História New Stage - Discussion

Me sentei na cama devagar e senti meu estomago embrulhar. Respirei fundo contendo o enjoo e observei a agulha em meu braço ligada a um saco de soro.

Percorri novamente meus olhos por todo o local com o coração apertado. Todos estavam ali, e provavelmente preocupados comigo.

- Nico? – a voz do Percy saiu abafada me fazendo o olhar e ver seus olhos sonolentos fixarem em mim. Ele se levantou e se recompôs, mas sua mão não saiu da minha. – como está se sentindo?

Ouvir ele, falar com ele, eram coisas que eu não fazia ao que pareciam meses. Meu coração doeu um pouco, mas tentei disfarçar.

- Eu... eu não sei. O que aconteceu? – perguntei confuso.

Minha cabeça doía e girava um pouco.

- Você não se lembra de nada? – a voz dele saiu baixa e seus olhos verdes quase neon na pouca luz do quarto estavam tão fixos em mim que parecia penetrar minha alma.

Forcei minha mente a lembrar, tive certa dificuldade no começo, mas depois tudo veio como uma onda.

Arregalei meus olhos para ele que pareceu gelar apertando um pouco mais minha mão.

- eu... eu me lembro... de tudo agora, eu me lembro... céus... é horrível. – falei baixo mais como um sussurro lamentável.

- Nico do que exatamente você se lembra? – perguntou tenso.

- de...

- Nico? – A voz de Sally cortou o ambiente nos fazendo olhar para ela que estava se desvinculando de Poseidon com cuidado e vindo até mim do lado oposto de Percy. – como você está meu amor? Fiquei tão preocupada. – ela tocou meu rosto com ternura, seus olhos castanhos lagrimejados como chocolate liquido.

Senti uma pontada de culpa me percorrer.

- desculpe mãe... – pedi culpado e ela se forçou a sorrir tranquilamente.

- está tudo bem agora. – garantiu me puxando delicadamente para ela em um meio abraço e beijando minha cabeça.

Fechei os olhos para não deixar que a dor e o medo fossem transmitidos por eles, como um aperto de ferro meu coração se contorceu dentro do peito. Sally era minha mãe e sempre seria, mas lembrar de como é ver minha verdadeira mãe morta a minha frente fez temer por todos aqueles que eu amo. Temer perde-los.

(...)

Depois que o sol nasceu e eu tive que aguentar um questionário sobre “o que você estava pensando? Por acaso estava tentando se matar?” E muito mais. Eu finalmente consegui entender depois do médico me explicar que tive uma overdose e quase morri tendo “sorte” pelo Percy ter me achado a tempo de uma desintoxicação.

Fiquei inconsciente por quase três dias pelo que disseram. Sally não saia do meu lado assim como Percy. Jason estava com uma carranca nervosa ao canto junto com Poseidon que tinha aquele olhar impassível dele de sempre e Hazel não tirava os olhos de mim com preocupação, mas não disse nada desde que acordei, apenas me jogou um breve sorriso.

Depois que o medico saiu dizendo que eu iria ficar bem e teria alta no dia seguinte todos ficaram quietos por um longo momento desconfortável. Encarei minha irmã com os olhos dourados do outro lado da sala.

-  Haz... – chamei estendendo de leve a mão para ela.

Ela me olhou e depois para Percy ao meu lado com receio, me senti mal por aquilo. Olhei para Percy que sustentou meu olhar firme e depois bufou se afastando. Jason enrijeceu levemente e Sally nos olhava curiosa. Hazel se aproximou e antes que eu pudesse dizer algo me abraçou forte.

Meu coração se encheu de carinho e compaixão, retribui o abraço ignorando todos os olhares sobre nós. Ela chorou em meu ouvido.

- Ei... não chore, está tudo bem agora. – falei confortando.

- Nunca mais... – ela soluçou. – nunca mais faça algo assim Nico Di Angelo. Eu não suportaria... depois de tanto tempo para te encontrar...

Mesmo ela parecendo irritada e triste eu sorri de leve, feliz por ela se preocupar, feliz por me amar como um irmão.

- me desculpe irmãzinha... – pedi baixo, mas vi entre os cabelos cor de canela de Hazel o rosto de Percy enrijecer de uma forma dolorida, ele desviou os olhos, mas os de Jason ao seu lado estavam tristes em nós.

- espere, o que? – Poseidon perguntou confuso.

Hazel se afastou de mim limpando o rosto e eu olhei dele para Jason como um pedido não dito. Meu irmão loiro suspirou descruzando os braços.

