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História Netuno - Não posso viver um dia sem você, vou tentar te segurar.


Escrita por: kyravee

Notas do Autor


hey ♡


| alerta gatilho: uso de drogas |

Capítulo 14 - Não posso viver um dia sem você, vou tentar te segurar.


Fanfic / Fanfiction Netuno - Não posso viver um dia sem você, vou tentar te segurar.

“A noite é dos poetas, das putas e dos que morrem de amor.”

 

 

Caí de joelhos sobre a neve, pressionando minhas unhas contra meu peito. As lágrimas molhavam meu rosto e o esquentavam perante o cenário gélido. Em uma tentativa falha de estancar meu sangue, tampei minha boca e narinas com minhas mãos enquanto visualizava o sangue pigmentar a neve.

Os trilhos de trem pareciam tão solitários quanto eu. Mas eu tinha o acréscimo da traição, ilusão. Fui pisoteada. Um tiro doeria menos. Tudo o que vai volta e eu fui traída, como se não bastasse todo o meu histórico. Minha melhor amiga se envolveu em toda essa confusão tenebrosa. Chul-moo me traiu com a Dak-ho, Dak-ho a traiu comigo.

Chul-moo: drogas, hype, sexo e músicas deprimentes de artistas aleatórios no Spotify até o sol raiar na Coreia do Sul. Me pergunto o que aconteceu em minha vida para que eu me rendesse ao seu veneno. Dak-ho... Esperava todas as decepções, menos você. Você foi parceira da Chul-moo ao me trair, e me usou para machuca-la. Por quê?

Sou um alvo fácil? – culpa feminina outra vez?

Joguei-me contra a neve, a dor do chifre parecia superar qualquer temperatura amena. Inspirei profundamente, apertei meus fios de cabelo e pressenti toda a desgraça por vir junto do embrulho no estômago. Vomitei, o sangue jorrou pela imensidão nívea e me fez chorar mais ainda.

Estava perdida, havia me perdido de múltiplas maneiras. Toda a minha singularidade jogada aos quatro-ventos.

Passei meus dedos em minhas lágrimas, agressivamente, manchando minha face com o escarlate do sangue derramado. Haxixe – e outras cositas. Levantei-me bamba, agarrei minha garrafa aliada e sentei-me em um banco da estação esquecida de trem.

Trem, gelo, sangue e cachaça barata. Fora o tramadol – e outras cositas.                                          

Como eu cheguei aqui?

Como eu deixei tudo se levar a esse ponto? Cruel, desumano.

Namjoon disse que todos nós fazemos essa pergunta em algum momento de nossas vidas. Talvez fosse cedo para eu me fazer essa pergunta. Sou jovem demais para todos os meus erros. Estava me matando aos poucos, conscientemente.

É cedo para estar tão perdida.

Não concluí meu estudos, atingi a maioridade visando livrar-me da responsabilidade escolar. Todos os dias de merda, rodeada por alunos talentosos contidos, autoridade conservadora e controladora de adolescentes. Quem suporta todos os danos é um verdadeiro super-herói. Eu não fui.

O assédio banhado a autoridade escolar, os casos ignorados pela diretoria. Todo o bullying, as crises psicológicas e enfim os usuários de droga. Podemos culpa-los realmente?

É cedo para Park Suk.

É cedo para ter feito três abortos, ser expulsa de casa e levar esse segredo para o túmulo. Surpresa: ninguém te conhece verdadeiramente, você sabe e deve sustentar suas próprias merdas sozinha.

Minha família não era mais um lugar seguro para se manter. Não quando sua mãe faz lavagem de dinheiro pela igreja, não quando seu pai vive uma fantasia de perfeição inexistente. Expulsa de casa pela tentativa – bem sucedida – de aborto. A história que conto é o oposto: expulsa de casa por questões sociais, sou bissexual.

Quando meu irmão mais velho partiu tudo ruiu conforme seu caixão fora para entre os grãos de terra. Não falamos sobre isso, escondemos as fotos, apagamos os anos com toda a nossa dor. Fingimos que o que nos unia não morreu.

Jimin e eu não conversamos sobre ele.

Não dialogamos sobre meu aborto – os três, sobre meus namoros entrelaçados, sobre os meus vícios sustentados por ex-colegas de classe, sobre os meus sentimentos ocos em relação ao Namjoon.

