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História Never Forget You (HIATUS) - Chapter 10 - Friends Are For These Things


Escrita por: Archie-sama

Notas do Autor


Oláaaa!! \o/ Finalmente voltei. Tava ansiosa por isso.

Cortei o capítulo em dois, desculpa ;--; Mas o próximo sai rápido, já que prometi a vocês a entrada de outros personagens e da nova fase da fic.

Espero que gostem desse capítulo mesmo não estando lá essas coisas akdmlakskad

Obrigada pela paciência e boa leitura! \o/ Nos vemos nas notas finais.

Capítulo 11 - Chapter 10 - Friends Are For These Things


Fanfic / Fanfiction Never Forget You (HIATUS) - Chapter 10 - Friends Are For These Things

Never Forget You 

By: Archie-sama

Chapter 10 — Friends Are For These Things

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Amigos são para essas coisas

 

Eu dei uma volta no sábado à noite

Névoa no ar

Só para fazer a minha mente parecer clara

Para onde irei a partir daqui?

Eu vejo minha respiração empurrando vapor pelo ar

Mãos trêmulas percorrendo meu cabelo

Meus medos, para onde irei a partir daqui?

 

Isso é culpa minha, culpa minha?

Temos sentido falta um do outro

Minha culpa, é culpa minha?

Temos sentido falta um do outro

Temos sentido falta um do outro

My Fault — Imagine Dragons

 

Mayu caminhava tranquilamente por Takamagahara — a Planície dos Altos Céus, mais especificamente o lugar na Margem Distante onde somente os deuses reconhecidos, isto é, aqueles que possuíam um santuário, habitavam — ao lado de seu mestre, o deus da sabedoria Tenjin, e de sua companheira, o espírito de ameixeira, Tsuyu. 

Embora ela mesma não percebesse, seus pensamentos divergiam completamente do que se passava com seu corpo; enquanto este estava relaxado, sua mente estava uma bagunça. Completamente desatenta, ela não escutava uma palavra sequer do que falavam consigo, seus olhos verdes estavam mais ocupados vagando pelo ambiente repleto de árvores, das quais as folhas balançavam suavemente com a brisa. 

— ...yu. — O que será que havia acontecido? Seria algo muito grave ou estaria preocupada por nada de importante? — Mayu! — a Shinki se sobressaltou ao ouvir Tsuyu chamá-la em tom de repreensão. 

— Hã? O quê? — ela piscou algumas vezes, confusa, olhando para a colega que a fitava com a mesma expressão suave de sempre, porém com uma sobrancelha levemente arqueada. 

— Onde você está com a cabeça? — indagou a mulher perscrutando a outra, que se encontrava aérea. Mesmo que estivesse dando uma bronca na amiga, a curiosidade de Tsuyu era verídica, afinal, dentre todas as Shinkis de Tenjin, Mayu era sempre a mais atenta e dedicada. Para ela estar dessa forma, algo importante deveria ter acontecido. — Preste atenção no que o mestre tem a dizer! — depois dessa ordem foi que a regalia finalmente se tocou, as pálpebras abrindo em sinal de surpresa. 

— S-Sim! — ela concordou rapidamente, corando pela vergonha de ter sido pega divagando e curvando-se em um pedido de desculpas ao seu soberano. Tenjin permanecia ao lado delas, calado, embora por dentro estivesse risonho; olhava sua serva de esguelha, deduzindo, com sua perspicácia, tudo em que ela estava pensando. — Mil perdões, Tenjin-sama! Eu não deveria estar tão distraída... Sumimasen! — a de olhos verdes continuava se curvando sem parar, até que o deus grisalho dispensou aquela formalidade abanando uma mão com displicência. 

Yare, yare — ele soltou uma risada baixa —, não precisa se desculpar, Mayu-chan. 

O deus da sabedoria sabia bem o porquê da repentina distração de sua Shinki. Ela estava preocupada com Yato. Realmente esse era o único motivo capaz de deixá-la desnorteada, uma vez que não era de seu feitio distrair-se com coisas tolas. Apesar de ela e Yato viverem em pé de guerra, o zelo entre eles era mútuo. Preocupavam-se e cuidavam um do outro mesmo que de forma cautelosa, até porque o respeito existia e estava bem presente na amizade deles.

