Pelo restante da tarde Fernando continuou “estranho”. Lety resolveu não insistir mais em saber o porquê, já tinha coisas suficientes para se preocupar, não queria adicionar à confusão de sua mente a atitude excêntrica dele.
No dia seguinte, esse ponto estava “resolvido”, já que nenhum dos dois voltou a falar sobre isso, e Fernando estava o mesmo de sempre: paranoico.
Sim, o dia mal se iniciara e ele já evidenciava estar assim. O motivo não surpreenderia ninguém: ciúmes. Em um de seus passeios (Que sempre terminavam na sala de Letícia) pela empresa, a escutou conversando animadamente ao telefone, poderia ser uma amiga, e considerando isso sorriu contente, mas ouviu claramente quando o apelido que o irritava foi exprimido. “Sério Ry?!”. Mas não poderia enciumar-se, afinal, era sua Lety alí! Tinha total confiança nela e no seu amor, mas, só de pensar na mínima, talvez inexistente, possibilidade de ela deixá-lo, lhe apertava o coração. Ou seja, o ciúmes sempre faria parte dele.
Pensando nisso, as horas para ele passaram vagarosamente
- Oi... – Estava pensativo em sua sala quando aquela voz doce o despertou
- Entra – Sorriu timidamente
- Você não foi na minha sala hoje, estranhei
- Ah... Estava ocupado amor
- Ocupadíssimo vejo. Computador desligado e a mesa permanece organizada. Ocupado em pensamentos, isso sim – Riu – Quer me contar o que está acontecendo? – Seu olhar era terno, e não de cobrança como fazia quando estranhava de algo
- Não há nada querida – Suspirou pesado – Estou pensando em fazer uma reforma na minha sala – Mudou de assunto para que não permanecesse naquilo ou se preocupasse
- E isso por que?
- Para te tirar daquela sala no outro lado do mundo!
Lety gargalhou
- Que exagerado!
- Estou falando sério! – Pôs firmeza em seu tom de voz – Vou mandar derrubar aquela parede – Olhou na direção da salinha – A nova vai ficar mais a frente, vai aumentar a salinha
- Mas vai diminuir sua sala
- Não me importo – Voltou a olhar naquela direção como se esquematizasse seu projeto – E colocar uma janela gigantesca alí, ou a parede inteira de vidro. Você sabe que vai ter uma visão panorâmica da transversal, não é?
- Ahn, sim
- Perfeito. Depois um decorador vai lhe ouvir para deixar ao seu gosto
- Deixa eu ver se entendi, você vai se desfazer da sua sala grande e confortável para ficar com duas salas médias apenas para não ter que cruzar o hall para ir até mim?
- Falando assim parece um capricho meu
- Não amor, não foi isso que eu quis dizer. Eu apenas pensei que você tivesse “superado” essa pequena distância, que não é tão grande como daqui para o outro lado do mundo
- Raciocine comigo – Levantou-se para ficar junto à ela – Eu sou o presidente, certo?
- Correto
- E você a vice, confirma?
- Sim
- Nosso trabalho está interligado amor! Não há necessidade de estarmos tão distantes
- Jura?! Desconfio que se eu voltasse para a salinha, não trabalharíamos
- E por que a senhorita acha isso?
- É simples, agora por exemplo – Puxou sua gravata colando de fato seu corpos – Acha que se eu viesse entregar uns papéis nos trataríamos como profissionais?
- Depende de como a senhorita se comportou durante o dia – Tocou sua cintura - Ou como está vestida
- Está insinuando que seus ataques de perversão são culpa minha?
- Claro que sim, admita que estou certo doutora
Fernando possuía seu sorriso maldoso como em muitas vezes, usava do toque suave das mãos para envolver Letícia e sempre conseguia atingir seu propósito. Nesse caso, ela compactuava com as intenções dele o dando total liberdade para beijá-la sem contestação sobre interrompimento.
- Quando você virou arquiteto?
- Há casos em que precisamos saber fazer de tudo querido – Delicadamente passou o nariz em seu pescoço fazendo-a arrepiar-se
- Amor...
- Eu sei, estamos na presidência - Resmungou
- Não é isso... Está escutando?
- O quê? - Parou
- Preste atenção
Quando o silêncio se instaurou, puderam escutar o toque do celular de Fernando que estava na gaveta.
- Ah! É a dona Julietinha – Leu o nome na tela
- Esquecemos do almoço! – Exclamou
- Sogrinha!
- Meu genro querido – A senhora riu – Que bom que consegui falar com você, Lety não atende. Vocês estão bem?
- Sim, não se preocupe, apenas nos distraímos com o trabalho
- Vocês ainda vem? Já perdi as contas de quantas vezes Erasmo reclamou da demora
- Não se preocupe, estamos chegando – Piscou para Lety
- Tudo bem querido, nos vemos em minutos então
- Até – Desligou
- E você ainda quer que trabalhemos lado a lado - Riu
- Esse assunto não está encerrado, mas agora precisamos ir, antes que o seu Era prepare o molho para me cozinhar vivo!
***
O almoço com os sogros foi agradável. Erasmo já estava se acostumando com Fernando, o que tornou tudo mais tranquilo. Ver sua filha contente por ter encontrado o amor da sua vida era motivo suficiente para o pai protetor e turrão se conformar que sua não mais pequena menina, se tornou uma mulher forte e independente.
Para selar essa “paz’ entre genro e sogro, Lety os deixou sozinho saindo para ajudar a mãe à retirar a mesa.
- Erasmo e Fernando estão conversando?
- Sim! Não é maravilhoso mãe?
- Claro! Já estava mais do que na hora de isso acontecer, em... em dias você vai se casar e...
- Mãe...
- Eu sei que não devia, mas é impossível meu amor. Você está entrando em uma nova etapa da sua vida, dessa vez sem nós...
- Não! – Abraçou sua tão querida mãe – Eu nunca vou me distanciar de vocês – Um barulho atrapalhou a fala – O que o telefone tem hoje? Está atrapalhando todos os meus momentos! – Reclamou irritada
- Letícia Padilha por favor
- Sim, quem fala?
A pessoa se identificou e Letícia logo se lembrou que estava esperando aquela ligação. Concordou e escutou atentamente o que a pessoa lhe falava. Já no fim da ligação, sorriu largamente em felicidade
- Como a senhora pediu que ligássemos antes...
- Agradeço por isso. Posso pegar amanhã?
- Claro. Está ponto
- Obrigada novamente, tenha um bom dia - Desligou
- O que houve querida?
- Recebi a confirmação que tanto queria mãe!
- E que confirmação é essa?
- Surpresa – Sorriu – Vamos nos sentar os senhores?
- Vocês não vão voltar para a empresa?
- Sim, mas estou feliz demais para me preocupar com horário
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