História New Stage - Little

Acordei mais uma vez com uma sensação de calor extremo. Olhei para o lado tentando me localizar e percebi que Percy me enrolava com seus braços a minha volta.

Ele tinha dormido ali, comigo.

Sorri sem evitar para como meu coração ficou aquecido ao vê-lo tão de perto e sereno. Seus olhos fechados e sua feição tranquila enquanto dormia. Eu sempre dormia bem quando estava com ele, quando éramos crianças isso era frequente já que Sally não sabia o que fazer comigo e os pesadelos só paravam quando Percy dormia ao meu lado.

Flashback on:

- Nico, você poderia dormir no quarto do Percy, vou falar para o Poseidon colocar uma cama lá para você. – Sally disse para mim quando estávamos na mesa tomando café da manhã.

Olhei para ela me sentindo corar, Percy me encarou ao lado curioso e Jason tinha um sorriso simpático no rosto. Poseidon já havia saído para trabalhar.

- Eu não quero incomodar. – falei para dentro baixando a cabeça.

Senti uma mão mexer em meus cabelos e bagunçá-los carinhosamente. Olhei em surpresa para Percy que sorria abertamente para mim.

- Você não vai incomodar pequeno. – ele garantiu e Jason riu baixo nos fazendo olhar para ele.

- Na verdade vai sim, se continuar gritando a noite e não nos deixar dormir. – comentou antes de levar um tapa fraco na cabeça de Sally.

- Jason! – ela o repreendeu e ele deu nos ombros indiferente.

Sorri para minha família preocupada e simpática. Como eles eram gentis...

Flashback off.

- Nico? – Percy chamou acordando e me fazendo voltar a realidade. – Bom dia. – falou se sentando na cama e coçando os olhos.

- Bom dia. – falei constrangido e triste por ele se afastar de mim, mas tentei conter isso olhando para os lados e vendo que já estávamos atrasados. – Droga, as aulas começam hoje. – resmunguei me levantando correndo.

Percy riu como se eu fosse um bichinho fofo.

- Está tudo bem, primeiro dia eles começam mais tarde. – ele tentou me tranquilizar se levantando também.

Peguei minha roupa e corri para o banheiro, antes de fechar a porta Percy me impediu. O olhei confuso e ele tenteou entrar.

- Deixe-me tomar banho com você, vai ser mais rápido. – disse indiferente.

Meu coração parou.

- Não! Você é idiota por acaso. Saia. – reclamei alto tentando disfarçar a onda de nervosismo que aquilo me proporcionou.

Percy que infelizmente era mais forte que eu abriu a porta e entrou no banheiro se aproximando de mim com um sorrisinho de canto.

- Qual é Nico? Você costumava não ligar quando eu te dava banho. – ele provocou perto demais fazendo minhas mãos tremerem.

Engoli seco ainda me recuperando de sua proximidade e me desviei dele.

- Eu já disse que não tenho mais nove anos Percy. Então tome seu banho logo. – Resmunguei saindo do banheiro e fechando a porta atrás de mim.

Fui até meu quarto e comecei a arrumar a cama.

Idiota sem noção. Como ele pode dizer uma coisa dessas? Me tratar como criança só porque dormimos como antigamente?

Bufei irritado ao terminar de arrumar a cama e o ouvi sair do banheiro. Fui até la a tempo de vê-lo sair com a toalha enrolada na cintura e o cabelo pingando.

Meu coração disparou e quando ele me olhou e sorriu eu percebi que estava encarando. Desviei os olhos me sentindo corar e entrei no banheiro rapidamente.

Mais que diabos está acontecendo comigo? Meu coração batia rápido demais no peito, era estranho, mas ao mesmo tempo familiar.

Respirei fundo e entrei no chuveiro tentando me acalmar.

Talvez eu estivesse apenas surpreso com o quanto ele tinha crescido, na verdade era obvio que ele tinha amadurecido, já era um homem de 23 anos e eu só me lembrava dele como um moleque de 18. Mas aquilo era... Confuso.

