História Never be alone - Good bye?

- Estou sabendo que tem gente de namoradinho novo?! Digo, velho. – Abby falou, toda animada no telefone.

- Como é que você já esta sabendo? – Comecei a rir. – Não somos namorados, Abby.

- E vocês são o que então? – Falou, e pude imagina-la revirando os olhos. – Ficantes? Peguetes? Amizade colorida, talvez? – Deixei Abby perdida nas suas opções sozinha e remexi em Morgana, a acordando. – Deixa de ser besta e se permite isso pelo menos uma vez na sua vida. Pensa positivo, pelo menos ele não é aquele Ethan. – Senti o desgosto na voz dela.

- Para, ele não é tão ruim assim, ok?

- COMO NÃO? – Respondeu, indignada. – Ele bateu no Shawn! E aposto que quase bateu em você também! – Ela parou por um tempo.

Certo. Essa parte não tinha contado para minha mãe e automaticamente, Abby não deveria saber. Quase engasguei com o ar quando ela falara, mas me mantive como se não tivesse me afetado. Se tinha uma coisa que me admirava na Abby é que ela sempre conhecia as pessoas. Sempre conhecia tudo. Ela poderia saber suas atitudes por um minuto de conversa. Talvez fosse por isso que eu sempre acabava ficando brava com ela, porque no final, ela sempre sabia como eu iria reagir. Abby parecia pressentir quando algo não era suficientemente bom pra as pessoas ao seu redor e sempre sabia argumentar com isso. Por isso era uma advogada tão boa. Ela pegava a mentira nas pessoas. Era seu super poder.

– E porque diabos você ainda esta defendendo ele?!

- Tudo bem, Abby. Espero que você não venha para cá agora – Falei e senti-a pigarrear.

- Por que não? – perguntou, e quase pude ver a magoa estampada em seu rosto.

 - Porque sei que na hora que você ver o Ethan, você vai espanca-lo.

Ela começou a rir e concordou. Felizmente, ou infelizmente, ela não estava aqui. A confusão teria sido muito maior se Abby soubesse de Ethan, pelo simples fato de que ela não o perdoaria e muito menos deixaria aquilo quieto. Ela, no mínimo, teria ido atrás dele no outro dia e provavelmente falar que o processaria e arrancaria até as cuecas dele. O que de verdade, eu não duvidaria.

- E a faculdade?! Já preparou suas coisas?

Abri os lábios para responde-la, logo parando quando escutei alguém bater na porta, desesperadamente. Estiquei o olhar por sobre a escada, como se eu pudesse enxergar alguma coisa com a porta fechada.

Retardada.

- Abby... Já eu ligo pra você, estão batendo na porta. Beijos, tchau, te amo – Falei correndo e desliguei antes mesmo de obter uma resposta.

Desci as escadas com o coração começando a acelerar.

Abri a porta e dei de cara com Aaliyah.

Respirei, aliviada.

- Aaliyah? – Indaguei, quando vi a expressão de desespero em seu rosto. – O que houve? – Olhei para os lados, imaginando que Shawn estivesse com ela, mas não estava.

- Ethan foi lá em casa – Aaliyah pareceu ofegar. – Ele e Shawn estão lá em frente de casa – Passou a mão na testa, como se procurasse se acalmar. Aaliyah olhou para o chão, até voltar a me olhar novamente. – Estou com medo, Leah. Você precisa ir lá. E se Ethan bater nele de novo? – Ela pareceu estagnada com a ideia e fui obrigada a acompanha-la.

E eu estava defendendo esse imbecil a minutos atrás!

 - Onde estão Manny e Karen?

- Trabalhando. Leah, por favor!

- Ok, calma. Ethan não vai fazer nada – Falei, mais para mim do que para ela, como se aquilo pudesse me acalmar. – Eu vou lá, fica aqui.

- De jeito nenhum, eu vou com você.

- Aaliyah – A segurei pelos ombros a olhando firme nos olhos. – Fique aqui, por favor. É mais seguro pra você, eu resolvo isso. Qualquer coisa estarei com o celular, certo?! – Ergui o celular para ela, antes de enfia-lo no bolso e empurra-la porta adentro.

Não sei como consegui correr porque minhas pernas pareciam incapazes de segurar o peso do meu corpo. Só sei que disparei em direção a casa de Shawn e agradeci mentalmente por ser perto o suficiente para que eu conseguisse ir a pé.

Antes que pudesse virar a esquina, vi Shawn e Ethan no parque. Meu coração disparou.

Os punhos de Shawn estavam fechados, o que denotava que ele se controlava com cada provocação que Ethan supostamente fazia. Cheguei em silencio próximo dos dois. Queria ouvir. Queria saber o que estava acontecendo.

Ah, a curiosidade...

- Não vim pra brigar, Shawn, e você sabe que não. Vim pela Leah – Pude ouvir a voz de Ethan. – Você sabe que não é o certo pra ela. Você sabe que nunca vai poder dar pra ela o que ela realmente precisa. – Desviei o olhar para Shawn e o vi cerrar o maxilar. – Leah nunca será feliz com você. – Ethan falou tão duro que senti meu coração se apertar. – Você vai embora e o que você acha que vai acontecer com ela? Vai faze-la esperar por você, por sabe-se la quantos meses e depois vai voltar, como se nada tivesse acontecido, como se aqueles meses não tivessem a quebrado cada dia mais. Isso é egoísmo, Shawn.

Shawn travou o maxilar.

Incapaz de responder.

Porque era verdade.

Shawn parecia procurar uma maneira de revida-lo. Sua expressão mostrava o quanto estava perdido nas palavras de Ethan e vi que aquilo o afetava mais do que eu esperava.