Pela manhã Yatogami estivera em Takamagahara — ele surpreendentemente conseguira invadir, embora tivesse usado muita força espiritual para isso e se desgastado mais ainda — pedindo permissão a Tenjin para que pudesse ficar por um tempo em seu santuário no Mundo Inferior. Tenjin havia dado permissão, até porque jamais seria mesquinho, mas a questão mesmo, a qual deixara todos incrédulos, era: desde quando aquele deus rebelde pedia permissão para alguma coisa?! 

Ele só podia estar doente, foi o que pensou Mayu, e realmente era o que parecia. Yato estava pálido, com o semblante abatido e os olhos sem brilho. Parecia exausto... Derrotado. Nem ao menos sorria ou a acusava de ter traído-o, como sempre fazia quando a encontrava.

Afinal, qual era o motivo para o deus de calamidade — o qual constantemente passava por problemas e nada de fato era capaz de abatê-lo — parecer tão... miserável?

Seria possível que Yukine tivesse sido afetado novamente e acabado por picar seu mestre? Essa poderia ser uma explicação plausível... Contudo, Yato não pedira nenhuma ajuda, fazendo com que tal suposição fosse facilmente descartada. Se ele estivesse sendo corrompido novamente, sujo por aquelas manchas arroxeadas, não conseguiria lidar com isso sozinho, seria obrigado a pedir ajuda, assim como da outra vez. 

Mas então... o que poderia ser? Algo como objetos da sorte falsos...? Não, claro que não. O azulado estava constantemente sendo enganado por senhorinhas charlatonas que o vendiam coisas velhas e inúteis como se fossem muito valiosas, porém isso nunca o afetaria, afinal, ele era um idiota. 

Talvez fosse o passado? Mayu sabia que ele continuava sendo assombrado por suas lembranças de dor e sofrimento, nas quais aquela Nora e o pai dele estavam irrevogavelmente envolvidos. Isso era algo muito sério e que afetava o deus menor grandemente, ele nem sequer gostava de falar sobre isso — fora algo que descobrira por acaso numa das vezes que, no tempo em que ainda era serva dele, o seguira e encontrara aquela maldita Nora o importunando e falando sobre Sakura. 

No entanto... Por que será que sentia estar errada? Algo em sua mente a alertava que esse também não era o motivo, até que um vento forte passou por seu rosto e entre seus cabelos, bagunçando-os e a fazendo fechar os olhos por um momento. Quando voltou a abri-los, a primeira  coisa que viu foi uma árvore de cerejeira ser fortemente açoitada pelo vento; suas folhas caíam e se misturavam no ar como uma tempestade cor-de-rosa. 

Então algo estalou em sua cabeça. E, dessa vez, aquela árvore não a remetia ao passado de seu antigo mestre, no qual havia uma Shinki chamada Sakura, mas aos olhos de uma certa humana. Os olhos cor-de-rosa de Iki Hiyori.

Mas é claro! Como não havia pensado nisso antes?! Aquela simpática garota meio-termo, bonita e sorridente, era o principal motivo das aflições de Yatogami. Não sabia o que havia acontecido entre eles, mas de uma coisa tinha certeza: ele a amava. Nunca vira Yato olhar para ninguém como olhava para Hiyori. Os orbes azuis dele brilhavam mais do que o normal e suas pupilas se dilatavam, claro sinal de que estava apaixonado.

Era engraçado vê-los juntos, pois percebia que Hiyori se tornava extremamente consciente da presença dele, ficando corada e envergonhada sempre que ele a abraçava daquela forma estapafúrdia. Já ele não parava de importuná-la, sempre grudado nela. Sinceramente, somente aquela moça era capaz de fazer Yato parar de pensar em qualquer outra coisa e pensar apenas nela. 

