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História Nem por Meio Milhão de Libras! - Perfídia: Yura Smith mostra a que veio


Escrita por: Okaasan

Notas do Autor


Oi, pessoal. Mais um capítulo!

Curto e... Ouch. Complicadinho.
Perdoem eventuais erros, hehe. Estou adiantando essa publicação, já que as minhas próximas semanas serão muito corridas no trabalho.

Enfim... Vamos nessa.

Boa leitura!

Capítulo 33 - Perfídia: Yura Smith mostra a que veio


Fanfic / Fanfiction Nem por Meio Milhão de Libras! - Perfídia: Yura Smith mostra a que veio

Domingo à noite. Rin Tibiriçá conversava via WhatsApp com o seu namorado Kohaku Agnelli.

Rin: Então Naraku acordou, bichim, todo azoretado. Fiquei com dó... Sesshoumaru tinha chamado a Iza pra ir até onde a gente tava. Ela pegou ele assim nos braços, sabe, com tanto jeitinho que me deu até uma inveja. E Naraku parece que tirou o dia pra chorar, sabe? O cabra chorou igual menino pequeno levando peia. Mas foi bom, porque ele pediu desculpas pra Iza, eles se abraçaram e fizeram as pazes.

Kohaku: Não imaginava que o senhor Octavio tinha esses problemas tão sérios.

Rin: Ele é doente. Precisa de ajuda. Se ele não fosse ateu, dava pra gente carregar ele pros nossos encontros de terça-feira.

Kohaku: Ateu e sofredor, pois não conhece a esperança... Pobre homem. Vou rezar por ele.

Rin: Reze sim, ele precisa. Eu rezo por ele todo dia, aliás, rezo por todo mundo aqui.

Kohaku: Isso é bom. Agora, querida, diga-me... Eu cá tenho sentido necessidade de conversar contigo. Podemos nos encontrar amanhã?

Rin: Oxe, claro, meu bem. Eu fiz alguma coisa errada?

Kohaku: De maneira alguma, prezada. Só necessito desabafar, abrir meu coração para ti. Tu és a rapariga mais sensata que conheço, apesar de tão jovem. <3

Rin: Eita pleura... Hahaha. Tu me deixa toda encabulada com esse teu jeitinho todo pomposo de elogiar a gente. Tu é uma gracinha. <3

Kohaku: Vou visitar-te amanhã à noitinha então, posso? :)

Rin: Claro que pode. *-*

Kohaku: Vou banhar-me, volto mais tarde, minha preciosidade. Beijo.

Rin: Beijo, seu lindo! :*

No andar de baixo, John Sesshoumaru e Naraku Octavio estavam deitados cada um em uma cama; o loiro e seus pais não permitiram ao espanhol voltar para casa naquele dia. Após a crise de pânico de Naraku, medicaram-no com Rivotril e ele dormiu por boa parte do domingo; Sesshoumaru procurou estar por perto e abrandou nas ofensas corriqueiras contra o amigo. Ele estava dando tempo para o outro se recuperar emocionalmente — aí, sim, poderia aporrinhá-lo por causa da garota chamada Ann Kikyou.

Cada um tinha consigo um smartphone e fones de ouvido. Sesshoumaru também estava com a cabeça cheia de questionamentos; seus sentimentos cada vez mais fortes pela indígena brasileira, somados às lembranças do abraço trocado entre eles e o beijo de meses atrás, causavam no loiro uma grande inquietação, além da terrível insegurança que se abatia sobre si.

How long, how long will I slide? Separate my side, I don’t, I don’t believe it’s bad… — cantarolava ele de lábios fechados, baixinho, apreciando “Otherside” de Red Hot Chili Peppers. Seu estado de espírito estava em tons menores exatamente como aquela música.

Por fim, Sesshoumaru desistiu de ficar pensando demais e se levantou da cama, notando que Naraku estava muito atento a algo que ele via na tela do celular. Mesmo enxergando pouco, o loiro alcançou rapidamente a cama onde estava o espanhol, que olhou para ele intrigado. O psicanalista havia bebido menos água naquele dia, então seu rosto, pés e mãos estavam inchados.

