A mesma casa e as mesmas pessoas. Era isso que prevalecia em meus sonhos.
Maria. Possivelmente o nome da minha mãe, mas por que eu não conseguia ver o rosto dela? Quero ver quem ela era e o motivo de eu ficar tão triste ao me lembrar nesse nome.
- Filho, isso é para você. – Ouço uma voz doce se direcionar a mim.
Estava na sala daquela casa, sentado no sofá e na minha frente via uma mulher agachado para ficar do mesmo tamanho que eu. Mais uma vez não conseguia ver o seu rosto nítido.
- O que é isso mamãe? – digo com uma voz fina.
- É um anel que ganhei do seu pai quando ele me pediu em casamento. Quero que guarde com você. – Ela agora tirava um anel do seu dedo e colocava-o em um cordão.
- É seu mamãe, tem que ficar com ele. – dizia olhando para o objeto.
- Nico escuta uma coisa: guarde esse anel com você ok? Não deixe que ninguém o tire. Está vendo como é? – Ela agora olhava para o anel me mostrando o que estava gravado no anel. – São dois anjos. Quando eu me casei com seu pai já estava grávida de você, então ele me deu esse anel. Aqui sou eu e você é esse.
- Anjos não são brancos, mamãe? – digo encarando o anel. Era realmente lindo.
- Há uma lenda meu amor, que os anjos negros são aqueles que livram as pessoas dos sofrimentos. São os mais poderosos e raros. E é isso que você é: forte e raro. – diz ela sorrindo e vejo uma lágrima escorrer do seu rosto - Aqui oh, consegue ler?
- Não... – digo triste por ainda ser novo demais e ler o que estava gravado no anel.
- Di Angelo. Esse é o seu sobrenome meu amor, esse anel é seu agora. É o que você é, nunca se esqueça disso ok? – ela agora pegava o cordão contendo o anel e colocando ele em meu pescoço – Quando se sentir sozinho lembre-se que a mamãe está com você te protegendo como esse anjo.
- Um dia vou poder te proteger também? – digo encarando os olhos sem foco dela.
- Claro. – ela sorria e acariciava meus cabelos. – Você já faz isso pequeno.
Então, a última coisa que me lembro era de seus lábios tocaram minha bochecha.
Acordo dessa vez não assustado ou com o corpo estremecendo. Estava calmo, apenas que agora um sentimento de dor dominava meu corpo fazendo em seguida algumas lágrimas escorrerem em meu rosto.
Levanto minha mão para o alto e vejo o anel em meu dedo. Dois anjos negros e escrito nele: Di Angelo.
Uma pessoa forte e rara. Eu era assim mesmo? Será que eu consegui te proteger mãe? Por que a senhora me abandonou?
A dor em meu peito só aumentava.
Decido então reunir forças e levantar da cama para larvar meu rosto, ao olhar no relógio via que logo Percy chegaria a casa e se ele visse meu estado com certeza se preocuparia comigo.
Lavo o meu rosto que por sinal estava horrível, dificilmente aquela água amenizaria as minhas olheiras e minha cara amassada.
Vou até a cozinha e preparo uma macarronada e sento-me na bancada pensativo ingerindo a comida.
Penso então na sessão que tive no psiquiatra e nos remédios que ele me receitou. Será que eles também inibiriam os meus sonhos? Eu não quero que eles sumam, preciso saber o que aconteceu com a minha família e principalmente com a minha mãe, a qual eu não conseguia nem enxergar o rosto.
Lembro-me dos seus cabelos longos, lisos e negros e das duas bolas negras que eram seus olhos. Recordo do seu sorriso embaçado e do seu toque em mim, era carinhoso e ao mesmo tempo protetor demais, como se cada toque poderia ser o ultimo.
Olho então novamente para o anel e lembro-me das palavras dela. Como eu pude me esquecer daquilo? Por que eu esqueci aquela memória? Era tão feliz e reconfortante. Precisava saber o motivo da minha mente ter bloqueado ela.
- Mãe... Você me procurou depois que eu sumi? – digo sussurrando.
Fico distraído naqueles pensamentos e tentando segurar as lágrimas novamente de descerem do meu rosto.
- Quero tanto me lembrar de você – sussurro de novo.