Sim, Iki Hiyori era especial... Pois nenhuma outra preencheu o vazio do coração de Yato, somente ela. Pelo que conhecia dele, nem mesmo Sakura trouxera tanta completude ao seu coração, como fizera Hiyori. Ninguém o fazia tão bem como ela, e era exatamente por isso que iria apoiar os dois no que quer que fosse. Seu palpite era que ele estava prestes a perdê-la e precisava urgentemente dos conselhos de alguém. Dessa vez iria entregar seu ombro a ele.

— Já que está tão preocupada com Yato-kun, deixarei que fique responsável pela vistoria do templo, Mayu-chan. — Tenjin tirou-a de seus devaneios, lançando-lhe uma piscadela acompanhada de um sorriso maroto. A regalia ficou vermelha até o pescoço e olhou-o com descrença. 

Ela, preocupada com Yato, aquele deus imprudente e estúpido? Jamais! Porém, como era uma ordem de seu mestre e ela nunca o desacataria, aceitou prontamente sua tarefa, virando-se para discutir mais algumas coisas com Tsuyu. Assim, após tudo estar encaminhado, ambas se separaram, cada uma seguindo seu destino. Tsuyu fora delegar às demais Shinkis o restante das tarefas e Mayu se retirara de Takamagahara, seguindo para o mundo dos humanos. 

 

♥♥♥♥

 

Ainda que não lembrasse de como sua vida era antes de morrer, era nostálgico para Mayu presenciar a movimentação do dia a dia dos humanos. Era frustrante, de certa forma, que eles não pudessem vê-la, mas sabia que era melhor assim. Estava conformada com seu destino desde que se transformara num tesouro sagrado, pois de forma alguma queria picar seu soberano pensando em coisas desnecessárias e além de sua compreensão. Ela era uma mulher sensata. No fim, não lembrar de sua antiga vida tornava tudo mais fácil e ela gostava de ser uma regalia. Pelo menos não fora uma alma tragada por fantasmas. 

Sozinha em uma rua qualquer, confessava para si mesma que estava enrolando um pouco. Andava pela cidade despreocupadamente, adiando o momento de vistoria do santuário; passava por entre pessoas, carros, lojas e, enquanto contemplava tudo maravilhada, seguia seu caminho, apreciando também o clima morno daquela tarde.

A verdade mesmo era que, na melhor das intenções, buscava em sua mente palavras que pudesse dizer para ao menos tentar confortar o coração aflito de Yatogami. Esperava que desse certo e ele se erguesse, afinal, o deus de calamidade não era assim... Estava realmente estranhando essas atitudes molengas dele. Ele sempre fora tão decidido!

Passando em frente a uma cafeteria da cidade, a qual achou muito sofisticada, Mayu deparou-se com uma mulher morena segurando um carrinho de bebê, o que lhe chamou a atenção. O pequenino no carrinho, um bebê rechonchudo de cabelos pretos e bochechas coradas, não parava de chorar de forma alguma e a suposta mãe dele já estava super constrangida por estar chamando muita atenção. Ela tentava de tudo para acalmá-lo, mas ele parecia transtornado.

Foi aí que a Shinki reparou no pequeno Ayakashi, um lagarto roxo com asas verdes e língua de fora, que pairava sobre a cabeça da pobre mãe. 

Tch — desdenhou a jovem —, vou eliminar esse incômodo. — Dito isso, chegou perto o suficiente para levantar seus braços, balançando-os de um lado a outro, e conseguir chamar a atenção daquela criatura nojenta. — Ei, eu estou aqui! Venha me pegar! — o fantasma foi atraído pelo cheiro e voz da regalia, passando a segui-la quando esta começou a se distanciar.

Mayu correu para longe enquanto era perseguida e, assim que viu uma oportunidade de eliminá-lo — pois ele pousara no chão, baixando a guarda —, ela o fez. Primeiro criou uma fronteira, assustando e atordoando o bicho, o qual soltou uns ruídos estranhos e começou a babar uma gosma verde, e depois pisou na cabeça dele sem dó nem piedade, matando-o. O fantasma se desfez em luzes brancas e Mayu, por fim, bateu as mãos uma na outra, satisfeita por ter se livrado daquela escória. 