Tentei afastar esses pensamentos e tratei de tomar banho rápido para não nos atrasar mais.

Fomos para a faculdade com o carro do Percy. Ele estava descontraído e me contava coisas sobre o lugar no caminho, como regras, pessoas e tudo o mais.

Percy havia dito que queria me apresentar a seus amigos e que Annabeth também estudava lá, fazendo o ultimo ano em Arquitetura e Piper o ultimo de Moda.

Isso me fez estremecer e reconsiderar o quanto bom poderia ser o primeiro dia de aula.

Quando chegamos passamos pela multidão que estava a frente de uma parede com vários papeis anúncios de onde era cada sala de cada turma. Enquanto olhava a minha ouvi alguém gritar pelo Percy atrás.

- Ei Jackson! – um garoto levantou a mão para ser visto.

Percy sorriu e pegou minha mão me tirando da multidão e indo até ele que era obviamente latino, com olhos e cabelos castanhos e um sorriso travesso. Ao seu lado estava uma menina alta de pele clara e olhos e cabelos escuros quase negros que me olhou analítica.

- Ei pessoal! Deixe-me apresentar. Esse é meu irmão mais novo Nico. Nico esses são Leo e Reyna. – Ele apresentou casualmente.

Cumprimentei-os com um aceno de cabeça, a garota sorriu para mim de um jeito estranho e o garoto me olhou curioso.

- Vocês não se parecem em nada. – Leo comentou me fazendo querer recuar.

Percy revirou os olhos.

- Jason também não se parece comigo. – ele disse com uma careta. Leo abriu a boca para debater, mas a garota Reyna o cortou.

- É realmente bom finalmente conhecer você Nico, Percy vive falando de você. Na verdade... – ela se aproximou e fingiu falar mais baixo para mim. – ele estava muito ansioso com sua chagada.

Com isso eu senti meu rosto queimar e segurei o sorriso bobo que queria sair de meus lábios, Percy desviou os olhos constrangido e antes de comentar qualquer coisa braços passaram ao redor da cintura dele me fazendo hesitar.

Annabeth apareceu de trás dele sorrindo calorosamente para o namorado que lhe retribuiu o sorriso e lhe deu um beijo rápido nos lábios me fazendo desviar os olhos com a estranha dor que aquilo causou ao meu peito.

Piper apareceu ao meu lado.

- Olá gente. Já conheceram o Nico não é? – ela disse animadamente.

- Sim, McLean já conhecemos. Ei Hazel! Frank! – ela gritou para um casal que veio em nossa direção.

A menina era mais baixa de cabelos cacheados cor de canela e pele morena, mas seus olhos era de um amarelo quase dourado o que foi impossível não reparar. O garoto era alto e corpulento, sua feição era oriental e ele tinha um corte de cabelo militar.

- Olá pessoal. – a garota que deduzi ser Hazel cumprimentou a todos, mas logo seus olhos pararam em mim.

Ela ficou me encarando estranho, parecia pensar quem eu era ou se me conhecia.

- Eae! – Percy cumprimentou eles. – Esse é meu irmão mais novo, Nico. – apresentou.

Hazel continuou me encarando e eu sustentei seu olhar mais confuso do que curioso.

- Nico...? A gente já não se conhece de algum lugar? – ela perguntou intrigada.

Analisei a garota, mas não havia vestígios dela em minha memoria.

- Não que eu me lembre. – disse simplesmente e ela assentiu se virando e conversando com Frank e Leo.

Percy me olhava curioso com os braços em torno de Annabeth o que me fez não encará-lo e sentir aquele incomodo.

- Vou para sala. – anunciei enquanto todos conversavam.

