História Never be alone - Aftertaste Part 2

Arrastei os pés para o quarto e me sentei na cama depois de terminar de me secar. Fiquei enrolada na toalha e alguns minutos depois, minha mãe bateu a porta, entrando com uma bandeja de café da manhã. A colocou ao meu lado e se sentou à minha frente.

- Ah mãe, deu tudo errado – Minha voz quase não saiu. Meus olhos lacrimejaram e mais lágrimas desciam por eles, delineando as bochechas até morrerem na boca.

Minha mãe apenas me olhou enquanto contava para ela tudo que havia acontecido. Por vezes, assentia com a cabeça. Pude ver em sua face uma feição de dor ir tomando conta. Ela era mãe. Era difícil pra ela ouvir tudo o que eu estava falando, ainda mais quando a ideia inicial tinha partido dela. Ela pareceu espantada quando falei o modo como Ethan havia agido e mais espantada ainda quando disse que me afastei de Shawn. Eva sabia o poder que ele tinha sobre mim, não só sabia, como sentia. Era algo quase impossível de se negar.

- Ele está tão lindo, mãe! – Falei, num suspiro. – Todos a minha volta parecem amadurecer, ser alguém enquanto eu, sinto como se estivesse parada no tempo. Eu não consigo ir pra frente, só ando para trás, igual caranguejo. Não consigo evoluir.

- Filha – Minha mãe se ajeitou na cama, procurando as palavras certas para usar. – Você sempre se manteve presa demais ao seu passado. Você sofre por coisas que já passaram e parece incapaz de esquecer. – Ela me encarou, apoiando a mão em meu joelho. – Como você quer seguir em frente, se você caminha olhando para trás? – As palavras dela me acertaram como uma flecha. Eu estava ficando nervosa, mas não por causa dela, e sim por ela estar certa. – Você não pode culpar Shawn para sempre. Você tem que se refazer. Que seja com, ou sem Shawn.

Eu a encarei por um tempo, digerindo tudo que ela havia falado. Não tive palavras para responde-la. Ela estava certa, sempre estava. Eu vivia no fundo do poço por minha única e própria conta. E eu sempre me consolei dizendo que tudo era culpa de Shawn, sendo que na verdade, era minha. Ele não tinha obrigação nenhuma em largar tudo só para ficar comigo. Assim como também ainda não tem. Eu o amava. Ele não era obrigado a sentir o mesmo.

- Você tem que seguir em frente. – Ela me olhou, seria. – Você o ama, e isso esta escrito na sua testa, filha. Agora vai de você, se quer aproveitar esse amor enquanto pode, ou então, sofrer o resto da vida por nem ao menos ter tentado. Leah, você nunca deu uma chance verdadeira para nada, nem ninguém. Sempre sofreu antecipado. Seu problema é ter medo de tudo. As vezes não faz mal a gente se jogar em umas aventuras, filha. – Fiz uma careta, segurando o choro. Ela deu uns tapinhas em meu joelho, sorrindo daquele jeito consolador que apenas mãe sabe. – Agora coma, e descanse um pouco. Depois desça, vou fazer aquele poutine que você tanto gosta!

Ela se levantou e antes de sair do quarto, voltou para mim. – E você precisa falar com Ethan. Entender tudo o que aconteceu. Tente ver o lado dele também, aposto que ele teve os seus motivos. – E piscou, saindo e fechando a porta do quarto.

Fiquei sentada na cama, em choque pelas palavras que minha mãe me dissera. Sabia que era verdade. Em momento algum, deixei claro para Shawn o que sentia, e desde que ele foi embora eu o culpava o tempo todo por isso. Nunca disse diretamente para ele como eu me sentia em relação a tudo. E o mesmo com Ethan. Nós namoramos por um ano e sempre escondi meus sentimentos por Shawn. As vezes até mesmo fingi algo que não sentia por Ethan e isso não é certo. Quis trancar dentro de mim sentimentos fortes demais, e agora, eu explodi feito uma bomba. E acho que é tarde demais pra tentar colocar tudo em ordem, não só dentro de mim, como por fora, com as pessoas que se machucaram com isso.

Eu precisava falar com Ethan. Precisava botar um fim em tudo, antes que o nó ficasse grande demais. Comecei algo com ele com outra pessoa no coração. E enquanto Shawn ainda dominar parte de mim, não poderei negar esse sentimento e muito menos tentar ignora-lo ficando com outra pessoa. Eu tinha que me resolver. Com Shawn, com Ethan e infelizmente, comigo mesma. E quem sabe então, conseguir seguir em frente de vez.