Voltando para a cafeteria, percebeu a mãe do bebê aliviada por ele finalmente ter se acalmado e aproximou-se, dessa vez pondo-se ao lado da mãe dele e ganhando a atenção dos olhinhos puxados e brilhantes. Sorriu ternamente e viu o menino agora rir, brincando com um chocalho que havia ganhado da matriarca. Por algum motivo, Mayu sentiu seu interior se aquecer ao presenciar aquela cena tão adorável. Estranhamente tinha uma afeição única por bebês... Talvez tivesse algo a ver com sua antiga vida.

Deixando isso de lado, a jovem sentiu que já estava na hora de voltar a seu propósito original, então, despedindo-se da criança, prosseguiu por seu caminho. Após andar umas duas quadras e entrar numa rua que seria um atalho para chegar mais rápido a seu destino, Mayu arrependeu-se de não ter ido para lá logo. Uma tempestade eclodiu bem no meio da avenida, e com ela surgiram inúmeros Ayakashis, pegando a mulher de guarda baixa. 

— Oh, merda! — xingou ela, correndo feito louca na direção pela qual viera, a fim de se afastar do tumulto. Não obteve êxito, uma vez que fantasmas diversos — um deles parecia uma mistura de sapo com cobra, o outro era uma abelha gigante, tinha também uma aranha vermelha e mais outros cinco não identificáveis — detectaram sua presença e passaram a persegui-la incansavelmente. Ela não tinha poder para lidar com eles, já que não era mais uma arma, e sim o cachimbo de Tenjin. Aquilo parecia até uma vingança por ter matado o Ayakashi fraco de mais cedo. — ISSO TINHA MESMO QUE ACONTECEEER?! — exasperou-se, ao passo que continuava a correr e olhar para trás, verificando se estava conseguindo despistá-los. Não estava.

Eles a seguiam com vigor e eram muitos; vinham para cima dela envoltos naquela aura maligna de cores roxa e preta, o que a apavorou ainda mais. Se fosse pega seria consumida. Sem falar nos demais Ayakashis, que foram para o resto da cidade assolar os seres humanos. Alguém precisava controlar aquela situação... mas esse alguém certamente não era ela. 

Como iria se safar dessa?! Não fazia a mínima ideia, só sabia que iria continuar fugindo. Agora entrava em becos desconhecidos que nem sequer imaginava aonde iam dar; seu cabelo voando, sua respiração desregulada e seu coração batendo tão rápido que chegava a doer. Até que ela tropeçou, caindo estirada no chão. Havia uma droga de um batente na frente dela, o qual não vira. Sentiu-se uma completa idiota, além de desastrada.

— MAS QUE DIABOS!! — vociferou. Estava ofegante, vermelha e revoltada. Voltou as vistas para sua retarguada e viu que dava tempo de se levantar, então apoiou as mãos e os joelhos ao chão para o fazer, isso em fração de segundos. Pôs-se de pé e ia prosseguir correndo, todavia, mesmo tentando ser rápida, suas pernas fraquejaram e ela cambaleou, voltando a cair. Quando ia erguer-se novamente, foi puxada fortemente pela língua de um fantasma, que se enroscou no seu tornozelo e a içou no ar. — SOLTE-ME, SEU MONSTRO ASQUEROSO!!! — Mayu começou a gritar descontroladamente, contudo, não era como se o Ayakashi fosse ouvi-la. Ah, mas ela guardou um rancor especial pelo Ayakashi-cobra, aquele bicho dos infernos com uma língua maldita!

Ela nunca, nunca havia passado por isso em toda sua vida como tesouro sagrado. Nem mesmo quando servia a Yato passara por algo do tipo. Estava muito nervosa, era balançada no ar com violência e não sabia se chorava ou gritava. Ela não era do tipo desequilibrada, entretanto, a situação "pedia" por todo esse desespero. 

Estava a ponto de ser engolida e fechou os olhos com força, esperando por sua segunda morte. Qual não foi sua surpresa ao perceber que não estava na garganta do bicho, mas que a língua dele havia sido cortada e ela, ao cair, havia sido segurada por alguém. Levantou a cabeça, meio tonta, e deparou-se com enormes cabelos loiros e orbes lavanda cintilantes. 

