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História Nas mãos do destino - Olhos bicolores


Escrita por: Rutto

Capítulo 2 - Olhos bicolores


 Uma forte enxaqueca me fez recobrar a consciência na manhã seguinte. Ainda piscando para tentar acostumar-me com a claridade do local olhei ao redor para tentar situar onde estava. O chão enlameado no qual havia caído fora substituído por uma cama confortável com simples, porém quentes cobertas de retalhos coloridos, olhando bem ao redor dava para ver que era a única coisa com cor naquele quarto.

 O cômodo era todo feito em madeira. Além da cama, havia uma mesa de centro, uma velha poltrona marrom e um tapete sujo. Na poltrona algumas cobertas idênticas as que me cobriam demonstravam que alguém havia passado a noite ali. Qualquer um que olhasse o local por pouco tempo conseguia perceber que ele não recebia a visita de uma vassoura a muito tempo.

 Tentei levantar e logo fui impedida por dores em todo o corpo. Avaliando melhor minha situação, percebi que minha cabeça e meu tronco estavam enfaixados. Meu rosto ficou totalmente ruborizado quando percebi que minhas roupas foram retiradas para que meu tronco fosse enfaixado, mentalmente torci por esse trabalho ter sido feito por uma mulher.

- Oh céus, onde estão as minhas vestes? – Perguntei-me a mim mesma

- Estão secando atrás do chalé – Fui pega de surpresa pela resposta. Olhei rapidamente ao redor e encontrei um homem alto de cabelos brancos e olhos bicolores próximo a uma cortina, na qual imagino fazer o papel de divisória, um grito assustado escapou pela minha garganta. – Oh céus, pare com esses gritos imediatamente. – Repreendeu-me o homem com uma carranca.

- Vire-se imediatamente. – Repreendi envergonhada – Estou despida, não está vendo o quão indecoroso está sendo sua atitude no momento? – Tentava me cobrir ao máximo com as cobertas

- Ora deixe de tolices, acha que suas vestes saíram do seu corpo sozinhas? – Perguntou-me e no mesmo momento senti meu rosto queimando em rubor.

- O Senhor retirou minhas vestes? Como ousa cometer tamanho desrespeito para comigo? – Estava atônita e me sentindo extremamente perdida. Como foi que sai de uma estrada lamacenta para a cama de um homem desconhecido, ainda por cima sem vestes. Oh céus, madre Agatha me mataria se descobrisse.

- Devia sentir-se grata, eu poupei a senhorita de um terrível resfriado. Sem falar que o médico precisava enfaixar seu tronco. – Respondeu dando ombros, diferente de mim, ele não parecia estar nem um pouco incomodado com a situação.

- O que aconteceu? – Perguntei sem tirar os olhos dele, que caminhava até a poltrona.

- Estava de guarda a algumas horas perto de uma armadilha de havia montado quando o temporal de ontem a noite se iniciou. Minha presa estava quase caindo quando o barulho de seu tombo a espantou. De maneira resumida, você espantou meu jantar. – Disse de maneira irônica.

 Seu olhar, cheio de curiosidade, não se desviava de mim, era perceptível que era um homem extremamente observador. Não aparentava ter mais de trinta anos, porém seus olhos carregavam uma tristeza que de certa forma o envelheciam mais.

- Encontrei-a desacordada na estrada em meio a uma poça de lama, trouxe-a até meu chalé e chamei um médico para examina-la. A senhorita está com alguns hematomas nas costas e na cabeça. – Terminou sua fala apontando para os meus curativos.

- Isso explica algumas coisas – murmurei para mim mesma – Sou extremamente agradecida pelo seu gesto Senhor. Mas eu gostaria de vestir-me se fosse possível – Pedi sem graça.

 No mesmo momento ele levantou-se e dirigiu-se em direção a uma porta que presumi ser um armário. Logo em seguida saiu com um simples vestido verde em mãos. Deixou-o em cima da cama e saiu do cômodo sem dizer uma única palavra. Levantei-me com uma certa dificuldade, apoie-me na parede de madeira para colocar o vestido, perguntando-me se a dona não se incomodaria por estar usando sem sua permissão.

