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História Nicest Thing - By Your Side


Escrita por: vausemessy

Notas do Autor


Olá, meninas, voltamos a programação com mais um capitulinho difícil de se escrever, mas sempre buscando agradar o leitor rssss. Brinks, espero que vocês gostem. Também quero dedicar esse capítulo especialmente a uma leitora muuito especial, que sempre faz comentários muito lindos e me incentiva a escrever cada vez mais! Muito obrigada, Iara, que a sua vida seja repleta de coisas boas e belas e que essa sua simpatia nunca vá embora <3

Capítulo 17 - By Your Side


A morena esperava na sala de recepção. Todo aquele papo sobre maridos, crianças e problemas caseiros lhe davam náuseas. Por que elas não falavam sobre sexo, sobre o governo, sobre as novas séries da netflix? Como Piper aguentava aquilo? Será que fora da realidade das duas, ela também era uma dessas? Preferia pensar que não. Às vezes, uma ou outra lhe dava um olhar desconfiado. Às vezes, ela retribuía. Às vezes, não. Revirava os olhos, olhava a hora no relógio. Odiava esperar. Observou por alguns minutos a secretária de Piper. Era um moça baixinha, simpática e que sorria com os olhos, algo dizia para Alex que Nicky gostaria daquela mulher.

Perdida nos próprios pensamentos, foi surpreendida pela porta branca do consultório de Piper correndo pelo trilho. Seu coração bateu forte, mesmo depois desse tempo, ela sentia as mesmas sensações do começo ao ver a loira. Estava tão concentrada observando sua doutora e amante que nem tinha reparado na moça ao seu lado. Ela era alta, tinha a pele clara e cabelos castanhos, o rosto parecia esculpido, ela tinha uma beleza clássica e compartilhava certa intimidade com Piper, as duas falavam baixo e sorriam bastante. Ao se despedirem, trocaram um beijo no rosto e a moça se foi, acompanhada pelo olhar de Alex. Piper, que já conhecia Alex muito bem, observou o olhar da morena seguir a moça, não conseguiu decifrar aquilo, mas, logo, logo, saberia.

- Alexandra – chamou o nome da mulher com um sorriso no rosto. Um sorriso maior do que o normal, sim.

Alex dirigiu o olhar a ela e se levantou, indo em sua direção. Piper abriu espaço para que a morena passasse, sentindo seu perfume que ela já conhecia tão bem. Quando fechou a porta, viu que Alex já havia se acomodado em uma das cadeiras.

- Um bom dia para a mulher mais linda do mundo – falou bem humorada, aproximando-se da cadeira de Alex, onde lhe segurou o rosto e depositou um selinho demorado em seus lábios.

- Eu não me daria esse título depois de ver a miss elegância que acabou de sair daqui – Alex disse irônica, e Piper a olhou com estranhamento enquanto se sentava na poltrona em frente ao computador.

- Desculpe-me? Acho que não entendi o que você falou – fez-se de desentendida.

- A sua paciente... – fez um gesto com a cabeça indicando o exterior do consultório. – Vocês pareciam bem íntimas – moveu as sobrancelhas.

- Bom, ela já é minha paciente há algum tempo, de fato. E agora ela está grávida – disse empolgada – cheia de perguntas! Eu não sei porque mulheres grávidas têm tanto tabu em relação a sexo! Se estiver tudo bem com gravidez, não precisa ter medo – disse balançando a cabeça enquanto abria o prontuário médico de Alex.

- Talvez ela queira uma ajudinha mais direta – Alex disse ácida, mas sempre com um sorrisinho de canto no rosto.

- Alex, eu vou fingir que não estou entendendo as suas indiretas ridículas, ok? – Piper disse sem olhar nos olhos da morena.

- Ok – Alex sorriu, adorava ver Piper irritadinha. – Mas ela era uma gata...

- Você acha? Então vá atrás dela! Quem sabe você não possa resolver os problemas dela – Piper retrucou.