“Nico, eu te amo” ouço sua voz no ambiente e logo desperto dos meus pensamentos e olho ao redor. Parecia tão presente que podia jurar que ela estava do meu lado falando aquilo comigo.
Fecho meus olhos e posiciono minhas mãos na bancada apoiando minha cabeça nelas.
Droga, não pensei que seria tão difícil isso.
“Nico. Nico. Nico! Fique aqui e não saia até eu mandar”
“Nico!”
Sua voz faz presente de novo no ambiente tão alto que sou obrigado a abrir meus olhos assustado.
O que me deixou mais apavorado foi que, na minha frente, vi um vulto correr em minha direção. Tinha cabelos ondulados, negros... Eu a conhecia.
- Mã...- começo a falar, mas sou interrompido por outra voz no ambiente.
- Nico! – era Percy quem me chamava agora.
Desperto do meu transe e olho para o lado onde ele estava me encarando com aqueles olhos verde-mar intensos.
Quando ele tinha chegado?
- Você está se sentindo bem? – a voz dele mostrava preocupação.
Não respondo de imediato e percorro meus olhos pelo cômodo atrás do vulto. Era ela, eu sei disso. Aonde foi?
- Nico? – Percy novamente me chama.
- Hã...? Ah sim, eu estou bem. – digo finalmente encarando ele e dando um sorriso para disfarçar- Só fiquei distraído.
- Tem certeza que está se sentindo bem? – Lógico que não tinha convencido ele.
- Tenho sim Percy, não se preocupe – para mudar de assunto aproximo meu rosto ao dele e deposito um beijo em seus lábios.
Aquilo pareceu funcionar. Ele estava agora retribuindo o beijo intensamente direcionando uma de suas mãos até a minha nuca aproximando e deixando mais profundo o beijo.
- Você está com gosto de macarronada. – diz ele se afastando com o ar se faz necessário.
- Idiota – digo sorrindo e voltando ao meu prato.
Ele sorri para mim e deposita um beijo em minha testa fazendo todo o meu corpo arrepiar. Era incrível como não estava sentindo mais dor nenhuma. Percy sempre conseguia esse efeito sobre mim: espantar tudo que me machucava.
Após jantarmos ficamos abraçados no sofá vendo TV e jogando conversa fora. Era bom ter esse tempo descontraído com ele, parecia que nada importava mais: quem eu era, o que tinha acontecido comigo e sobre minha mãe.
- Acho que é melhor irmos dormir – diz Percy bocejando e se espreguiçando.
Dormir. Eu definitivamente não queria isso agora.
- Vou indo tomar banho – ele agora se levantava do sofá – quer vir junto?
Ele me lança um olhar malicioso.
- Não seja abusado – digo sorrindo e jogando uma almofada nele.
- Isso é cruel Nico – ele me encarava sério e aos poucos ia se aproximando de mim – Você sabe que eu preciso de carinho.
- Você esta parecendo uma criança chorona – digo sorrindo, mas não desviando dos seus olhos.
- Talvez eu seja mesmo. – ele sorri e logo estávamos nos beijando de novo.
Dessa vez quem estava no comando era ele. Não se deitava sobre mim e sim me puxava para levantar do sofá posicionando suas mãos em minhas costas e fazendo meu corpo se chocar ao seu.
Estávamos agora nos direcionando para o corredor, algumas vezes acabávamos derrubando algum pequeno móvel ou tropeçando em algo no caminho, e quando isso acontecia um sorriso se formava em nossos rostos.
Parecíamos dois adolescentes apaixonados.
Agora íamos em direção ao quarto e Percy estava me deitando na cama me beijando descontroladamente.
Sabendo onde isso ia dar, levo minhas mãos para baixo da sua camiseta tocando a sua pele quente e nua. Ele vendo a minha ação faz o mesmo só que sendo mais rápido e tirando a minha blusa.
- Rápido você em. – digo sorrindo entre os beijos.
- Está reclamando? Eu posso parar. – ele dizia agora indo em direção ao meu pescoço depositando alguns beijos.
- Eu não disse isso. – Digo tentando reprimir algum dos meus gemidos.
Ia começar a tirar a sua blusa quando na cômoda faz-se o barulho de um celular vibrando fazendo menção de não parar.
- Melhor você ver quem é. – digo encarando o local de onde vinha o som.
- Deixa tocar. – ele puxa meu queixo e volta a me beijar.