Reyna sorriu e foi comigo alegando que sua sala era perto da minha, parece que ela fazia Literatura ou algo assim. A garota foi puxando papo comigo por todo o caminho e eu apenas respondia sendo educado. Ela não parecia uma pessoa ruim ou algo assim, mas eu tinha um alerta especial sobre “aquele tipo” de garota, aquela que não estava apenas sendo simpática. Reyna era uma mulher linda, deveria ter a idade de Percy se não mais velha, parecia muito autoritária também, mas conseguia ser simpática e gentil. Porém, eu não estava interessado, na verdade eu não estive interessado em nenhuma garota em toda minha vida.

É eu sou gay, mas não assumido. Na verdade acho que o único que poderia ter percebido isso um dia é o Percy, mas ele também nunca disse ou perguntou nada o que me fez pensar que não importava. Até porque eu nunca namorei, apesar de já ter ficado com alguns meninos em Nova Orleans nunca foi para algo mais serio.

- Está entregue. – Ela disse quando chegamos a porta de uma sala que percebi ser a minha.

Sorri agradecido a ela.

- Obrigado.

- Estarei na do lado caso precise de algo. – ela indicou e eu assenti então saiu e entrou na sala ao lado.

Respirei fundo e entrei na minha devida sala que era muito mais lotada do que eu imaginei, sentei o mais afastado possível e observei a aula de longe.

A aula foi tranquila, acredito que por ser primeiro dia, mas eu já gostei bastante. Sempre tive uma facilidade maior de estudar e entender as coisas, digo coisas que sejam lógicas.

Quando acabou saí e fui para a frente da faculdade ciente de que tinha que esperar o Percy para ir para casa, mas antes que chegasse lá senti braços passarem ao redor do meu pescoço me fazendo quase saltar de susto.

Percy riu com seus olhos verdes perto de mim.

- Como foi seu primeiro dia? – ele perguntou tranquilamente enquanto íamos para fora.

- Normal. – respondi com desdém, mas meu coração estava novamente disparado.

Mais que droga era aquela?

- Como pode ser normal se é seu primeiro dia em um faculdade? – questionou com uma careta fofa.

Nada de fofo Nico! pare com isso!

- É aula como outra qualquer. – respondi e ele riu me apertando mais contra ele.

- Você não mudou nada Nico. Ainda assim você é muito fofo. – ele disse me apertando e eu me senti corar.

- Pare com isso Percy, as pessoas estão olhando. – eu o adverti tentando me soltar dele que não me soltou até ver uma moça loira se aproximar.

Percy tirou seus braços de mim e sorriu para Annabeth a envolvendo neles. Meu coração doeu com aquilo, uma dor fora do normal, era estranha e devastadora, machucava como nunca. Naquele momento parecia que eu o havia perdido, sido trocado.

Eles começaram a conversar e continuamos andando a caminho do carro para o apartamento. Eu estava extremamente incomodado, parecia que o caminho estava longo demais e não chegávamos nunca.

Na metade do caminho Annabeth ficou perto de sua casa que não era longe. Percy parecia querer ir com ela, mas decidiu ir comigo acho que por eu ainda ser novo na cidade e poder me perder. Continuamos em silencio.

- Você também não gosta dela? – ele perguntou para mim de repente.

Meu coração gelou e eu me forcei a sorrir.

- Não, Annabeth é legal e você fica feliz com ela. – respondi tentando disfarçar a ofensa em minha voz.

Senti o olhar dele em mim, mas ele não respondeu de imediato.

- Você fica estranho perto dela. – ele comentou e eu o xinguei mentalmente por me conhecer tão bem mesmo depois desses anos.

- Não fico não. – garanti quando estávamos no elevador.

- Sim, você fica. – ele afirmou e puxou meu queixo para olhá-lo quando eu fixava meus olhos no piso do elevador. Percy sorriu de canto com seus olhos de um verde brilhante que fez meu corpo amolecer. – não precisa ter ciúme dela Nico.

Com isso me lembrei de me mexer e tirei sua mão quando a porta se abriu e eu sai indo para a porta do apartamento. Ele se aproximou lento demais e a abriu, entrei sem olhá-lo e fui para a cozinha pegar um copo com água e o bebendo rapidamente.