Jimin e eu nos amamos. Mas conversar é difícil. Por isso converso sozinha, crio minhas próprias narrativas beiradas em loucura fresca.

Às vezes converso com Namjoon. Depois da traição, do uso, conversei com ele. Foi a primeira pessoa que encontrei ao chegar em casa. Eu tinha uma melhor amiga. Mas ela morreu para mim. confessei em prantos. Doeu. Ainda dói. Não sou uma boa vadia, infelizmente. Não era apenas a traição, era a soma de todos os fatores que pesavam em meus ombros.

Quando fui expulsa de casa, pela primeira vez, liguei para Namjoon. Ele não atendeu, estava ocupado com Seokjin no hospital. O traí com o Jack. Não há justificativa plausível para o que fiz. Só queria me sentir viva, após meus pais trucidarem tudo o que eu acreditava ser bom em mim. Jack ajudava em meus vícios, bancava meus “desejos”.

Coloquei os fones de ouvido, permitindo que o celular escolhesse minha trilha sonora. A nossa música, minha e de Jimin.

O vento bateu contra meu rosto, o cheiro de sangue penetrou minhas narinas e meu estômago doeu.

 

 

Minha alma renasce, mas é como se tudo tivesse acabado.

Eu me sinto tão profundo...

Meu ombro está carregado, mas eu não desisti

Não terminou, não terminou, não terminou

 

 

Sorri enquanto fechava os olhos. Talvez fosse bom eu me sentir assim, certo? Desta forma eu aprendo que não devo trair as pessoas.

Meus ombros relaxaram levemente, desejei uma xícara de café quente e um corpo imóvel em um só lugar. Estava entorpecida, meu corpo parecia viajar por locais desconhecidos e coloridos. Abri os olhos doloridos, precisava checar se continuava naquele banco. Respiração acelerada, paranoia encontrada.

— Lindo rosto. – A voz fina misturada ao grave me assustou levemente por vir justamente de um ser humano ao meu lado. Mas que porra, de onde ela surgiu? – Você nunca vai conhecer o psicopata sentado ao seu lado, nunca vai conhecer o assassino sentado ao seu lado. – Isso pode soar assustador, ela pode ser uma "assassina ao meu lado". Uma psicopata mais velha, mais alta e de ótimo gosto para roupas. Seu timbre lembrou-me de Yoongi, o que me fez sorrir. – Qual seu nome?

— Park Suk. – Preferi olhar para meus joelhos, os quais também sangravam. Escorreguei descendo a escada da estação, anteriormente. – Pode me chamar do que quiser, mas não me chame de rainha. E qual seu nome? – A drag, visivelmente, me deu um sorriso desajeitado.

— Montada: Queen Nygioo! Seu nome é masculino, não é? – Assenti. – Então, certamente irei te chamar de rei ao invés de rainha. Gosto de sátiras à sociedade. – Ri brevemente com seu comentário direto. – O que aconteceu com você?

— Fui traída pela minha melhor amiga. Na verdade, a garota A me traiu com a minha melhor amiga, e depois a minha melhor amiga traiu a garota A comigo. Entende? – Após alguns segundos, a maquiada balançou a cabeça positivamente. – Perdi meu emprego provisório ontem, ia ser bibliotecária. Além de perder minha erva, meu trabalho e quem eu sou, estou morando de favor na casa do meu cunhado, junto do garoto que eu amo e traí, e de um menino extremamente simpático, que na verdade também é traído com o atual do meu ex. – Não foi somente muita informação para vocês, Queen Nygioo ficou paralisada por um momento. – É isso, estranha-que-eu-provavelmente-nunca-mais-verei-na-minha-vida. E o que aconteceu com você, querida?

— Meu filho mais novo se suicidou há um ano e ainda não estou recuperada. Além de drag queen como emprego e arte, perdi meu último trabalho em busca do meu maior tesouro. Perdi minha erva também, temos isso em comum. E... Tem uma leve chance de eu ter perdido um presente especial para uma pessoa que eu não vejo há anos.

— Me sinto um pedaço de lixo agora. Você obviamente tem uma vida mais complexa que a minha. – Murmurei, a vendo fazer uma expressão surpresa. – Como eu posso errar tanto? – Ouvi um suspiro longo de sua parte. Poucos segundos depois, uma de suas mãos envolveu meu queixo e o levantou para sua direção.