Porém, o celular não parecia que iria parar tão cedo.
- Ah droga, quem será? – Percy diz irritado e se afastando de mim indo até ao telefone.
Respiro um pouco ofegante com tudo aquilo e sem perceber acabo encarando ele.
Seu rosto estava pálido e seus olhos arregalados olhando para o celular. Era como se estivesse recebido a pior notícia da sua vida.
- Droga... – sussurra ele com raiva.
- O que aconte –
Minha voz é interrompida com meu celular em meu bolso tocando. As pessoas hoje decidiram nos perturbar?
Tiro o celular do meu bolso e no seu visor via-se “Número Desconhecido”. Isso apenas fez com que minha vontade de atender aumentasse.
- Alô? – digo.
- Nico? É Hazel. Desculpa ligar a essa hora – ouço a sua voz na outra linha.
Droga, Percy não podia saber que eu estava tão próximo dela.
Levanto da cama e vou direto para a sala sem olhar para ver qual era a reação do Percy.
- Tudo bem, aconteceu alguma coisa? – digo já na sala.
- Ah não... Eu só queria saber se estava tudo bem contigo. Fiquei preocupada depois que saí do táxi.
Sorrio ao ouvir aquelas palavras. Era bonito e ao mesmo tempo estranho como ela mostrava preocupação comigo.
- Eu estou bem. Obrigado por ser preocupar, mas sério, estou bem.
- Nico...
- Oi?
- Posso ir com você de novo na próxima sessão?
Não respondo de imediato e penso naquela possibilidade. Eu a queria comigo, estar sozinho naquela sala era assustador. Apenas a presença de Quíron não era suficiente.
- Claro – sorrio ao falar isso.
Percebo que ela faz o mesmo, pois ouço um suspiro de alivio do outro lado.
- Obrigada Nico, mesmo. Eu preciso desligar agora, tenho que estudar para uma prova. Boa noite.
- Boa noite – digo desligando o telefone em seguida.
Jogo o celular no sofá e direciono minha cabeça para trás encarando o teto. Tudo parecia girar agora, sentia que minha cabeça a qualquer momento explodiria. Era tanta coisa para se resolver: o problema com as minhas memórias, a faculdade, o emprego e tinha o Percy também. Ultimamente ele estava agindo estranho comigo. Estava mais grudento e preocupado com as coisas e seu nível de proteção cada vez mais aumentava.
Não ficaria surpreso se alguém da faculdade ou nossos amigos já não estivesse descoberto ou desconfiado sobre a gente.
Alias o que tinha naquela mensagem que ele recebeu? Nunca tinha visto aquela expressão no seu rosto. Era como se tivesse visto um fantasma.
Levanto do sofá e vou indo em direção ao quarto onde ele não se encontrava mais, percebo então o barulho do chuveiro ligado.
Seu celular estava na encima da cama. Não podia negar, a curiosidade estava me corroendo agora.
Não seja intrometido Nico, se ele não falou nada é porque sabia que não precisava.
Porém, minha mente age contra o meu corpo e estava agora com o celular dele na minha mão.
Espera, o que eu estava fazendo?
“Não me perturbe mais. Já disse para esquecer”
É a única coisa que consigo ler antes de ouvir o som da porta do banheiro se abrir. Coloco seu celular no lugar e deito na cama como se nada tivesse acontecido.
Com quem estava falando? No nome aparecia apenas “Número não registrado”.
- Quem era no telefone? – diz ele entrando no quarto com a toalha na cabeça enxugando os seus cabelos molhados.
- Era a Reyna perguntando de algo – minto. Eu não sabia se aquele era o momento certo para contar o que eu estava fazendo.
Ele não diz nada e apenas se direciona para a cama se aconchegando perto de mim e me puxando para mais perto do corpo dele.
- Nico, eu te amo – diz ele sussurrando em meu ouvido fazendo meu corpo se arrepiar.
- Eu também te amo Percy – digo aconchegando meu rosto em seu peitoral.
- Eu não vou te largar nunca – ele agora acariciava meus cabelos. Como era bom e nostálgico – Eu preciso de você Nico.
- Esta tudo bem Percy? – digo preocupado. Era disso que eu estava falando, ele dizia isso para mim agora todos os momentos que parecia me relembrar do quanto me amava e como precisava de mim.
