História Never Fall - Topa?

 Chego em minha casa. Lá fora estava muito frio. Devo tomar mais um banho quente? Melhor não. Quero apenas deitar e pensar, o que será que eu devo escolher? Namjoon pela primeira vez oferece algo tão sério. Eu irei ter que arriscar minha vida e ainda por cima andar com um cara que eu nem conheço e nem ao menos confio e pelo o que parece, não gostou nada de mim. Eu apenas achei ele meio grosso, mas  deve ter algum motivo para ter agido daquela maneira comigo, apesar que é melhor quieto do que falando coisas que não prestam. 

 Eu sabia que aquele ocorrido mais cedo tinha algum motivo, porém não aconteceu como eu imaginava, para ser sincero imaginei que ele tentaria me viciar e depois esperaria com que eu fosse atrás  dele. Mas isso não aconteceu, ele veio atrás de mim e  me ofereceu essa proposta. É complicado.

 Abro a porta, entro, fecho a mesma e me jogo na cama.

 Meus olhos abrem e fecham lentamente, e minhas bochechas estão rosadas por conta do frio, isto acontece por eu ser muito branco. Minha boca está mais rosada do que o normal. Que frio.

 Provavelmente não irei conseguir dormir hoje, estou pensativo e sem sono. Essa é a vida de um vagabundo como eu, dorme o dia inteiro e vira a noite acordado. 

 Os dias são sempre os mesmos, pelo menos já terminei a escola, não preciso me preocupar com materiais, nem uniforme, que por acaso precisavam ser trocados todos os anos. Se eu fizesse faculdade essa parte de uniforme seria relaxado, pois lá não é obrigatório.

 Passo minha mão direita sobre os olhos, tampando o mesmo.  Solto um suspiro alto.

 Preciso me decidir, mas minha mente está tão confusa. 

 Namjoon que me desculpe, mas se eu aceitar trabalhar com esse rapaz vou acabar ficando louco, não  daria certo. Porém, parece que ele acha que daria sim. Ingênuo. Nem parece que me conhece a tantos anos. Sorrio tirando a mão dos olhos. 

 Estou com sede. 

 Vou até a cozinha e pego um copo  de água da torneira. Bebo e em seguida coloco o copo em cima da pia. Minha cabeça dói, é tanta pressão para cima de mim que minha cabeça não aguenta tudo isso. Por que Namjoon me fez essa oferta, justo agora, quando eu mais preciso de dinheiro? Só posso me lamentar, eu que quis  assim, eu  que fiz por merecer. Sou um lixo em forma de humano. Aish. 

 Tudo está uma droga, meu pai e meu irmão me odeiam. Minha mãe está longe de mim e na cadeira de rodas. Meu único amigo quer me levar para um caminho horrível, que o final pode ser trágico. Meu pai me impede de ter contato com minha  mãe. Fala sério. Por que tudo é tão difícil? Quando se é criança você acha que tudo é possível, mas quando você tem que enfrentar a  realidade, percebe que não é tão fácil aguentar um dia. Pode ser que o objetivo seja esse: Sobreviver.

 Cada dia que passa me sinto mais só, sinto falta de minha mãe e de seu colo quente e aconchegante que Jin e eu sempre disputamos quando crianças. Sinto falta. Sinto saudades quando tinha ela perto de mim todos os dias e agora eu não posso nem ao menos chegar perto dela. Eu amo minha mãe e sinto falta dela. Jin também sempre foi um ótimo irmão, mas me revólto com ele por ter virado as costas para mim por causa  de meu pai, ele era tão colado comigo e aí um dia do nada ele começou a me desprezar, eu falava com ele e ele não me respondia, parecia que queria que eu não existisse. Por um tempo ele agiu da mesma forma com minha mãe, não sei se é por que ela continuava me dando atenção da mesma forma que sempre foi, ou se tem mais algum motivo escondido por trás disso tudo. E se tem, eu não sei qual seria. 

 Vou  até minha cama e me sento coçando a cabeça. Não tenho um remédio para tomar nessa casa. Infelizmente não.

 Antigamente eu era uma pessoa muito falante, eu era brincalhão e tudo mais. Porém desde que eu e meu pai começamos as brigas fortes tudo isso foi mudando, eu fui me tornando uma pessoa mais seca e calada, falando apenas o necessário. É claro que sei me divertir, mas apenas quando estou drogado ou bêbado. 

