Era uma típica sexta-feira, antes mesmo que o despertador exercesse seu trabalho, Fernando levantou disposto, desativou o mesmo e se direcionou a janela. O sol havia raiado esplendoroso como de costume, seu calor seria perfeito para um passeio ao ar livre, uma tarde na praia talvez. Aquele simples ato rotineiro atiçava inúmeros planos na sua mente, e é claro, incluso neles, uma pessoa muito especial o acompanharia, mas os planos deveriam esperar, ainda era sexta-feira, precisava trabalhar. Consequência da idade adulta, - bufava ao lembrar - responsabilidades, stress...
“Não pense nisso Fernandinho! Você tem ela!” – O riso tímido que apareceu em seu rosto nascia com a simples lembrança dela... De sua amada...
No bairro próximo o dia havia começado mais cedo para Letícia, que já estava devidamente arrumada, pronta para enfrentar mais um dia exaustivo na Conceitos, desde que a mesma havia sido embargada seu trabalho havia dobrado, não, triplicado, juntamente com Tomás, procurava encontrar uma solução para todo esse problema sem precisar maquiar o balancete como Fernando havia pedido. Já se sentia suficientemente culpada por ter seu nome envolvido, avalie fazer isso! A reunião com o conselho de acionistas era em um mês e a situação era desesperadora, a um tempo Conceitos não via a agitação de se envolver em grandes trabalhos. Precisava disso para se levantar do buraco.
- Lety, Lety, meu amor – Julieta estralava os dedos tentando tirar a filha de seu mar de pensamentos – Você vai comer ou vai ficar parada no tempo?
De fato ela estava, no meio de tantas preocupações havia parado com a xícara ainda nas mãos.
- Não mãezinha, eu já vou – Se levantou aturdida, pegou a bolsa e sua pasta caminhou até a porta antes de ser interrompida
- Letícia – A voz grave de Erasmo amedrontava qualquer um. Ela virou com medo
- Sim papai...
- É assim que se despede se seus pais? Não me lembro de tê-la ensinado isso... Você se lembra Julieta?
- Não Erasmo – A risada dela fez Lety suspirar aliviada
- Me perdoem – Voltou, deu-lhes um abraço apertado e vários beijos – Pronto – Voltou a sala onde sua bolsa e a pasta a esperavam – Nos vemos mais tarde – Jogou beijos antes de fechar a porta – Amo vocês!
- Essa menina... – Riu de canto
***
Enquanto Lety se espremia para descer do ônibus, Fernando chegava em seu conversível, seu sorriso de felicidade ao vê-la chamava atenção, o mesmo se estendia “de orelha a orelha”.
- Lety! – Jogou as chaves para Celso e deu passos largos até alcança-la
- Seu Fernando... – Ignorando seu cumprimento matutino ele procurou os lábios dela em um beijo intenso, quando a soltou ela pode enfim respirar – bom dia...
- Belíssimo dia!
- Estamos na empresa seu Fernando! – Olhou para trás onde Celso de costa para o portão observava o tráfico na rua em frente a Conceitos
- Ninguém viu – Lhe roubou um selinho – Nem o celso – De novo um pequeno beijo – Nem... – Mais uma vez - Ninguém
- Seu Fernando! Vamos entrar por favor!
- Claro que sim minha assistente maravilhosa!
Fernando seguiu Letícia e juntos entraram, a princípio, ela estranhou, ele estava muito contente, mas resolveu não questionar.
Como previsto assim que adentrou sua salinha tratou logo de se pôr a par dos assuntos pendentes do dia anterior. O ininterrupto tempo que dedicou ao trabalho se estendeu até o momento que seu estomago não mais aguentou. Onde estaria Fernando que não a avisou do horário de almoço? Frustrada ela saiu da salinha, a presidência estava vazia, de fato Fernando havia ido sem avisa-la, o hall das secretárias se encontrava da mesma maneira, olhou seu relógio e as horas tardias anunciavam que em breve o horário de almoço se findaria e tudo retornaria à normalidade.
- Ai meu Deus! – Apressou seus passos, com sorte daria tempo de comer alguma coisa, mas não deixou de se irritar com Fernando, todos os dias como despertador ele a avisava e em muitas vezes iam juntos, essa atitude dele só reforçou a ideia de que estaria aprontando – Espero que não esteja... ah! Não tenho tempo para me preocupar com o seu Fernando, preciso comer, e logo!
Ao contrário de Letícia, que azafamada procurava algum lugar que pudesse se alimentar, Fernando com toda calmaria possível atravessava os portões da empresa, passou sem pressa pelos corredores, caminhou tranquilo. Carregava nas mãos um simplório vaso com um galho de orquídeas brancas que juntamente com a pelúcia e o cartão – que desta vez foi escrito por ele – decoravam a mesa dela.