- Estou sim. Só não se esqueça disso nunca. – estava me abraçando mais forte agora. Podia sentir a sua respiração leve.
- Nunca vou esquecer. Eu não vou sair do seu lado – digo fechando os olhos e apenas sentindo o seu toque.
Nisso, acabo me entregando ao sono e dormindo.
(...)
Por sorte e já esperando eu não sonho nada naquela noite. Estar com o Percy afugentava todos os meus pesadelos e lembranças ruins, agradecia por isso. Era horrível ter que tomar remédios para me sentir uma pessoa normal sem pesadelos.
A curiosidade sobre a mensagem que havia lido logo se perdeu em minha mente. Acusei-me de ser curioso ao ler a mensagem dele sem deixar que fizesse isso, não havia motivos para desconfiar do Percy. Se não tinha me contado era porque não precisava e isso também era algo pessoal dele. Então, logo me obriguei a esquecer de tudo aquilo.
Era sexta-feira agora e por sorte saia mais cedo do trabalho. Como Percy estava de folga e Reyna me atormentava dizendo que não dava atenção a ela mais, combinamos de jantar no restaurante do pai da Piper naquela noite.
Estávamos agora andando em direção a ele. Na rua de NY encontrava Jason, Reyna ao seu lado e logo atrás eu e Percy jogando conversa fora.
Confesso que a agitação daquela cidade me perturbava um pouco. Muitas pessoas em um só lugar, luzes brilhantes em toda parte e a buzina dos carros tomando conta do ambiente. Acreditem, você só aguentava aquilo no máximo por trinta minutos antes de enlouquecer e querer voltar para casa.
E era isso que estava acontecendo comigo agora. Do meu lado Percy parecia provocar o Jason o irritando de novo e Reyna parecia rir com tudo aquilo, não estava prestando muita atenção na conversa. Só queria chegar logo no restaurante.
Distraído, começo a observar o movimento dos carros na rua e as luzes das lojas ofuscarem na noite junto com o vai e vem constante de pessoas.
“Nico, espera filho!” Ouço uma voz ecoar no ambiente.
Era ela de novo. Mãe? É impressionante como a sua voz parecia muito presente no local, como se estivesse do meu lado chamando.
Não seja louco Nico, isso é impossível.
Desvio aqueles pensamentos e continuo encarando o movimento da cidade.
Foi então que eu vi a silhueta de uma mulher me encarando do outro lado da rua. Não conseguia ver direito o seu rosto, apenas distinguia os cabelos negros longos duas perolas escuras que eram seus olhos.
O mais estranho é que eu parecia conhecer ela. Percebendo que estava me encarando, a mulher acena para mim e vejo um sorriso embaçado se forçar no rosto dela.
Eu conhecia aquele sorriso. Era ela de novo.
Paro de andar e fico a encarando. Aquilo era possível?
- Quando se sentir sozinho lembre-se que a mamãe está com você te protegendo, como esse anjo – ouço sua voz perto de mim. Podia jurar que estava do meu lado falando comigo.
Fico estático ao relembrar desse meu sonho. Volto minha atenção para a rua do outro lado.
A mulher agora estava de costas para mim e parecia que ia embora. Seu rosto se vira para mim e mais uma vez vejo o seu sorriso seguido de um aceno.
Não... Ela não pode ir embora. Não agora que a tinha achado.
Então, meu corpo involuntariamente se move contra a minha vontade em direção a sua silhueta. Na minha frente eu não via mais nada, apenas conseguia focar na sua forma.
Sem som de carros buzinando, a voz das pessoas na rua e sem as luzes me cegando.
- Nico! O que você pensa que está fazendo? – Sinto um toque em meu braço me puxando para trás.
Quando saio do meu transe percebo que estava no meio da faixa de pedestre e que um carro acabará de passar em alta velocidade a poucos passos de onde estava. Logo, ouço o som de freio atrás de mim e um motorista me xingando por estar no meio da rua com o sinal aberto para ele.
- Nico! O que você está fazendo? – Percebo então que quem estava segurando meu braço me puxando para fora da rua era Percy. Ele me olhava assustado.
Quando consigo dispersar meus pensamentos consigo finalmente entender a situação: eu tinha avançado na rua atrás da mulher. Eu quase fui atropelado.