 Meu pai sempre jogou em minha cara que eu era um lixo e que nunca dei e nem seria capaz de lhe dar orgulho. Isso me dói muito, mas o pior não é nem dizer para mim, mas sim perto de meus colegas, perto de meus parentes e alunos da escola. Eu comecei a ser motivo de zoação. Foi muito difícil aguentar a escola até o fim do colegial, foram três anos sofrendo na mão de alguns alunos, tudo isso me deixava fraco, sempre odiei que rissem da minha cara. Um deles era Taehyung, mais novo do que eu, porém mexia comigo na escola, ria da minha cara e falava que eu era um lixo e que devia aceitar por que até meu pai dizia isso. 

 Começo a me lembrar desse passado e sinto vontade de chorar, me sinto horrível. Sinto que a única pessoa que me ama de verdade é minha mãe e um pouco Namjoon, eu considero muito ele, ainda mais por toda ajuda que ele me deu no começo. Não era nada fácil. 

 Decido tirar a roupa que saí e voltar para minha bermuda preta e ficar sem camiseta, está frio, mas prefiro apenas me cobrir com a coberta, para mim é o suficiente. Sorrio tirando meu tênis e minha calça. Olho na calça e percebo um pequeno furo próximo ao joelho, coisa simples. Tiro meu moletom e também a camiseta, jogando tudo no chão, visto minha bermuda e me deito, puxando a coberta que estava no fim da cama, me cubro, estou aquecido. 

 Meu celular apita, mensagem de Namjoon. 

 - Hey YoonGi, durma bem amigo! Até amanhã!

 Leio várias vezes e tento entender o motivo dessa mensagem, ele sabe que estou sem crédito. É raro ele mandar mensagem para mim, a não ser que ele esteja preocupado com algo do interesse dele. Provavelmente está tentando me agradar para que eu tope o serviço. 

 Se ele quer me agradar vai ter que fazer muito mais do que uma mensagem desejando que eu durma bem.

 Agora é uma hora da manhã. O sono ainda não bateu e eu estou olhando para o teto branco desta pequena casa. Será que algum dia saírei daqui? Parece uma missão impossível aos meus olhos. 

 Tenho vontade de juntar bastante dinheiro e me mudar para uma casa maior e melhor. Namjoon seria uma ótima opção. Mas fico imaginando: E se eu topar e acabar sendo assassinado? Namjoon já perdeu vários moleques que trabalhavam para ele, se não me engano, foram cinco garotos. Apesar que não sou como aqueles moleques, já estou bem crescido. O problema é ter que usar uma arma, eu não consigo me imaginar matando alguém. Sinto que isso é errado. Nem se fosse para matar Taehyung, eu não teria coragem. 

 Matar? Como eu poderia ser capaz? São seres humanos, sentem dor e têm sentimentos. Por mais que muitas vezes me dê vontade de fazer isso, eu não teria o sangue frio. Um ser vivo. Não entendo como muitas pessoas tem coragem, é uma pessoa ali e mesmo se fosse um animal, é um ser vivo. Meu coração sente um aperto só de imaginar que há pessoas que tem coragem de praticar o mesmo. Suspiro. 

 Vender as drogas do Namjoon não é tão problema assim. O único problema é a parte em que posso ser assassinado e que poderia ser obrigado a matar alguém. 

 É melhor eu tentar fechar meus olhos. Mas não consigo. Viro para um lado e para o outro e o sono não vem. Realmente sou um vagabundo. 

 Amanhã irei na casa de Namjoon, já tenho minha decisão tomada. 

                                                                                                                     [...]

 A noite veio e passou, fui conseguir dormir cinco horas da manhã e acordei agora. Olho no relógio do celular e nele marcam 13 horas. Novamente dormi demais. Preciso me levantar para ir até a casa de Namjoon. 

 Acordei com as cobertas em meus pés e tremendo de frio. Mais uma vez o dia está nublado e frio, mas gosto. Sorrio. Me levanto lentamente, passando as mãos sobre os olhos. Bocejo. O dia vai ser longo hoje. Passo as mãos nos braços tentando me esquentar, mas meus pelos do braço continuam em pé por conta do frio. Ajeito meu cabelo com a mão esquerda ainda sentado na cama. Me levanto e pego uma cueca e uma toalha na gaveta. Vou tomar um banho quente. 