— Que é, Mr. Magoo? — indagou Naraku, com voz fraca. Sesshoumaru mantinha os olhos fechados, já que forçava muito a visão durante o dia e sentia os olhos cansados.

— Fala que nem homem, filho da p***. O que você está assistindo? Pornô gay?

— Não, cabrón. Hoje me sinto tão exausto que meu pau nem quer subir. Estou vendo vídeos de capoeira.

— Para que? Não vai me dizer que você vai tentar aprender a luta vendo vídeos no YouTube...

— Que aprender a luta, tapado, eu quero aprender as músicas! Escuta, escuta — e Naraku tirou um dos fones de ouvido e o colocou na orelha do loiro. — Vai me dizer que esse ritmo não vicia?

— Só se for a você. A mim, não. Isso parece ritual de religião afro.

— Tem uma certa relação com religiões afro, sim, mas a luta não é um ritual. E eu gostei.

No momento, a música reproduzida no YouTube era “No dia que o berimbau chorou”. Sesshoumaru não entendeu muita coisa e também não perguntou nada ao amigo, já que não queria ser zombado. Retirou o fone e o devolveu.

— Ei, Sesshoumaru, escute mais.

— Eu, não. Essa coisa africana e barulhenta não faz sentido para mim, não entendo nada do que eles dizem!

— Coisa africana o c******, isso é cultura brasileira! Tem muita diferença! Vou procurar outro vídeo.

— E eu vou pentear meu cabelo.

O loiro se levantou e foi até sua cômoda; tateando até encontrar uma escova. O silêncio no quarto reinou por alguns minutos até que o espanhol começasse a cantarolar, com seu forte sotaque castelhano, outra música que estava ouvindo.

— “Exu Caveirinha, venha trabalhar... Levanta dessa tumba, faz pedra rolar...”

— O que é isso que você está cantando? — indagou Sesshoumaru. — Outra música de capoeira?

— É uma montagem com um vídeo da Beyoncé. Na verdade eu não entendi essa letra, mas o ritmo é muito contagiante! Vou pedir a Rin que me traduza essa. “Na mão esquerda a foice, na cinta o punhal...

As bochechas de Sesshoumaru arderam ao ouvir o nome da mocinha. Naraku, distraído, não percebeu nada e continuou falando:

— O Brasil é um país tão grande que nem a própria Rin consegue compreender certos dialetos. Por exemplo, tem algumas músicas brasileiras que ela não entende também.

— Hm. É? — disse o loiro, se fazendo de desinteressado. O espanhol desplugou os fones de ouvido do aparelho e selecionou outro vídeo no YouTube, clicando no play e reproduzindo-o no viva-voz.

— “Vem as loira, as morena, as branquinha e as pretinha... Senta ‘ni’ mim, xerecão, quica ‘ni’ mim, xerequinha”. Já perguntei para Rin, ela não sabe o que isso significa.

— Você decorou a letra dessa música, Naraku?

— Decorei... Não sei o que diz, mas os arranjos instrumentais são interessantes. Tum, tchatchá, tutum, tchá, tutum... “Senta ‘ni’ mim, xerecão...”

— Seja lá o que isso quer dizer, é muito repetitivo e essa voz é insuportável.

— Essa voz é podre. Nem sei como essa criatura conseguiu esses dois milhões de acessos!

O espanhol clicou em outro vídeo.

— Esse ritmo musical brasileiro parece uma mistura de miami bass, rap e freestyle — comentou o loiro, ouvindo outro funk de letra não muito polida: “Eu só queria ter um pau do tamanho um pé de mesa”.

— Nesse aqui dá para entender melhor as palavras, mas, mesmo assim, é meio bizarro... “Meu pau tá cheio de ferida”? Como assim, o cantor está falando de um tronco de árvore doente? Isso não faz sentido.

— Você parece saber um pouco de português do Brasil. Eu não entendo merda nenhuma.

