História Never be alone - University

 Daqui em diante, seria eu e eu mesma. Aproveitei a viagem até a faculdade pra focar em todos os pontos que queria conhecer em Vancouver. Eu estava lá. E era um sonho sendo realizado.

O campus ficava a alguns minutos do aeroporto, o que me deixava mais aliviada. Fiquei imaginando se conseguiria ir a pé até lá. Só em caso…

Vancouver era linda. Uma mistura de prédios enormes com árvores. Na maior parte das vezes a natureza tomava conta da cidade, o que me fez sentir uma paz enorme. Não via a hora de poder aproveitar cada cantinho daqui. Havia pesquisado vários lugares turísticos de Vancouver e a ansiedade tomava conta de mim a cada vez que me lembrava que agora, poderia passear por cada um deles. Seria maldade demais já desejar estar longe da faculdade?

Por falar nela…

Tive que segurar o queixo no momento em que entramos na famosa University of British Columbia. Parecia uma outra cidade dentro de Vancouver. Era enorme. Vários alunos circulavam de um lado para o outro, alguns sabiam exatamente aonde iriam, enquanto outros não pareciam ter a menor noção.

— Aqui, aqui! — Alertei o motorista assim que avistei a fila do que parecia a apresentação. — Bem a tempo! Obrigada! — Agradeci, entregando o dinheiro a ele, já saindo do carro. — Pode ficar com o troco!

Esperei que tirasse minhas malas do carro e logo fui puxando-as em direção a multidão que se formava. Em frente a todos, numa pose ereta como madeira de cerca, havia uma mulher alta, o corpo parecia moldado na medida de um violão. A saia social combinada com o terninho, enquanto nas mãos, segurava uma papeleta azul, com a sigla da faculdade “UBC”. Olhar pra ela fez meu estômago se revirar.

Era real. Eu estava ali, de verdade.

— Sejam todos bem vindos a Univeristy of British Columbia Vancouver campus. — Sua voz era fina, porém impunha um ar de superioridade — Estamos entusiasmados por ter vocês se juntando a nós hoje. — Continuou, ajeitando a papeleta sobre os seios avantajados. — A UBC é uma instituição de pesquisa internacionalmente reconhecida e esta sempre classificada no top 40 das universidades em todo mundo. — Seus lábios cobertos por um batom rosa moldaram um sorriso, demonstrando o orgulho em cada palavra dita ali.

Naquele momento, ao ouvir aquelas palavras, senti o peso que eu teria que carregar ali. Eu estava entre uma das 40 melhores universidades. E isso era muita coisa pra uma pessoa só. Eu teria que me esforçar ao máximo. Senti uma pontada de orgulho de mim. Eu tinha conseguido entrar em uma faculdade daquele porte. Pelo menos havia valido todos os meus dias de sofrimento na escola. Toda minha nerdice havia valido a pena. Obrigada meu Deus!

— Meu nome é Quinn — Falou, ajeitando uma das madeixas loiras atrás da orelha. — E hoje vou apresentar a UBC a vocês. — Enquanto falava, Quinn fez um movimento com o braço, indicando toda a faculdade. — Vamos? — Começamos a andar pelo campus. — Eu também sou estudante de quarto ano, estudando Geografia, Sustentabilidade em Meio ambiente e Ciência politica. Eu sou originalmente…

Meu cérebro não conseguiu processar as palavras de Quinn a partir do momento em que entramos no centro de recreação. Era uma academia, enorme, com vários equipamentos, desde os mais simples até os mais complicados. Alguns alunos se mantinham concentrados no levantamento de peso. A maioria sem camisa, mostrando músculos que evitei olhar porque em minha cabeça só havia Shawn. Apesar que uma olhadinha…

— Ela tá falando até agora? — Um garoto resmungou do meu lado, me tirando do foco da academia. Era alto e forte. Seus cabelos eram loiros, quase beirando o tom de branco. Os olhos eram castanhos tão claros que ora pareciam azuis, ora verde. Tinha um sorriso moleque nos lábios, mesmo com o porte físico demonstrando o contrário.

— Na verdade eu meio que parei na parte em que ela começou a se gabar por estar no quarto ano de não sei o que… — Semicerrei os olhos, falando com todo cuidado pra que ela não escutasse.

— Sou Jake — Sorriu, ainda mantendo o olhar fixo na reitora. — E eu sei bem o porque de você ter parado de ter prestado atenção… — O sorriso agora foi malicioso e seus olhos passaram de mim, para a academia.

