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História Never too late - I will save you from yourself (day 31 - bonus)


Escrita por: bunnywings

Notas do Autor


ultima fic do challenge! e é o bonus!

acho que essa fic está um pouco pesada, então se você é sensível ao tópico depressão e suicídio, não leia :(

cuidado com as lágrimas


(o título da fic e a sinopse são da música Never Too Late da banda Three Days Grace e o título do capítulo é uma parte da música Birth do 30 Seconds to Mars)

Capítulo 1 - I will save you from yourself (day 31 - bonus)


Fanfic / Fanfiction Never too late - I will save you from yourself (day 31 - bonus)

 

A primeira vez que se viram não foi em uma situação considerada normal pelas normas que a sociedade criara, mas, para eles, não poderia ser mais normal do que aquilo. Kyuhyun foi o primeiro a notar o outro, completamente entediado enquanto esperava a sua vez no consultório psiquiátrico (ou era psicólogo? Nunca se lembrava, ou dava a mínima). Jongwoon estava sentado no canto mais distante na sala de espera, vestido de preto dos pés as cabeças, seus olhos eram pequenos e tão, tão melancólicos, suas mãos enterradas fundo em seu casaco.

Ele parecia um anjo negro, um anjo do inferno que havia sido designado a morar na terra para roubar os corações de seres humanos inocentes. Seria esta a beleza de Lúcifer ou seria ele mais lindo que o próprio senhor das trevas?

Seu rosto era limpo, sem qualquer marca ou imperfeição, e parecia ser mais novo que ele. Por que alguém tão lindo e perfeito como ele estaria em um lugar como aquele? Preso em uma clínica de reabilitação com seus lindos olhos melancólicos?

“Jongwoon.”

O anjo negro virara o rosto, olhando primeiro para a enfermeira com uma prancheta parada na porta da sala de espera e depois para Kyuhyun, que o encarava descaradamente. Sorriu de lado, como se fosse uma situação engraçada e se levantou com calma, andando em direção ao consultório onde era aguardado, deixando um jovem sem fôlego e completamente apaixonado para trás.

Tentou ser discreto, mas sabia que não havia conseguido, se levantando de sua cadeira de plástico e ficando em pé na porta da sala, os braços cruzados enquanto tentava criar algum diálogo em sua cabeça. O que foi inútil, pois logo que o outro saiu do consultório, seu nome fora chamado pela enfermeira e não teve tempo de falar com seu anjo.

Seu psiquiatra tivera que escutar o jovem a falar um bom tempo sobre o garoto que havia visto minutos antes e o quanto estava apaixonado por ele.

Apesar da clínica não ser muito grande e Kyuhyun já estar internado há algum tempo – 41 dias, para ser exato –, não havia encontrado seu anjo, Jongwoon, desde o dia que vira pela primeira vez quando estava prestes a entrar na sala de seu psiquiatra. Aqueles olhos e aquele sorriso estavam o perseguindo até em seus sonhos, precisava encontrá-lo.

Parecia até mesmo que estava viciado nele e não mais em drogas.

Era um belo dia nublado, o vento estava frio, mas Kyuhyun não ligava muito. Olhou para as nuvens cinza que escondia o sol e suspirou. Quando poderia ir embora desse lugar? Quando abaixou o olhar, percebeu que não estava mais sozinho no banco de pedra do pátio externo da clínica de reabilitação onde estava internado.

Era seu anjo.

Ficou em silêncio, sem saber o que dizer, colocando suas mãos em suas coxas e amassando o tecido grosso de sua calça de moletom com seus dedos. Olhava para qualquer lugar menos para o homem (anjo?) sentado ao seu lado.

Quando abriu a boca para cumprimentá-lo, o outro lhe lançou um sorriso e se levantou, deixando Kyuhyun completamente atordoado, com uma expressão idiota em seu rosto. Deu uma risada baixa e se curvou em uma reverência antes de andar em direção ao prédio branco e cheio de grandes janelas de vidro.

E, assim, Kyuhyun perdeu mais uma oportunidade de conhecer seu anjo.

“Kyuhyun-ssi, você irá se atrasar para a terapia em grupo.” uma enfermeira disse, colocando uma de suas mãos no ombro do jovem, que revirou os olhos e se afastou em silêncio. A enfermeira suspirou, estava acostumada com a atitude mal-educada do paciente.

