História Need you right away - "Professorzinho"

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Eu me lembro exatamente do dia em que o vi pela primeira vez. É, Min Yoongi chamou minha atenção no mesmo instante em que o vi. Não vou dizer que foi paixão á primeira vista, pois isso é um tanto clichê e nem foi exatamente o que aconteceu.

Era manhã de uma segunda-feira normal. Como todos os dias, andei pelos corredores cumprimentando os poucos alunos que costumavam chegar mais cedo na escola. Passei no refeitório para roubar um pouco do café delicioso que as cozinheiras preparavam antes de darem inicio ao trabalho, elas sempre me recebiam alegres e sorridentes. E, por ultimo, me dirigi até a sala dos professores.

Eu sou professor de línguas estrangeiras numa escola particular de ensino médio em Seoul. Na sala de aula eu ensino apenas inglês, mas sempre aceito quando alguns alunos me pedem ajuda com mandarim e até francês. Um dos meus objetivos como professor é poder me dar bem com meus alunos, assim posso conviver com eles e dar aula sem problemas.

Voltando ao foco inicial; Naquela segunda-feira, o inicio das aulas se atrasou por alguns minutos. Acontece que, na semana anterior, uma das professoras de matemática mais brilhantes da escola havia se aposentado então, obviamente, ela seria substituída. E se, por um acaso, você acha que quem a substituiu foi Min Yoongi, é, você acertou.

O motivo pelo qual ele atraiu minha atenção foi porque a diretora apareceu na sala aquele dia como uma rainha anunciando seu mais novo fiel escudeiro. Falo sério, pelo jeito como ela o apresentou, ele pareceu ser alguém muito importante pra mim.

- Bom dia! Esse é o novo professor de matemática, Min Yoongi. – Lembro que nossa querida diretora tinha um sorriso enorme no rosto, enquanto o homem, um pouco mais baixo que ela, analisava meus amigos de trabalho com uma expressão simpática. – Ele leciona em uma universidade á noite e, felizmente, aceitou nos ajudar por algum tempo.

Depois do discurso ela se virou pra ele e falou algo que só os dois puderam ouvir. Talvez ela tenha feito o mesmo no dia em que cheguei na escola, mas, é, eu fiquei meio enciumado com toda a formalidade que ele recebeu, ainda mais quando meus amigos começaram a comentar.

- Acho melhor nós nos conhecermos no intervalo, os alunos estão esperando! – Min Yoongi sorriu depois de nos alertar.

Todos pareceram concordar com aquilo e nossa rotina começou.

Eu trabalho apenas com turmas do ultimo ano. Depois do incidente, que não gosto muito de citar, isso se tornou meio que uma exigência minha. No inicio da minha carreira, uma aluna do primeiro ano se "apaixonou" por mim e bom, isso me rendeu uma dor de cabeça terrível. Então concluí que trabalhar com adolescentes mais velhos seria menos problemático, já que estes têm uma vida mais adulta e uma mente ocupada com assuntos mais importantes que sexo. Isso não resolveu de fato, mas os alunos são mais maduros e compreendem que nosso relacionamento não vai passar de 'aluno e professor'. Além do mais, eu tenho uma lista dos alunos que tem uma quedinha por mim, só pra eu tomar cuidado e não acabar aceitando dar aulas particulares fora da escola pra estes. Sim, é uma pena.

Ainda naquela segunda-feira, as primeiras aulas ocorreram bem, não tive problemas com conversas alheias e pude passar tudo o que eu tinha em mente. Quando isso acontece, o final das aulas sempre fica livre e os alunos me agradecem por isso. Então o sinal para o intervalo soou e eu esperei que todos saíssem pra que eu pudesse ir para a sala dos professores, como sempre faço.

- Oi – Eu andava pelo corredor, mas, quando ouvi a voz, parei. – Você é o professor Jung, certo?

Vi que ele estava meio atrapalhado com alguns papéis e uma pasta na mão. Nem olhava em minha direção, apenas vinha andando pra me acompanhar.

- Jung Hoseok. – Respondi, voltando a andar junto com Min Yoongi.

- Você é muito querido por aqui – Conseguiu se arrumar com os papéis e, finalmente, me encarou. – Perguntei aos alunos sobre os professores favoritos.

- Que nada, só estão querendo uma boa nota pro fim do ano. – Ri um pouco enquanto ele apenas sorria.