Retornando a presidência percebeu que em cima de sua mesa – perfeitamente organizada por sua doce assistente – um envelope amarelo estava depositado ao centro. “Algum papel importante que a Lety queria que eu assinasse?” Pensou consigo. Ávido o pegou revelando seu conteúdo, uma carta, ou como o autor descreveu: instruções.
Instruções essas horrendas, monstruosas. Apenas um ser humano totalmente inescrupuloso cometeria tamanha atrocidades, principalmente com ela... A mesma pessoa doce e ingênua, aquela que aprendeu amar excessivamente, que lhe proporcionara momentos incríveis. Como? Ela apenas o amou... Sem interesse, sem malícia, ternamente... Se entregou de corpo e alma para quem? Um monstro!
O sentimento de culpa o invadiu por completo, julgava Omar uma animal mas estava sendo muito pior. Precisava corrigir seus erros, o mais rápido possível. E como primeiro ato amassou aquele pedaço de papel carregado de atrocidades e o jogou no cesto ao lado da mesa. Bateu as mãos em um sinal de limpeza e se sentou para espera-la ainda tenso. Se não tivesse se adiantado ela descobriria tudo, e o que era pior: Vê-la colocar um fim na relação deles. E foi assim que ela o encontrou
- Seu Fernando... An... – Olhou no relógio e viu que estava atrasada em alguns minutos – Me desculpe eu... – Parou ao perceber que não recebia atenção, Fernando estava distante, pensativo, aéreo – Seu Fernando!
- O quê? Ah, já voltou Lety?
- S-sim, e o senhor? Está aqui a muito tempo?
- Não...
Percebendo seu tom desanimado ela se aproximou
- O que houve seu Fernando? De manhã o senhor estava tão animado... E agora está tão tristinho
Recebeu um selinho carinhoso dela e se sentiu mais culpado por um dia ter pensado em usa-la. Um sorriso de canto brotou em seu rosto.
- Não é nada, não se preocupe
- Tudo bem, eu vou para a salinha, qualquer coisa me chame
Ele riu novamente, não precisaria chamar, em 30 segundos no máximo ela voltaria, e de fato ela voltou, abraçando fortemente a pelúcia e segurando o cartão.
- Obrigado seu Fernando!
Ele recebeu aquele abraço apertado.
- Vamos sair esta noite?
- Seu Fernando eu...
- Tudo bem... – Acariciou aquele “belo” rosto – Seu pai, sim eu sei
- Sim... – Abaixou o olhar quando viu sua decepção
- Lety, você acredita quando digo que te amo?
Suas palavras soaram com um breve tom de desespero
- Que pergunta Seu Fernando! Mas é claro! Está assim por que não vamos sair hoje?
- Não, de maneira alguma
- Certo. Então eu vou para salinha, de vez!
Por fim ela conseguiu voltar e ambos se empenharam em trabalhar, Letícia para encontrar a solução de seu problema e Fernando para se distrair, diferentemente de Márcia, em sua cabeça tramava um plano que julgara “infalível” para fazer Fernando se deitar com ela de novo - coisa que não fazia a um tempo - só precisava coloca-lo em prática. “De hoje você não passa Fernando Mendiola!”. Com isso os minutos passaram rapidamente dando passagem para a noite que sorrateira tomava o lugar daquele dia que se passara.
Mas Márcia não percebeu isso, tanto é que quando enfim foi procurar Fernando na presidência o mesmo já havia ido.
- Droga Fernando! - Em um ato de raiva chutou o primeiro objeto que estava a sua frente, mas assim como para toda ação se tem uma reação seus dedos começaram a doer – Ai ai! – Sentou-se no sofá que ali tinha para analisar os “estragos” que causara. O objeto que chutara – o cesto – estava jogado e dele havia rolado uma bolinha de papel, que por estar solitária despertou a curiosidade – O que é isso? Se for um bilhetinho de uma modelo eu juro que mato o Fernando!
Mas seu conteúdo era muito mais que um simples bilhete
“Meu estimado presidente,
Aqui estão as instruções para que continue com sua rotina de horror com a Lety.
Em primeira instancia encontrará os cartões que deverá continuar colocando no escritório de sua monstrenga com seu respectivo presentinho...”
Pasmada ela leu até as últimas palavras
- Então... esse tempo todo ele me traiu com a feia?!
Seus olhos poderiam fácil adquirir a cor vermelha, pois ardiam em raiva, seus ouvidos poderiam soltar fumaça, nascia em Márcia um novo sentimento: O ódio
Carrasco de uma, vítima de outra.
Morria ali todo amor que um dia sentiu por Fernando, o ódio que a cegava tomava conta de sua mente e um novo plano surgia, mas dessa vez não envolvia fantasias sexuais ou brincadeiras eróticas, era um plano de vingança, hediondo como os atos daquela carta.
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