- Ei, não jogue isso contra mim, ok? Não fui eu que estava cheia de sorrisinhos para a moça – acomodou-se na cadeira, pronta para ver Piper lhe dar um sermão.

- Você quer que eu atenda os meus pacientes como? De cara fechada? Aposto que você não atende aos seus assim – disse séria digitando algo no computador.

Alex gargalhou, Piper brava ficava completamente hilária.

- Estou brincando, doutora! Cadê o seu senso de humor? Eu sou uma paciente e você não está sorrindo para mim – reclamou.

Piper a olhou séria e revirou os olhos.

- Tem câmeras aqui? – Alex perguntou olhando para os cantos.

- Não. Por que?

A morena se levantou e foi em sua direção. Piper apenas a observava, por alguns segundos lembrou-se da primeira vez que havia lhe visto ali, naquele consultório. Tanta coisa havia mudado.

- Você não pode sentar no colo da sua médica – disse para a mulher que havia se sentado por ali, sorrindo para ela.

- Não? – Alex respondeu baixinho, olhando para a boca de Piper.

- Não... – Disse distraída com os lábios da mulher que logo tocaram os seus.

As duas trocaram um beijo rápido, porém mais elaborado que o primeiro. Alex segurava nos cabelos de Piper e a loira colocou a mão na coxa da mulher em seu colo, mas logo resolveu parar antes das coisas esquentarem e ficarem fora de controle.  

- Chega, Al – Piper deu tapinhas na perna de Alex enquanto as duas trocavam selinhos rápidos. Alex só gemeu em resposta.

- Levante-se, baby – a loira insistiu enquanto a morena insistia em beijar-lhe todo o rosto.

- Sabia que eu tenho tesão em você assim, toda de branco, com essa pose de médica toda poderosa, dona e proprietária desse hospital? – Disse com a voz rouca ainda próxima dos lábios de Piper. A loira assentiu sem prestar muita atenção no que ela dizia.

- A gente não vai transar aqui – respondeu quando recobrou um pouco da consciência.

- Pipes... – Alex reclamou.

- Você tinha pensado nisso? – Olhou para Alex sorrindo. – Nunca, queridinha, nunca! – Voltou a atenção ao computador, tentando ignorar a mulher de quase 1,80 em seu colo.

- Você não tem tesão nisso? Nós podemos transar nessa mesa – saiu do colo de Piper e se apoiou ali, jogando os cabelos para o lado, em uma tentativa torta de seduzir a médica.

- De jeito nenhum. Vá se sentar no seu lugar – Alex a encarou, desafiadora. – Agora – disse firme, Alex lhe deu um último beijo e foi.

- É disso que eu estou falando, sabe? Essa poder que você tem quando coloca essa roupa. Sério, baby, você fica muito gostosa – Alex dizia com seu jeito sempre espontâneo enquanto se sentava. Piper se sentia lisonjeada, claro, mas sabia que não poderia dar muita corda para o papo da morena.

- Alex, não vai rolar, você veio aqui para se consultar, não desperdice o meu tempo.

- Você e o Larry nunca transaram aqui?

- Alex...

- É sério, é uma curiosidade! Responde, Pipes!

- Já, Alex, mas no hospital, em outra área, e não nos nossos consultórios. Além do mais, faz muito tempo – respondeu impaciente, Alex não iria desistir.

- Eu sabia!  - A morena sorriu.

- Certo, agora me deixe fazer o meu trabalho... Temos alguma novidade desde a última vez que você veio?

- Nada que você não saiba, doc.

- Al, você sabe que precisa me contar qualquer coisa que possa ter acontecido em relações sexuais, certo? Aqui eu sou sua médica.

- Eu sei, Pipes, mas realmente não teve nada fora da normalidade – sorriu.

- Ok – sorriu para a morena. – Nada de penetração sem camisinha, certo?

- Não!