- Nico! Ei Nico! – A voz do Percy fica mais alta e percebo que agora ele estava agarrando os meus dois braços me fazendo encarar ele.
- O que...? – Estava ainda meio confuso com tudo o que tinha acontecido.
- O que você estava fazendo avançando no sinal assim? – Ele me olhava muito desesperado.
Droga Nico, olha o que você tinha feito. Reverta essa situação logo.
- Eu acho que... Eu acabei me distraindo... – digo tentando achar uma desculpa.
- Droga Nico, não faz isso – Percy agora me abraçava forte. Podia sentir pela instabilidade do seu corpo que tinha acabado de passar por um momento de desespero.
Não respondo nada e apenas retribuo o seu abraço forte. Céus... O que estava acontecendo comigo? Não bastava ter os sonhos, agora estava vendo as pessoas na vida real?
- Desculpa, eu realmente me distraí sem perceber. – Digo calmo no intuito de acalmar ele – Está tudo bem agora Percy.
- Não está nada bem, você quase foi atropelado – ele agora encarava meus olhos. Via a tempestade que estava se formando neles.
- Percy, eu estou bem. Desculpa por isso – sorri para ele e rapidamente dei um selinho em seus lábios.
Ele parecia insistir que nada estava bem, mas é interrompido com Reyna vindo até mim fazendo inúmeras perguntas com Jason a acompanhando nisso.
No começo não presto atenção no que eles estão falando e mais uma vez encaro o outro lado da rua para ver se a mulher ainda estava ali.
Ainda continuava ali, porém ao seu lado agora via um menino pequeno segurando a sua mão. Antes que pudesse fazer algo, suas silhuetas somem em meio à multidão.
(...)
Um mês depois
Depois de todo aquele transtorno que tive no meio da rua de NY vocês podem imaginar o que aconteceu: se Percy já estava obcecado por proteção, depois daquilo tudo piorou.
Não sabia de perto de mim e fazia questão de me levar todos os dias para o trabalho e pedia para pegar um táxi quando saísse dali. Eu podia entender a sua preocupação, nem mesmo eu havia compreendido o que tinha acontecido comigo naquele dia.
Por sorte, aos poucos fui assegurando a ele que estava bem e que aquilo não se repetiria o que o fez sair um pouco do meu pé e me deixar de novo ir ao trabalho sozinho.
Nesse momento estava em mais uma consulta no psiquiatra com o Quíron acompanhado de Hazel a qual tive que adiar já que Percy não largava do meu pé.
Era a minha segunda sessão, então ainda continuava desconfortável com tudo aquilo.
- Vamos começar Sr. Di Angelo – diz Quíron do meu lado.
- Nico – repreendo ele.
- Nico,vamos começar. Relaxe o corpo, a mente e tente focar naquela casa. – a sua voz era calma – Se concentre apenas na minha voz.
Fechei os olhos e respirei fundo. Logo os estalar de dedos dele se fez presente no ambiente.
Estava em um lugar diferente agora. Via-me em uma praça recheada de crianças brincando. Só depois de focar na imagem vejo que estava distante do chão, mais especificamente encima do ombro de uma pessoa.
- É hoje que vamos fazer você aprender a jogar futebol americano, campeão. – ouço a voz de um homem vindo debaixo de mim.
Eu a reconhecia, era a mesma que brigava com a minha mãe em casa.
- Nico, onde você está? – A voz de Quíron se faz presente na minha mente.
- Em um parque – digo.
- Com quem você está? – diz Quíron.
- Com um homem, eu não sei quem é... – sussurro.
- Se concentre ele.
- Está preparado para tentar ganhar de mim? – volto novamente para a praça.
- Sim papai! Vou te mostrar como posso ser forte. – digo animado.
Pai...?
- Assim que se fala campeão. – ele agora me tirava dos seus ombros e me colocava no chão. Conseguia ver agora direito a sua face embaçada.
Cabelos negros e lisos, pele pálida e olhos escuros. Era incrível como ele se parecia comigo.
- Vamos começar agora. – ele bagunça meu cabelo e sinto um sorriso se formar em meu sorriso.
- Se concentre em outro lugar Nico, volte para sua casa. – diz Quíron.
Então, assim como ele manda a imagem se distorce e eu estou novamente na casa, sendo mais específico na sala.