 Me levanto ainda com muita  preguiça. 

 Entro no banheiro e fecho a porta, tirando minha bermuda preta lhe colocando pendurada em um dos  ganchos junto de minha toalha e deixo minha cueca em cima da privada fechada. Ligo o chuveiro, ainda tremendo de frio. Ponho meu pé em baixo da água que começa a se esquentar agora. Dou um passo para trás. Ainda não está como gosto. Olho no espelho, apreciando meu corpo magro novamente, preciso ganhar alguns quilos, estou no osso de tão magro. Meu corpo está todo arrepiado. Mexo no cabelo, conferindo se está do jeito que gosto, então apenas dei uma mexida para o lado e ele ficou bom, mesmo sabendo que iria bagunçar novamente quando eu entrasse no banho, não me importei. 

 Fui em direção ao chuveiro e entrei levemente, deixando meu corpo se acostumar com a água quente. Meu corpo começou a se aquecer junto da água. Coloco minha cabeça embaixo da água e meu cabelo liso vem até meu olho. Passo as mãos nele o colocando para trás. Pego o shampoo que está no chão e passo no cabelo, o ensaboo e em seguida lhe enxáguo. Como é bom poder sentir meu corpo quente em um dia tão frio. Em seguida pego o condicionador que estava ao lado do shampoo e passo o  mesmo em meu cabelo fazendo o mesmo que fiz com o shampoo. Suspiro com um sorriso. 

 Espero que hoje o dia seja bom como estava torcendo antes de dormir ontem. 

 A água cai pelo meu corpo. Pego o sabonete e passo em meu corpo, levemente e várias vezes, até ver a espuma azul. 

 Namjoon deve estar me esperando uma hora dessas imaginando que minha resposta seja negativa, por conta de eu ser sempre muito cauteloso. Eu já tomei minha decisão, agora é só esperar o que irá acontecer daqui para frente. 

 Entro em baixo do chuveiro novamente, vendo toda a espuma sair de meu corpo. O aroma do sabonete se espalhou pelo pequeno banheiro. Vapor gruda no espelho e na janela, deixando os mesmos embaçados. Meu corpo finalmente está limpo. 

 Desligo o chuveiro e dou a última passada de mão no rosto. Saio calmamente, e puxo a toalha do pequeno gancho e seco meu corpo rapidamente, em seguida começo a secar meu cabelo, que por  acaso está bem bagunçado e molhado. 

 Meu cabelo continua úmido mais prefiro deixar que o resto ele seque naturalmente, penduro a toalha novamente e visto minha cueca box, coloco a mesma bermuda preta. Depois me arrumo para ir na casa de NamJoon. Saio do banheiro. 

 Meu corpo está quente por  conta do banho, então não sinto tanto frio, mas logo começa. 

 Quando abro a porta o cheiro se espalha pela minha pequena casa. Eu inalo o aroma do sabonete. Meu preferido. Vou até a cozinha procurando por algo para comer. 

 Sobrou pão de ontem, mas dá para comer bem. 

 Abro o pacote de pão e pego um do mesmo e preparo meu pão. Melhor dois. Minha fome está grande. Preciso me alimentar bem para aguentar o dia, pois o pão acabou e não tenho dinheiro para comprar mais, se eu tiver na carteira, é o suficiente apenas para comprar uma bala de menta. 

 Depois de comer pego meu celular que está no vermelho em questão de bateria, mas espero que aguente até  eu voltar da  casa de NamJoon. Vou até o banheiro e escovo meus dentes, mas  antes de sair do banheiro olho no espelho, meu cabelo está bagunçado, preciso arrumar isso, mas antes vou arrumar minhas roupas. O frio começou a bater, meu corpo se arrepia novamente. Vou até o quarto e coloco minha calça preta, uma camiseta vermelha e minha moletom preta e finalmente meu tênis preto. Posso não ter muito dinheiro, mas conservo muito minhas roupas. Me levanto  e vou até o banheiro tentar arrumar meu cabelo. Passo um pequeno pente, e desembaraço, depois termino de ajeitar com as mãos. Perfeito! Estou pronto para ir e aquecido.