- Fora isso, está tudo bem com você? Tem se alimentado direito, feito exercícios físicos? – Piper perguntava questões que fazia a todas as pacientes.

- Não e às vezes – Alex respondeu sorrindo e Piper lhe reprovou com o olhar.

- Você precisa ter um estilo de vida mais saudável, Al, eu tenho que puxar mais o seu saco em relação a isso – dizia enquanto acrescentava observações no prontuário de Alex. A morena só assentiu, era verdade que seu lifestyle era para lá de boêmio e irresponsável.

- Pipes, eu sei, mas eu também não posso forçar muito nos exercícios por conta dos problemas respiratórios causados... – Pausou. – Enfim, você sabe!

- Eu sei, meu bem, mas você pode fazer exercícios físicos adaptados às suas necessidades. Isso não é desculpa para ficar parada! – Disse com o seu jeitinho carinhoso que escondia o tom reprovativo.

- Okay, mommy – Alex disse de modo debochado e sexy. Piper sentia vontade de lhe dar uns bons tapas e depois enchê-la de beijos quando fazia aquilo. Reprovou-a com o olhar.

- Estou falando sério, Alex, você não faz ideia de como eu sou insuportável quando quero – dizia olhando para a tela do computador.

Alex apenas sorriu. Na verdade, ela já tinha tido algumas amostras.

- Vamos repetir os exames tradicionais, ok? Eu sei que é chato, mas a situação exige – olhou para a morena de modo compreensivo. Alex assentiu.

- Ok, pode ir ao banheiro tirar as roupas e colocar a camisola – foi direta.

- Geralmente você é mais carinhosa quando me pede para tirar a roupa – piscou para a loira.

- Não começa, Alex – arqueou as sobrancelhas, bronqueando a morena.

- Ok, loirinha, existe alguma coisa que você manda e eu não faço? – Levantou-se da cadeira. – Não! – Colocou as mãos no ar e seguiu até o banheiro.

Piper sorriu e também se levantou, Alex era fogo, tinha que se controlar para não cair na tentação deliciosa que era aquela mulher – pensava enquanto higienizava as mãos.

- Prontinha para você, doc! – Alex atravessou a porta do banheiro com as mãos na cintura, exibindo o corpo coberto pela camisola azul de TNT e, é claro que até daquela forma ela era sexy e irresistível.

- Venha, deite-se – Piper bateu a mão no colchão da maca, Alex logo passou por ela e lhe assoprou atrás da orelha, antes de se sentar no móvel. Piper arrepiou, é claro.

- Sem brincadeirinhas, Alex, eu já falei! – Disse colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha.

Alex, lentamente, abriu a camisola, ainda sentada, olhando nos olhos de Piper que logo foram atraídos ao corpo alvo ali exposto. Sentiu o familiar calor na nuca.

- Alex, sem provocações! – Exacerbou-se.

- O que? Eu só estou abrindo a camisola! Ou você vai me examinar vestida? – Perguntou como se fosse inocente.

- Deite-se – disse entre um suspiro.

Alex deitou-se carregando o sorrisinho satisfeito no rosto.

Piper, do alto de seu profissionalismo, tocou o seio de sua paciente especial com as pontas dos dedos, percorrendo a região na verificação de sinais de nódulos. Alex fechou os olhos e sorriu.

- O que foi? – Piper perguntou também sorrindo.

- É que a sua mão está gelada – disse ainda com os olhos fechados.

- Desculpe, baby, é rápido – disse seguindo para o outro, feliz por não encontrar anormalidades.

Alex assentiu. Seus olhos também estavam fechados para evitar ainda mais pensamentos pecaminosos. A imagem de Piper vestida naquelas roupas a examinando era muito sexy, precisava pensar em qualquer outra coisa.

- Você não precisa fazer esse exame, Pipes, toda vez que a gente se encontra, você faz – não resistiu em fazer a piadinha, abriu os olhos e viu a reação irritada da loira.