Terapia em grupo era a atividade que Kyuhyun mais odiava, mas que sua presença era obrigatória em todas as sessões. Achava extremamente chato e irritante ter que ouvir sobre os problemas de pessoas que nem sequer conhecia ou se importava. E não gostava de falar sobre seus problemas, nunca gostou e não começaria agora. Bufando, empurrou a porta cinza da sala onde a reunião aconteceria e travou por um momento ao encontrar aqueles olhos melancólicos que lhe perseguia nos sonhos (e que fora covarde demais para cumprimentar minutos antes).

“Ah, Kyuhyun-ssi, que bom que você veio, estávamos lhe esperando.” o psicólogo disse com um sorriso superficial, apontando para a única cadeira vaga no círculo, que era de frente para Jongwoon “Bom, vamos começar por nosso novo colega, Jongwoon?”

O jovem assentiu, respirando fundo.

“Bom dia, meu nome é Kim Jongwoon.” deu uma pausa.

“Oi Jongwoon-ssi.” todos no círculo, menos Kyuhyun, responderam.

“Bem...” olhou para o psicólogo uma última vez, assentido para si mesmo (Kyuhyun podia jurar que havia um brilho de preocupação nos olhos do psicólogo, algo que nunca vira nas semanas que estava internado) “Eu tenho transtorno bipolar do tipo 1 com tendências suicidas e me auto internei alguns dias atrás pela terceira vez em cinco anos. Espero não dar muito trabalho, por favor, cuidem de mim.” se levantou e fez uma reverência para as pessoas ao seu redor.

Discretamente, Kyuhyun levantou sua mão, para a surpresa de todos presentes.

“Diga, Kyuhyun-ssi.”

“Jongwoon-ssi... Desculpe a pergunta, mas por que você se internou de novo?”

O jovem sorriu a sua frente, parecendo pensar em como respondê-lo.

“Transtorno bipolar não tem cura, ele só pode ser amenizado. Pode demorar anos para ter um episódio de depressão ou de mania.” deu de ombros “Eu tive um episódio de depressão com tentativa de suicídio e estou tentando me recuperar.” levou sua mão esquerda até seu pulso direito, parecia que nem sabia que estava fazendo aquilo e Kyuhyun entendeu.

Mordeu seu lábio inferior, encarando as mãos pequenas de Jongwoon sem saber como reagir àquela notícia. Ele era tão lindo, como um anjo, mas possuía uma mente com falhas e Kyuhyun só queria abraçá-lo forte e o proteger de todo o mundo.

“Bom dia, me chamo Cho Kyuhyun.”

Os outros pacientes arregalaram os olhos e fitaram surpreso o jovem que nunca antes se apresentara voluntariamente e sempre fazia comentários sarcásticos quando o médico lhe obrigava a falar.

“Oi, Kyuhyun-ssi.” responderam baixinho, se entreolhando.

Jongwoon o olhava intensamente.

“Eu... er... Eu era usuário de drogas e estou limpo há 44 dias.” sorriu timidamente quando foi aplaudido “Eu sou aquele caso típico de filho de pais ricos que foi criado pelos empregados e sempre fiz de tudo pra chamar atenção deles, até que desisti. Perdi minha irmã ano passado quando ela se suicidou...” respirou fundo “E foi quando eu comecei a sair com as pessoas erradas e a ficar viciado. Meus pais nunca ligaram pra mim e nunca vieram me visitar, eles só pagam a clínica porque me querem de volta pra fazerem o papel de família perfeita. Mas eu quero melhorar porque eu sei que Ahra noona não ficaria feliz de me ver desse jeito e eu quero que ela sinta orgulho de mim, eu quero viver a felicidade que meus pais tiraram dela.” fungou um pouco “Obrigado.”

“Muito obrigado, Kyuhyun-ssi.” o psicólogo disse com um sorriso sincero em seus lábios.

Horas depois, quando já estava deitado em sua cama com os pensamentos longe, completamente perdido em suas memórias, a porta de seu quarto abriu, um enfermeiro entrando com um sorriso cordial e um cumprimento, começando a arrumar a cama do outro lado do quarto. Quando perguntou se alguém iria finalmente ocupar aquele espaço, o enfermeiro apenas disse que um paciente estava mudando de quarto, pois o que ele estava usando seria passado para outro paciente mais urgente.