 Pego meu celular e saio pela porta, novamente a trancando. Infelizmente dou de encontro com Taehyung, que já me olha com cara de esnobe.

 - Vai pra onde lixo? - ele ria.

 - Não é da sua conta! - Eu consigo lhe responder agora, mas na época da escola eu ficava quieto  e aguentava tudo calado. 

 - Ui, está bravo? - ele se aproximou encostando a mão esquerda em meu ombro, agora sério, me olhando nos olhos. 

 - Não encoste essas mãos em mim! - tirei sua mão de mim com força. Ele percebeu que eu estava falando sério e se retirou. Será que algum dia vou ter paz quando sair de casa? 

 Sigo meu caminho, lentamente.

                                                                                                                     [...]

 - Namjoon está? - o segurança abaixou os óculos, me reconhecendo. 

 - Está te esperando lá dentro! - ele abriu a porta e eu entrei.

 Namjoon estava sentado no sofá com uma mulher semi-nua sentada em seu colo, estava fumando um cigarro. Hoseok estava no outro sofá sentado, com a mesma expressão séria da noite anterior. Estava desta vez com um óculos escuro. Não havia como eu saber para onde ele olhava, mas com certeza era para mim. 

 Quando Namjoon percebeu minha presença, tirou a mulher de seu colo com alguns tapas na bunda. Ela se levantou e Namjoon sorriu para mim:

 - Sabia que você viria, sente-se! - Me sentei no mesmo sofá em que Hoseok estava, só que na outra ponta.

 - Eu estou aqui, não estou? - sorrio de lado.

 - Está sim! - ele ponhou a mão no queixo e vi a mulher que estava em seu colo voltar do quarto em que ela havia entrado e estendendo a mão para que Namjoon lhe pagasse. - Está me achando com cara de banco? - ele gritou - Você quis, não tenho que te pagar nada. 

 - Não precisa me pagar, - ela se aproximou da orelha dele e sussurrou, mas em um tom que eu fui capaz de ouvir -  contanto que me chame de novo. - vi ela dando uma leve mordida na orelha dele. 

 - Agora vá embora - ele lhe empurrou de leve e ela sorriu.

 - Adoro esse seu jeito mal! - ela mordeu os lábios lhe olhando e ele piscou para ela. Em seguida ela vestiu um short e uma camiseta em nossa frente e saiu da casa de Namjoon com o salto preto na mão.

 - Vadias, nada a comentar sobre elas. Você as chama uma noite e depois elas que pedem por você. - riu de leve. - E você YoonGi, está decidido? Qual vai ser? Topa ou não?

 - Para quem disse que não iria insistir está perguntando de mais, não acha? - brinco - Mas é o seguinte NamJoon, como que vai ser isso?

 - Bom, você vai ter que vender minhas drogas em festas da cidade, e se não tiver festa, vou arrumar um ponto para você vender para mim. Vai receber bem, te garanto. 

 - E ele? - aponto com a cabeça para Hoseok.

 - Ah! Hoseok irá te acompanhar e te ensinar tudo que sabe. Ele é de confiança, pode ficar tranquilo. - Hoseok tira o óculos e olha para mim. 

 - Já atirou com uma arma? - pela primeira  vez ouvi sua voz, bonita, porém um pouco fria. 

 - O que você acha Hoseok? - Namjoon se intrometeu e eu balancei a cabeça que não. 

 - Foi o que pensei. - ele voltou a ficar calado.

 - Fique calmo, YoonGi aprende rápido.

 - Só um minuto Namjoon, eu não disse que topei. - lhe cortei na hora e ele  fechou a cara - Apenas perguntei como seria. Mais tenho uma última pergunta. 

 - Pode falar! - Namjoon continuava me olhando, para ser sincero, estava mais me encarando do que dando uma simples olhada em mim. Seus olhos estavam fixos nos meus, senti meu corpo tremer. O olhar dele era muito firme. 

 - Eu vou ter que matar alguém nesse serviço? - ele tirou os olhos de mim e soltou um riso sarcástico.

 - Só se necessário. - ele fechou a cara e me encarou novamente nos olhos. - Não precisa sentir medo, vai  aprender a fazer e esquecer. - ele sorriu coçando os olhos. 

 - Mas... 