- Sério que você acha que a maneira que eu estimulo você se parece com esse exame? Então eu preciso melhorar muito – disse séria enquanto terminava no outro seio.

- Estou brincando, linda – sorriu para a médica. Piper se derreteu.

- Certo, vamos prosseguir.

- Pipes...

- O que? – Virou-se do balcão de onde pegava as luvas e olhou para a mulher.

- Tem certeza que a gente não pode brincar um pouquinho? – Sorriu provocante.

- Sem chances – continuou colocando as luvas.

- Mas, baby, é tão excitante... Você não está excitada?  - Apoiou-se pelo cotovelo e segurou os seios com o outro braço. Piper virou o olhar para a morena e suspirou.

- Não, Alex – era verdade, lógico que ver Alex daquela forma mexia com seus sentidos, mas seu ambiente de trabalho era como um lar sagrado.

Alex fez um biquinho e se deitou novamente, Piper não estava para conversa. 

- Apoie as pernas aqui, querida – bateu de leve nos suportes laterais da maca.

- Com certeza – Alex sorriu e prontamente obedeceu a sua doutora.

- Relaxe, ok? Vou verificar as coisas por aqui – Piper disse olhando nos olhos verdes. Alex assentiu, sempre sorrindo.

Com cuidado, tocou o sexo da mulher, tentando introduzir dois dedos em sua vagina. Diferente da primeira vez, conseguiu fazê-lo com facilidade.

- Você não travou dessa vez – disse com um sorriso leve. Ao levantar o olhar para Alex, encontrou-a concentrada, com a cabeça de lado e os olhos entreabertos, olhando para seus movimentos.

- Não mesmo – disse baixinho, sem olhar nos olhos de Piper.

- Alex, você está excitada? – Perguntou séria, sem retirar os dedos de dentro dela.

- Sim – sussurrou, piscando para a médica.

- Alex! – Reprovou-a. – Você não pode ficar excitada, eu estou lhe examinando!

- Eu sei, mas isso é o mais perto que eu tenho do que queria fazer aqui! – Defendeu-se.

- Alex... – A loira dirigiu a ela aquele olhar fatal, quase materno, em que você entende que está com problemas.

- Ok, termine logo, eu vou fechar os olhos e pensar em coisas não sexuais – e assim fez, apertou bem os olhos e tentou viajar para outro lugar que não fosse aquela sala. Piper sorriu, Alex ia de mulher-fatal-irei-destruir-a-sua-vida para o ser humano mais adorável do mundo em segundos. Aproveitou enquanto ela ficou quietinha e continuou com o exame.

- Pipes... – Disse cerca de um minuto depois.

- Sim?

- Não é louco que nós nos conhecemos assim? Em uma situação igual a essa? – Disse com os olhos fechados.

- Sim, é bem louco – respondeu lembrando-se de como se sentiu naquele dia.

- Você mudaria alguma coisa? – Abriu os olhos.

- Não – a loira respondeu olhando em seus olhos. – Eu não mudaria nada – sorriu.

- Você não preferia nunca ter me conhecido e ter a sua vida em paz? Ou talvez ter me conhecido de outra forma?

- Não, Alex, eu não mudaria nada, a minha vida é muito melhor com você – disse sorrindo quando terminou o exame de toque, tirando as luvas e jogando-as fora. – Sobre a forma como aconteceu, foi um pouco perturbadora, sim, mas eu prefiro que tenha sido desse jeito.

- Você me conheceu de uma forma que quase ninguém conhece – Alex dizia com leveza. – No nosso primeiro encontro você já me viu completamente nua e a gente nem transou, baby – Piper a olhou com um sorriso no rosto.

- E isso me causou muita dor de cabeça – dizia colocando a máscara no rosto enquanto se acomodava na extremidade da maca para fazer a coleta de Alex.

- Eu queria poder pedir desculpas, mas gosto de pensar nisso – fechou os olhos novamente e fez uma careta ao sentir o espéculo.

