História Nas últimas 24 Horas - 2*D'Artagnan

 Estava a caminho do estúdio de ballet que eu e Mía costumávamos frequentar quando pequenas a pedido dela. Apesar dos anos e o lugar estar fechado faz um bom tempo, me lembro como se fosse ontem. Quando íamos para casa depois do ballet, passávamos na casa do Jack.

Éramos os Três Mosqueteiros.

Porém, um dia , um de nós desertou

Nosso D'Artagnan desertou, e todos pensavam que ele não fazia falta.

Não é porque não falamos muito de uma pessoa que não sentimos sua falta.

Um papai noel de plástico sorri da varanda de uma casa para o carro que eu estava dirigindo.

Alguém pode me explicar qual é a graça?

Afinal, alguém pode me explicar por que eu estou indo para um estúdio abandonado às uma e quinze da manhã quando eu poderia muito bem estar dormindo? Onde estou com a cabeça?!

É melhor ela ter uma boa explicação para tudo isso.

Quando chego ao estúdio, estaciono o carro na parte da frente dele, e percebo que ele não mudou nada, a não ser pela cor azul da fachada desbotada pelo tempo e pelos castigos da chuva, e algumas pichações. Meu cabelo ruivo se destacava contra a construção deprimente.

Passo para a parte  de trás da construção, procurando por Mía do lado de fora, mas tudo o que encontro é a porta dos fundos aberta e um fiozinho de luz alaranjada na parte de dentro, refletindo no piso de madeira. 

Me aproximo mais um pouco e escuto... Vozes. Vozes animadas. E vejo no reflexo do espelho Mía, de costas. 

Espere um pouco. Aquela porta foi fechada junto com todas as portas do prédio. Mía? Arrombar uma porta? Tudo bem que ela é forte, mas nunca partiu para o vandalismo. Então quem...? 

Noto mais algumas sombras, difíceis de serem percebidas com a fraca luz que aparentava ser de velas. Estreito um pouco os olhos para ver se enxergo melhor. Sem sucesso. Até que decido entrar na sala. Se eu não soubesse de onde era aquela sala, eu não acreditaria.

Todo o pessoal do nosso grupo estava ali. A sala estava parecendo um cenário de filme de romance: Bancos perfeitamente enfileirados, para não dizer intocados, Caixas empilhadas de forma desleixada e empoeiradas, no palco e nas estantes, inúmeras velas,daquelas pequenas.

Despretensioso, porém aconchegante.

 Mía nota minha presença antes de todos, e logo seu rosto é iluminado por um sorriso.

- Díos mio!  Ashley, você veio!

-Claro que eu vim! Você me chamou.- Respondo, analisando quem estava lá.

Kim, Gerard, Madeleine, T.J, Carla, Renée, Theresa, Nathan... Realmente todos estavam ali. 

Ou quase todos. Faltam dois.

- É muito bom te ver de novo, Ashley.- Escuto alguém dizer. Viro-me e deparo com outra pessoa um pouco fora do foco das luzes.

E essa pessoa era alta, magra, os mesmos e inconfundíveis olhos que brincavam comigo quando eu era criança, que agora tinham algo diferente e convidativo. 

Muito diferente dos olhos que vi pela última vez um ano atrás.

Dos olhos que me viram chorar. 

E os olhos que eu vi partir.

Senhoras e senhores, D'Artagnan voltou.