 - Pare de ser medroso, o serviço nem é tão difícil. Você vai aprender a usar uma arma, mas também vai aprender com quem usá-la. Não precisa sentir medo, eu por exemplo sei muito bem usar uma. Enquanto tiver eu te ensinando, pode ficar tranquilo.

 - Hm... - me calei.

 - Topa ou não? -  fiquei em silêncio por alguns minutos. Tudo isso é tão arriscado. Não quero acabar em um caixão tão cedo. - Me responda! - ele aumentou o tom de voz.

 - Eu topo. - respondi rápido, eu havia pensado na resposta a noite inteira e tinha certeza do que queria, mas por um momento, quando cheguei aqui, meu corpo tremeu. A minha resposta de qualquer maneira seria "sim", mas quando ouvi da boca dos dois que teria que matar alguém, eu me arrepiei e fiquei com medo, mas agora já dei minha resposta e não volto atrás nas minhas escolhas. 

 - Ah! Realmente! Que beleza! - Namjoon sorriu, e o máximo que ouvi de Hoseok foi um Tsc, pelo visto não gostou nada de eu ter aceitado a proposta - Você começa hoje anoite.  

 Como assim? Hoje anoite? Eu achei que ele iria me ensinar tudo que preciso primeiro antes de me colocar para trabalhar.

 - Por que seus olhos estão arregalados? - ele percebeu que fiquei nervoso. 

 - H-Hoje? - gelei imaginando a resposta que viria para mim.

 - Qual o problema? Hoje é sexta!

 - Vou te acompanhar, relaxa! Vai aprender aos poucos! - pela primeira vez ele deu um leve sorriso de canto, não pude ver seus dentes, mas vi seus lábios abrirem de leve e em seguida se fecharem. 

 - Ta bom! Quando vou receber? - mordi os lábios imaginando que viria bronca de Namjoon.

 - Na segunda! Você recebe pelo tanto que vende. Mas relaxa, muitas pessoas compram só da minha droga. Vai até se assustar! Daqui umas semanas todos vão estar sabendo que você trabalha para mim e se já estiver bom em usar uma arma, vai poder se cuidar sozinho.  

 Eu preferi ficar em silêncio, pois já estava começando a suar de nervoso. Realmente eu não estava conseguindo controlar meu corpo. O nervoso, a ansiedade, são coisas que eu  não consigo controlar. Medo. Sim, talvez o que eu esteja sentindo seja medo. Mas é involuntário. 

 - Aish garoto, não vai falar nada? - Hoseok deu um grito, me encarando como se quisesse pular em mim e me matar. Congelei. Sua voz quando gritou ficou grossa e firme. 

 - O que quer que eu fale? - Respirei fundo e lhe respondi.

 - Que responda Namjoon! - ele abaixou a cabeça e em seguida olhou para Namjoon. Quando me dei conta os dois já estavam me encarando, esperando uma resposta sair de minha boca. 

 - Está bem, mais...

 - "Mais" o que? - Hoseok continuava a gritar comigo, parecia nervoso. 

 - Eu não sei se realmente quero usar uma arma - os dois me olharam fixo, nenhum dos dois falou nada por alguns segundos. 

 - Vai continuar sendo o otário até quando YoonGi? - Namjoon me perguntou firme. Com certeza estava segurando a risada de mim. 

 - Otário Namjoon? - quando ouvi ele me dizer essas palavras, minha vontade foi de me levantar e ir embora, mas Namjoon me respondeu rápido.

 - Estou brincando! - ele sorriu - Fique tranquilo, já disse que vai aprender com quem usar.

 - Não pareceu brincadeira, - relaxei meu corpo no sofá novamente - eu não sei se vou conseguir usar uma arma e também não sei se quero matar alguém.

 - Criança! - Hoseok falou baixo, como se estivesse com raiva.

 Uma arma não é brincadeira, não chega nem perto de ser. Eu sempre soube que Namjoon matava certos "inimigos" dele, mas quando o assunto mudou para que eu fizesse o serviço, meu corpo  treme. Melhor agir como se não me importasse perto deles, não quero ser chamado de otário e muito menos de criança. 

 - Não sou criança! - respirei fundo - Vai me dar uma arma então? 

 - Hm! - Namjoon olhou para Hoseok com um leve sorriso no rosto - Um revólver.

 - Ótimo! - eu estava tremendo por dentro, mas por fora minha expressão continua séria.