A bem da verdade, o próprio Sesshoumaru compreendia algumas palavras em português, já que ele tinha fluência em espanhol, mas preferia fingir que não sabia.

— Estou tentando aprender com Rin — respondeu o espanhol, que naquele dia não estava com pique para zoar ninguém. — Mas é difícil pra c******. Que sentido tem essa outra frase? “Você goza na minha língua e eu gozo no teu peitinho”? Vou trocar de música.

— Eles usam sintetizadores — comentou Sesshoumaru. — É música eletrônica, mas muito diferente das que eu conheço.

— “Ai meu peru, ai meu peru, ela senta com a xota, ela senta com o c*...” — Naraku franziu o cenho e olhou para o amigo. — Estão cantando sobre um peru, é isso mesmo?

— Mas que p**** de voz irritante. Esse cara não canta, ele fica só repetindo a mesma coisa mil vezes! Ah, eu não gostei desse estilo musical não.

— Por quê?

— Não sei, só sei que não gostei. Me mostre a que você estava ouvindo antes.

— A de capoeira?

— Que seja. Não tenho nada para fazer mesmo.

Cierto... Vamos lá — e Naraku digitou, silabando: — E-xu... Ca-vei-ri-nha...

— O que esse negócio quer dizer?

— Não sei. Depois vejo no Google.

— Idioma mais esquisito — resmungou o loiro, enquanto Naraku procurava o vídeo e lia os resultados em voz alta. Havia caído numa playlist de pontos cantados de candomblé.

— Não há nada de esquisito no português brasileiro, seu chato. Cadê a musiquinha com a minha diva Bey dançando? “Exu Tranca Ruas das Almas”, “Ponto para chamada do Exu”, “Ponto de Pomba Gira”... Sumiu a musiquinha. Só aparecem resultados com umas imagens curiosas de negros. Será que estou na seção de músicas para rituais africanos?

— Deve ser. Essa que está tocando agora é bem dançante, não acha? Já pensou tocar isso numa rave? “Se os Pretos Velhos têm, os Pretos Velhos dá... Corre, gira, Preto Velho, corre gira no gongá...”

— Essa se chama “Ponto para o Preto Velho”.

Os dois confabularam sobre o assunto “conteúdos do YouTube do Brasil” até que o sono pesasse sobre ambos. Sesshoumaru retornou à sua cama e não tardou a dormir; Naraku, porém, se levantou silenciosamente e apanhou o Ultrabook do amigo.

O psicanalista tinha uma conta em uma rede social chamada Tumblr que lhe servia, muitas vezes, de diário. Ao logar no site, acessou sua página cujo nome era “Una Diva Soñadora” (Uma Diva Sonhadora) e seu avatar continha a foto de Janet Jackson, com cachos volumosos e revoltos como os que ele cultivava na própria cabeça. Ali ele expunha suas opiniões, desejos e confusões sentimentais, sob um nick que o manteria seguro no anonimato. No momento, o microblog continha 299 seguidores.

Suspirando, Naraku começou a digitar:

Boa noite, meus viadinhos favoritos.

Hoje estou me sentindo solitário e perdido no mundo. Sabe quando a sua vida parece um quebra-cabeças com peças repetidas e outras faltando? Quando você sente que precisa de determinada peça para que sua vida tenha algum sentido e você bate em todas as outras e não a encontra...? Estou cansado, muito cansado.

Vão se f**** todos vocês que lerem isso. Beijos.

 

***

 

Madrugada na casa da família Wright.

Andrew Miroku e Raymond Inuyasha dormiam placidamente, mas Ann Kikyou não sentia um pingo de sono. Não quando boa parte da vida de Naraku Octavio estava ali, na palma de sua mão; a jovem ficava vários momentos vidrada no conteúdo do smartphone, quando estava com tempo livre.