— Rainha, as pessoas apontam todos os dedos na sua cara, julgam seus erros e seus acertos. É natural do ser humano, nascemos com o pré e o pró julgamento. Por tantas críticas mal pensadas, você acaba se esquecendo das coisas boas que faz e se concentra apenas nos mínimos estragos que fez. Você esquece seu próprio potencial enquanto tenta agradar os outros e segurar o mundo com seus próprios braços. Você esquece sua própria felicidade. Siga o conselho de uma nobre drag queen: seja o que quiser ser. No final, é o que você realmente é. E sim, isso é o contrário de viver o que as pessoas acham que você deve ser. – Fechei os olhos enquanto processava suas palavras. – Quer se chapar? – Um belo desfecho.

— Por favor. – Fiquei um pouco desnorteada com tudo... isso. – Tenho, meramente, poucas pílulas e como te disse eu perdi a minha erva. – Ergueu as sobrancelhas, passeando dois dedos pelo meu rosto. – Meu nariz e boca sangraram antes, espero que não se importe.

— Tudo bem, quero algo mais forte. – Ignorou minhas palavras. Finalmente pude notar os traços da queen. Vestia uma bota cano alto preta com um jeans justo e marcador de cintura, uma manta violeta, batom vermelho, peruca ruiva e um casaco de lã preto. Consigo levava uma mala.

— Por que está montada agora? – Indaguei.

— Fui fazer um “teste” em uma das boates daqui, minha performance foi boa o suficiente para me contratarem. Pronto! – Retirou de dentro da mala o que queria “usar”. Reconhecia, já havia experimentado. Entretanto, jamais admitiria.

— Não, obrigada. – Foi tudo o que consegui falar após ver o item sobre suas mãos, era necessário evitá-lo.

— Como assim? – Perguntou confusa. – É de graça, Suk. E vai diminuir a dor dos seus joelhos lacranados...

— Isso é pedra. Não uso isso; – Menti. – meus amigos não gostam. Eles odeiam.

— Tenho coca também, só que eu queria algo forte. – Tombou a cabeça para o lado. – Nunca experimentou?

— Me perdoe se eu sou controlada. – Meu controle não possui lógica. E, novamente, uma mentirinha. – Fora que já estou meio... chapada. Não sei nem como vim parar aqui. – Mordi meu lábio inferior em apreensão.

— O que é preciso se fazer para conseguir uma acompanhante de fumo? – Brincou, fazendo-me rir. – E se eu lhe arranjasse a garota que acabou de chegar? Me acompanharia? – Queen apontou na direção de uma mulher alta, com bochechas cheias e cabelo liso. – É só aceitar me fazer companhia! – Quando que ela arrumou tudo aquilo ali?

— Vou ter a garota? – Eu não queria a menina. Quando você está devastado, sem rumo, sem uma definição racional do que sua vida se tornou graças aos seus próprios erros, você simplesmente aceita o que a vida te dá. E eu precisava urgentemente de algo da vida, um presente. Um presente repetido, que meu sangue conhecia bem. – Só fumar?

— Fique tranquila, dará tudo certo, Park Suk. A dor vai diminuir.

 

 

A dor não diminui. Não se cala, não some. Ela aumenta, a fome de meu espírito aumenta.

 

Minhas pupilas ardiam, meu pulmão se perdeu e o cérebro derretia em sangue fervente. Iria derreter lentamente até atingir o inferno com toda a minha podridão.

Só conseguia enxergar Namjoon. Calça e moletom cinzas, fones de ouvido em sua corrida matinal no frio de PyeongChang. Cabelos batendo levemente, boca entreaberta e o suor escorrendo.

Na escuridão, só vejo você.

 

 

Corri como se minhas pernas não tivessem cansaço, a neve entre os dedos fazia-me sangrar. Mas Jihyun segurava a minha mão, estava comigo.

 

××× ×××

 

Saí do táxi com certa pressa, olhei para a lua tão brilhante quanto o gozo de um desconhecido em meus dedos. Sorri alegremente ao ver a porta da casa do Yoongi aberta. Parecia estar ouvindo sirenes, luzes coloridas por toda a parte. Deveria estar sonhando.

Era só entrar, ir direto para a cama e dormir. Vou dormir sorrindo. A pedrinha me levou mais longe com as mulheres do que a lucidez. Ganhei os tais presentes da vida. Eu só posso estar muito feliz!

Andei com passos tortos para dentro de casa.