 Ele ficou calado, parecia não ter mais nenhum assunto para tratar comigo. Melhor ir embora logo. 

 - Que horas eu  tenho que estar aqui? - fiz minha última pergunta.

 - Às 20 horas. E você também Hoseok, mas você, quero que esteja aqui antes. Nem que seja apenas 30 minutos de diferença. Mas esteja aqui. 

 Por que será que ele quer Hoseok aqui antes de mim? Estranho, mas nem me importo.

 - Está bem, vou indo então Namjoon! Até mais! - levantei e acenei para os dois indo em direção à porta. 

 - Até de noite YoonGi! - Namjoon me respondeu, porém Hoseok novamente ficou em silêncio, apenas me olhando sério. 

                                                                                                            [...]

 Chego até a esquina de minha casa. 

 Estou confuso. Eu sei que aceitei o emprego, mas não consigo engolir a ideia da arma. Por que eu  vou  ter que fazer isso? Arriscar minha vida para defender o ponto de Namjoon? Vale mesmo a pena fazer isso por ele? Minha cabeça volta a doer. 

 Continuo caminhando até minha casa. 

 Alguns passos e já estou no portão, a rua está mais quieta do  que o normal. Nesse horário geralmente não vejo crianças brincando mesmo. Mas, está tão vazio. Tão quieto. Algo deve ter acontecido para esse silêncio invadir toda a rua.

 Entro em minha casa. Vou até o banheiro. Olho para o espelho, encarando minha face pálida, minhas bochechas estão um pouco rosadas. Apoio minhas mãos na pia, abaixo minha cabeça e novamente olho para o espelho. Preciso tomar um sol. Suspiro. Uso o banheiro e em seguida saio. 

 Minha barriga começa a roncar. Fome. Terei que aguentar até a hora que ir na casa de Namjoon, não tenho o que comer em casa e muito menos dinheiro. Mais cedo achei que se comesse bastante não sentiria tanta fome, imaginei que iria aguentar um pouco mais de tempo, do que só cerca de 5 horas. Apesar que em 2 horas já estou com fome novamente. Sorrio. Aish! Viver nessas condições não é nada fácil, mas com o tempo acostuma. Mesmo que fome seja algo que não dá para se acostumar, consigo aguentar bastante tempo. Deve ser por isso que ando tão magro, tecnicamente desnutrido, como disse minha mãe na última vez que nos vimos. Ela sempre se preocupou do fato de eu ser muito magro, ainda mais quando percebeu que comecei a perder peso quando me mudei para cá. E é por isso que ela sempre tentou me ajudar. Quando eu ia na casa de meus pais, ela sempre me dava bastante comida. Mesmo se eu estivesse cheio ela queria que eu comesse mais, apenas para que engordasse e ficasse saudável. Sinto saudades. Coloco minha mão direita sobre minha barriga. Já não tenho certeza se vou aguentar até a noite, mas a questão é: Vou ser obrigado a esperar. 

 Vou  até minha cama e me sento, com um leve pulo. 

 Espero sair dessa vida logo, não aguento mais passar fome!

 Me deito na cama tentando distrair a fome. Meu celular começa a apitar, falta bateria. Torno a me levantar, mas dessa vez para colocar o celular para carregar ao lado da cama. Depois que coloquei na tomada, me deitei na cama abrindo os braços. 

 Esperar, acaba comigo!

 Sem nem ao menos perceber meus olhos se fecham lentamente. O sono bate e eu acabo dormindo. São cerca de 16 horas. 

                                                                                                             [...]

 Acordo assustado com o som do celular, tem alguém me ligando. Namjoon. Pego o celular ainda meio sonolento e atendo.

 - Alô?

 - Hey YoonGi! Você não vai vir? Desistiu?

 - An? Não desisti. 

 - Então por que não está aqui na hora combinada?

 - Mas - pensei  um pouco -  Afinal, que horas são?

 - 20:30 e você ainda não está aqui! 

 - Aish! - dei uns tapas na minha própria cabeça - Desculpe Namjoon, dormi demais! 

 - Estava dormindo?! - ele assustou.

 - Acabei cochilando. - minha barriga continua a roncar.

 - Hm... Pois se quiser o emprego esteja aqui antes das 21:30. - ele suspirou - Caso contrário, já sabe.