As inúmeras fotos íntimas do espanhol foram deletadas, bem como os vídeos. Uma única, porém, acabou ficando: era a foto que mostrava Naraku despido, de costas sobre a cama, com um olhar meio distraído. Muito provavelmente havia sido fotografado por outra pessoa e não o percebera; Kikyou ficou encantada com a subjetividade da fotografia, que lhe parecia quase artística. A jovem era capaz de ficar longos minutos apreciando a imagem do que, aos seus olhos, era o “Naraku de verdade”.

Foi quando a moça encontrou um app de notas e se deparou com mais de 20 arquivos com o título “Para o Tumblr”.

— Já ouvi falar em Tumblr... O que será, uma espécie de site? — e Kikyou foi pesquisar no Google. — “Plataforma de blogging... Postagens curtas que contêm textos, vídeos, imagens e outros conteúdos de mídia...” Não sabia que ele escrevia.

A moça viu o app do Tumblr no menu do celular e o averiguou, curiosa. Uma das publicações tinha um número infinitamente maior de “likes” e comentários. Apesar do título em espanhol, Una Diva Soñadora, o conteúdo estava todo em inglês. Kikyou resolveu começar a ler por ali.

 

Não vou dizer “bom dia”, porque o meu está uma merda. Tive outra crise de fobia do escuro ontem, me senti tão miserável que, se pudesse, nem saía de dentro desse quarto. Na verdade, eu gostaria de voltar no tempo, voltar para meus oito anos. Eu queria nunca ter batido naquela porta azul para pedir comida, queria ter morrido de fome só para não ter que passar por aquele inferno.

 

— Crise de fobia do escuro?! Pobrezinho... Que horror, meu Deus. Do que será que ele está falando? — e a jovem parou de ler, se surpreendendo com uma súbita vibração do smartphone: era a de um alarme sem nome. — Misericórdia, quem aciona o celular para tocar à uma da manhã? Naraku não é normal. Aliás... Nem eu. Preciso dormir, amanhã tenho que trabalhar!

E a jovem fechou o app do Tumblr sem terminar de ler o post tão acessado do espanhol.

 

***

 

Ao início do anoitecer do dia seguinte, Rin e Kohaku degustavam seus espressos con panna, café com creme, no Caffè Nero, perto da Abadia de Westminster. À jovenzinha parecia que seu namorado estava meio triste. O sanmarinense, após conversar trivialidades por um momento, suspirou profundamente e tocou a mão de Rin com leveza.

— Rin?

— Fala, meu .

— Sabes o quanto estimo tua pessoa, não sabes?

— Oxe... Sim, eu sei — volveu ela, corando.

— Rin, eu... Podes conceder-me teus pareceres sobre determinado assunto, querida?

— Err... Se eu souber, dou sim...

O rapaz coçou de leve o rosto e encarou a indígena.

— Rin, imagina a seguinte hipótese. Uma pessoa vive muito bem sua vida, porém com o sentimento de que algo não lhe vai bem. Tal pessoa percebe-se diferente das demais e gostaria muito de seguir à sua inclinação, todavia tal mudança radical de vida seria extremamente árdua, já que as pessoas ao seu redor não a entenderiam.

— Olha... Eu acho que entendi. Sabe o que eu acho, meu bem? A gente tem que ser o que é e fazer o que gosta. Olha aí, no mundo tá topado de nego desorientado por ir na cabeça dos outros e fazer o que não quer, aí tu vai ver e o cabra tá com depressão, frustrado... Né não? Cada um tem que seguir o seu caminho da forma que acha certa, desde que não esteja prejudicando seu-ninguém, entendesse?

— Não creio que seja tão simples a solução, prezada. Se tu segues um caminho diferente dos demais, poderá desagradar as pessoas ao seu redor.

— Mas aí tu vai ficar amarrado no que tu não gosta só pra agradar os outros?

— Não se trata disso — volveu o jovem. — Trata-se de desapontar a quem nos ama.

O casal se encarou profundamente; Rin ponderava sobre a colocação de Kohaku. De imediato, sua mente foi inundada com as lembranças de Mestre Kouga e Ayame implorando a ela para que não caísse na armadilha do casal de “agentes” de modelos. A morena piscou repetidas vezes, acabrunhada. Não havia como ser tão simplista na vida, no tocante àquele tipo de decisão.

