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História Nerve - Flashes


Escrita por: LustForJohn

Notas do Autor


Boa leitura, Observadores.

Capítulo 18 - Flashes


Acho que meu verdadeiro castigo é esperar as ordens no telão. Ou ouvir o som de sucção do canudo de Charli no fundo do seu copo vazio de milkshake. Tenho certeza que Zayn cochilou e Martin está lambendo o sal grudado com óleo na embalagem de pipoca. Eca.

Nick chama a atenção de todos com uma palma, fazendo Zayn despertar com um ronco assustado.

— Vamos quebrar o gelo, galera — diz Nick. — Que tal comentar sobre o desafio mais perigoso que fizemos nesta edição de NERVE?

Queria ter o carisma que Nick tem em conseguir ser legal com todo mundo. Martin parece se divertir com a ideia.

— Andei de skate na beirada de um prédio bem alto. E eu nem sei andar de skate. — Ele troca olhares confidenciais com Charli, depois solta uma gargalhada bem baixinha, como se estivesse lembrando de algo.

— Ah. Atravessei a avenida mais movimentada de Las Vegas em menos de 10 segundos — revela Charli.

— Você é muito corajosa — Martin beija sua boca, rindo.

Acho que isso pode ser interessante para passar o tempo, admito que tenho um pouco de curiosidade para saber o que cada um fez até chegar nesta sala.

Nick pigarreia.

— Bem, eu me pendurei do alto de um guindaste por cinco segundos — diz Nick. Martin assobia como se estivesse impressionado. — Pensei que eu não fosse conseguir suportar meu peso e iria despencar. O guindaste estava no alto de uma construção de mais ou menos vinte andares.

Puxo minhas pernas junto do corpo. Não gosto me lembrar disso, porque me faz lembrar de outra coisa.

— Como vocês já devem saber, eu fiquei parado de cabeça para baixo no alto de uma montanha-russa com a trava aberta. — Olho para Nick, que solta um sorriso irônico. Eu sei que ele não fez por mal, mas mesmo assim... — Pensei que fosse cair e virar mil pedaços no chão — acrescento.

Martin se endireita e gargalha para mim.

— Não seja bobo. Eles devem ter colocado uma rede lá embaixo caso algo desse errado. Um jogador já morreu jogando NERVE, devem estar tomando o dobro do cuidado.

Nick disse a mesma coisa no desafio do guindaste, mas mesmo assim quem iria confiar? De qualquer forma, não caí para descobrir.

Zayn estrala o pescoço dos dois lados.

— Escalei até o alto de uma torre de celular. — Ele abraça Gigi, que sorri graciosamente. — Nós dois.

Bella joga os cabelos para trás, como se não se importasse com o assunto.

— Cruzei uma escada extensiva deitada entre dois prédios de quinze ou vinte andares — ela diz, por fim. Depois finge entusiasmo. — Foi legal.

Com isso, concluo que NERVE não queria matar apenas Nick e eu. Ele quer matar todos os jogadores.

Respiro e solto minhas pernas, adquirindo uma postura ereta.

— Bem, acho que todo mundo passou por muita coisa até chegar aqui.

Finalmente as novas instruções aparecem, e começa a tocar uma música bem agitada.

VÃO CURTIR A MÚSICA!

Ninguém parece entender a ordem, até pontos de exclamação lotarem a tela como formigas agitadas. Olho para o resto dos jogadores.

— Acho que querem que a gente se reúna na parte vazia da sala — observa Nick.

Damos de ombros e fazemos o que ele entendeu da frase e nos levantamos. Carregando nossas pistolas, cujo rezo para serem de mentira, marchamos pelo carpete de borracha e paramos na frente dos armários coloridos. Ninguém mais aguenta cerveja nem nada.

Eu fico bem na frente do espelho, ao lado da porta por qual entramos. Os outros jogadores estão em cima de um ralo, enquanto Nick e eu estamos bem em cima do outro. Hum. Através do espelho, vejo olheiras se formando como hematomas ao redor dos meus olhos. Estou com mais sono do que Zayn? Nick aparece ao meu lado e também se olha no espelho.

— Se não estivéssemos com cara de defunto, daria uma ótima foto.

— Quem se importa com aparência? — Arquejo. Nick dá de ombros.

Eu tiro meu celular do bolso e abro a câmera. Nick coloca uma mão no meu pescoço e sorri. Ficaria melhor ainda se fosse pela minha câmera instantânea, mas mesmo assim esta foto vai ficar para sempre na minha memória.

Nos viramos para os outros. Apesar da música agitada, ninguém está dançando. Ninguém além de Martin, cujo balança os quadris com o ritmo. Zayn é uma múmia e Bella está de braços cruzados.

