Kyungsoo apertou a mão que Chanyeol lhe estendia e forçou-se a sorrir um pouco.
― Sou o Kyungsoo. ― respondeu.
― Eu sei. ― Chanyeol abriu um sorriso enorme, que mostrava mais dentes do que Kyungsoo alguma vez imaginou que um sorriso pudesse mostrar. Depois percebeu o que ele tinha acabado de responder e ficou confuso.
― Sabes?
― Sei. ― Chanyeol sacudiu os ombros ― Somos colegas de curso. Temos história da música juntos.
― Ai temos?
― O ano inteiro. ― como se fosse possível, sorriu ainda mais ― Uma vez emprestaste-te uma caneta.
― Então és tu que tens a minha caneta do Snoopy?
― Culpado. Ah, e hoje dei-te o meu lugar na aula, por isso consideremo-nos nivelados.
Uma luz acendeu-se na cabeça de Kyungsoo assim que Chanyeol falou na aula. Então era daí que aquele moço lhe era familiar! Agora sentia-se um pouco melhor em relação à companhia dele. Não era um estranho qualquer ― era um colega de turma.
― Bem ― retomou Chanyeol ― vamos lá procurar o teu amigo?
Kyungsoo acenou, grato, e levantaram-se os dois em simultâneo. Mas nada preparou Kyungsoo para a escandalosa diferença de alturas.
Chanyeol era gigantesco.
Chanyeol era tão alto que Kyungsoo tinha de dobrar o pescoço para olhar cima.
Chanyeol era tão colossal que Kyungsoo ficou subitamente a sentir-se muito, muito pequenino. Como um chibi ao pé de um boneco de tamanho normal. David ao pé de Golias. Sinbad ao pé do Kraken.
Seria extremamente intimidante, não fosse o sorriso meio tolinho que Chanyeol exibia. Como um bolinho de arroz em tamanho maxi.
― Anda lá. Ele não pode ter ido longe. ― insistiu Chanyeol, indiferente ao espanto do colega, e, puxando-o pelo cotovelo, arrastou-o atrás de si no meio da multidão.
A casa era enorme e levaria uma eternidade a procurar Junmyeon e isso, associado à dor de cabeça que a ressaca começava a trazer a Kyungsoo, fazia-o sentir-se muito pouco alegre com toda a situação. Mas seguiu Chanyeol à mesma, com a esperança de que, pelo menos, o tamanho dele pudesse ser útil de alguma forma ― como ver onde ele não conseguia chegar. Isto tudo, enquanto o grandalhão se abanava ao som da música. Que tipo de pessoa era aquela?
Felizmente ― tanto para a dor de cabeça, quanto para o humor de Kyungsoo ― conseguiram finalmente encontrar Junmyeon ao fim de um quarto de hora. Invadiram uma casa de banho ocupada para isso, mas, segundo Chanyeol, valia a pena. Contudo, Junmyeon não estava sozinho.
A um canto, com a cabeça deitada na sanita, uma garota jazia adormecida, com um fio de baba a cair-lhe da boca entreaberta, e, mais à frente, sentado na bancada do lavatório, um Junmyeon sem camisa agarrava-se a um moço muito despenteado, enquanto as bocas de um e de outro eram indistinguíveis. Felizmente, Chanyeol tinha fechado a porta depois de entrar.
Kyungsoo não reconheceu o rapaz, mas a gargalhada que Chanyeol deu indicou que ele provavelmente sim. O casal afastou-se com essa demonstração de amor escandalosa, e ambos arregalaram intensamente os olhos ao vê-los ali.
― Soo! ― exclamou Junmyeon, procurando a sua camisa no meio dos produtos de higiene do balcão.
― Chan! ― o seu par (um moreno bonito que Kyungsoo reconheceu segundos depois como sendo a famosa crush do amigo) virou-se para Chanyeol.
― Bem, agora sabemos que os nossos amigos fugiram juntos. ― comentou este, divertido demais com a situação. Kyungsoo, por sua vez, olhava de um para o outro, demasiado atónito para falar.
― Chan, não me mates. ― implorou o amigo de Chanyeol, com um ar bastante desesperado ― Ainda preciso de chegar a casa vivo.