Rin permaneceu quieta demais enquanto o rapazinho pedia a conta. Ele ficou apreensivo a princípio, temendo ter desagradado a namorada, já que era raro vê-la tão silenciosa. Ambos se colocaram de pé.

— Ahh... Rin, vamos sair daqui?

— Sim — murmurou ela.

— Espero que... Tenhas gostado do café.

— Gostei, meu bem. Deus lhe pague. Uma delícia!

Após pagar pelo que foi consumido, Kohaku pôs a mão no ombro da brasileira e ambos saíram da cafeteria. Diante de seus olhos, se exibia iluminado o Palácio de Westminster; atrás da belíssima edificação, estava o Rio Tâmisa. O casal se deteve a olhar para ele.

— Massa demais esse palácio — comentou Rin, encantada. Ao seu lado, Kohaku acrescentou, em voz baixa, temendo quebrar o fascínio da jovem pela vista.

— Um patrimônio mundial da UNESCO, querida. Esta construção se iniciou ainda no século XI. A moradia dos monarcas ingleses... Tem razão de ser um dos edifícios mais célebres do planeta.

— Eita pleura, é mesmo?

— São cinco quilômetros de corredores e cem escadarias — sorriu o garoto. — Queres pegar a Ponte de Westminster?

— Oxe! Quero demais, eu adoro passar por ela — respondeu a jovem, com um sorriso.

Alguns minutos de caminhada e os dois alcançavam a Ponte de Westminster. O vento que soprava do Tâmisa envolvia os corpos com seu frio e os fez tremer levemente. Rin olhou para o namorado e viu o quanto ele parecia desligado ao olhar para a correnteza iluminada pelas luzes do borough. Os dois estavam abraçados pelos ombros, fitando o rio, até que Rin quebrou o silêncio:

— Sabe, Kohaku...

— Oi?

— Se a mudança radical que tu falou aí vai ser boa ou ruim, só tem um jeito de descobrir: é tentando.

O jovem suspirou mais uma vez.

— Deves levar em consideração o fato de que certas mudanças podem ser extremamente drásticas e até irreversíveis.

— Meu , nem mudança de sexo é irreversível hoje em dia. Já li uma reportagem sobre um cabra que queria ser mulher, operou e tirou o bilau, aí não se adaptou e costuraram um bilau nele de novo.

— Ave-Maria. Este sujeito deve cagar dinheiro.

— E cagava, era um americano rico.

— Pois é..., De qualquer forma, Rin, eu não me referia a mudanças físicas e sim emocionais, entendes? Se tenho cá comigo certa inclinação e a sigo, corro riscos de desagradar as pessoas que me amam. Não me importaria com as opiniões da — e ele fez um gesto de aspas com os dedos — “sociedade”.

— É algo que vai prejudicar as pessoas ao seu redor?

— N-não exatamente — ele corou. — Digo... Não, não vai. É algo libertador para mim, se queres saber. E inofensivo para as pessoas que estão à minha volta. Minha tia Midoriko, que me auxilia nas despesas, apoia-me incondicionalmente. Mas, Rin... Tenho cá meus receios.

— Então eu vou te dizer o que acho disso tudo — afirmou a jovem, abraçando-o cordialmente. — Quem te ama de verdade vai te compreender, mesmo que demore a aceitar os teus motivos.

— Oh, querida...

Sentindo-se bem mais leve, apesar de não menos melancólico, Kohaku a abraçou fortemente de volta.

— Teu lugar em meu coração estará garantido para todo o sempre — murmurou ele. — Que nossa amada Rainha te conduza em cada passo, minha querida menina.

Após o breve momento de carinho, o jovem seguiu com a brasileira, levando-a embora para Ferguson Manor. Não tocaram mais no tal assunto, até porque Rin continuava com os pensamentos voltados para seus amados no Brasil e a angústia de estar ali, perdida no meio da Europa. Kohaku a deixou em segurança e retornou para casa.