Um barulho de engrenagem rangendo soa de algum lugar dentro da sala. Então, o projeto acende no chão bem na nossa frente, de modo que a gente possa ler a mensagem dos ângulos em que estamos. A tela principal está apagada.

ESTAMOS QUASE ACABANDO!

PARA A PRÓXIMA TAREFA,

APONTE SUA ARMA PARA AQUELE EM

QUEM VOCÊ ESCOLHEU COMO VÍTIMA.

Droga.

Isso é carma. Eu não ouvi Camila e me envolvi nisso. Eu nem deveria ter me importado quando Zayn destruiu aqueles CDs na minha frente, quem eu queria impressionar me inscrevendo para aquele desafio do café? Eu deveria ter voltado para casa, como um bom garoto, e passar o final de semana todo estudando para as provas que vão cair segunda-feira.

Meu coração erra todas as batidas quando, sem nenhum remorso, vejo o buraco da pistola de Martin apontando para mim. Ele pisca para mim, dessa vez sem sorriso no rosto.

— Foi mal, príncipe. São as regras.

Zayn também não hesita muito em apontar sua arma para Nick. Ele parece mais desperto, mas permanece calado. Nick o encara de volta com fúria nos olhos.

Bella empunha sua pistola com as duas mãos na minha direção, olhando nos meus olhos. Ela está no lado extremo oposto do meu, no meio de Martin e Zayn, como uma cafetina.

— Você sabe que não precisa se preocupar comigo, Shawn. — Ela anuncia em alto tom. — Não sou sua inimiga.

Dou de ombros em resposta.

— Não sei mais em quem confiar.

Gigi é a única a hesitar. Zayn mira para ela, o olhar exigindo uma resposta. Sua parceira balança a cabeça.

— Estou com medo, Z. — Sua voz é rouca.

Zayn passa a mão livre no cabelo e arqueja para ela, que segura a arma no colo igual seguraria um estojo de maquiagem.

— Quanto mais rápido terminamos com isso, mais rápido voltaremos para casa.

Não sei quem se motivaria com essa frase de apoio, mas deu certo com Gigi. Com as mãos bem trêmulas, ela aponta para Nick, as pulseiras tintilando conforme ela levanta as duas mãos juntas. Espero que ela não trema o bastante para puxar o gatilho sem querer.

Charli é a última a apontar sua arma. Para mim. Estou nauseado.

Nick olha para mim e balança a cabeça. Ele assim como todos aqui dentro, também está com medo. Porém, ele não hesita ao apontar com sua arma para Zayn, cujo não parece se importar muito. Nick continua olhando para mim, esperando que eu faça algo.

Não quero ter que fazer isso, mas o sorriso de Martin está me provocando de uma forma nada racional. Em algum momento que não percebi, a música parou de tocar. O silencio é absoluto. Consigo sentir o mundo me observando por trás das câmeras.

Como não tenho nenhuma opção e desejo que o jogo acabe logo, empunho minha arma para Martin. Lentamente, Martin finge tirar um chapéu imaginário para comemorar minha ação.

A iluminação vai enfraquecendo aos poucos, deixando tudo mais arrepiante. O peso da arma começa a cansar meu braço. Detesto pegar nisto, é oleosa e grudenta. Sinto que extraviaram do primeiro policial nojento que encontraram.

Um bip ecoa e a próxima instrução é projetada no chão.

ENGATILHEM SUAS ARMAS.

Eu sabia que sobraria para mim. Tenho certeza que não carregaram as pistolas com confete ou bala de festim. Eu vou levar um tiro mesmo.

A mão livre e quente de Nick me assusta, depois me acalma.

— Você está tremendo bastante — ele sussurra perto de mim. — Respira bem fundo.

Se ele não tivesse falado eu não teria notado, então eu faço o que ele pediu e noto minha mão parar de tremer aos poucos. Minha voz também está trêmula, mas preciso protestar.

— Ninguém quer ver um bando de jovens se matando — gaguejo para quem estiver administrando o jogo.

A resposta pisca bem rápido no chão. Apenas eu, quem já estava olhando para a imagem, vê a mensagem.

JÁ SOMAMOS MAIS DE UM MILHÃO

DE OBSERVADORES ASSISTINDO AO VIVO.

Um milhão? Com uma soma lógica, vou sair daqui com pelo menos 15 mil no bolso por causa da monetização. Se eu sair vivo.

— NERVE vai por água abaixo se alguém se machucar pra valer aqui. — Tenho que lutar contra a vontade de soluçar.