- Eu sei disso – dizia concentrada, logo terminou a coleta. – Prontinho, baby – passou de leve a mão na coxa de Alex quando acabou.

Alex se sentou na maca, olhando para Piper com o sorrisinho desconfiado.

- É a nossa última chance... – Chamou Piper com o dedo.

Piper deu uma última olhada e balançou a cabeça, ignorando o aviso.

- Ok, da próxima vez sou eu quem não vou querer – Alex reclamou, indo para o banheiro se vestir novamente. Rapidamente terminou e saiu dali.

- Eu não acredito que nós nunca iremos transar no seu consultório, Piper! – Alex não se conformava. – Uma mulher como eu também tem suas fantasias, sabe?

- Alex, não me desconcentre – disse enquanto acondicionava a amostra que seria enviada para a citologia.

- Ok, desculpe. Quando nós iremos nos ver? Eu estou com saudades – reclamou.

- Eu sei, baby, eu também estou, mas será em breve, eu prometo. Hoje eu tenho um parto de uma paciente que não fez acompanhamento comigo, o obstetra dela teve que fazer uma viagem de emergência e não poderá vir, estou um pouco apreensiva – a loira confessou, Alex percebeu sua preocupação.

- Ei, não fique assim, você é uma profissional exemplar, vai dar tudo certo, eu tenho certeza – a morena animou-a.

- Obrigada por isso – Piper sorriu.

- Agora eu preciso ir, baby – Alex pegou a bolsa na outra cadeira e colocou no ombro.

- Não – Piper disse manhosa. – Não quero que você vá – levantou-se junto de Alex e a abraçou.

- Eu também não quero, Pipes, mas vai ser estranho eu ficar aqui, não acha? – Disse rindo da mulher que se agarrou em seu corpo. Piper apenas gemeu em resposta.

- Ok, pode ir! – Saiu do abraço e passou a mão no cabelo.

Alex beijou-a, um selinho demorado que se transformou em beijo de verdade.

- Pronto, doc, você tem que se recompor para as suas pacientes – Alex finalizou o beijo sorrindo. Piper ainda parecia chateada por ela ter que ir.

- Ok, vá logo – balançou a cabeça.

- Você está vermelha, Pipes – sorriu.

- Certo, trinta segundos e eu abro a porta – ela disse e Alex assentiu.

Passado esse tempo, Alex a beijou novamente no rosto. – Não fique preocupada, ok? Vai dar tudo certo e você vai trazer mais uma linda criança ao mundo.

- Obrigada, meu anjo – retribuiu o beijo.

Assim, dispensou Alex, de coração partido como em todas as outras vezes. Ela definitivamente estava viciada.

***

 

No centro cirúrgico, Piper já estava preparada para trazer uma nova vida ao mundo. Não fazia muito tempo que ela havia se especializado na obstetria, mas já havia sido o bastante para que ela se visse completamente apaixonada pela área. Aquela seria a primeira vez que ela realizaria um parto de uma paciente que não havia feito acompanhamento com ela. Inicialmente, relutou, achava perigoso tratar de uma paciente que ela não conhecia, não sabia das necessidades, das peculiaridades. Depois de muita insistência do colega de profissão, aceitou. Não seria a última vez em que aquele tipo de coisa aconteceria, precisava estar preparada.

- Piper, ela já está pronta, já vem sentindo contrações há algumas horas e a dilatação já é suficiente.

- Certo, vamos lá – sorriu para a enfermeira que lhe tirara de seus pensamentos.

Um outro médico aproximou-se da loira, informando-a que o médico original da paciente solicitou que fosse feita uma cesariana, devido a um diagnóstico de DAEG (Doença Hipertensiva Específica da Gravidez) feito no dia próximo ao parto. Piper sentiu as pernas virarem gelatina, casos como aqueles eram perigosos, com risco de morte para a mãe e a criança.