 Decidi me aventurar pelos outros cômodos da casa e fui na mesma direção pela qual o homem saiu. O chalé era pequeno, mas muito aconchegante, além do quarto havia uma cozinha com um fogão a lenha que esquentava todo o cômodo. Uma mesa de madeira que ali havia parecia muito grande para um homem sozinho e presumi que ele deveria ter uma família.

 Como não estava ali e a porta que presumi ser do banheiro estava aberta, o homem dos olhos bicolores só poderia estar lá fora. Caminhei em direção a porta principal, assim que abri me deparei com uma linda clareira. Em uma parte, havia uma linda plantação de flores, não muito longe havia um pequeno lago onde alguns patos habitavam. Atrás do chalé era possível encontrar um celeiro com uma vaca, um cavalo e algumas galinhas. Tudo aquilo parecia muito caricato para mim, cena de algum de meus livros. Com certeza havia batido a cabeça com muita força e tudo aquilo era proveniente de um delírio. Inclusive aquele homem tão misterioso.

 Apesar de não ter muita experiência no assunto, não podia deixar de reparar o quão bonito ele era. Observando-o daqui enquanto trabalha é possível ver seus músculos definidos pela camisa surrada que vestia. Seu cabelo estava grudado a testa devido ao suor resultante da força exercida para cortar aquele longo tronco de arvore. Não havia visto muitos homens desde que fui para o internato, a não ser quando eu e as demais internas nos escondíamos para ver alguns jovens que iam entregar os mantimentos na cozinha do convento. Mas nenhum deles jamais se comparava a beleza desse.

- Mas o que é que eu estou querendo com esses pensamentos – repreendi a mim mesma mentalmente. Não era correto, ele com certeza tinha uma esposa, a final, por que ele teria um vestido em sua casa se não fosse por esse motivo? Sem falar que Conde Viktor não gostaria nada de saber que sua noiva andava tendo tais pensamentos direcionados a outro homem.

 Demorou-se algumas horas para que todo aquele tronco se transformasse em lenha. Apenas ao final de seu trabalho ele percebeu minha presença, sem me dar muita ideia ele fincou o machado em um tronco cortado que ali havia. Passou por mim entrando em casa e manteve-se segurando a porta aberta para que eu entrasse também.

 Sem saber o que fazer, sentei-me em silencio em uma cadeira. Ele entrou no banheiro e pouco temo depois saiu com os cabelos molhados e com uma roupa quente.

- Aconselho a pegar um casaco ou uma coberta. Faz muito frio nessa clareira durante a noite – Recomendou sem olhar para mim. Fiquei observando enquanto ele se dirigia ao fogão, vi ele picando alguns vegetais e jogando em um caldeirão com agua.

- Poderia me dizer o seu nome senhor? – Perguntei em um lapso de coragem, ele parou de mexer o caldeirão e olhou em minha direção com as sobrancelhas arqueadas em uma clara expressão de dúvida.

- Lysandre – Respondeu sem acrescentar mais nada, era visível que quebrar esse silencio constrangedor seria uma tarefa totalmente minha.

- Eu me chamo Angelique – Disse, porém, fui totalmente ignorada. – Quando sua família chegará em casa? – Perguntei e logo me assustei com a carranca que ele me direcionou.

- Eu vivo só – respondeu com uma certa melancolia na voz, que ele tentou disfarçar com todas as suas forças.

 Isso não era bom, quer dizer que eu estou sozinha em uma casa com um homem que eu nunca vi? Isso era totalmente inapropriado.

- O Senhor poderia me levar para casa? – Perguntei a ele, gostaria de sair dessa situação o mais rápido possível.

- Onde você mora? – Perguntou colocando um prato de sopa quente na mesa a minha frente.

- Na França, em um vilarejo perto de... – Fui interrompida por uma risada. – O que foi? – Perguntei sem entender.

- Estamos na Inglaterra, a senhorita se perdeu muito longe de casa. – Disse ele por entre as suas colheradas de sopa. Não era possível que estivesse tão longe de casa. – Sem falar que precisaríamos de uma carruagem e uma passagem de navio para te levar para  casa e eu não tenho mais do que uma carroça para transportar lenha, não é possível que você esteja esperando que eu te leve para casa né? – Terminou de maneira irônica.

 Olhei-o assustada. Como assim ele não pretende me levar para casa?


Notas Finais


Espero que tenham gostado do capitulo de hoje <3


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