Em St. Louis, uma rua mais humilde de Wetherby, Leeds, vivia uma família de presbiterianos. Ann Kikyou Wright, 28 anos incompletos, formada em Serviço Social e secretária de um advogado de sua igreja, era uma mulher de traços delicados e longos cabelos negros e lisos. Era uma batalhadora; filha primogênita de Kaede Wright, uma falecida senhora que era conhecida no quarteirão como uma mulher de fé.
Usando seu costumeiro terninho marrom, Kikyou tirou o molho de chaves de dentro da bolsa quando ouviu que alguém abria a porta por dentro. Logo se deparou com Kagome Higurashi, uma japonesa criada em terras inglesas que viera há um ano de Washington, EUA, rubra e com um sorriso amarelo no rosto bonito. A garota trajava um vestido multicor de lã fria. A mais velha a observou, desconfiada, enquanto entrava na saleta.
— Kagome, você não deveria estar na faculdade agora?
— Boa tarde para você também, Kikyou... – respondeu a mais nova incomodada com a frieza.
— Não me enrole. Onde está o Ray? Vocês estavam sozinhos aqui?
— Não estávamos sozinhos. Andy está aqui... Ele veio de Coventry de manhã e estava cortando o cabelo do... Ray — hesitou. — Agora está varrendo o quintal.
— Ah, que saudade do Andy... E o Ray?
— Foi tomar banho...
A mulher foi para o quarto e lá deixou sua bolsa. Saiu e foi até o quintal, se deparando com Andrew “Andy” Miroku Wright, seu irmão três anos mais novo, que deixou a vassoura e deu um abraço contido na recém-chegada, que lhe sorriu timidamente, cheia de carinho e saudade demonstrados no abraço.
— Andy, irmão, não lhe esperava aqui hoje. Que barba é essa? — questionou ela, divertida, tocando nos fios ralos de barba no rosto do rapaz, que era magro como ela e tinha olhos azuis sagazes. Era belo e charmoso, tinha 1,71m de altura e chamava atenção do público feminino quando ia com seus irmãos à igreja.
— Pois eu vim, Ann, linda. Estava com saudades de vocês... Peguei o trem das onze. E essa é a barba de Spurgeon[1] — brincou ele.
Kikyou olhou para trás e vislumbrou Kagome na sala ainda, folheando uma apostila. Baixou o tom de voz:
— Ela não fez nada inapropriado com Ray enquanto estive fora?
— Ora... Claro que não, Ann Kikyou! Kagome é uma moça ótima, trabalhadora, inteligente e de família – afirmou o rapaz, muito sério. – Não sei por que você cisma tanto com ela.
— Sabe, sim. Ela é sim uma boa menina, mas pode perverter o seu irmão. Ele é muito ingênuo e não tem maldade alguma. E eu já a flagrei olhando para ele com olhar malicioso. Essas meninas que vão aos Estados Unidos voltam maculadas, perdidas!
— Ann... – ia dizendo Miroku, em tom de alerta.
— Você sabe que tenho motivos para me preocupar, porque mamãe me pediu para cuidar da vida cristã de vocês dois, Andy. Não quero que nenhum de vocês vá para o inferno por causa de promiscuidade... – a moça se calou ao ouvir a porta do banheiro se abrindo.
Raymond Inuyasha Wright era o caçula da casa e, a despeito disso, o mais alto, bonito e corpulento dos três irmãos. Tinha vinte anos, olhos de uma curiosa tonalidade âmbar, cabelos negros bastos e curtos, tímido e um tanto bruto, com um quê de ingenuidade no rosto másculo que o tornava bem atraente do alto de seus 1,76m. Havia terminado o curso de Administração em dezembro passado. Saiu do banheiro sem camisa, com uma toalha jogada sobre os ombros. A primogênita do lar o olhou com expressão recriminadora.
— Onde está a sua camisa, Raymond?
— Keh! Não me chame de Raymond, pelo amor de Jesus Cristo, mana. Odeio esse nome.
— Não coloque o santo nome do Senhor no meio disso. Não fique sem camisa! Além de impróprio, você pode pegar um resfriado, já que não se secou direito! – repreendeu-o a moça em voz baixa, olhando para Kagome, distraída na sala. – Meu irmão, eu já lhe disse que não se deve dar ocasião...
— ... À carne – completou ele, entediado. – Mana, por favor, ela não vai ser tentada por minha silhueta magricela.
