre escutei você, te amei, mesmo que silenciosamente. Então eu os assistia, me olhando, falando comigo e, de qualquer modo, juntos, sorrindo e trocando juras que eu jamais poderia escutar.

E, desse jeito, eu entendi tudo o que eu era para você. Quer dizer, o nada.

Nosso último encontro me fez entender completamente o que nós éramos. Você apareceu, novamente, correndo na chuva. Uma de suas mãos trazia as flores de sempre enquanto na outra uma aliança prata estava presa, enroscando-se assim com o outro anel, na mão do seu outro alguém. Vocês chegaram e me encararam, um sorriso triste seu me fez entender que seria a nossa última vez, o seu último toque em mim que, silenciosamente, sofria só de te ver feliz. Seria errado odiar a felicidade de alguém? É, talvez seria. Mas eu não ligava.

Não ligava porque eu não te pedi para vir me ver, no cemitério. Não pedi pelas flores que continham o seu cheiro viciante, ou pedi pelos sorrisos e histórias que me fizeram cair de amores por alguém que nem no mesmo plano existencial que eu estava. Porque eu me apaixonei por você, um homem vivo, saudável e perfeito. Um homem que, a cada visita que me fazia, me deixava ainda mais tentado a desejar sua morte. Oras... Eu só queria te ter comigo. Só queria que pudéssemos dividir histórias também contadas por mim, dividir a grama alta do cemitério onde me deixaram desde o meu último dia. Eu só queria não me sentir tão sozinho quanto me sinto agora.

Agora que você se foi e eu me sinto verdadeiramente morto.

Só... Por favor, nunca mais me visite de volta.

— Jeongguk, JEON.