― Relaxa. ― Chanyeol sacudiu a mão no ar, relaxado ― Terminem aí o que têm de fazer, sim? Felicidades ao casal, quero ser o padrinho.― piscou o olho.
E dando uma última gargalhada, retirou-se da casa de banho. Kyungsoo, ainda confuso e incerto, foi atrás dele. A garota do canto continuava a dormir.
― Queres sair daqui? ― perguntou Chanyeol, surpreendendo Kyungsoo. ― Não aguento mais este cheiro a vómito. E a música é horrível, meu deus.
― Não posso. Preciso da boleia do Jun. ― surpreendeu-se com a rapidez com que conseguiu uma desculpa, apesar de ser verdade.
― Eu posso levar-te. Vives no campus, certo? Não custa nadinha. ― ofereceu-se Chanyeol.
Kyungsoo instintivamente quis recusar imediatamente novamente. Mas pensou duas vezes e, erguendo o indicador num pedido silencioso para que esperasse, voltou à casa de banho onde Junmyeon estava.
― Hey hyung? ― chamou, encontrando-o a abotoar a camisa, já de pé no chão. O outro moço, de quem Kyungsoo não tinha conseguido apanhar o nome, estava a abanar a garota do chão e a verificar se estava viva. ― Eu vou com o Chanyeol, por isso não te preocupes. Diverte-te, sim?
Junmyeon ia protestar, mas Kyungsoo fechou rapidamente a porta e correu para junto de Chanyeol.
― Então e para onde é que vamos? ― perguntou, sentindo-se estranhamente enérgico. Devia estar assustado por ir a algum lado sozinho, a meio da noite, com alguém cujo nome só sabia há meia hora, mas não estava.
― Não sei. ― Chanyeol parou a meio do átrio, pensativo. ― Que tal comer alguma coisa?
A ideia entusiasmou Kyungsoo, mas lembrou-se rapidamente que não trouxera dinheiro.
― Não trouxe a carteira comigo. ― lamentou-se.
― Não faz mal, eu pago. ― Chanyeol não parecia minimamente relutante ao fazer a oferta.
― Não posso aceitar isso. ― Kyungsoo retrucou, legitimamente desconfortável com a ideia de ficar endividado com o colega.
― Se vieres eu devolvo-te a caneta. ― ultimou Chanyeol, movendo as sobrancelhas sugestivamente. Kyungsoo deu por si a dar uma gargalhada.
― McDonnald’s? ― sugeriu Kyungsoo.
― Excelente escolha, Robin! ― Chanyeol tornou a mostrar aquele sorriso enorme ― Será que o Drive Thru ainda está aberto?
― Fechou à meia noite. Mas a esplanada está aberta até às duas.
― Então para o batmóvel!
E foi assim que Kyungsoo deu por si no lugar do pendura do carro de Chanyeol ― que, apesar de ser em segunda mão, não tinha ar de que poderia desmontar-se no meio da estrada, como o de Minseok ― a caminho do McDonnald’s mais próximo daquela zona, e a discutir o seu direito legítimo de ser ele o Batman. Só quando passaram por uma zona sem candeeiros de rua é que se sentiu ligeiramente assustado, mas o regresso rápido à zona habitacional relaxou-o. Além disso, Chanyeol estava a ouvir música indie, e Kyungsoo nunca tinha ouvido falar de nenhum serial killer que ouvisse indie.
― De modo nenhum. ― contestava Chanyeol, olhando pelo espelho retrovisor enquanto falava, e depois voltando a olhar em frente ― Já viste os meus músculos? Eu nasci para ser o Batman.
Kyungsoo riu. Chanyeol não era musculado, mas também não demasiado magro nem gordinho; tinha, no entanto, uma postura suficientemente sexy e atraente para poder ser um Batman. Mas jamais iria admitir isso.
― Mas porque é que eu tenho de ser o Robin? ― retrucou ― Podia ao menos ser o Super Homem ou…
― O Homem Formiga? ― interrompeu Chanyeol, com uma gargalhada.
Normalmente Kyungsoo ficaria ofendido com piadas sobre a sua altura, mas naquela noite riu. E riu com gosto. Porque Chanyeol conseguia ser engraçado onde outros falhavam com as mesmas piadas.
― Tudo bem, eu posso ser o Robin. ― acabou por aceitar.
✶✶ �� ✶✶
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