- Por que você acha que não está dando certo? – Allison perguntou de repente enquanto dirigia. Lydia, que olhava distraidamente para a janela, franziu a testa.
- Ahn?
- O plano de Theo – esclareceu. – Por que você acha que não está dando certo?
- Oh. – A ruiva piscou, pega desprevenida pela pergunta. Ajeitou-se no banco, virando-se para a amiga atrás do volante. – Theo criou isso tudo para atingir Stiles. Acho que ele estava esperando uma reação igual a da festa... Na verdade, nem eu sei muito bem o que ele quer com esse plano. Mas Stiles não parece muito interessado. Ele nem parece se importar muito com nós dois juntos. Então... É, não está dando certo. E Theo não vai desistir.
Pensar naquilo fez com que uma onda de desespero começasse a crescer em seu peito. Será que Theo realmente a manteria naquele esquema até ter o resultado esperado? Quanto tempo aquilo duraria? Lydia nunca havia se sentido tão impotente. Era refém de uma cara louco, que obviamente não se importava com nada além de si mesmo, e tudo o que ela podia fazer era contar os minutos para se livrar da coleira que era aquele namoro falso.
Allison balançou a cabeça, gargalhando de leve. Lydia a olhou com uma sobrancelha erguida, sem entender de onde vinha a graça.
- Ah, você está tão enganada. – A morena olhou rapidamente para a amiga, que ainda a encarava, e abriu um sorriso incrédulo. – Você realmente acha que Stiles não se importa? Nosso Stiles?
Lydia deu de ombros, sem saber ao certo o que dizer. Sabia que suas dúvidas em relação a Stiles poderiam soar no mínimo infantis, mas elas não surgiram sem motivo. Durantes as curtas conversas que tiveram nas últimas duas semanas, ele tinha tratado-a como sempre, ou até de forma mais distante, como se nada tivesse mudado, como se ela não estivesse namorando seu arqui-inimigo. Ela não estava inventando.
- Ah, Lydia...
- Pode parar de rir? – reclamou a ruiva.
- Desculpe – disse Allison, recompondo-se. – É só que ás vezes eu não entendo como você não vê... – A garota interrompeu a própria fala como se tivesse dito algo que não deveria, seu rosto ficando sério de vez.
- O que? – perguntou Lydia.
-Eu não sei como você ainda duvida do que Stiles sente... – Ela se interrompeu novamente, olhando de relance para a amiga. Voltou sua atenção para a rua e umedeceu os lábios. – O que eu quero dizer é que ele se importa. Bastante. Você sabe que ele sempre se preocupou com você. Mas as coisas mudaram agora. Ele e Malia estão... Bem, você sabe que Malia ficou muito chateada depois do que aconteceu na festa, e Stiles não quer por seu relacionamento em risco de novo.
A ruiva suspirou e afundou no banco.
- É, eu sei – murmurou.
- A verdade é que nenhum de nós sabe o que fazer. Scott quer confrontar Theo, mas Stiles diz que não é uma boa ideia, embora eu ache que ele só diz isso porque não quer que Malia ache que ele está com ciúmes. – Allison deu um sorrisinho, como tivesse se lembrado de uma piada interna. – Mas eu, sendo a segunda mais inteligente do grupo, consegui resolver o caso. Agora Theo vai ter que lidar com as duas.
Lydia riu e mordeu o lábio. Ela não sabia ao certo como Allison poderia ajudá-la derrubar Theo, mas era reconfortante saber que tinha alguém ao seu lado. Talvez a amiga o fizesse aceitar que ninguém estava acreditando naquele truque barato, e que a melhor coisa que ele podia fazer era desistir daquilo tudo. Lydia havia feito a sua parte do acordo – exceto que ela havia contado tudo a Allison, mas ela tomaria cuidado para que ele nunca descobrisse – e Theo não teria outra opção além de libertá-la. E depois disso... Ele sumiria de suas vidas? Sem conseguir o que queria?
- Allison, o que você acha que vai acontecer se Theo desistir desse plano? – Lydia perguntou de repente.
A morena franziu a testa, percebendo o nervosismo na voz da amiga.
- Como assim?