- Eu estou aqui. – Ethan continuou – Eu juntei os cacos de Leah e fiquei por ela quando você foi embora. Eu não tenho um mundo inteiro para enfrentar, porque o meu mundo, Shawn – Ethan repetiu o nome dele com desgosto. – O meu mundo é ela.

Nesse instante, Shawn fechou os olhos e pendeu a cabeça para o lado. Suas mãos se abriram, relaxando. Shawn se entregou. E Ethan sorriu, quando viu que a vitória seria tão fácil quanto tirar doce de criança.

Só que a criança, era eu. E o meu doce, ninguém iria tirar.

 - Você esta errado, Ethan – Falei convicta, aparecendo ao lado de Shawn, que me olhou surpreso.

- Leah! Você ouviu tudo? – Ethan se pôs um passo à frente e me manti imóvel. Sequer olhei para Shawn.

Abaixei a cabeça em um movimento de concordância.

- Shawn estando ao meu lado ou não – Comecei - Eu sempre pertencerei a ele. Quando eu estava com você, eu ainda pertencia a ele. Não tem cacos para juntar Ethan, porque, quando ele foi embora, meu coração se foi junto. – Dei um passo à frente, sentindo o olhar de Shawn pesar em mim. – E vai ser assim, todas as vezes em que ele tiver que ir. Porque é ele que eu amo. E não importa quantas vezes Shawn tenha que me deixar, isso nunca vai mudar.

Ethan recuou um passo. E seu olhar foi parar em Shawn.

- É isso que você quer?

Shawn não respondeu. Seu olhar pendeu para baixo quando o encarei.

Eu não vou deixar você se entregar assim! Não depois de tudo!

- É isso o que eu quero, Ethan! – Cerrei os punhos, pendendo-os ao lado do corpo.

- Mas eu não vou deixar isso acontecer. Você esta cega, Leah, e infelizmente, vou ter que te tirar dessa. – Ethan falou, convicto o suficiente para me fazer sentir calafrios. – Se você não a ajuda – Ele se dirigiu a Shawn. – Eu vou ajuda-la.

Ethan virou as costas e partiu.

Fiquei por uns instantes o encarando por trás, enquanto minhas unhas cravavam na pele de minha mão. Eu estava em nervos.

- Como você pode? – Minha voz saiu entrecortada e não me virei para encarar Shawn.

O silencio pairou entre nós. E nesse momento, eu tentava controlar os sentimentos que me rodavam.

- Como você pôde, Shawn? – Me virei para encara-lo e Shawn mantinha os olhos fechados, com o cenho franzido. Pude sentir uma dor enorme me atingir no peito. – Como você pôde se entregar a ele daquele jeito? Como você pôde cogitar a hipótese de desistir? – Um gosto amargo invadiu meus lábios.

Me aproximei de Shawn e segurei seu rosto entre as mãos. Fiquei na ponta dos pés rapidamente para que pudesse lhe dar um selinho.

- Você não pode ligar pro que ele diz. Ele só quer nos afetar. E é isso que todo mundo vai querer. Você não pode ligar para tudo o que dizem. – O encarei. – Não pode... – Repeti, como se aquilo de alguma forma pudesse o fazer entender. – O que importa, é o que eu penso. Porque só eu sei o que eu estou sentindo! – Resmunguei, fazendo carinho em suas bochechas.

- E o que você sentiu, Leah? – Shawn se afastou e minhas mãos seguraram o ar. – O que você sentiu quando fui embora? – Ele andou de um lado para o outro, virando as costas para mim. – Você lembra? – Ele se virou para me olhar. Vi seu pomo-de-adão subir e descer quando ele engoliu a saliva. – Porque é isso que vai acontecer, Leah. Porque eu sempre terei que ir.

As lágrimas se formaram em seus olhos.

Meu Deus.

Por que tinha que ser verdade?

Por que?

Shawn apertou os olhos e uma lágrima escorreu.

- Devíamos terminar aqui, Leah.

Não sei por quanto tempo minha respiração ficou presa, talvez desde o minuto em que as lágrimas encharcaram seus olhos até o momento em que ele falou. Só então soltei o ar e pude sentir o corpo latejar pelo tempo que o retive, meu coração se mostrou desesperado, parecendo grande demais para o meu peito naquele momento.

Eu não iria fraquejar. E não podia deixar que ele fizesse o mesmo.

- Nós vamos superar isso – Minha garganta arranhou quando voltei a falar. – Nós vamos... Vamos dar um jeito, mas isso depende de nós...

Me aproximei dele, o abraçando pela cintura e afundando meu rosto em seu peitoral.

Nessas horas eu amava ser baixinha.

Respirei fundo, sentindo seu cheiro e o gravando em minha memória.

- Eu me recuso a deixar você escapar. – Sussurrei. – Me recuso. Não vou permitir que estejamos separados, enquanto estamos perto. – Fechei os olhos. – Você lembra o que eu disse a Ethan agora pouco? – Perguntei, e Shawn pendeu a cabeça sobre a minha. – É a verdade. É a mais pura e cruel verdade. E se você se for agora – Ergui a cabeça para encara-lo. – Só vai piorar tudo. Eu quero que fique, eu preciso que você fique. – Shawn me encarava e eu lutava para que as lágrimas não tomassem conta de mim. – Você já vai ter de ir... Por que adiantar isso? Por que adiantar o sofrimento se ainda temos tanto a aproveitar?

Joguei as perguntas a ele, mas sentindo que eram para mim. Não queria pensar em Shawn indo embora, pelo menos não agora...

Shawn não respondeu. Apenas apertou os braços a meu redor e o senti relaxar.

- Eu te amo, Leah

Ele me apertou com mais força, como se nunca mais fosse soltar.

E ficamos ali, abraçados, como se aquilo pudesse mudar o sofrimento que nos envolvia.