— Bishamon-sama... — a regalia sorriu para a deusa, aliviada. Bishamonten desferiu mais alguns golpes no fantasma e depois pousou no chão rapidamente, em cima de seu leão, e depositou Mayu ali, de pé. — Obrigada. — A de olhos verdes curvou-se em agradecimento a Bisha, encostando-se a uma parede para se sustentar. 

— Não foi nada. — a loira sorriu de volta levemente, usando sua espada, Saiki, para cortar a cabeça de um Ayakashi que estava bem ao seu lado, sem nunca tirar os olhos de Mayu. 

Ela é incrível, pensou a Shinki, desejando por um instante ser como ela. 

— Espere aqui por um momento, Mayu. — Vaisravana pediu gentilmente, recebendo instruções de Kazuma, que estava em sua orelha na forma de brinco, e executando-as num piscar de olhos, eliminando todos os Ayakashis sem muito esforço. Ela era forte demais. 

A regalia de Tenjin inspirou e expirou profundamente, relaxando os ombros outrora tensos, recompondo-se e assistindo àquela batalha de camarote.

A deusa da guerra logo voltou para seu lado, revertendo a transformação de Kazuma, que a cumprimentou com um aceno de cabeça, e perguntando-a sobre algo: 

— Onde está Tenjin? 

— Ele ficou em Takamagahara — respondeu a Shinki. 

— E deixou você vir até esse mundo sozinha? — questionou Bisha com uma carranca, sentindo vontade de dar um cascudo naquele velhaco. Quanto mais velho ficava, mais irresponsável se tornava. — Ele sabe que aqui é perigoso! 

— Por favor, não o culpe — pediu Mayu, desconcertada. — Eu não ia demorar, mas desviei do meu caminho. — Decidiu assumir que a culpa era dela, para que a outra não pensasse mal de seu mestre. 

— Certo. — Bisha soltou um suspiro. — Mas você está bem? — examinou-a com o olhar, em busca de algum ferimento ou mancha roxa. Mesmo que Mayu não fosse uma de suas Shinkis, ainda assim se preocupava. Era um sentimento sincero. Esse era seu jeito de ser.

— Não se preocupe, Bishamon-sama. Estou bem — a regalia sorriu outra vez, agora mais abertamente. 

— Fico aliviada — a loira retribuiu o sorriso. — Preciso conversar com Tenjin sobre esses acontecimentos. Quando a vi, achei que ele estivesse por perto.

— Acontecimentos...? — a morena piscou algumas vezes e suas sobrancelhas se juntaram, em confusão. 

Vents como esse têm sido abertos misteriosamente por todo o país. — Bishamon esclareceu. Foi então que Mayu entendeu o porquê daquilo ter surgido em seu caminho tão de repente. Alguém criara. — Temo que se não resolvermos isso logo, haverá um pandemônio difícil de controlar. 

— Tenho certeza que Tenjin-sama a receberá muito bem em nosso lar, Bishamon-sama. Infelizmente tenho outro assunto para resolver agora, por isso não poderei acompanhá-la. Sumimasen. — A mulher se curvou num pedido de desculpas formal. 

— Sem problemas, Mayu. Irei visitá-lo agora mesmo. Espero que consiga resolver o que quer que seja. 

— Obrigada, Bishamon-sama — reverenciou a deusa de novo e acenou. — Boa sorte com seus assuntos. — Despediu-se dela e de Kazuma, que agora discutiam sobre o problema entre si, e começou a andar para longe. 

Passara por tudo isso apenas para chegar até Yato... Estava ficando louca. Deveria receber um prêmio!

 

♥♥♥♥

 

Ele estava em mais um de seus sonhos. Aqueles que já lhe eram típicos, onde uma capa vermelha com detalhes em dourado adornava seus ombros e uma coroa de ouro puro jazia brilhante sobre sua cabeça. Vestes dignas de um rei, exceto, é claro, pelas calças puídas de sempre, acompanhadas daquele casaco amarrotado e botas desgastadas pelo uso. Isso com certeza não era para um rei; para um deus, talvez. Um deus desconhecido, era verdade, mas isso não vinha ao caso. Ele era extremamente cheiroso, pelo menos. 