Chegamos á nossa sala, que já se encontrava lotada, e nos sentamos nos lugares que sobravam. Eram lugares meio distantes e Yoongi não fez questão de voltar a se aproximar, mesmo que parecesse querer.

- Hoseok – Ouvi a voz familiar ao meu lado. Era Namjoon. – Lembra do aluno que eu disse? Ele deixou outra carta na minha mesa.

- Eu falei que era melhor contatar os pais.

- Isso vai ser constrangedor pra ele, eu não quero ter que fazer isso.

- Então tenha uma conversa franca com ele Namjoon! Ele é um adolescente de menor e você é um adulto, professor dele!

- Essa obsessão de alguns alunos pode ameaçar nossa reputação nas escolas e acabar nos deixando sem emprego.

- Acha que eu não sei? To quase cogitando a ideia de vir dar aula fantasiado de mendigo.

Ouvi sua risada, mas não durou muito tempo. Então ele ficou calado por um momento e eu nem sei o que dizer, pois não prestei atenção no que diabos acontecia na sala aquele dia.

- E o novo professor? – Perguntou repentinamente.

- O quê que tem?

- Porque você não para de olhar pra ele?

Pisquei algumas vezes e me ajeitei na cadeira percebendo que durante toda a conversa com Namjoon eu continuava encarando o professor Min. Nem sequer tinha tocado no meu lanche.

- Eu não tava olhando, só tava avoado... Pensando. – Limpei a garganta e tratei de comer logo o sanduíche natural que eu havia levado.

Depois do primeiro dia, o que eu chamo de “período de acostumamento” começou, e Yoongi logo se tornou apenas mais um dos professores com os quais eu trabalho... Ou não.

Nossas conversas sempre são curtas, sobre a escola e isso ainda me deixa um tanto incomodado, pois eu costumo me aproximar bem rápido das pessoas. Por conta disso, comecei a pensar no que ele tem de diferente dos outros e, até agora, eu só notei que ele sempre fica mais quieto e calado. Na maioria das vezes, apenas observa e ri um pouco dos comentários engraçados que alguns dos nossos colegas soltam nos intervalos. É, eu tenho observado ele desde o primeiro dia, não é nada do tipo 'stalker', é só que eu ainda estou naquela fase de querer saber mais sobre a 'novidade'.

Os eventos esportivos na escola já passaram há alguns meses e, como em todos os anos, cada turma teve de escolher um professor para ser seu representante. Eu gosto de entrar com tudo no clima dos eventos escolares, além de distrair um pouco os alunos eu também acabo me divertindo. Era uma sexta-feira, faltava pouco para os eventos começarem e, o ultimo horário de aulas tinha sido destinado totalmente aos campeonatos esportivos que estavam por vir, então eu tava apenas ajudando os alunos com cartazes e dando sugestões de gritos de torcida naquele dia. Esse ano eles pareceram mais animados que as turmas do ano passado.

- Professor Jung? – Ouvi a voz me chamar seguida das batidas na porta já aberta.

- Sim? – Me levantei e fui rápido até a entrada da sala, assim que notei quem era. – Professor Min.

- Eu só vim saber qual das provas você topa fazer – Lembro que ele segurava um caderno e brincava com uma caneta entre os dedos. – Eu acho que arco e flecha deveria ganhar.

- E porque acha isso? – Divertido, semicerrei meus olhos suspeitando da sugestão.

- Com certeza não é porque eu sou bom nisso e vou ganhar medalhas pra minha turma. – Pela primeira vez, o vi tentar ser mais descontraído. Ri com ele.

- Tudo bem, você me convenceu, eu voto no arco e flecha. Apesar de eu achar que todos queiram ver os professores fazendo natação. – Observei enquanto ele parava de brincar com a caneta para anotar meu voto, ainda com um sorriso nos lábios.

- Então, é isso. – Deu alguns passos para trás fazendo menção em ir embora, mas parou. – Escuta, eu...

- Você...? – Fechei a porta da sala atrás de mim, apenas para encorajá-lo á continuar.

- Deixa pra lá, a gente conversa depois. – Parecia envergonhado.

- Tem certeza? Pode falar.

- Tenho certeza, não é nada importante. – Ele me deu as costas de repente e começou a andar indo em direção á sala seguinte.