- Será que... - Um furacão parecia ter se formado na mente da garota. Ela não havia pensado na possibilidade daquele namoro falso chegar ao fim em breve, e isso ser a pior coisa que pudesse acontecer. Lydia levou as mãos ao rosto, sentindo seu estômago dar uma volta. Ela estava rodeada de lados ruins; não havia escapatória. - Ai meu deus. Ai meu *deus*.
- Lydia? - chamou Allison, virando o rosto para o lado e para a frente, tentando olhar para a amiga e para a rua ao mesmo tempo. Lydia tirou as mãos do rosto, com seus olhos verdes arregalados.
- Se o namoro falso não funcionar ele vai voltar para o plano original - disse ela. Uma estranha pressão em seu peito parecia apertar seu coração, e lágrimas ardiam atrás dos seus olhos. - Ele quer vingança. Aquele filho da mãe não vai abrir mão da porra da vingança, Allison. Ele não vai. Não vai.
Lydia mal percebeu quando Allison parou o carro junto a calçada. Soluços escaparam pela sua boca e lágrimas mornas desciam por suas bochechas. A morena virou-se para a amiga e segurou suas mãos.
- Lydia, olhe para mim.
- Theo vai machucar Stiles - disse ela com a voz rouca. Aquele momento de desespero era ela percebendo que não podia proteger o melhor amigo. Tudo o que ela havia feito foi por nada. Lydia havia se iludido ao pensar que aquela era sua chance de fazer algo por Stiles. Ela podia fingir os melhores sorrisos, suportar os beijos mais longos, esconder da melhor forma o que estava sentindo; no final do dia, não havia nada que ela pudesse fazer por ele além de comprá-lo mais tempo. - Ele vai machucá-lo, Allison. Não importa o que eu faça, ele... Ele vai machucar Stiles e eu não sei...
Allison abraçou a amiga, que soluçou em seu ombro.
- Shh, Lydia, shh... - murmurou, acariciando suas costas.
- Eu não sei o que f-fazer. Eu só estava t-tentando protegê-lo, eu só queria... Oh, meu deus... - Lydia fechou os olhos com força. - É minha culpa. T-tudo isso é minha culpa...
- Okay, pode parar. Isso não é verdade - disse Allison, afastando-se e segurando-a pelos ombros.
- Claro que é! - a ruiva quase gritou. - Se eu tivesse ouvido vocês, nada disso...
- Lydia, você nunca iria poder imaginar o que iria acontecer se você se envolvesse com Theo. Ninguém poderia imaginar isso. A loucura dele nunca poderia ser sua culpa, então pare com isso. – Lydia fungou enquanto a amiga limpava as lágrimas do seu rosto. – Além disso, não adianta ficar remoendo o que já aconteceu. A gentenão pode mudar o passado.
Também não estou podendo mudar o presente, ela pensou. O desenrolar da sua própria história estava longe como nunca das suas mãos, e uma série de fatores a direcionavam para um final muito, muito ruim.
Xxxx
Allison e Lydia não chegaram a tempo para a primeira aula, mas nenhuma das duas estava muito preocupada com isso. Os corredores estavam vazios quando entraram no prédio, mas logo o sinal bateu e todos os alunos saíram de suas salas. Lydia se despediu da amiga, que a deu um abraço apertado, e começou sua caçada, que não foi muito difícil, já que o bando que procurava era particularmente barulhento. Ela seguiu as conversas altas e as risadas histéricas, andando o mais rápido que podia, até chegar ao seu alvo.
Lydia segurou Theo pelo braço e o puxou para longe dos seus amigos sem dizer uma palavra. Seus protestos morreram imediatamente ao perceber que era a ruiva que o puxava, e ele deixou ser levado sem relutância. A garota achou uma sala vazia e o empurrou para dentro, fechando a porta atrás de si.
- Hum, faz o tempo que a gente não faz isso - disse ele, com um sorriso cheio de intenções se abrindo em seu rosto. Foi se aproximando dela, prensando o corpo pequeno da garota contra a madeira, e inclinou o rosto. - Já estava até com saudades...
Lydia o empurrou para longe com toda sua força.