Senti minhas bochechas queimarem.

— E-eu tenho namorado! — Retruquei, indignada.

— Ainda bem que eu não tenho ciúmes! — Brincou, fixando o olhar em mim.

— Mas ele tem, então… — Desviei o olhar, me sentindo desconfortável.

— Estou brincando, calma — Jake riu baixinho se aproximando mais de mim. — Não precisa ficar vermelha.

Nota: nunca diga isso para uma pessoa que fica vermelha com facilidade. Porque com toda certeza só ira piorar a situação. O que foi bem o meu caso, porque pelo tanto que minhas bochechas ardiam, devia estar parecendo um pimentão de tão vermelha.

— Me chamo Leah — Comentei, tentando mudar o foco da conversa.

Jake sorriu em resposta antes de voltar a olhar pra Quinn, que ainda falava como um sargento que tenta defender a pátria com palavras. A faculdade era enorme. Linda, confortável e fácil de se perder. Acho que teria que sair jogando feijões aonde eu fosse passar pra conseguir voltar depois. Quinn nos mostrou tudo, desde a área de recreação até onde são realizadas as aulas. Nos entregou também nosso plano de aula e um pequeno mapa localizando aonde ficaria cada uma delas. Iriamos agora para a parte dos dormitórios, onde conheceríamos nossos futuros colegas de quarto.

Passamos pelo refeitório. Tenho certeza que foi meu lugar favorito desde que cheguei aqui. As mesas eram largas e fixadas ao chão. Logo no meio do lugar, havia uma mesa com frutas e vegetais, seguida de vários tipos de comida. Separado de tudo, mesas que pareciam ser de café, com tipos variados de pães e bolos. Eu seria muito feliz. E Jake também, visto pelo modo que sorria feito uma criança num parque.

— Acho que tem alguém que vai matar muita aula por aqui… — Zombei.

— Ah, mas disso você pode ter certeza — Jake piscou, enfiando um bolinho de chocolate no bolso da blusa.

Balancei a cabeça em negativo, rindo. — Pode me dar um pedaço disso ai depois!

— De graça que não vai ser — Piscou

— Ai credo — Bati de leve a mão em seu braço — Eu tenho namorado — Repeti.

— E eu não tenho ciúmes

— Jake! — O repreendi, e este sorriu, partindo metade do bolinho com as mãos e passando pra mim como se fosse algo proibido. — Não vou pegar isso não, sabe-se lá o que você vai me cobrar por isso! — Contestei.

— Vou só cobrar que seja minha amiga. Você pode pagar esse preço? — Perguntou, me dando um sorriso meigo demais pra um cara daquele tamanho.

— Tudo bem — Respondi, fazendo um biquinho e pegando o bolinho. — Obrigada

— Então, é isso — Quinn falou, voltando nossa atenção para ela. Me senti culpada quando percebi que não tinha prestado atenção em quase nada que ela havia falado. — Junto com o plano de aula de vocês, esta o respectivo número e andar dos quartos de cada um. Pra quem tem colega de quarto, o nome dele ou ela segue na frente dos números. Sejam bem vindos novamente. — A mulher sorriu, fazendo com que pequenas rugas surgissem envolta de seus olhos claros.

— Bom, acho que a gente se vê por ai? — Olhei para Jake, que parecia distraído demais enfiando o bolinho na boca.

— Nos vemos no refeitório — Concordou, dando uma piscadela pra mim antes de se virar e partir em direção ao dormitório.

E eu fiz o mesmo. Terceiro andar, quarto 13. Odiava esse número. Acho que foi porque uma vez li algo sobre os números 4 e 9 serem evitados no Japão por soarem como morte e sofrimento e o simples fato de o 13 ser a junção dos dois meio que me dava calafrios. Era uma superstição boba, porém, fazia parte de mim desde o momento em que li essa matéria. Queria poder voltar no tempo e dizer a mim alguns anos atrás “Ei, não leia essa matéria pois ela vai entrar na sua mente e te perturbar pelo resto de sua vida”. Subi as escadas sentindo o coração parado na garganta e rezando para que 13 fosse apenas um número nessa nova fase da minha vida.

2,5,7,9,11… 13. Parei na porta, a encarando com as malas numa mão e o plano de aula na outra. Quarto 13, colega: Valentina. Valentina Bridgiman.

Ergui a mão e bati.