- Onde você está? – diz Quíron de novo.
- Na casa, mas estou sozinho – digo assustado.
O ambiente estava silencioso demais.
- Concentre no homem e naquela mulher de novo Nico. Lembre-se deles. – diz Quíron.
Respiro fundo e começo a me recordar da silhueta dos dois.
- HADES PARA! ME SOLTA! – ouço gritos vindo ao meu lado.
Imediatamente enrijeço o meu corpo.
- O que está acontecendo Nico? – Ouço Quíron perguntar.
- Estão brigando de novo... – digo assustado.
Olho ao meu lado e vejo o homem agarrar com força os dois braços da mulher. Ela se debatia para tentar se livrar das mãos dele, porém sendo em vão.
- Me larga! Está machucando! – A mulher gritava de dor.
- Você está machucando ela. – Digo desesperado.
- Ele não vai mais machucar ela Nico. – Quiron ordena, mas a cena não muda.
- Você está machucando ela! – Grito avançando para cima do homem.
Imediatamente ele solta a mulher e sinto uma ardência se formar em meu rosto e estava agora estirado no chão. Ele havia me batido.
- O que você pensa que está fazendo? – A mulher agora vinha em minha direção.
- Eu preciso do dinheiro Maria! Você disse que ia conseguir! – O homem gritava agora.
- Nico fala comigo, o que você está vendo? – Ouço Quíron de novo me chamar, mas como estava paralisado não respondo seu chamado.
- Vem comigo. – o homem agora empurrava a mulher para longe de mim e agarrava meus braços – Você precisa colaborar comigo Nico, convença a sua mãe.
- Eu... Eu... – meu corpo agora tremeluzia.
- Você precisa fazer isso Nico!! – Ele agora balançava com força meu corpo. Ele me assustava.
- HADES, PARA COM ISSO! – A mulher grita em nossa direção.
- Não... – sussurro.
- Nico, se acalme. Quem está com você? – ouço Quíron me chamar.
- Hades... – sussurro.
Não conseguia me acalmar.
Quando o homem se vira para mim de novo conseguia agora ver a sua face nítida: era um homem com olhos tão negros iguais o meu, seus cabelos eram lisos e escuros. Sua pele era pálida e seus lábios pouco rosados.
Não parecia ter um porte musculoso, mas a sua força me fazia duvidar disso.
Ele me dava medo, conseguia sentir isso. Meu corpo ficava paralisado quando ele me olhava daquele jeito: com raiva, desesperador.
O pior era como ele se parecia comigo. Era como se eu estivesse vendo a minha forma adulta na minha frente.
- Pai...? – digo.
- Você precisa se lembrar Nico. – É a última coisa que ele fala antes da imagem tremeluzir e eu ouvir o estalar de dedos de Quíron novamente.
Abro meus olhos assustado. Minha respiração estava ofegante e minha mente atordoada.
Eu o via nítido agora. Meu pai, eu conseguia ver ele agora.
- Nico, se acalme. Você precisa me dizer com quem estava. – ouço Quíron direcionar a sua mão a minha no intuito de me acalmar.
- Eu estava... Eu vi ele. – digo ainda assustado.
- Quem você viu Nico? – Quíron insistia.
- Meu pai. Eu vi meu pai. – digo respirando fundo e me acalmando.
- Me conte sobre ele.
Respiro mais fundo e vejo Hazel vindo até mim com os olhos vidrados nos meus. Então, contei a Quíron o que tinha visto e ao decorrer disso a garota parecia arregalar mais os olhos, até que então vejo-a colocar a mão na boca surpresa.
- Você lembra o nome dele? – diz Quíron.
Sim, eu me lembrava. Não tinha como esquecer.
- Hades – digo firme - Hades Di Angelo é o nome do meu pai.
- Ah meus deuses... – Hazel deixa escapar – É você...
- Hazel, esta tudo bem? – digo preocupado.
Porém, ela não responde a minha pergunta e logo avança me abraçando.
- Eu finalmente te encontrei. Não consigo acreditar nisso... – ela dizia entre os soluços do choro dela.
- Encontrou...? – digo confuso.
- Eu finalmente te achei irmão. Eu te procurei por anos. – diz ela me abraçando mais forte.
Fico estático ao ouvir aquelas palavras.
Irmão? Eu era irmão da Hazel?
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