 - Está bem... Já estou indo! - suspiro - Tchau!

 - Tchau YoonGi! Venha preparado, está frio! - Como se eu  não soubesse. 

 Desligo o celular sem responder Namjoon.

 Me levanto da cama logo depois de conferir se a bateria de meu celular estava completa. Tiro o celular do carregador, o deixo em cima da cama bagunçada. 

 Vou me arrumar para ir na casa de Namjoon.

                                                                                                             [...]

 - Namjoon está? - mais uma vez pergunto para o segurança.

 - Está te esperando. YoonGi não é? - ele sorriu.

 - Sim! Por que? 

 - Apenas queria confirmar que era você! Agora entre! - ele abriu a porta e eu entrei. 

 Dei de cara com Namjoon sentado no sofá com uma expressão séria. Meu corpo tremeu. Imaginei que novamente ele iria tentar me dar uma bronca. 

 - Já vi que não cumpre com suas promessas YoonGi! - ele cruzou os braços, disse sério.

 - Desculpe, dessa vez assumo que errei com você! - coloquei meus braços atrás das costas.

 - Tudo bem, o importante é que está aqui! - sorriu. 

 - Hm... - olhei ao redor - Cadê Hoseok?

 - Hoseok foi pegar umas coisas! - ele descruzou os braços e encostou no sofá cruzando as pernas. - Por que não se senta?

 - O-O que - me sentei no outro sofá - ele foi buscar? - engoli seco.

 - O que acha? - ele deu um leve sorriso - Sua arma YoonGi!

 - Mais já vai dar uma em minha mão? - Namjoon balançou a cabeça, segurando com a mão, rindo de mim.

 - Minha nossa YoonGi! Você é muito lerdo - ele tirou sua mão da cabeça e voltou á posição anterior.

 - Me deixe Namjoon! - dei de ombros. Não gosto que me chamem de lerdos, por que não sou. 

 - Se você diz, quem sou eu para te contrariar? - fiquei em silêncio apenas dando um leve sorriso. Ouvimos um barulho alto vindo da porta. Era Hoseok, entrando desesperado. 

 - Namjoon! - ele estava com a respiração forte e parecia nervoso, pois estava suando muito.

 - O que aconteceu? - Namjoon gritou com ele e eu apenas fiquei observando.

 - Yuna Kim tentou pegar seu ponto de novo! - continuava com a respiração forte. 

 - Merda! - Namjoon se levantou nervoso, passando a mão no queixo e em seguida dando um murro no sofá.

 - Eu consegui impedir, mas - ele abriu sua jaqueta preta, estava sangrando muito. Como não percebi isso quando ele chegou? 

 - Aish! Que merda Hoseok! - Namjoon tentou ajudar Hoseok a sentar no sofá. - Vou ter que ligar para o Jimin! Não posso te levar para o hospital nessas condições! - depois que lhe ajudou coçou a cabeça se lamentando e ainda xingando baixo. Arregalei meus olhos. - Era só para você pegar uma arma para YoonGi e não para se meter no rolo dos moleques. Deixe que morram, mas não arrisque sua vida por causa de incompetência de crianças... AISH! - gritou - Agora um dos meus melhores homens está machucado. 

 - D-Desculpe Namjoon! - seus olhos se fecharam lentamente, ficou inconsciente. 

 - Aish! Não desmaie agora seu idiota! - continuava gritando, estava nervoso e suando frio. - YoonGi pegue meu celular, agora, rápido! - Ele sentou ao lado de Hoseok e tentou dar alguns tapas no rosto de Hoseok para ver se ele acordava. Eu não sabia o que fazer, meu corpo congelou, fiquei sem reação e não conseguia me mexer. - O que está esperando YoonGi? - ele gritou e eu me levantei correndo do sofá em que eu estava. 

 - O-Onde está? - estava tremendo - Ele está perdendo muito sangue, melhor levá-lo para o hospital Namjoon!

 - Fiquei quieto! - ele me olhou nervoso nos olhos - Está no quarto, anda logo! - Fui até o quarto correndo, estava muito nervoso. Ver aquele homem sangrando daquela maneira, praticamente quase morrendo me deixa nervoso. Nunca vi alguém assim antes. 

 - Aqui está Namjoon - ele me agradeceu e pegou o celular, discando para alguém. 