- Por que eu só estou sendo informada sobre isso agora? – Sussurrou para o médico.

- Eu não sei, Piper, ele me ligou há mais ou menos uma hora, eu não sei o que houve!

Ela só respirou fundo, não poderia fugir da situação, tinha que dar o seu melhor para fazer com que nada acontecesse a seus pacientes.

Adaptando a cirurgia às necessidades da mulher, foram iniciados os procedimentos. Após a aplicação da anestesia, houve uma alteração significativa na pressão da paciente, e aquilo era um péssimo sinal. Piper exigiu que fosse aplicado um medicamento intravenoso antes do início da cesariana, na tentativa de controlar a pressão arterial da paciente.

Assim feito, foi iniciada a cirurgia. A loira, com a ajuda do outro médico e dos enfermeiros presentes, iniciou o manuseio do bisturi elétrico, o cheiro de queimado invadiu o ambiente por conta da cauterização na pele da paciente, e a moça começou a gemer e falar palavras sem sentido, que obviamente não eram fruto de dor. Piper, por cima da máscara, olhou nos olhos do outro médico e os dois conferiram a pressão da paciente mostrada na telinha ao lado. Nada satisfatório, o medicamento não conseguia controlar e a cirurgia já era de alto risco.

Logo, as reclamações da paciente aumentaram. Colocava a mão no peito e a inquietude tomava conta de seu corpo. As batidas do coração cresceram progressivamente, Piper já estava completamente desesperada mas não podia parar o que fazia. Mais medicações aplicadas e nada, o corte da cesariana já estava quase pronto, ela esperava conseguir terminar antes da situação piorar.

O sintoma seguinte foi a falta de ar, a paciente não conseguia respirar e aquilo era fatal, tanto para ela quanto para o bebê, que sofreria da falta de oxigenação no cérebro, vindo pela placenta.

- Piper, ela está tendo um infarto, tente salvar o bebê – foi o que o outro médico, que dava atenção à mãe disse, em tom desesperado.

Piper não conseguiu conter as lágrimas, casos como aqueles eram trágicos, mas ela tinha uma vida para salvar, e não iria desistir.

E assim ela fez, criou um mundo paralelo em sua mente, onde só existia ela e aquela criança lutando pela vida. O desespero do outro médico e dos enfermeiros, na tentativa de salvar a mãe, se tornaram zumbidos em sua cabeça, e suas habilidosas mãos foram ágeis em retirar, com vida, aquela criança de dentro do corpo agonizante da mãe.

Ao ouvir o choro da criança, suas lágrimas triplicaram. Logo, uma enfermeira tratou de embalar a criança e leva-la para longe. O resto da equipe ainda tentava, de todas as formas, recuperar a vida da jovem mãe deitada naquela maca, mas não havia mais jeito.

Assim que não foram mais registrados sinais vitais na moça e a equipe finalizou o trabalho, o choque foi geral. O médico parceiro de Piper silabou um “eu sinto muito” e a abraçou, ela retribuiu o abraço sem ter muita noção do que fazia, sua mente era um branco total. Depois disso, seguiu pelos corredores do hospital ainda com as vestimentas da cirurgia. Talvez alguém tenha falado com ela, ela não lembrava, ao chegar em seu escritório, deu de cara com sua secretária a esperando com o mesmo sorriso de sempre.

- Como foi, Pipes? – A voz da mulher a despertou.

- A minha... – falava pausadamente, sem olhar nos olhos da mulher. – A minha paciente... Eu perdi a minha paciente! Eu perdi a minha paciente! – Repetiu desacreditada, Lorna logo ficou séria e tratou de aproximar-se da loira, sentia que ela iria cair.

- Fique calma, ok? – Sentou-a em uma das poltronas da recepção. – Eu tenho certeza que você fez o seu melhor, vai ficar tudo bem, certo? – Falava com cuidado enquanto tirava a touca, as luvas e a espécie de camisola que a médica ainda usava.