- Pensando bem você está diferente, parece nervoso. – ele observou parando na entrada da cozinha e cruzando os braços me olhando.

- É claro que estou diferente Percy, já fazem cinco anos. – murmurei terminando de beber minha agua.

Quando me virei levei um susto ao vê-lo tão perto. Percy colocou uma mão ao lado do meu rosto na geladeira e me fitou intensamente.

- Você está diferente comigo. – reformulou e eu tentei me lembrar de como respirar.

- A resposta é a mesma. – falei falhado.

Droga Nico, se recomponha!

- O que foi que mudou Nico? – ele questionou serio, seus olhos verdes pareciam penetrar em minha alma.

- Eu não sei Percy, as coisas mudam o tempo todo. – tentei despistar, ele se aproximou um pouco mais analisando-me.

Perto, perto demais.

- Isso não é uma resposta muito concreta. – observou.

Com um alerta de perigo eu saí de perto dele passando por baixo de seu braço e indo até meu quarto pegando a receita dos meus remédios, Percy me seguiu.

- Eu vou até a farmácia. – comuniquei a ele que continuou me seguindo.

- Eu vou com você.

- Não precisa.

Ele bufou.

- Não vou deixar você andar por ai em uma cidade que mal conhece. – repreendeu e eu gemi internamente por não conseguir me livrar dele.

Quando estávamos nas ruas ele falou:

- Eu sei sobre os remédios.

O olhei surpreso.

- O que!? Como?

- Mamãe me contou antes de você vir para cá. – ele contou e eu bufei irritado pela boca grande de Sally. – Tudo bem Nico, ela não disse nada a Jason e nem eu. Não fique bravo com ela, ela sabe que você confia em mim e que eu cuidaria de você.

Com isso eu não disse nada, apenas fiquei pensando em como aquela família continuava gentil e prestativa comigo.

Fomos até a farmácia e eu comprei os remédios em silêncio, quando estávamos voltando eu me lembrei de algo.

- Eu quero arrumar um emprego. – anunciei a ele que me olhou surpreso e confuso ao mesmo tempo. – não vou ficar vivendo as custas de vocês, sei que um estágio agora é impossível, mas posso arrumar algum trabalho por aqui.

Percy torceu o lábio.

- Não sei se é uma boa ideia agora Nico. Nossos pais guardaram muito dinheiro para sua faculdade e como você ganhou a bolsa integral pelo "CDF" que é eu fui designado a utilizar esse dinheiro para te manter aqui. Quero dizer, não é ruim que você trabalhe, você precisa de experiências e tudo o mais, mas eu tenho que conversar com eles primeiro.

Trinquei os dentes para isso.

- Não sou mais criança Percy. Eu posso me virar. – resmunguei firme enquanto estávamos entrando no apartamento.

- Eu sei disso. – falou em um suspiro.

Virei-me para ele que sustentou meu olhar serio.

- Então me deixe decidir as coisas por mim mesmo. – pedi tentando não me alterar.

Percy parecia indeciso sobre o que fazer, mas quando me viu daquela forma sorriu com ternura.

- É difícil admitir que você cresceu e não precisa mais de mim. – confessou se aproximando e passando as mãos pelos meus cabelos como sempre fazia.

Aquilo me desarmou, eu estava sentindo meu rosto queimar de novo e meu coração querer sair pela boca.

- Não é porque eu cresci que não preciso mais de você idiota. – murmurei constrangido e ele riu.

- Eu espero que você sempre precise de mim pequeno. – ele disse baixo e perto para mim, depois sorriu e se afastou indo para a cozinha.

Fiquei ali sentindo meu corpo transbordar de algo que não sabia o que era, uma euforia com medo e nervosismo. Ouvi-lo me chamar de “pequeno” de novo, depois de tanto tempo apenas fez tudo parecer ainda mais surreal.