Horas depois, depois que a mocinha havia se acomodado devidamente em seu edredom, um estalo lhe assomou à cabeça.

— Peraí... O que foi que Kohaku disse mesmo?! Mudança radical e libertadora?! Ele se sente diferente dos demais?! — e a jovem levou a mão ao peito, sobressaltada. — Minha Nossa Senhora do Perpétuo Socorro! Será que ele é viado e decidiu sair do armário?! — ela socou o colchão. — Onde é que eu tava com a cabeça de não perguntar?!

 

***

 

Andrew Miroku havia retornado à sua rotina de motorista de ônibus e chofer de Sandie/Sango Cameron. Ela, por sua vez, constatava dia após dia que seu coração estava inundado de um sentimento puro e tremendo pelo jovem. Insegura, porém, não tinha coragem de dizer a ele o que sentia, apesar do contato sexual quase diário de ambos.

Miroku fazia um lanche rápido no MC Donald’s enquanto conferia as mensagens recebidas no WhatsApp. Estava curioso: a tal colega de Sango, a americana Yura Smith, sempre puxava conversa com ele. Inocente, o jovem sempre respondia a ela, teclando sobre diversos assuntos.

 

Yura: E você com Sandie, estão namorando?

Miroku: Ainda não, mas eu vou lutar por ela até o fim. Eu amo aquela mulher de todo o meu coração.

Yura: Ah, entendo. Olha, honey, posso te dar um conselho?

Miroku: Sim, pode falar.

 

O que o singelo Andrew Miroku não sabia era que Yura odiava Sango e não suportava ver que a escocesa tinha um “peguete” bonito e tão devotado a si. Dois dias antes, a jovem americana havia pedido demissão de seu emprego no Instituto Craddock, já que havia conseguido outra oferta de trabalho em sua cidade natal, Seattle, localizada em Washington, capital dos Estados Unidos.

Ela agora aguardava o voo que a levaria de volta, sentada em um banquinho do Aeroporto Heathrow, enquanto sorria com perversidade para o aparelho.

— Sango — murmurou ela, olhando para a tela do WhatsApp e rindo baixinho. — Assista-me arrancar esse sorrisinho da sua cara.

De propósito, ela demorou a enviar a mensagem, sabendo por intermédio do próprio Miroku que ele estava indo para a casa da bela escocesa. Na verdade, ele estava a um quarteirão do Condomínio Strauss. Yura esperou até que ele ficasse online mais uma vez, quinze minutos depois.

Miroku havia chegado à sala de estar de Sango, que o aguardava rodeada de provas e relatórios e uma azia enjoativa. Trocaram um breve beijo, enquanto a escocesa dizia ao motorista:

— Querido, pode ficar à vontade enquanto eu organizo meu material, certo? Ligue a TV.

— Não, Sango — sorriu o jovem. — Não vou incomodá-la. Estou bem aqui — e ele se sentou no sofá, pegando o aparelho do bolso. Logo, novas notificações de mensagens apareceram na tela.

 

Yura: E aí, Andy, pode conversar agora?

Miroku: Posso, sim. O que você ia me dizer?

Yura: Eu ia te dizer para ficar de olho em Sango.

Miroku: Como assim?

Yura: Ela não é o que parece, só isso. Eu sei bem como essas pessoas sem caráter agem. Sei que é difícil para você saber disso, mas eu precisava te contar...

Miroku: Meu Deus, você está me assustando. Me contar o quê?

 

A essas alturas, as mãos do motorista tremiam e suavam, enquanto ele não sabia se olhava para o smartphone ou para Sango, que permanecia alheia a tudo com seus papéis. Yura lhe encaminhou um áudio; colocando os fones de ouvido, o jovem ouviu a voz de sua amada dizendo o que ele jamais esperaria que ela dissesse.