- Não é isso que vai acontecer aqui, seu idiota - disse ela, enojada. Cruzou os braços sobre seu peito, como se montasse uma armadura contra ele. - Quero falar sobre nosso... namoro.
Theo endireitou os ombros e ergueu uma sobrancelha.
- Ok...?
- Até quando vamos continuar com isso? - perguntou ela. - Você não vai desistir nunca?
Ele piscou, parecendo confuso.
- Desistir?
- É, desistir! - ela afirmou, como se falasse com uma criança. - Theo, Stiles está namorando e ele ama Malia, então não faz sentido você ficar esperando outro ataque de ciúmes. Tudo bem, eu sei que aconteceu uma vez, mas ele sabe que foi um erro. Não vai se repetir. Eu sinceramente não sei se você prefere ignorar ou se é burro demais para ver, mas é óbvio que você não vai conseguir o quer.
Theo a encarava com o rosto limpo de expressão. Lydia não esperou uma reação vinda do garoto; ela apenas respirou fundo e desabafou.
- Eu não aguento mais isso. Toda essa mentira, todo esse fingimento... Eu não posso mais, eu não quero mais. - Ela engoliu em seco, sentindo um bolo se formando em sua garganta e as teimosas lágrimas insistindo em voltar para os seus olhos. - Eu preciso que você me diga quando isso vai acabar. Porque, para mim, já chega.
Ele continuava quieto quando ela terminou de falar. Lydia estranhou atitude dele, que sempre a interrompia, agindo com superioridade. Mas a forma que ele a olhava a fez perceber que ele não estava apenas escutando-a com educação; Theo não parecia saber o que falar, embora ela quase pudesse ouvir as engrenagens girando em sua cabeça. A garota não entendia a confusão dele, já que nada que ela havia dito era grande novidade. O que, ele não percebeu que ela estava infeliz?
- Eu... - ele começou a dizer, piscando rapidamente como se tentasse organizar seus pensamentos. - Eu não sabia que você se sentia assim.
- Impossível. - Ela balançou a cabeça, recusando-se a acreditar. Quando estavam longe do público, Lydia nunca se preocupou em esconder o quão incomodada estava com tudo aquilo. Era simplesmente impossível que ele não tenha percebido o quanto ela o detestava. - Como você achava que eu me sentia? Eu estou sendo obrigada a namorar você, pelo amor de deus.
Theo piscou, como se mais uma vez ela tivesse o deixado sem palavras. Lydia estava começando a ficar irritada com aquela atitude; o que havia de errado com ele? Aquilo estava ficando ridículo.
- Não deve ter sido tão ruim assim, certo? - disse ele, abrindo um sorriso vacilante que logo desapareceu. O queixo de Lydia despencou dois andares, e daquela vez era ela quem não sabia o que dizer, mas ao mesmo tempo ela tinha vontade de berrar.
- Você ficou maluco? - perguntou ela quase aos gritos,levando as mãos aos cabelos com frustração. – Perdeu o juízo? Tá drogado?
- Eu acho que formamos um bom casal – disse ele, dando de ombros, e ela nunca quis tanto meter seu punho no rosto dele. – Todo mundo acha isso, na verdade.
- Todo mundo quem, Theo? Seus amigos acéfalos? Ah, pelo amor de deus! Não há nada de bom entre nós, porque nada disso aqui – ela gesticulou freneticamente entre os dois. – é verdade.
- Bom, isso aqui costumava ser muito bom. – Theo foi se aproximando da garota, fazendo-a colar as costas contra a porta. Ela o observou com olhos arregalados enquanto ele inclicava o rosto em sua direção. – Você não sente falta disso, Lydia? Dos momentos que passamos nessas salas vazias, no meu carro, no vestiário... Eu sei que você gostava.
- Isso foi antes de eu descobrir que você é um psicopata – ela murmurou. Theo balançou a cabeça.
- Isso não é verdade, porque psicopatas não tem sentimentos e eu gosto de você, ruivinha – disse ele, dando um pequeno sorriso. – Eu sei que você gostava de mim. E você pode não ver isso agora, mas nós combinamos.