— Nunca se sabe! Essas garotas batistas arminianas [2]...
Miroku interveio, apaziguador.
— Mana, relaxe. O Inu deve ter esquecido a camisa no quarto dele, só isso.
— E foi justamente isso que aconteceu! — bufou o caçula. — Não gosto quando você julga minha namorada desse jeito, Ann Kikyou. Ela não é nenhuma herege só por ser batista arminiana.
— Me perdoe, não quis ofender... — volveu ela. — Mas, Inuyasha, isso tudo é pelo seu bem e pela sua integridade espiritual, afinal, vocês dois sabem que eu me importo muito com...
— ... A nossa salvação — responderam os dois. Kikyou ainda parecia um pouco aflita com a ausência de uma camisa no corpo de Inuyasha, de forma que Miroku estendeu a ele uma de suas próprias camisas polo, vestida instantaneamente pelo outro.
— Agora sim você está decente, Raymond...
— Inuyasha, mana! — resmungou ele.
— Raymond Inuyasha. Qual é o seu problema com o nome que papai lhe deu? Era assim que ele e mamãe te chamavam! Por que eu não posso?
— Papai e mamãe podiam me chamar assim, mas só eles. Esse nome é brega demais.
— Pois agradeça, mamãe queria batizá-lo como Joshua Inuyasha — argumentou Miroku.
— Keh! E eu lá tenho culpa de papai ter sido descendente de japonês e dar esses nomes multilíngues para nós?
Kagome, ressabiada, veio se aproximando dos irmãos Wright. Kikyou, que não havia descuidado dela por um instante sequer, indagou mais uma vez:
— Kagome, por que não está na faculdade?
— A professora de Didática faltou e o Inu me disse que tem um ensaio extra para o coro das crianças hoje. Quis ficar para ver.
— Ah, sim — fez a mais velha, descontraindo-se um pouco. — Bem, querida, acho que você vai gostar. Nosso coro infantil é simplesmente lindo.
— Que bom... Em nossa igreja, o coro é misto...
Sem que Kikyou notasse, Inuyasha piscou para Miroku, que piscou para Kagome.
— Ah... Ann — começou a dizer a mocinha. — É verdade que você faz pudim de passas?
— Ela faz, sim — respondeu Inuyasha, com entusiasmo. — E é absolutamente perfeito!
— Oh, Kagome, ela faz o melhor pudim de passas do mundo! — afirmou Miroku, abraçando Kikyou, que era mais baixa do que eles todos. Ela corou.
— Ei, meninos, não é para tanto.
— É, sim, Ann! A propósito, você não acha que o seu querido Andy aqui mereça um pudim bem caprichado, depois de chacoalhar por mais de uma hora dentro daquele trem vindo de Coventry? — indagou Miroku, brincando com as bochechas dela.
— Eu quero, Ann. Faça o pudim que mamãe fazia — implorou Inuyasha, com olhos pidões.
— Eu também quero! — pediu Kagome. A moça ergueu os braços:
— Calma, calma! Eu faço. Mas não temos licor...
— Eu compro, mana — afirmou Inuyasha, exalando prestatividade. — É só me dar o dinheiro.
— Não! Não, você não vai. Você não sabe economizar — replicou ela, e se antecipou ao pedido de Miroku, que também dava mostras de estar muito querendo ser útil: — E você também não, Andy. Eu vou comprar o licor. E precisamos de chocolate também.
— Mas você acabou de chegar do trabalho, mana.
— Não estou cansada. Hoje o ônibus estava vazio, pude vir sentada, Ray. Andy, tem algum trocado para me ajudar?
— Keh! Ray não, mana! — estrilou o caçula. Andrew Miroku tirou algum dinheiro de sua carteira velha.
— Tenho, querida. Aproveite e traga um pacote de açúcar... Aliás, traga o que tiver faltando aí.
— Trago... Falta aspargos, chuchu, pimentão, soja... — enumerou Kikyou, trocando os sapatos por tamancos simples, sem desconfiar da aparência excessivamente inocente dos jovens ali, que a seguiam por todo o lado, expectantes. Enfim, usando um coque apertado, blazer e saia de tweed, a primogênita da casa estava pronta.
— Até, meus queridos — exclamou ela, dando um beijo na testa de todos, inclusive na de Kagome, de quem ela realmente gostava, mas tinha uma grande cisma devido à sua confissão teológica. — O ensaio do coro é às sete, devo chegar às seis.