 

“Você precisa se socializar mais, quanto menos tempo sozinho, melhor.”

“Mas eu não quero.”

“Eu não me importo com o que você quer, eu me importo com a sua saúde. Fique com o Kyuhyun, parece que você gostou dele.”

 

“Kyuhyun-ssi.”

O jovem levantou o olhar e logo estava de pé ao lado de sua cama, derrubando o livro que estava lendo, o outro segurando uma risada.

“Jongwoon-ssi.” sorriu abobadamente.

“Sou seu novo colega de quarto.”

“Oh, sério? Por favor, entre.”

 

 

 

 

 

 

Jongwoon era estranho.

Ele não conversava muito, preferindo seus livros e seu mp3, às vezes ignorando completamente a existência de seu colega de quarto, que sempre tentava puxar algum tipo de assunto com o rapaz. Quando não estava ignorando Kyuhyun, estava sorrindo em sua direção sem nenhum motivo aparente, o observando em silêncio e algumas vezes sendo bravo o suficiente para deitar ao seu lado na cama.

Ficavam horas conversando depois do jantar, muitas vezes ficando acordados até o amanhecer. Conversavam sobre suas vidas dentro daquela clínica de reabilitação, seus sentimentos, o que achava dos outros pacientes (fofocando sobre alguns e falando mal de outros) e dos médicos e enfermeiras que tentavam ajudá-los. Conversavam sobre filmes, séries de televisão, livros e músicas, encontrando poucas coisas em comum, mas sentindo a mesma paixão.

Havia noites que Kyuhyun ia até a cama do mais velho e o abraçava fortemente enquanto chorava até dormir, sentindo pena de si mesmo, falta da sua amada irmã e raiva de como seus pais os tratavam.

Jongwoon nunca chorou ou lhe contou sobre seus ataques suicidas.

Eram inseparáveis e até seus psicólogos perguntavam sobre o outro quando entravam em suas salas nos dias de consultas. Enfermeiras confiavam neles para que dessem o remédio do outro, sabendo o quanto achava importante a saúde de seu amigo. Ajudantes fofocavam que a amizade dos dois era forte demais para ser apenas isso, apontando pequenos fatos e atitudes que eram ambíguos e outros que eram românticos.

Nos dias reservados para visitas, o irmão mais novo de Jongwoon sempre aparecia, convidando Kyuhyun para conversar com eles, já que sempre ficava sozinho nesses dias. Kyuhyun nunca recebera visita enquanto estava internado e nunca vira os pais de companheiro de quarto, apenas seu irmão.

E assim era a vida dos dois dentro da clínica.

Uma das atividades que a clínica oferecia era andar a cavalo. Os médicos diziam que era terapêutico e ajudava em várias doenças psicológicas, mas que dependia de pessoa para pessoa. Era a atividade favorita dos dois, os cuidadores sempre apostavam entre si se naquele exato dia eles iriam devolver os cavalos com alguma marca em seus pescoços ou qualquer evidência de que estavam juntos e usavam a atividade para ter mais privacidade (já que podia cavalgar pela propriedade quase toda).

Ironicamente, o primeiro beijo dos dois foi enquanto nadavam descontraidamente na piscina aquecida da clínica durante a noite, quando estava completamente deserto.

Nada mudara na rotina deles depois de se oficializarem como um casal: continuavam conversando a noite e ocasionalmente dormindo na cama do outro, ainda cavalgavam ao redor da propriedade e ainda nadavam a noite. A única diferença era que, agora, todas essas atividades eram acompanhadas por beijos e afagos (às vezes uma mão boba também).

Até que o dia que Kyuhyun levaria alta chegou, quebrando os dois jovens corações.

Na noite anterior Jongwoon finalmente confessou ao namorado o que havia acontecido em sua vida para recorrer à internação tantas vezes. E, em resposta, Kyuhyun contou mais sobre sua vida quando sua irmã morreu.

Jongwoon era abusado pelo pai, que sempre lhe sussurrava o quanto era uma criança linda, que o tentava sem perceber. Ele tentou abusar de seu irmãozinho também, mas Jongwoon trocou seu corpo pela “liberdade” de seu irmão. Começou a odiar o próprio corpo, a odiar seu, a odiar-se. Parecia que não conseguiria fugir do pesadelo que estava vivendo e sua mãe, mesmo que suplicasse para que acreditasse em sua palavra quando lhe contava o que seu pai fazia consigo, dizia que estava alucinando e que deveria crescer.