- vamos deixar eles conversarem um pouco. Vou contar parte da historia a vocês se o Nico permitir. – ele disse naquele tom calmo que geralmente tinha. Sorri de leve e assenti para ele como agradecimento.

Sally e Poseidon concordaram relutantes e saíram, mas Percy se manteve me olhando firme. Jason tocou seu braço o puxando.

- Nico... – ele começou a dizer mas Jason o cortou.

- Percy. – falou fazendo Percy o olhar nervoso.

Eles se encararam por um momento e depois Percy soltou seu braço com força e saiu batendo o pé pela porta. Jason me olhou antes de sair e lhe disse um “Obrigado” sem som o fazendo sorrir de leve e sair atrás da nossa família.

- Ele ainda não gosta de mim. – Hazel disse em um suspiro ao meu lado se sentando na cama ao meu lado.

- Ele não tem que gostar. Não importa. – Resmunguei a ela que apertou os lábios para mim. Ficamos em silencio por um momento. – tenho que te contar algumas coisas, mas peço segredo.

Ela assentiu nervosa concordando. Contei a ela sobre minhas lembranças e o que tinha acontecido antes de eu chegar ao orfanato. Ela parecia assustada com tudo aquilo e segurava minha mão com força como se quisesse mostrar que estava ali o tempo todo. Quando terminei seus olhos estavam marejados e distantes.

- ele era algum tipo de viciado? – ela perguntou por fim desviando o olhar.

- eu não sei, mas talvez esteja vivo e por ai. Se você quiser, podemos encontra-lo. – indiquei e ela torceu o lábio.

- não sei se você quer encontra-lo Nico. depois de tudo que ele fez...

- quero justiça. Ela morreu por causa dele e eu estou aqui por causa dele...

- e estar aqui é ruim? – perguntou com o cenho franzido fazendo meu coração quase parar. – eles são uma família melhor do que ele jamais poderia ter sido Nico...

- não foi isso que eu quis dizer. – falei nervoso e ela assentiu.

- eu sei. Só não sei se pensar nisso agora é o melhor para você.

A encarei por um momento.

- você não quer encontra-lo? – perguntei por fim e ela enrijeceu.

- uma boa parte de mim sim. Mas ao pensar que ele pôde ser tão... – ela não terminou, suas palavras morreram no meio do caminho. Nisso uma enfermeira entrou e ela se afastou depois de dizer: - conversamos sobre isso depois.

(...)

Quando todos voltaram mais tarde naquela noite para uma visita antes de Jason dormir ali comigo percebi que estavam tensos.

- o que foi? – perguntei para ninguém em especifico.

Sally suspirou profundamente.

- Nico meu amor eu e seu pai estávamos conversando sobre como vai ser a partir de agora. – disse com doçura e eu sabia que quando ela falava algo assim era porque seria uma noticia difícil. Ela se inclinou para perto de mim. – Nós achamos melhor para você voltar para casa conosco.

Houve um silencio esmagador, meu coração pareceu bater na garganta com o choque repentino.

- O que!? – Percy quase gritou.

Todos olharam para ele que olhava de Sally para mim com horror.

- é o melhor para ele. – Poseidon falou firme e Percy o olhou mortalmente. – deixamos ele com vocês por menos de um ano e ele quase morreu.

Como um tapa tanto Percy quanto Jason recuaram ligeiramente, até Hazel pareceu ter sido afetada.

- Não foi culpa deles. – falei baixo para Poseidon que me lançou um olhar autoritário.

Não queria que eles pagassem pelo que eu fiz a mim mesmo.

- não podem fazer isso. – Percy disse em um suspiro dolorido o que quase me fez sentir pena dele.

- nós já decidimos Percy, Nico vai voltar conosco para Nova Orleans. – Sally disse mais áspera do que jamais pensei que pudesse ser.

- mas e a faculdade? – Percy tentava arrumar argumentos.

Minha mente começou a trabalhar mais rápido com aquela discussão. Se eu fosse para Nova Orleans poderia pesquisar sobre “ele” e quem sabe acha-lo obter mais respostas. Além disso, não queria ficar ali, não queria ficar vendo ele o tempo todo com sua “namorada” gravida como uma família feliz. Aquilo magoava mais do que qualquer outra coisa.

- eu posso trancar a faculdade. – falei em um murmúrio o que pareceu surpreender todos já que me olharam.

- Nico... você ganhou bolsa e vai perde-la. – Hazel disse baixo parecia constrangida por estar no meio daquela discussão de família.

Fixei meus olhos nela com carinho.

- tudo bem, posso fazer em outro lugar com bolsa ou pagar para continuar aqui depois. – tentei colocar o máximo de casualidade em minha voz.