- Morello, ela morreu ali na minha frente! Eu não pude fazer nada – olhou nos olhos da mulher, falando em completo desespero.

- Eu sei disso, eu sei que você faria qualquer coisa que estivesse ao seu alcance! – Sua secretária falava, mesmo sabendo que a loira não ouvia nada. – Agora você precisa descansar, ok? Ligarei para o Larry lhe levar em casa – disse voltando à mesa, discando no telefone.

Piper apenas olhava para o nada. Ela não chorava, não gritava, não apresentava nenhuma reação.

- Amiga... – Polly foi a primeira a chegar, lhe dando um abraço forte. Pela primeira vez, deixou escorrer uma lágrima.

- Não foi sua culpa, ok? Foi irresponsabilidade do outro médico, nós iremos tomar todas as providências, ele não vai ficar impune! – Polly dizia e Piper apenas assentia, sem entender muito bem suas palavras. Logo depois, levou-a para dentro do consultório e lhe deu um copo d’água.

- Pipes, eu sinto tanto! – Larry abriu a porta e disse ao ver a esposa sendo consolada pela amiga. Piper assentiu e deixou mais uma lágrima cair.

- Meu amor, eu só preciso que você não se sinta culpada e não faça disso um trauma, você é uma profissional exemplar, esse erro não foi seu – o homem, ajoelhado na frente da cadeira onde ela sentava, dizia.

- Eu não sei, Larry, eu... Eu preciso sair daqui – levantou-se e seguiu para o banheiro.

- Você leva ela para casa? – Polly perguntou.

- Eu não posso, Pol, tenho cirurgia daqui a uma hora. Você não pode ir?

- Larry, ainda tenho cinco pacientes para atender hoje, não vai rolar.

- Droga – ele resmungou.

- Só um minuto, cuide dela que eu vou arranjar um carro para leva-la para casa – e saiu da sala.

Ao sair do banheiro, Larry percebeu o rosto ainda mais vermelho da esposa.

- Meu amor, não fique assim – abraçou-a com cuidado, ela retribuiu. – Nada disso é sua culpa, ok? Isso acontece, nós trabalhamos com vidas, nem sempre tudo sairá bem, seja forte! – Ela apenas assentiu.

- Eu vou embora.

- Ok, eu tenho uma cirurgia agora e não posso ir com você, mas a Polly foi providenciar um carro.

- Não precisa, Larry, eu posso dirigir – ela dizia enquanto buscava a bolsa e colocava no ombro.

- É melhor não, ok? Ela já deve ter pedido – Deu-lhe um beijo na testa.

- Pronto, daqui a alguns minutos você pode ir – Polly anunciou ao entrar na sala.

- Por que? Eu quero ir agora – reclamou, sem entender a demora já que o hospital tinha carros à disposição.

- Parece que estão todos os carros ocupados – disse olhando para os dois. Larry fez uma careta, aquilo era praticamente impossível.

Piper suspirou e se sentou novamente na cadeira. Polly ficou de pé ao seu lado, passando a mão em seus cabelos.

- Meninas – disse olhando para o bip em seu bolso – eu preciso ir, tenho uma cirurgia daqui a pouco.

- Tudo bem, vá – Piper disse sem empolgação.

- Me desculpe por não poder ir com você, à noite nós conversaremos, ok? – Ajoelhou-se novamente e falou olhando nos olhos da loira. Ela assentiu e os dois trocaram um selinho rápido.

- Pol, eu preciso ir – encostou a cabeça na altura da barriga da amiga que estava de pé ao seu lado.

- Mais dez minutos, Pipes – insistiu e tentou convencê-la. Piper lhe contou alguns detalhes da cirurgia, ela conseguia sentir a desanimação e lamento da amiga, aquilo não era fácil.

- Podemos descer, loirinha – disse olhando para o celular.

- O que você tanto vê nesse celular? – Perguntou enquanto pegava a bolsa.