“Ele me ama, Jongwoon, você realmente acha que vou acreditar que meu homem prefere seu corpo ao meu?”

Tinha apenas quinze anos quando matou seu pai. Legítima defesa.

O tribunal o acusou de assassinato, mas levou em conta todo o seu passado de abusos, já que tinham provas concretas sobre eles e as confissões do, então, adolescente. Mães choraram tristes e com pena do jovem, seu irmão chorou completamente arrasado, mas sua mãe... aquela que lhe carregou em seu ventre e lhe deu a luz, apenas lhe dera as costas dizendo que não era seu filho.

E aquilo lhe causou um trauma.

A pedido da justiça fora mandado para uma clínica para ter tratamento intensivo para combater seus traumas, mas nada mais poderia ser feito, o dano já estava enraizado em seu cérebro. Lembrava-se claramente da sua primeira tentativa de suicídio, lembra-se da textura do lençol contra seus dedos enquanto o amarrava na grade da janela e depois contra seu pescoço. Lembrava da sensação de ter seu pescoço apertado a ponto de não conseguir respirar. Lembrava-se do sorriso em seu rosto quando ficava inconsciente.

E também se lembrava do quanto chorou quando acordou e descobriu que ainda estava vivo.

“Tem dias que eu só quero morrer... Parar de existir...” terminou com um suspiro.

Kyuhyun, com os olhos marejados, apenas puxou o mais velho para um abraço apertado, sem saber o que dizer para confortá-lo. Seu Jongwoon havia sofrido tanto...

Quando finalmente se acalmaram, o mais novo resolveu começar a contar sua história, afirmando várias vezes que era clichê e chata, que não havia nada de emocionante, ganhando uma risada do mais velho.

A família Cho era rica, extremamente rica, orgulhosa e esnobe. Seus egos eram do tamanho de sua fortuna, que era mais importante que os próprios filhos, que ficavam abandonados na mansão fria aos cuidados dos empregados. O casal havia ficado decepcionado ao descobrir que o primeiro filho de seu casamento (que era arranjado e não por amor) era uma menina. Tentaram mais uma vez e conseguiram o que desejavam, um filho homem, herdeiro de sua fortuna e o futuro CEO da empresa da família.

Eram raras as ocasiões que as crianças podiam ver seus pais, ganhando cartões frios em seus aniversários com algumas notas de won. Os dias das mães e dos pais eram os piores. Viam seus coleguinhas de classe fazendo cartões e falando sobre sua família feliz e eles não tinham nada, acabando por fazer cartões para suas babás e empregados – era o mais próximo de uma figura materna e paterna que existia.

E aquele sentimento de abandono e solidão os acompanhou a vida dos herdeiros Cho, os influenciando nas escolhas de amizades e amores.

Ahra, a irmã mais velha de Kyuhyun, quando já estava na faculdade, começou a sair com um cara que nem seu irmão, nem os empregados, gostavam. Ele era tudo o que você esperava de um badboy, seus braços eram cobertos de tatuagem, tinha piercings em suas orelhas e sobrancelha, e fumava. Depois que Ahra começou a sair com ele, mudou drasticamente, ficando mais quieta e distante, seu olhar perdido e comia menos.

Um dia, Ahra chegou em sua casa chorando muito e correndo para os braços de seu irmão, soluçando que seu namorado a estava traindo com sua suposta melhor amiga e que ouviu eles conversando sobre ela.

“Eles só querem o meu dinheiro!” exclamou alto, lágrimas encharcando seu belo rosto.

E tudo foi de mal a pior. Kyuhyun descobriu que sua irmã havia virado a piada da faculdade, todos apontando para ela enquanto cochichavam alguma fofoca entre si, sem se importar se ela estava presenciando ou não. Isso deteriorou ainda mais a saúde mental de Ahra, levando-a ao desespero e ao suicídio.