- Não. Não, não não... – Lydia balançou a cabeça veementemente , sem querer aceitar o que ele estava dizendo. Aquilo já era demais para digerir. Ela havia o levado até ali para pôr um fim naquela história, não para ouvir uma... declaração. O que quer que fosse aquilo, ela não queria escutar.
- Você está muito focada naquele seu amiguinho para enxergar. – Os olhos azuis de Theo estavam grandes como os de uma criança diante do brinquedo dos sonhos quando ele pôs as mãos nos braços da garota. – Mas pense, Lydia, em como ficamos bem juntos, em como funcionamos bem juntos... Em como o sexo era bom...
- Ai, meu deus. Okay. Não. – A ruiva desvencilhou-se das mãos dele e o empurrou sem muita força, precisando de espaço para respirar. Ela achou que fosse vomitar as poucas coisas que havia comido naquele dia. – É por isso que você inventou esse plano? Você ameaçou meu “amiguinho” porque queria que eu gostasse de você?
- Não, eu o ameacei porque ele é o otário e eu quero que ele se foda - ele disse simplesmente. - Mas tenho que admitir que o acordo que fizemos foi uma das melhores ideia que já tive. Só estava juntando o útil ao agradável.
Lydia passou a língua pelos lábios, respirando fundo algumas vezes antes de falar, com a voz mais controlada possível.
- Eu não sei a parte útil, muito menos a agradável desse plano ridículo. Mas uma coisa eu sei - ela disse, olhando-o bem nos olhos para que ele visse o quão seria ela estava. - Não há nada, nada, que você possa fazer que me faça te detestar menos. E talvez você não seja um psicopata, mas você com certeza é muito, muito burro. Porque ameaçar meu melhor amigo e me obrigar a ser sua namorada para me fazer gostar de você foi sinceramente... Uma merda. Foi um plano de merda.
Lydia sentia a irritação dele crescer com cada palavra que ela dizia, mas ela não se importava. Não estava com medo dele; não havia nada que ele pudesse dizer para assustá-la naquele momento.
-Você diz que nós combinamos. Eu discordo, porque eu tenho um dos QIs mais altos desse colégio inteiro, e você... – Ela deu uma risada de zombaria. – Bem, acho que já deixei claro o que eu acho de você.
- Eu acho que você está esquecendo o que está realmente em jogo aqui – disse ele com o rosto sério e os olhos brilhando de irritação. – Stiles. Você ama ele, não ama?
- Deixe-o fora disso...
- Ama ou não ama? – ele a cortou.
- Amo – ela respondeu, erguendo o queixo. – Amo sim.
- Então você devia tomar cuidado com o que fala. O que eu falei semanas atrás ainda está valendo. – Theo deu um passo em sua direção e a garota engoliu a seco. – Se você quiser desistir agora, tudo bem. Mas saiba das consequências. Você não sabe do que eu sou capaz, e tenho certeza que não quer descobrir.
-Stiles é o filho do xerife, você acha mesmo que vai poder se livrar se fizer algo contra ele?– ela perguntou, lutando contra o medo que começava a crescer em seu peito.
- Vou ser discreto – ele respondeu, com um sorrisinho convencido.
- Mas eu vou saber que foi você. Meus amigos, que, diferente dos seus, tem cérebros, vão saber que foi você.
- Boa sorte com isso. Você deve saber que eu sou muito bom em tudo que faço. – Lydia rangeu os dentes, a raiva e o nojo que sentia por ele a impedindo de formular frases completas. Ele sorriu, ignorando a expressão dela. – Sabe, você deveria aproveitar a oportunidade de ser minha namorada. Muitas garotas gostariam de estar no seu lugar.
- Pode dar minha vaga para elas – a ruiva resmungou, arrancando uma gargalhada dele. Theo olhou para o relógio em seu pulso e suspirou dramaticamente.
- Você me atrasou para a aula – ele disse, balançando a cabeça com um falso desapontamento. Colocou a mão na maçaneta da porta e deu um beijo rápido na bochecha da garota. – Te vejo depois, linda.
Lydia virou o rosto, seu rosto de contorcendo de nojo, e afastou-se da porta. Theo sorriu como se achasse divertido a atitude dela, e saiu, deixando-a sozinha na sala mal iluminada.
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