Morgana entrou pela porta. Esfregou-se em minhas pernas, ronronando. Ela sempre chegava na hora certa. A peguei nos braços e a apertei. A mescla da sua pelagem entre o laranja e o branco me dava uma calma inexplicável. Ela se remexeu e pulou na cama, logo indo cheirar o café que minha mãe havia colocado ao lado.

- Interesseira – Comecei a rir – Achei que tivesse vindo para me consolar! – Esfreguei as mãos em seus pelos antes de dar um pedaço da torrada a ela.

Fiquei acariciando Morgana por um tempo, enquanto comia, até que por fim, me troquei e deitei. Ela se pôs ao meu lado, rodopiou e se encolheu, parecendo uma bolinha de pelo. Havia dormido a noite toda e ainda assim, eu me sentia cansada. Tentei dormir novamente, sem muito sucesso. Dormia e acordava a todo momento, até acordar com o cheiro de comida da minha mãe. Respirei fundo e já podia sentir o gosto do poutine nos lábios, o que me fez levantar rapidamente, mas com cuidado suficiente para não tirar Morgana do lugar. Desci as escadas e minha mãe e meu pai estavam na cozinha.

- Oi – Falei, me esgueirando até lá.

- Oi bonequinha – Meu pai sorriu, abaixando o jornal. Adorava quando ele me chamava assim, me sentia como se ainda fosse sua menininha. – Senta aqui do lado do papai. – E bateu a mão na cadeira próxima a ele.

Minha mãe sorriu e eu me pus ao lado de meu pai. Puxei a cadeira para mais perto, ficando colada ao meu pai o suficiente para que pudesse me deitar sobre seu ombro. Me aconcheguei ali, enquanto ele voltava a ler o jornal. O cheiro entrava em meu nariz e automaticamente meu estomago respondia.

- Adivinha só quem é que ligou? – Minha mãe perguntou, olhando para mim com um sorriso.

- Abby? – Perguntei animada, me pendurando em cima da mesa e ela balançou a cabeça positivamente. – Como ela esta em NY? Quando ela vem? Quero presentes!

Abby era minha irmã mais velha. Era advogada e havia ido para NY para passar uns tempos trabalhando com seu patrão lá. Só de falar em seu nome meu coração já se apertava de saudade. Se Abby estivesse aqui, tudo seria mais fácil... Ela sabia me consolar como ninguém. E com toda certeza, Ethan já havia levado um soco na cara pelo jeito que ele havia agido comigo. Ela teria me protegido e claro, teria me dado uns puxões de orelha maiores que minha mãe. Mas eu não ligava. Só de tê-la por perto, já me bastava, não importasse quantos puxões eu levasse. Abby sempre fora contra meu namoro com Ethan, e, por mais que eu odeie admitir isso, quando ela foi pro NY senti um alivio por poder estar ao lado de Ethan sem que ela estivesse implicando o tempo todo. Mas agora eu entendia, que ela sabia que ele não era o que eu queria e muito menos o melhor pra mim.

Ah, como eu queria abraça-la e morder aquelas bochechas chatas!

- Calma – Eva riu – Ela está bem. Não tem previsão para voltar, esta um pouco turbulento lá pelo que ela havia falado. Mas deixou um beijo enorme pra você e pediu pra você virar gente logo e disse que só vai te dar presentes se você for visita-la antes de começar a faculdade – Minha mãe revirou os olhos com um meio sorriso nos lábios.

Tive vontade de chorar de novo. Me segurei para as lágrimas não caírem descontroladas. Eu nem sabia se iria ser aceita na faculdade e mesmo assim, Abby apostava tudo em mim. Eu não entendia como ela conseguia confiar tanto em mim, confiar tanto que eu podia ser quem eu quisesse. Tive que respirar fundo e me concentrar bastante para não chorar. Meu Deus, como eu odiava estar sensível daquela forma.

- Abby disse que o caso está quase ganho – Meu pai sorriu, orgulhoso que só. E eu também estava. – Disse que esta sendo moleza. – E deu uns tapinhas em minha cabeça. Era o jeito dele de me incentivar.

- Nada pode lidar com a Abby! – Fechei o punho, erguendo-o. O que fez meu pai rir e me imitar.