 

[Áudio, voz de Sango] Andy é um peguete bobo, Yura. Meu brinquedinho. Faço dele o que quiser, ele come na minha mão. Hahahaha! Sou poderosa, malvada, sim. Ele é patético, pobre. Depois te conto mais novidades! Beijos!

 

Miroku: YURA, POR FAVOR, DIGA QUE ISSO É UMA BRINCADEIRA.

Yura: Não é não.

Miroku: NÃO PODE SER. DEPOIS DE TUDO O QUE SONHEI VIVER COM ELA...

Yura: Deixa de ser bobo. Essa mulher é uma víbora. Saia fora dela.

Miroku: É MENTIRA, A SANGO QUE EU CONHEÇO NUNCA FARIA ISSO COMIGO!!!!

Yura: Desencana, Andy. Ela FEZ. Meu voo chegou, depois nos falamos! Beijinhos. :*

 

O áudio, cuja voz era realmente a de Sango, havia sido editado dias atrás de forma meticulosa, para dar a entender ao ouvinte que as palavras foram ditas naquela sequência. Entretanto, Sango jamais havia dito aquilo; todavia, não tinha como Miroku não crer no que lhe fora atirado no rosto.

A escocesa escutou soluços e ergueu os olhos, assustando-se muito ao ver Miroku destroçado, aos prantos, olhando vidrado para o celular. Levantando-se, ela caminhou até ele, condoída.

— Andy? Tadinho... O que foi, aconteceu alguma coisa com seus irm-

— Sango, o q-que... O que é... O QUE É ESSA P**** AQUI?! — berrou ele, descontrolado, brandindo o aparelho enquanto reproduzia o áudio. Ao ouvi-lo, as pernas da professora bambearam visivelmente e ela ficou sem cor. Era a sua voz, mas as palavras foram manipuladas de propósito.

— M-Meu Deus... Meu Deus...

Papeis caíram no chão.

— M-Miroku, isso não é...

— É VERDADE! ISSO AQUI É A VERDADE! ENTÃO TUDO NÃO PASSOU DE UM DIVERTIMENTO PARA VOCÊ?! — esbravejava o rapaz, tão furioso que assustava a escocesa. — EU NÃO IRIA ME IMPORTAR TANTO SE VOCÊ PENSASSE QUE SOU UM “BRINQUEDINHO” PATÉTICO E UM PEGUETE BOBO, MAS... P****, SANGO! P*** QUE PARIU! VOCÊ ME EXPÔS! ME ENVERGONHOU PARA AS SUAS AMIGAS!

— Miroku, isso s-só pode ser um mal entendido... Eu nunca...

— E DAÍ QUE EU SOU POBRE, SUA DALILA¹ MALDITA?! E DAÍ QUE EU SOU POBRE?! EU SOU UM HOMEM HONRADO! EU JAMAIS COLOCARIA VOCÊ NUMA SITUAÇÃO TÃO RIDÍCULA!!! — e Miroku não suportou mais, caindo de joelhos e rompendo num choro agoniado, dolorido, pungente.

Nervosíssima com aquilo tudo, Sango pegou o próprio celular e começou a ligar para o celular de Yura. Estava fora da área de cobertura, já que ela desligara o aparelho para entrar no avião.

— Yura... Yura, sua arrombada vagabunda, atende essa merda! — exclamava a jovem, aflita. Foi quando Miroku, num ímpeto de fúria, tomou o aparelho das mãos da escocesa e o atirou violentamente contra a parede, despedaçando-o. Ela deu um grito de medo; ele parecia fora de si.

— Não precisa se p-preocupar com esse celular que eu quebrei — vociferou ele, aproximando o rosto do da jovem. — O dinheiro pode te comprar mais um, ou dois, ou vinte iguais a esse... Agora... O que você me fez não tem perdão...

— Miroku, pare, por favor! Eu NÃO gravei esse áudio! — a voz de Sango se esganiçava. — EU NÃO GRAVEI P**** DE ÁUDIO NENHUM! ISSO É UMA ARMAÇÃO!