 - Você está vindo? Hoseok está inconsciente! - gritava muito no telefone, estava suando frio - Está bem! Ande logo, não quero que um dos meus melhores homens morra! - ele desligou o telefone o guardando no bolso da calça - Calma Hoseok, ele já está vindo! - ele continuava tentando despertar Hoseok, mas não ganhava nenhuma reação. 

 - N-Namjoon! - gaguejei - Ele está vivo? Está r-respirando?

 - Fique calado! Meu amigo está mal! Não me faça perguntas que eu não conseguiria responder! - ele gritou comigo e seu tom parecia ser como se fosse a primeira vez em que chamava Hoseok de "amigo" . Seus olhos estavam cheios de lágrimas. 

 Preferi me calar e esperar. Hoseok estava ficando com a pele branca e seus lábios roxeados. 

 Vinte minutos se passaram e o rapaz chegou, parecia ter em média uns 19/20 anos, parecia até bem novo. Estava bem vestido e com uma maleta branca na mão, ele entrou rápido. Namjoon se levantou correndo e o rapaz se sentou em seu lugar, abrindo a maleta branca que por um acaso estava cheia de coisas de "médico" . Ele não parecia nem um pouco com um médico, para ser sincero ele parecia mais com um estudante de universidade cara. 

 Ele examinou Hoseok e mesmo sem anestesia retirou as balas de dentro de Hoseok, consegui contar três balas no total. Ele tentou limpar o sangue e deu pontos na onde as balas entraram e em seguida fez um curativo firme, que apertou os ferimentos. O sangue foi controlado. Mas Hoseok continuava desacordado.  

 - Ele está bem Jimin? - Namjoon perguntou preocupado.

 - Eu não posso te dizer ao certo Namjoon. Ele está muito pálido. Acho que se você quiser que ele sobreviva é melhor levá-lo para o hospital urgente! - a voz do garoto era um pouco fina. - Ele está muito gelado!

 - M-Mas você sabe que não posso levá-lo para o hospital. Sabe que somos procurados pela polícia! Se reconhecerem ele, assim que estiver bem vai ser  levado para a cadeia e lá vai ser pior. AISH! - gritou - Que droga Hoseok! - olhou para Hoseok colocando as duas mãos no rosto e em seguida retirando, voltando os olhos para Jimin. Eu fiquei parado próximo ao sofá que Hoseok estava, mesmo que  aquilo me fizesse mal, eu não conseguia me mexer e ir para outro lugar, meu corpo já não era mais controlado por mim, e sim pelo medo que estava sentindo. 

 - A decisão é sua Namjoon... Eu fiz o que pude! - ele foi se preparando para sair da casa de Namjoon, guardando as coisas na maleta depois de limpá-las. Namjoon estava de cabeça baixa quando Jimin passou por ele. Vi sua mão segurando o braço de Jimin e ele dizer baixinho.

 - Fique aqui até ele acordar, por favor, ele pode precisar de um médico. - Jimin lhe olhou como se estivesse com pena de Namjoon. Ele soltou um suspiro forte e seus olhos ficaram entre Namjoon e Hoseok. 

 - Está bem! - ele disse baixinho dando um leve sorriso.

 - E você YoonGi, se quiser ir embora, pode ir. Quem iria com você está ferido! - eu mordi meus  lábios e suspirei fundo.

 - Precisa da minha ajuda esta noite Namjoon? Eu posso trabalhar em outras coisas por enquanto. Como por exemplo ficar de olho se ele acorda. Eu já não consigo dormir de noite mesmo. 

 - Como preferir YoonGi! - ele sentou em outro sofá , observando Hoseok com as roupas sujas de sangue - Acho melhor eu emprestar uma roupa minha para ele. - se levantou indo em direção ao quarto. Voltou com uma camiseta vermelha e uma bermuda preta. - Você me ajuda a trocar ele YoonGi? - Eu concordei com a cabeça, indo junto com ele até Hoseok - E você Jimin, sinta-se á vontade. Hoje você dorme  naquele quarto ali - apontou para um quarto do lado do seu. - É o quarto das "visitas", mas está limpo. 

 - Está bem Namjoon! - foi até o quarto. 

 - Venha YoonGi, me ajude! - fui e lhe ajudei.