A morte de Ahra afetou mais Kyuhyun que seus pais, que ficaram reclamando sobre o quão ruim o suicídio era para a imagem que tinham. Revoltado e depressivo, o adolescente começou a frequentar clubes e a beber, fazendo algumas amizades e aceitando as drogas que lhe ofereciam nas rodinhas da área dos fumantes. Quando percebeu, não conseguia passar um dia sem ao menos usar alguma droga. Dinheiro não era problema e seus pais não ligavam, o que só fazia sua situação ficar ainda pior.

“E como você decidiu que queria ficar limpo?” Jongwoon perguntou baixinho, acariciando o rosto de seu namorado.

“Eu tive uma overdose em casa e quase morri. Quando acordei no hospital a primeira coisa que pensei foi o quão triste e decepcionada Ahra deve estar.” suspirou “Acho que chorei tanto quanto no enterro dela...” pressionou seu rosto contra o pescoço de Jongwoon, inalando seu cheiro de sabonete da clínica.

Ficaram em silêncio depois, adormecendo lentamente enquanto o sol começava a nascer no horizonte.

 

 

 

 

 

De acordo com as regras da clínica, celulares eram proibidos e o acesso à internet e ao telefone eram reduzidos, tendo que pedir pra uma enfermeira ou médico para usar e mostrando um bom motivo que pudesse convencê-los. Por isso, Jongwoon e Kyuhyun resolveram trocar cartas enquanto estavam longe um do outro, ocasionalmente trocando emails com foto e fazendo longas ligações uma vez por semana.

Não era perfeito, mas era a única coisa que podiam fazer para se manterem conectados. Mas a saudade continuava ali, atormentando-os principalmente a noite, quando não tinham mais o outro por perto para lhe confortar com seus abraços e beijos.

Com a ajuda do médico principal de Jongwoon (que Kyuhyun descobriu ser seu amigo de infância que havia cursado psicologia pensando em ajudá-lo – invejava a amizade dos dois internamente), os dois planejaram uma viagem de “férias” para o mais velho de quatro dias e ficaria hospedado na casa de Kyuhyun.

Foram quatro dias maravilhosos para o casal, que aproveitou cada minuto, cada segundo dos dias que passaram juntos e falando seus primeiros “eu te amo” de muitos.

Mas logo Jongwoon teve que voltar para a clínica, para a tristeza dos dois.

Os dias que se passaram depois da visita do mais velho pareciam cinza e sem nenhum apelo para o mais novo, que passava a maior parte do tempo deitado em sua cama abraçado à tartaruga de pelúcia que havia ganhado do namorado.

 

 

 

 

 

Kyuhyun estava preparado para ir até a clínica buscar Jongwoon quando ele recebesse alta, pois seria no mesmo dia em que completariam 200 dias juntos, mas a vida tinha outros planos.

Recebeu uma ligação do médico amigo de seu namorado duas semanas antes, perguntando sobre o mais velho e se Kyuhyun havia percebido algo de estranho nele, o que negara, ele estava normal ou tão normal quanto poderia ser. Uma semana depois, Jongwoon lhe ligara rapidamente para dizer que lhe amava muito e que não poderia viver sem ele (Kyuhyun achou fofo e romântico e respondeu com a mesma linha).

Agora, exatamente dois dias antes de seu reencontro, uma carta chegara à mansão Cho vinda da clínica de reabilitação e entregue em mão à Kyuhyun pelo médico de Jongwoon, que estava visitando sua mãe por alguns dias. Achou estranho, mas sabia que o mais velho era impulsivo, então deu de ombros e foi até seu quarto para ler a carta com privacidade.

O conteúdo, entretanto, o chocou.

 

Querido Kyuhyun,

Eu sei que isso pode estar parecendo estranho para você já que acabamos de trocar cartas, mas eu queria lhe contar algo importante sobre mim. Algo que não contei enquanto estava na sua casa. Me desculpe esconder isso de você, mas não queria preocupá-lo e eu queria resolver sozinho.

Quando me internei e nos encontramos naquela roda de conversa, eu disse que estava ali depois de ter uma crise suicida por causa da minha síndrome... mas eu menti. Eu não tive crise suicida, na verdade, ela estava apenas no começo.

Minhas crises duram anos e não semanas ou meses, e surgem sem aviso prévio. Com o tempo comecei a perceber pequenos avisos do meu corpo e, assim, consigo saber mais ou menos quando uma crise está para começar.