Encontrava-se, mais uma vez, sentado sobre seu trono, na parte aberta do seu enorme santuário, rodeado de jovens e bonitas garotas vestidas em seus kimonos tradicionais de miko, de cores branca e vermelha. Ainda que suas seguidoras o estivessem servindo da melhor maneira possível, estivessem sorrindo sem parar e fazendo de tudo para ganhar a atenção do agora tão grande deus Yato, nada parecia surtir efeito. Nem mesmo engrandecê-lo e chamá-lo de "Yato-sama" estava funcionando. Havia algo de muito importante faltando ali. Ou alguém. Constatar tal coisa fez as sacerdotisas sentirem inveja. Sabiam de quem se tratava. 

O deus demonstrava somente tédio em sua fisionomia, enquanto por dentro sentia um enorme vazio. Seu desinteresse era tanto para com seu templo e as coisas ao redor que estava na mesma posição havia quinze minutos: o cotovelo esquerdo apoiado ao encosto do assento real e a bochecha, deste mesmo lado, descansando sobre a mão fechada. 

Precisava dela ali desesperadamente. 

Não havia sentido algum em ser reconhecido se não pudesse estar com ela, tê-la ao seu lado. Ela era o seu porto seguro, sua razão para prosseguir. Sem ela, nada para ele valia a pena. Era ela quem trazia sentido para sua existência; era ela quem coloria seus dias mais cinzentos. Ela era o seu lar. E quando ela não estava por perto, não conseguia enxergar motivos para continuar com tudo aquilo. 

Ser finalmente conhecido e aclamado pelas pessoas, receber pedidos constantes durante todos os dias e ser lembrado era realmente uma coisa maravilhosa, trazia para si orgulho e felicidade, porém, certamente abriria mão disso facilmente se fosse por ela, para mantê-la consigo. De que adiantava toda a fama e prestígio se seus dias não pudessem mais ser divertidos como quando estava com ela? Preferia, sem um pingo de dúvida, continuar a ser o deus pé-rapado de sempre, desde que pudesse viver ao lado dela. Obviamente seria muito mais feliz. Só precisava garantir que ela quisesse isso também; que ela não o esquecesse...

— Yato! — ele foi retirado de seus pensamentos ao ouvir tão familiar voz a chamá-lo. Reconheceria aquela voz em qualquer lugar, mesmo a quilômetros de distância. 

Sua reação foi imediata. Ergueu a cabeça inopinadamente, os orbes azuis brilhantes cravando com vivacidade no rosto da garota. Somente ela era capaz de deixá-lo dessa forma, atordoado. Iki Hiyori.

Lá vinha a moça e ele a olhava como se não enxergasse nada além dela. Os cabelos castanhos esvoaçavam com  delicadeza e podia vê-la ajeitar as mechas atrás da orelha, o que a deixava ainda mais bonita aos seus olhos. Na face dela havia um sorriso aberto que poderia ser considerado o mais encantador, e aqueles olhos cor-de-rosa encaravam-no com amabilidade. 

Hiyori com certeza possuía os olhos mais gentis que já vira. Um sorriso infantil tomou seus lábios. As yatetes com certeza estavam com inveja. Hiyori era a única que conseguia alegrar Yatogami apenas com sua simples presença. 

— Hiyoriiii!! — de repente ele estava chorando feito um bebê, levantando-se e correndo em direção a jovem, nos braços da qual jogou-se, caindo de joelhos e apertando-a pela cintura, ao mesmo tempo em que seu rosto se pressionava a barriga dela. 

— C-Calma, Yato! — protestou Hiyori, enrubescendo instantaneamente. O azulado sempre a agarrava assim, choramingando. Já devia estar acostumada. Contudo, não conseguia evitar se sentir envergonhada, ainda mais quando aquele cheiro maravilhoso e inconfundível adentrava suas narinas. Aquele deus tonto sempre causava isso nela. 

— Achei que não iria mais voltar! — confessou ele, estreitando seus braços ainda mais ao redor dela. — Cheguei a pensar que... que... — iniciou, dessa vez se soltando da garota e pondo-se de pé na frente dela. Fez questão de ficar bem próximo, mirando-a tão profundamente que a fez corar ainda mais, sem poder fugir da ansiedade que a transmitia. — ...que tivesse me esquecido. 