- Ta bom. – Falei apenas pra mim mesmo, já que ele estava longe demais pra ouvir.

Eu não sabia que a frase "a gente conversa depois" pudesse significar um "nunca mais a gente se fala", mas, dessa vez, significou. Eu esperei por uma semana inteira que ele viesse me falar o que queria e ele apenas continuou quieto na dele. Eu podia muito bem dar o próximo passo, mas tenho medo de estar interpretando errado toda essa situação. Sempre tento me lembrar de que nem todo homem pelo qual me interesso é homossexual, então, quando não tenho certeza, prefiro não arriscar.

O dia dos campeonatos esportivos chegou. Minha turma se saiu muito bem nas provas, mas, na minha vez de competir, acabei não sendo bom o bastante. Yoongi tinha razão quando disse que entendia sobre arco e flecha, deixou todos boquiabertos quando, no ultimo tiro, ele acertou o meio do alvo. A turma dele ganhou em primeiro lugar esse ano e, bom, eu tive que me contentar com uma medalha de prata.

Então as provas do segundo bimestre vieram e depois as do terceiro e, agora, eu já perdi as esperanças de tentar me aproximar desse professorzinho estranho. Eu não sou do tipo que gosta das pessoas mais difíceis. Acho que já to velho demais pra bancar o galanteador e ficar investindo em relacionamentos que não vão durar. Além do mais, é loucura querer alguma coisa com um colega de trabalho.

Já estava começando a escurecer quando saí da escola indo até o estacionamento. Eu tinha concordado em dar uma aula de revisão na biblioteca para alguns alunos do segundo ano, já que é impossível recusar quando todos eles ficam implorando toda vez que me encontram pelos corredores. Coloquei meus materiais no banco de trás do carro e, quando eu já estava pronto para entrar e ir embora, percebi que eu não estava sozinho.

- Professor Jung? – Me virei, era Min Yoongi e seu suéter amarelo que eu sempre achei terrível.

- Longe dos alunos, você pode me chamar de Hoseok, eu já disse. – Sorri um pouco.

- Claro – Desviou o olhar por um segundo. Parecia nervoso. – Sabia que eu não to mais trabalhando á noite na universidade?

- Eu não sabia. – É uma noticia ruim? Porque ele não parece abalado.

- Pois é, agora eu to livre depois da escola então eu e você... A gente podia sair. – Sua voz saiu baixa no fim, mas, ainda assim, pude escutar claramente.

Não era uma noticia ruim, mas ele congelou depois de fazer aquele pedido atrapalhado. Por um momento, achei que ele tivesse parado de respirar, mas então ele suspirou e sorriu, como se tivesse tirado um peso enorme das costas.

- Tudo bem. – Respondi e assenti para deixar bem claro que eu também queria aquilo.

E nós dois ficamos parados ali, um olhando pra cara do outro, esperando que não-sei-o-quê acontecesse, porque o normal seria marcar um lugar pra que nós pudéssemos nos encontrar, já que iriamos sair, ou nos despedirmos e conversarmos no dia seguinte, mas acho que nenhum de nós dois é normal de verdade e, por isso, tudo fica um pouco mais constrangedor do que realmente deveria ficar.

- Espera, você ta me chamando pra sair, tipo, agora? – Tive que parar de encará-lo. Meu rosto estava queimando, espero de coração não estar vermelho agora. – É que eu já tenho um compromisso hoje.

- Não, não! Eu só pensei que... – Ele riu cortando a frase ao meio – A gente pode marcar depois então.

- É, amanhã a gente decide. – Concordei.

- Sim! – Travou por uns breves segundos. – Boa noite.

- Boa noite.

E ele me deu as costas repentinamente, daquela maneira engraçada como sempre faz, voltando pra dentro da escola. Assim que fiquei sozinho no estacionamento tive que rir de tudo aquilo. Fazia tanto tempo que eu não tinha um encontro que eu desaprendi á como agir nessas situações. Foi ridículo, mas não acho que ele esteja pensando nisso agora. Entrei no carro e antes de rodar a chave na ignição parei pra refletir e minha ficha caiu. Eu, finalmente, tinha um encontro marcado – na verdade ainda íamos marcar, mas ok – com a pessoa da qual eu tenho tentado me aproximar desde o inicio do ano. Eu sou demais! Não... Ele é demais!

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