Quando eu te disse que eu acordo sem nenhuma vontade de viver, é o que estou sentindo agora. Eu quero morrer, Kyuhyun. Eu não consigo me levantar da cama, eu não consigo me mexer... Eu só queria deixar de existir. Meu corpo me trouxe tantas desgraças que eu só queria me livrar dele. Eu cheguei nessa clínica pensando que talvez não desse certo, que dessa vez eu iria conseguir me matar de verdade, talvez eu me afogasse na piscina durante a noite... Mas então você começou a chamar a minha atenção e isso me salvou de mim mesmo por algum tempo.

Até eu conhecer você, eu não sentia nada... Você sabe qual é a sensação de se sentir vazio? Uma dica: não é agradável.

Kyuhyun-ah... você me fez tão feliz enquanto esteve do meu lado... Obrigado por tudo, por suas palavras, seus abraços, seus beijos, seu carinho... Obrigado por me amar.

Eu nunca menti quando eu disse que te amava e que não viveria sem você. Me desculpe. Depois de tanto tempo juntos, eu quase me senti curado, mas você recebeu alta e teve que voltar para casa e eu me senti tão mal. Senti como se meu peito estivesse sendo aberto sem nenhum tipo de anestesia e meu coração era arrancado. Kyuhyun... eu não sei mais como funcionar sem você por perto. Esses dias que passei com você só fez isso ficar mais forte, só me fez piorar. Eu te amo tanto que dói.

Eu não aguento mais... Eu não aguento mais...

 

A carta em suas mãos tremia quase violentamente, algumas linhas já manchadas com suas lágrimas que não paravam de cair. Um soluço alto e dolorido escapou de seus lábios vermelhos.

 

Não se preocupe com Jongjin, eu já mandei uma carta para ele. Ele é forte, já aceitou que iria me perder a qualquer momento desde que fui diagnosticado. Jungsoo sabe que tem algo de errado comigo e colocou mais enfermeiras para cuidar de mim e me espionar... espero que ele não se culpe... ele sempre foi um bom hyung para mim.

Kyuhyun-ah, por favor, viva. Por mim.

Chore tudo o que você tiver para chorar, mas não entre em depressão por minha causa, não me imite para tentar ficar ao meu lado mesmo depois da morte. Por favor. Você é jovem e tem toda uma vida pela frente, possui muito mais oportunidades do que eu... Mas por favor, nunca se esqueça de mim, ok? Nunca.

Talvez minha mãe tenha escolhido o nome certo para mim... Sou uma tempestade cheia de trovões.

Quando você estiver lendo essa carta eu provavelmente já estarei morto. Ou preso na cama depois que descobrirem e conseguirem me salvar. Sinceramente, espero que seja a primeira opção.

Viva Kyu-ah! E serei livre.

Com todo o amor que alguém que não sente nada pode ter,

seu amado, Kim Jongwoon.

 

 

 

 

 

 

Kyuhyun desfez o nó de sua gravata e a guardou dentro do bolso de seu paletó, tirando um maço de cigarros e levando um até seus lábios. Fumar era ruim, sabia disso, mas era a única coisa que o acalmava quando estava estressado ou se sentindo sozinho. E no momento sentia os dois. Suspirou, soltando a fumaça e olhou para o céu estrelado.

“Cinco anos, huh?” sorriu, seus olhos brilhando com as lágrimas não derramadas.

Dobrou a manga de seu paletó e acariciou levemente a tatuagem em seu pulso, o mesmo pulso que Jongwoon havia cortado. Ali, tatuado, havia uma borboleta simples, o nome de seu eterno namorado escrito com letra cursiva e elegante abaixo do belo animal.

“Jongwoon-ah... Você está orgulhoso de mim? Eu estou vivendo. Sou o que meus pais esperavam que eu fosse.”

Sua risada saiu fraca e baixa, suas mãos tremendo enquanto levava o cigarro novamente à boca.

“Continuo limpo, sabia? Nunca mais voltei pra vida que eu tinha. Eu quero que você e Ahra se sintam orgulhosos de mim.”

Fechou os olhos e deixou que a brisa brincasse com seu cabelo, bagunçando-o.

“Eu sinto sua falta Jongwoon... Minha tempestade favorita...”

E, como se o mais velho lhe ouvisse, o vento ficou mais forte por alguns segundos.

 



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