— YOONGIIIIIIIIIIIIIIIIIII! – Gritei, caindo no batente da porta e rindo com voracidade. – HOSEOK, NAMJOON! – Berrei, meu corpo havia deslizado e eu não conseguia me levantar do chão. – Vocês estão ai? – Passei os dedos em meu rosto, sangue outra vez. – Estou sangrando... – Sussurrei em meio a uma tosse sangrenta. – Alguém me ajude... Estou derretendo. – Sussurrava, como se alguém fosse capaz de ouvir. – Jimin! – Exclamei, agora com o tom de voz normal.

Soquei o batente, o sujando com o sangue que não parava de escorrer dentre minhas narinas. Ri de sua cor, seguidamente rindo das expressões dos garotos ao meu lado.

Estavam todos lá, exceto meu irmão.

Arqueei as sobrancelhas, haviam outros dois homens uniformizados e desconhecidos. Engoli em seco, sentido o gostinho metalizado. Yoongi inspirou profundamente, todos olhavam-me preocupados.

 

— Me perdoem! – Foi tudo o que consegui dizer. – NÃO VAI ACONTECER DE NOVO!

 

— Você passou cinco dias fora de casa. Achamos que podia estar desaparecida, morta. – Jung Hoseok possuía a voz trêmula. – Você passou cinco meses fora da casa de seus pais. – Um enorme ponto de interrogação se manteve em meu cérebro. – A polícia de PyeongChang lhe procurou por todos os cantos da cidade. – Tossi, contemplando a dor em meu tórax. – Você será internada. – Falou rapidamente, retirando-se do recinto.

— Hoseok?

— Sukkie. – Min Yoongi tomou a palavra. – Estamos preocupados. Você está se despedaçando tragicamente, bem na nossa frente. Na frente de pessoas que te amam... – Meus olhos voltaram a arder. – Cinco dias longe da nossa proteção, usando algo que combinamos não usar. – Passeou os dedos por meu cabelo. – Você terá que ir.

— Não deu nada de errado! Eu me lembro de tudo! Conheci uma drag, ela me aconselhou em tudo e depois eu transei com algumas garotas. Não fiz por maldade! Nem sabia que se passaram cinco noites... Foi uma única vez.

— Não foi algo único. – Kim Namjoon teve sua vez de abrir a boca. – Você assaltou uma loja de posto de gasolina, ameaçou incendiar uma casa, recebemos ligações de pessoas aleatórias dizendo que você queria as matar... Você ligou para mim gritando que havia esfaqueado alguém. Você precisa de reabilitação!

— Não, não, estão errados! Não fiz nada disso, como que tem certeza de tudo isso? E vocês também precisam de reabilitação!

— Suk, você vai embora! – Namjoon deu a última palavra. – Está sangrando, está se desfazendo. – Pressionou suas mãos contra o rosto. – Tenha uma boa vida na reabilitação, Park. – E ele se retirou do local.

— A vida precisa de limites, senão estaríamos todos fodidos. Quer um conselho de quem tentou viver cada dia unicamente sem restrições? Você vira a porra de um viciado que precisa de terapia semanal, e que não consegue viver por conta própria. – Yoongi suspirou. – Boa sorte na clínica, Sukkie. E me desculpe, não tive escolha.

 

 

Eu não sou especial ou algo assim, mas sempre senti que você estava lá...

Me senti assim

Tudo queimando deve ser cinza, você pode lembrar que agora é tarde demais.

Eu me senti assim


Notas Finais


explicações sobre este capítulo: havia outra parte desse capítulo, porém eu preferi cancelar a postagem e resumir todo o estado deplorável da suk.
observação: a história não tem a intuição de fazer apologia às drogas e nem o encorajamento de usá-las.

música [escolhida em 2017]: Heathens - twenty one pilots
× https://www.youtube.com/watch?v=UprcpdwuwCg&ab_channel=FueledByRamen
música [escolhida em 2020]: Hislerim - Serhat Durmus
× https://www.youtube.com/watch?v=LTMjsgS_c9M&ab_channel=TrapNation

twitter: https://twitter.com/ihateyoufdp
instagram: https://www.instagram.com/veronicappicinini/?hl=pt-br
carta de um romântico de esquina [namjoon + jungkook]: https://www.spiritfanfiction.com/historia/carta-de-um-romantico-de-esquina-15790263
take me to church [jimin + namjoon]: https://www.spiritfanfiction.com/historia/take-me-to-church-11098493


| capítulo corrigido |


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