Rubra, a Iki devolvia o olhar na mesma intensidade, embora ainda estivesse um pouco tímida. 

— Seu deus bobo — disse ela num sopro suave —, do que tem tanto medo? — questionou, mesmo que já soubesse a resposta. — Confie em mim... — pediu, dando um sorriso singelo que, como sempre, encantou Yato, o qual a fitava um pouco surpreso, mas feliz. — Eu nunca vou te esquecer. — Hiyori prometeu por fim, e Yatogami não conseguiu se segurar, voltando a abraçá-la, dessa vez afundando o rosto na curvatura do pescoço dela. 

As mãos dela, um pouco trêmulas pelo nervosismo de tê-lo tão perto, pousaram nas costas masculinas, retribuindo o abraço e prendendo a capa vermelha entre os dedos, como se não fosse soltá-lo nunca. 

Os corações de ambos batiam em sincronia, incrivelmente acelerados. 

— Eu te amo, Hiyori...

— Hiyori... — murmurava Yato, em seu sono. Parecia inquieto enquanto descansava, o que não passou despercebido por Mayu, que depois de chegar ao santuário ficou a observar seu antigo mestre com pesar.

Ela suspirou. Encontrara o estúpido dormindo numa posição nada confortável naquele assoalho de madeira, sussurrando inúmeras vezes o nome da garota semi-ayakashi. Sentou-se no chão um pouco afastada dele e, neutra, continuou a observá-lo, repassando em sua mente o que iria dizer. Não demorou muito para que ele acordasse; a respiração acelerada e o cabelo suado grudando na testa. 

— Você está um caco — falou Mayu de repente, assustando-o.

— Tomone?! — exclamou o deus de calamidade, sobressaltado, imediatamente pondo-se sentado. — O que faz aqui? — ele a mirou, interrogativo. — E olha quem fala, vindo até aqui toda desgrenhada! — acusou, zangado. Mayu enrubesceu, embaraçada. 

— I-Isso foi um imprevisto! — gaguejou ela, na defensiva, ajeitando os cabelos negros com os dedos. — E meu nome é Mayu, idiota! — exclamou de volta, uma veia saltando em sua testa. No entanto, desistiu de ficar brava e resfolegou, massageando as têmporas e decidindo ignorar a idiotice de Yato, a qual se manifestava mesmo em momentos críticos e inoportunos como aquele. — Esqueceu que Tenjin-sama deixou você ficar aqui? Você anda mesmo mais disperso do que nunca. Eu apenas vim verificar se está tudo bem. E olha, só de olhar para seu estado deprimente percebo que nada está bem.

— Tanto faz. — Yatogami deu de ombros e virou o rosto para o lado, inflando as bochechas e fazendo um bico, claramente chateado. A verdade era que ele queria passar um tempo sozinho, entretanto, ninguém parecia querer respeitar seu espaço. Todos ficavam preocupados e entendia isso, estava mal, mas não era como se fosse morrer ou desaparecer para sempre, apenas queria ficar afastado dos outros para conseguir pensar com clareza. 

— Estou preocupada, Yato. — Declarou Mayu seriamente, fazendo o deus a fitar com perplexidade. 

— Está preocupada... comigo? — perguntou ele, olhando-a com estranheza. 

— Quem se preocuparia com você, seu imundo?! — a Shinki se irritou, porém, só dissera tal coisa porque era orgulhosa demais para admitir que, sim, realmente se preocupava com esse mendigo. — Vê se vai tomar um banho! Você não fede, mas está claramente um bagaço! — continuou a gritar com ele. Tsc, como ele conseguia ser tão irresponsável?!

— Não precisa ser tão grossa, Tomone! — retrucou ele, também irritado. 

— Já disse que meu nome é Mayu! M-a-y-u! — ralhou a mulher, socando a cara do deus por impulso. Não que se arrependesse, pelo contrário, era merecido. Contudo, não fora para isso que havia sido enviada ali. 