— Mas falta um quarto para as cinco, mana — interveio Inuyasha. — Por que você vai demorar tanto, se a mercearia fica no outro quarteirão?
— Menino, se eu comprar ali, ficamos sem dinheiro. Vou a McBride Way.
— Mas é longe demais — comentou Kagome.
— Nem tanto. O ônibus não demorará a chegar — afirmou ela, se afastando em direção ao portãozinho. Súbito, virou-se de uma vez: os três se sobressaltaram. Com o dedo em riste, e parecendo mais velha e mais autoritária do que realmente era, Kikyou declarou com seriedade:
— Andrew Miroku, eles estão sob sua responsabilidade. Cuidado também com os ladrões, viu? Aqui tem estado bem perigoso ultimamente. A espingarda continua no mesmo lugar de sempre... Raymond, Kagome... Vigiem. Sem gracinhas, hein?
— Sim, Ann! — respondeu Kagome, enquanto os irmãos diziam em uníssono:
— Sim, mana!
— Então, até mais! — disse ela, sorrindo maternalmente, e se afastando. Os três permaneceram estáticos olhando para a esquina onde Kikyou finalmente sumiu. Miroku, enfim, lançou ao seu irmão um olhar bem significativo.
— Ela provavelmente não vai demorar todo esse tempo. Seja rápido, Inu — e, olhando para Kagome, agora bem vermelha, arrematou: — Tome cuidado, mocinha. Nada de deixar esse sem-vergonha ir até os finalmente, certo?
— Certo — respondeu o casal, andando rapidamente para dentro da casa e do quarto de Inuyasha que, mal fechou a porta, agarrou a namorada, beijando-a com frenesi enquanto a prensava contra a parede desbotada. Alvoroçada em meio ao amasso e à visão de seu vestido sendo aberto, Kagome murmurou:
— Depois dessa, eu vou ser amiga de Miroku para sempre! Todos os detalhes do plano dele funcionaram como o relógio do Big Ben[3]!
— Meu amor... — ofegou Inuyasha, beijando um dos mamilos da jovem — Miroku é, sem dúvida, o cara mais esperto do mundo. E você... É a garota mais gostosa do mundo.
— Ora... Gostoso é você, lindo...
A garota pressionou a pélvis contra a do namorado, enquanto comentava:
— E Kikyou... É a irmã mais maternal do mundo...
— E também a mais severa! Ela é um anjo, mas consegue ser mais chata e rígida do que a mamãe!
Embolaram-se na cama de solteiro, ele colocando sua perna entre as dela. Gemeram, vermelhíssimos.
— Ah-ah, Kagome — fez ele, arregalando os olhos âmbares ao sentir que a jovem tocava sua intimidade por cima das roupas surradas. — Melhor não brincar com isso.
— Mas eu estou morrendo de vontade...
— Eu também, mas não devemos cair em tentação.
— Não adianta nada você me dizer isso tocando em meus seios — reclamou ela. O rapaz, sem jeito, começou a soltar de má vontade os seios de Kagome.
— Então eu não vou fazer mais iss-
Antes que Inuyasha retirasse as mãos dali, ela o beijou com volúpia, impedindo-o de se afastar. Então, rapidamente se virou, ficando por cima dele e abrindo o zíper de sua calça. O rapaz ficou desesperado ao vê-la retirar seu membro duro de dentro da roupa íntima.
— Kagome, pelo amor de Deus! Não faz isso! — sibilou ele, ao ver que Kagome baixava o rosto em direção à sua genitália, observando-a atentamente.
— My goodness[4]...! É a primeira vez que vejo um... Acho que estou pecando — murmurou Kagome. — Mas... Como será que esse negócio enorme cabe dentro da gente?
— Amor, PARA! Você está me provocando! — suplicou Inuyasha, suando frio. — Ouch! Não fique brincando com fogo, senão podemos ser levados para o inferno ainda vivos como mamãe ensin-
Kagome pousou os lábios e em seguida lambeu devagar a glande do pênis do aturdido namorado, que se contorceu sobre a cama.
— WOW! Kagomeeee, sua maluca... — arfou ele, ensandecido. — De onde você tirou essa ideia pervertida de... De...