Como a primeira, a resposta surge pouco tempo depois como um flash de câmera fotográfica, sem fazer nenhum barulho. Desta vez, Nick também vê a mensagem.

UMA PESSOA JÁ SE MACHUCOU

PRA VALER JOGANDO.

VOCÊ JÁ ESQUECEU, SHAWN?

Lembro-me do garoto caindo bem na minha frente, e tenho vontade de gritar.

— Parem! — vocifera Nick.

Os outros jogadores nos encaram com o semblante mais confuso que podem mostrar. Olham para o chão, mas a imagem já sumiu faz tempo. Porém, os alto-falantes bipam e o projeto volta a mostrar a mensagem que nos orienta a engatilhar a arma. Todos veem isso.

— Por favor, me escutem — anuncio para a sala. — Isso não vai acabar bem, querem que a gente se machuque em troca de dinheiro. Tem ralos espalhados pela sala, vocês estão bem em cima de um. Olhem para onde as espirais do carpete apontam. Vão drenar o nosso sangue quando tudo isso acabar e fingir que nada aconteceu.

Martin esfrega seu pé bem em cima do ralo no lado deles, acreditando na minha teoria. Pelo menos, apenas na parte em que esta sala possui ralos.

— São apenas ralos — ele comenta. — Tenho certeza que é para facilitar a limpeza.

Arquejo para ele.

— Então explica a porcaria do carpete ser de borracha. — Minha voz não soa nada diplomata.

— O príncipe pirou de vez. — Sua risada irônica me dá dor de cabeça.

Nada parece convencer Martin que vamos participar de uma carnificina. Com um estalo bem baixo, ele engatilha sua pistola, me encarando com um olhar devorador. Charli, após uma breve expiração, puxa o martelo de sua arma. O estalo na pistola de Zayn faz uma veia saltar na têmpora de Nick, que também engatilha a pistola. Viramos cães selvagens.

Zayn, com algum tipo de mecanismo mental, transmite confiança para Gigi apenas pelo olhar, cuja precisa puxar o martelo duas vezes para conseguir de fato engatilhar a pistola. Bella engatilha tão rápido quanto nossa amizade. Ela torce a boca e articula:

— Tenho certeza que a única coisa que sairá daqui é uma bandeira escrito “enganei o bobo na casca do ovo”.

Não entendo como ela consegue acreditar nisso, mas me sinto confortável por ela tentar ser otimista comigo. Nick chama minha atenção com um psiu.

— Eu sei que isso parece bizarro, mas é mais fácil do que parece.

— É fácil engatilhar uma arma apontada para alguém?

Segurando a pistola com duas mãos tremulas, puxo lentamente o martelo da minha pistola, fazendo um estalo ecoar pela sala silenciosa. Sinto que vou desmaiar. Apesar da iluminação fraca, percebo que Martin está sério. Seus pulmões denunciam que ele respira profundamente. Estamos todos numa pose fotográfica, como se estivessem fazendo um comercial e nós somos os figurantes.

— Estou ficando cansada — anuncia Charli em voz alta, todo o peso do corpo sendo sustentado por apenas uma perna.

Posso jurar que estou vendo a arma de Martin tremendo. Ele está ficando nervoso ou ansioso? Morro de medo dele acidentalmente disparar e meu sangue ser escorrido pelos ralos junto com minha alma — e alguns produtos químicos.

Arquejo para Martin.

— Que foi? — Pergunto, a voz baixa e mansa.

Consigo ver ele levantar uma sobrancelha duvidosa.

— Que foi o quê, príncipe?

— Você está tremendo igual um vibrador.

Ele ri gentilmente.

— Aposto que você quer usar este vibrador.

Eca.

— Só quero ter certeza que você não vai puxar o gatilho sem querer.

— Acha que não tenho capacidade de segurar uma pistola? — Seu tom agora é sério.

— Acho.

Ele levanta sua mão livre para apoiar o cabo. Sua postura, ameaçadora.

— Eu vou te mostrar quem é que—

Antes que ele possa terminar sua frase, as luzes se apagam de repente. Meu coração para. Este é o fim? Tenho medo de chamar por Nick e assustar alguém, provocando uma puxada involuntária no gatilho.

As lâmpadas de strobo acendem enlouquecidas, enchendo a sala de flashes rápidos. Consigo ver fragmentos dos outros jogadores olhando para os lados, mudando de posição cada vez que a luz pisca. As notas de uma trilha sonora de terror me ensurdecem, junto com o som explosivo de tiros.


Notas Finais


Espero que tenham gostado, meus queridos Observadores.

Não esqueça de deixar seu comentário.

Beijos.


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