— Bruta, bruta! — Yato, que com certeza não estava em seu juízo mais perfeito, gritou de volta, apontando o dedo na cara de sua ex-regalia, enquanto apertava a bochecha que fora esbofeteada. Diante disso, Mayu parou, fechou os olhos, respirou fundo e voltou a encarar Yato. 

— Vamos falar sério, Yato. Por favor. — Não era todo dia que ouvia aquela palavrinha mágica sair da boca de sua antiga Shinki, afinal, ela adorava trocar farpas e não ser nada gentil consigo. Por isso, parou e a encarou estoico. A mulher, vendo que agora ele prestaria atenção em suas palavras, prosseguiu: — Não pode se deixar abater dessa forma. Você é o Yato, lembra? O deus cabeça dura que faz tudo o que quer e ninguém pode impedir. — Ela, dessa vez, o olhou com um carinho de amiga, dando um pequeno sorriso compadecido. 

Yato baixou o olhar para o chão, consternado, mas disposto a ouvir o que mais ela gostaria de lhe dizer. Por algum motivo sentiu toda sua energia ser sugada de uma só vez; estava fraco, não tinha forças nem para responder alguma coisa. 

 — Não fique aí parado, idiota!! Erga a cabeça e aceite o que está sentindo! — a de olhos verdes o repreendeu, a fim de dar-lhe um choque de realidade. — Você a ama? Quer ficar com ela?! — questionou, falando alto para pressioná-lo. Viu-o encolher os ombros. — Então assuma as responsabilidades e arque com as consequências!! — posicionou o dedo em riste, desafiando Yato com ímpeto. Só assim suas palavras iriam entrar na cabeça dele e fazer algum efeito. O deus menor esbugalhou os olhos, de repente paralisado com as palavras de Mayu. Estava tão na cara assim que sofria por Hiyori? 

— Seus sentimentos não são insignificantes, está me ouvindo?! — abaixou o dedo, mirando-o numa súplica. — Você não pode anular a si mesmo dessa forma. Apenas... Apenas viva o momento. Quando o futuro chegar, vocês podem decidir o que fazer juntos, mas, por enquanto, apenas seja você mesmo. Infelizmente eu não posso garantir que tudo dará certo, entretanto... — sorriu outra vez — ...você é o Yato, não é? Vai conseguir dar um jeito.

Yatogami mantinha suas íris fixas ao rosto de Mayu, sem demonstrar o quanto estava emocionado. Seus olhos marejaram, todavia não se importou. Era muito sortudo por ter amigos como aqueles. Antes não tinha ninguém que lhe dissesse uma palavra de consolo quando estava triste; não tinha em quem se apoiar quando se sentia sozinho. Seu pai e Hiiro nunca fizeram questão de entender ou ao menos perguntar como se sentia sobre si mesmo ou sobre o mundo. Até conhecer Sakura. Tudo fazia mais sentido depois de conhecê-la. Daí veio Kofuku e Daikoku; Tomone e Tenjin; Hiyori e Yukine... Ele realmente, realmente tinha amigos maravilhosos. Iria se esforçar para valorizar cada um deles. Sabia que, se não os tivesse, estaria perdido. Ainda bem que não haviam desistido dele, mesmo que estivesse passando por um momento muito ruim de instabilidade emocional. Quem diria que um deus como ele iria passar por tudo aquilo?

Uaaaah, Tomoneee!! — e ele finalmente se deixou abaixar a guarda, chorando rios de lágrimas, enquanto o nariz escorria e tentava desesperadamente abraçar a Shinki, que, obviamente, utilizava suas mãos para segurar os pulsos dele e impedir que a tocasse. 

Mayu ficou com uma gota na cabeça, contudo, fitando Yato e vendo-o mais leve, começou a rir e só o que pôde pensar foi: isso era a cara dele. Fazer o quê? Tinha que aguentá-lo. Afinal, amigos são para essas coisas.


Notas Finais


Sumimasen - um pedido de desculpas mais formal.

O foco do capítulo foi na Mayu mesmo... Tava com saudade dela kajskanska E aí, gostaram? Espero que sim.

Amo vocês e até a próxima!

~Archie-sama♥


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