- e o emprego? – Percy lembrou me fazendo encara-lo, sua expressão era quase de horror e desespero.

Engoli seco.

- arrumo outro. – falei com desdém.

- Nico... você tem certeza? Voltar para la... – Jason disse com uma careta confusa. Ele parecia tão triste quanto Percy, mas disfarçava melhor.

- não disse que não iria voltar para cá. – falei o cortando, seus olhos azuis fixaram nos meus com um leve sorriso tranquilo quando ele relaxou. – Ainda vou querer vir no seu casamento. – brinquei tentando desfazer a tensão.

Ele quase sorriu, quase.

- você sempre será bem-vindo e sei que Piper concorda comigo. – garantiu me fazendo sorrir para ele grato.

- então você quer ir? – Percy disse engasgado fazendo todo meu corpo doer com um calafrio.

- não há mais nada para mim aqui Percy. – falei o mais firme possível, encontrando e concentrando todo meu rancor em minha voz.

Ele quase fechou os olhos para digerir aquelas palavras, seus olhos verdes ficaram lagrimejados como o mar em mim.

Se mantenha firme Nico.

- sempre vai ter algo para você aqui Nico. – ele disse baixo e eu sabia que ele queria dizer que sempre terá “ele” ali.

Tentei não engasgar com um pedaço do meu coração.

- você vai ter uma família Percy e não precisa de mim Percy, nunca precisou. – falei para ele me esquecendo de todos no quarto.

Ele abriu a boca para falar, mas Jason colocou a mão em seu braço o advertindo.

- Nico vai fazer o que acha ser melhor para ele Percy. Deixe-o. – ele disse serio encarando o irmão que o olhou e logo tirou seu braço dele com raiva como mais cedo.

- isso é culpa sua você sabe. Ele estava bem quando estava comigo... – Percy disse ao irmão loiro com raiva.

Os olhos de Jason parecerem endurecer em uma chuva de granizo.

- estava bem!? Você quer mesmo falar sobre como ele ficou bem com você Perseu? – a voz de Jason não era alta, mas estava cortante. Vi o maxilar de Percy apertar.

- Parem com isso! – Falei irritado os fazendo me olhar surpresos. – Eu vou voltar e não a nada que me faça mudar de ideia. E vocês não vão ficar brigando por minha causa. – minha voz saiu mais áspera do que imaginei, o que eu até agradeci.

Ficaram em silencio por mais um momento, Hazel tinha os olhos baixos. Poseidon e Sally apenas nos olhavam quase sem entender e eu me perguntei até onde eles sabiam da historia. Jason me olhava como se pensasse no que responder e Percy abaixou os olhos derrotado.

- Nada? – perguntou Percy de repente. – Nada vai te fazer mudar de ideia? – reformulou a pergunta levantando os olhos doloridos para mim.

Senti outro pedaço do meu coração se quebrar quando vi seus olhos verde-mar cheios de tristeza e dor.

- nada. – respondi quase inaudível.

Percy assentiu levemente baixando os olhos de mim e se virando. Saiu pela porta como um furacão me fazendo encolher com o barulho.

Jason torceu o lábio para mim com compaixão.

- não se preocupe com ninguém além de você agora Nico. – ele disse suave. Desviei meus olhos dele culpado por ser tão egoísta e não ver que ele também estava mal.

- o que foi que aconteceu entre vocês? – Sally perguntou confusa, mas eu a ignorei.

Nem se quisesse conseguiria responder aquela pergunta.

Eu não sabia até onde Jason havia contado a eles e estava com medo de descobrir. Acredito que ele não havia dito nada sobre meu “relacionamento” com Percy ao longo desse ano o que eu agradeci. Estava com medo da reação dos meus pais ao saberem daquilo.

Pensar nisso fez novamente todo meu corpo doer com um calafrio de realidade. Ele teria um filho com ela, eu tinha quase morrido e como consequência de tudo isso descoberto que minha mãe foi morta na minha frente e meu pai era a razão disso, na verdade meu pai biológico era razão por eu ser quem sou.

Uma criança viciada em remédios para dormir, um garoto problemático que se apaixonou pelo irmão e um homem fraco que queria fugir da realidade e isso foi o suficiente para se drogar tanto com remédios a ponto de quase morrer.

Eu iria acha-lo. Iria faze-lo pagar por tudo que nos causou.

Meus olhos foram para minha meia-irmã. Hazel, tão linda e doce, seus olhos cor de âmbar estavam em mim com aquela preocupação genuína de irmão. Me olhava como se tivesse me conhecido a vida toda e me amado ao longo dela.

Não, não ia faze-lo pagar só por mim, mas por todos que ele machucou.