Capítulo 09 – I Blame Myself.
Nathalie
Ele me esperava do lado de fora do Red Velvet. Vestido de preto da cabeça aos pés, a sua jaqueta de couro era mais bonita que todo o resto da produção. Os cabelos pretos e graciosamente bagunçados pareciam ter sido arrumados com todo o cuidado. Billie me presenteou com um sorriso galanteador e eu sorri de volta, realmente feliz por estar vivendo aquele mísero segundo. Os seus olhos verdes seguiram cada um dos meus passos e como se fosse muito difícil, demorei um pouco para atravessar a rua. Talvez estivesse pensando em fugir novamente, mas o meu coração me disse que eu deveria ir e tentar esquecer a minha vida miserável por apenas uma noite.
— Oi – falei quando ficamos de frente um para o outro.
— Oi, Nathalie. Tudo bem com você? – ele perguntou encostado no carro.
— Posso dizer que sim e você? – Ótimo. Meio minuto de encontro e eu já não sabia o que dizer.
— Tentando parecer calmo. – ele disse e nós dois sorrimos juntos. — Venha, vamos sair logo desse lugar porque agora você está de folga!
Billie abriu a porta do seu carro preto estilo sedã que eu jamais saberia dizer o nome da marca e antes de dar a partida, ele me perguntou onde poderíamos ir ou que poderíamos fazer.
— Posso ser sincera? – perguntei e ele assentiu com um sorriso tímido no rosto. — Estou morta de fome e desejando desesperadamente um hambúrguer com batata frita.
— Eu conheço uma hamburgueria artesanal muito boa aqui no Centro. Podemos pedir dois lanches e comer em outro lugar. O que acha?
— Perfeito!
E assim fizemos. Quase não falamos nada durante o caminho. Na verdade até conversamos sobre umas coisas bobas como o clima, mas nada que fizesse alguma diferença. Billie pediu os nossos lanches pelo celular e quando chegamos ao local eles já estavam com quase tudo pronto. Ele decidiu que comeríamos em outro lugar, então eu demorei um pouco mais para saciar a minha fome. No entanto, tudo valeu a pena. Billie dirigiu até o Lago Merrit, um lugar bonito com um grande gramado e bancos de praça as onde crianças brincavam durante o dia e os adultos namoravam a noite. Ele estacionou o carro na entrada do lago. Entramos com as nossas sacolas de papel e nos sentamos na margem do lago.
Começamos a comer e depois de algumas mordidas, ele disse:
— Essa não era bem a ideia que eu tinha para um encontro.
— Ah então quer dizer que isso é um encontro? – perguntei e ele riu.
— Por que não poderia ser?
— Porque você me disse que só queria conversar e fazer amizade.
— Não podemos conversar, iniciar uma amizade e fazer disso um encontro?
— O problema é que a sua intenção desde o início não era só conversar comigo e me conhecer melhor. – falei como se estivesse ofendida, mas não estava. Apenas comecei aquela pequena discussão para ver o que ele tinha para dizer.
Billie colocou o seu lanche de lado, coçou os olhos e olhou para o lago.
— Me desculpe se eu passei uma impressão errada sobre as minhas intenções. Eu juro que não tenho segundas intenções com você. Eu só...
— Você o quê?
— Eu só pensei que poderíamos jantar num restaurante legal, conversar e beber um pouco.
Coloquei o meu lanche na sacola e tomei um pouco da minha Coca-Cola. Billie fez a mesma coisa e permanecemos em silêncio por alguns minutos.
— Escuta, eu não estou chateada com você. É que eu não esperava que um de nós tivesse tantas expectativas para essa noite. – falei e segurei na sua mão.
— E por que eu não teria?
— Você faz tantas perguntas...
— Talvez seja porque estou curioso para te conhecer, sedento por informações que não tenho e você está sempre se esquivando como se eu fosse um monstro esperando para te comer e arrancar os seus órgãos. – ele chegou mais perto. — Eu só quero algumas respostas.
— O que você quer saber sobre uma garota como eu?
— Antes de qualquer coisa, entender como uma menina tão agridoce e cheia de personalidade pode ter desistido da própria vida aos vinte e poucos anos.
E com aquelas palavras, ele me fez desmoronar por dentro. Como um estranho poderia saber que eu estava desistindo de mim mesma?
— Você diz isso porque estou me prostituindo?
Ele assentiu.
— Eu só preciso de dinheiro. Tenho contas para pagar, não consigo um emprego e o que ganho no bar não sobra quase nada. Aproveitei uma das poucas coisas boas que Deus me deu para ganhar algum dinheiro.
— Você é muito mais que um corpo bonito, Nathalie.
— Mas eu só precisava de um corpo bonito para me deitar na cama de homens estranhos e ser paga por isso.
— Não fale assim...
— E o que você quer que eu diga, merda?! – me levantei e saí andando em passos rápidos e duros em direção a escuridão das árvores. Encostei-me numa árvore alta e comecei a chorar. Não muito tempo depois senti a presença de alguém e abri os olhos. Billie me envolveu num abraço e deixou que eu chorasse no seu peito.
— Eu posso imaginar o quanto isso é horrível, mas quero que você se perdoe. Não permita que essa fase ruim te destrua, te consuma. Não se deixe apodrecer.
E num minuto eu queria socá-lo e no outro ele me disse algo que ninguém jamais poderia ter dito. Aquelas palavras fortes e profundas só poderiam ter saído do coração de Billie. Nos encaramos. Ele passou o polegar da sua mão direita pela minha bochecha e se aproximou. Billie se inclinou na minha direção e eu pude sentir a sua respiração tão falha quanto a minha. Ele parecia tão nervoso. Os seus olhos percorreram a região do meu pescoço e as suas mãos envolveram a minha cintura com firmeza.
Fechei os olhos e foi assim que tudo começou.
Primeiro, um roçar de lábios. Logo veio o primeiro selinho, seguido de outro. Ele beijou o meu lábio inferior e o superior com calma antes de beijar a minha boca por inteira. Sua boca bonita chupou os meus lábios e juntos, nós cedemos. A sua língua encontrou a minha e o seu corpo pressionou o meu. O nosso beijo não foi ousado, mas eu desejava aquele contato mais do que qualquer coisa na vida. E quando me dei conta, as suas mãos estavam dentro da minha blusa e a sua boca descia e chupava o meu pescoço. Não me importei. Eu não teria me importado em outras ocasiões.
Desde que fosse ele.
Eu não importo se o causador da minha dor é o dono dos meus pensamentos.
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