— VÁ SE F****, SUA MENTIROSA! VÁ PARA OS QUINTOS DOS INFERNOS! EU QUERO QUE VOCÊ SEJA INFELIZ PELO RESTO DA VIDA! SUA MALDITA! E NUNCA MAIS, ENTENDEU? NUNCA MAIS APAREÇA NA MINHA FRENTE! EU MUDO DE PAÍS SE FOR PRECISO PARA NÃO TER QUE SEQUER LEMBRAR DE QUE EU SUJEI MEU CORPO TE COMENDO, SUA... SUJA! PERVERTIDA, IMORAL!

— N-NÃO FALE ASSIM COMIGO! — Sango começou a chorar também, desatinada. — EU... EU TE AMO! EU M-ME APAIXONEI POR VOCÊ, ANDY!!!

— PARE DE MENTIR, SEU DEMÔNIO! TOME AS CHAVES DO SEU CARRO! EU... TE... ODEIO! ODEIO!!!

Um par de chaves de carro foi jogada no chão e Miroku, resfolegando, saiu de dentro do apartamento, deixando atrás de si uma Sango dilacerada. Ela levaria um bom tempo para conseguir se mover do lugar.

Era uma viva estátua da dor esculpida em carne e osso.

 

***

 

Miroku, sozinho dentro do seu quartinho, chorava desconsolado sobre a cama. Tudo ali lhe lembrava Sango; mesmo o cheiro dela parecia ter se impregnado em seu colchão. O som da voz da bela morena, seus toques, seus beijos... Aquele “eu te amo” gritado há alguns instantes atrás...

Mas o motorista sabia bem o que era aquilo: Sango tinha pavor da solidão. Ela deveria estar arrancando os cabelos por não ter mais companhia... Ou não, pensou ele, magoado. Talvez ela tivesse outros “peguetes” que não fossem pobres como ele era.

— M-mãe... Eu sinto tanta f-falta da senhora...! Quando a gente v-vivia juntos, eu... Eu me sentia tão seguro... Olha o que aconteceu comigo!!! Eu... Eu amava aquela mulher... Tanto, tanto...

E ele afundou o rosto no travesseiro, chorando alto como uma criança. Miroku não sabia que uma decepção amorosa pudesse estraçalhar tão completamente um coração doce, ingênuo e afável como o seu.

Uma dor infernal.

 

***

 

¹ — Dalila: Mulher que, segundo o relato bíblico, foi a responsável por enganar o juiz hebreu Sansão com promessas de amor e o entregou traiçoeiramente para os seus inimigos, os filisteus, que o cegaram e o fizeram de escravo.

 


Notas Finais


Sobre Naraku e Sesshoumaru navegando no YouTube brasileiro... #SemPalavras #TodasMorre huehue
Eles caindo nessas playlists de funk pesadão é uma referência ao que acontece com a maioria de nós: a gente vai ao YouTube ver um vídeo e aparecem uns vídeos relacionados mais nada-a-ver... hihi
EM TEMPO: as colocações sobre os pontos de candomblé não são de maneira alguma com intenção de ofender ningué, ok? #Respeito #Tolerancia #Empatia

Kikyou apagou os nudes, pessoal! \o/ A única foto que sobrou foi uma igual a esta: https://s-media-cache-ak0.pinimg.com/736x/79/d7/8d/79d78d4d1a378591d7dd1858d5fd3ae3.jpg
EEEEEEEEEEEEEITA... Ela #quase descobre o que ele tanto quer esconder!

Kohaku deu meia volta no mundo e não revelou o segredo! #CHESSUIS Será que ele é? kkkkkk Enfim, a Rin irá descobrir.

Agora, essa cachorrada da Yura... #TodasChora Eu fiquei emocionada com as reações do Miroku e da Sango. Mas a culpa é dela de ter gravado áudios para a demônia da Yura! Ainda assim... Como ela poderia prever, né, gente?
Pobre Miroku, pobre Sango... :'(

E é isso, galere. Boa madrugada e obrigada pela presença! <3
. @Okaasan


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