— As m-minhas amigas me disseram que fazem isso com os namorados d-delas e eu... Eu quis ver como era! — respondeu a menina, baixando os lábios para o membro dele de novo.
— Ah, meu Deus! Eu não quero cair em tentação! — exclamava ele. — Isso é obra do demônio! Hmmm... — Inuyasha fechou os olhos; Kagome começou a sugá-lo. — Faz mais rápido um pouquinho só, amor?! Hurry up[5]!
— Hey... Isso... É gostoso, Inu?
— É perfeito, é uma maravilha! Vou fazer em você depois, quando a gente se casar...
— Ainda?! Eu estou sentindo minha calcinha molhada só de te ouvir gemendo... Faz hoje...
Ela se calou, se dedicando a fazer cuidadosamente sua primeira felação sem arranhar Inuyasha com seus dentes. O rapaz gemeu com a mão sobre a boca, sentindo que não faltava muito para o ápice chegar.
— Hummmm... Faço, amor, prometo... Mas continue aí, está tão...
— GOOOOOOL DOS NEWCASTLE FALCONS! GOOOOOOOL DOS NEWCASTLE FALCONS! — berrou Andrew Miroku lá de fora, meio apavorado.
Era o sinal. O casal se assustou:
— Ela está voltando!
Kagome mal teve tempo de se afastar para que Inuyasha corresse para dentro do banheiro a fim de se aliviar sozinho. Miroku, nervoso, aparecia na sala, jogando uma maçã para ela, que, já com as roupas devidamente arrumadas, a agarrou e a mordeu em franco desespero. Ele ligou a televisão em um canal esportivo qualquer. Os dois se sentaram no sofazinho velho.
Dois minutos depois, a primogênita dos Wright abria o portão cheia de sacolas.
— Foi rápida, mana — comentou Miroku, inocentemente. Kagome ficou um pouco incomodada com a face angelical do cunhado, mas, evidentemente, absteve-se de fazer comentários. Kikyou parecia não ter notado nada de errado.
— Ganhei uma carona de Miss Evelyn. Foi muito bom, senão eu teria ficado uns vinte minutos a mais no ponto de ônibus... Cadê o Ray?
— Ele disse que comeu um lanche que não caiu muito bem e está com dor na barriga, Ann. Tadinho — comentou a mais nova, incomodada com a própria mentira, ainda mastigando a maçã. Kikyou meneou a cabeça, indo para a cozinha e erguendo a voz:
— Raymond, sabia que gula é pecado?
— NÃO ME CHAME DE RAYMOND! — berrou um revoltado Inuyasha do banheiro.
— Gritaria também é pecado, seu rebelde. Ainda bem que eu trouxe antiácidos. Está melhor?
— M-mais ou menos... — gemeu ele lá de dentro, abrindo a porta depois de alguns minutos, lívido e pálido. Kagome corou ao olhar para seu rosto.
— Cuidado com esses excessos, meu querido. Comer demais faz mal e você está cansado de saber disso... Enfim... Prontos? Vou preparar o pudim. Ah, Miroku...
— Diga, mana.
— Os Newcastle Falcons estão jogando hoje? Eu não sabia.
Os três congelaram. Ann Kikyou, contudo, permaneceu serena, enquanto dizia:
— Enfim, tanto faz. Eu não gosto de rugby[6]. Então, Kagome, como anda sua monografia?
— Hein? Eu? Ah... — riu ela, sem graça. — Não falta muito para que eu termine, Ann, inclusive meu orientador disse que poderá até conseguir um estágio remunerado para mim e...
Assim se passou o anoitecer na casa velha dos irmãos Wright, onde eles comeram, conversaram amigavelmente e levaram Kagome até sua casa em Otley. O jovem Inuyasha, contudo, não dormiu bem à noite, se sentindo um pecador.
***
¹ — Spurgeon é um pregador protestante britânico que viveu no século XIX. Seus escritos e livros são muito queridos pela comunidade protestante nos dias atuais.
² — Arminianos são cristãos protestantes que seguem a linha de pensamento teológica de Jacobus Arminus, pregador holandês que viveu no século XVI. Tal linha de pensamento é contrária à que os presbiterianos tradicionais (Kikyou e seus irmãos) acreditam.
³ — Big Ben é o nome do sino do relógio famoso do Palácio de Westminster, em Londres.
4 — “Minha nossa!”
5 — “Depressa!”
6 — Rugby é um esporte parecido com o futebol.
***
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.