- Nada, o motorista disse que iria me avisar quando tivesse algum carro disponível – sorriu.

Piper achou aquilo estranho, mas não contestou, as duas seguiram até o estacionamento do hospital, no local onde ficavam os táxis.

- Pipes, olhe para a frente, você vai tropeçar – tentou animar a amiga que tinha o olhar cabisbaixo. Piper obedeceu, subindo o olhar e encontrando a pessoa que mais precisava no momento. Não conteve as lágrimas quando viu Alex encostada ao carro, sorrindo levemente para ela.

Não pensou em nada, apenas correu e se acomodou do abraço da mulher. Nenhum lugar no mundo seria tão confortável quanto aquele. Alex sentiu as lágrimas da loira molharem seu pescoço e também chorou, seu coração era partido ao ver Piper daquele jeito.

- Shh... Vai ficar tudo bem, ok? Eu prometo – deu um beijo na cabeça dela.

Polly quase chorou ao ver a cena, a conexão das duas era algo tão real, palpável, parecia que nada no mundo existia além delas.

- Meninas, é melhor vocês irem porque aqui não é um ambiente muito seguro para vocês – disse passando a mão nas costas de Piper.

Alex concordou e Piper também.

- Obrigada por ter feito isso, eu te amo tanto – disse quando abraçou a amiga, ela apenas sorriu e lhe deu um beijo na bochecha.

- Obrigada, Polly, pode deixar que cuidarei da moça – Alex a cumprimentou.

- Ela precisa estar em casa até a noite, ok?

Alex assentiu e as duas entraram no táxi.

Dentro do carro, nenhuma palavra foi dita. Alex deixou que Piper se sentisse livre para faze o que quisesse, e a loira escolheu se acolher dentro do abraço de Alex, onde deixou toda a dor sair por meio das lágrimas. Alex a consolava com beijos singelos e carinhos, fazendo isso até que chegassem ao prédio da morena. Em nenhum momento Piper soltou Alex, parecia que toda a sua força estava na mulher ao seu lado.

Ao chegarem ao apartamento, Alex propôs que Piper tomasse um banho, aquilo faria a loira se sentir melhor. Ela aceitou, mas pediu que Alex fosse junto a ela. A morena aceitou, e as duas passaram alguns minutos debaixo da água quente, misturada ao choro incessante de Piper. Ao terminarem, Alex a levou ao quarto e escolheu uma roupa confortável, cuidando da loira como se fosse uma criança. Vestidas e acomodadas, as duas se deitaram na cama.

- Não quer falar um pouquinho, meu anjo? – Alex propôs.

- Eu não sei o que falar, Alex, eu perdi uma paciente de 18 anos, entende? Eu falhei na coisa que eu mais amo fazer no mundo – rompeu em lágrimas quando terminou de falar.

- Piper, você é humana e humanos cometem falhas, ninguém é perfeito! – Dizia passando a mão nos cabelos loiros. – A sua profissão apresenta esse tipo de risco, eu sei que você se esforçou e tentou fazer o certo, mas não deu, você não pode se martirizar por causa disso. Além do mais, você é uma profissional exemplar e sabe disso, a Polly me explicou tudo, não foi sua culpa, não carregue isso com você – deu-lhe um beijo no topo da cabeça.

- É muito difícil, Al – disse chorosa se agarrando ao corpo de Alex.

- Eu sei, meu bem, mas pense nas coisas positivas. Você conseguiu salvar o bebê, algo que é super difícil, e ele vai ser a força dessa família – apertou-a no abraço.

- Eu sinto tanto por essa criança – chorou.

- Não sinta, meu bem. Sabe, você não deve concordar comigo, mas eu acho que as coisas acontecem por um motivo, eu acho que nós podemos batalhar e lutar pela vida, mas cada um tem uma hora de partir, entende? Eu acho que a gente só parte quando a hora chega, e não há nada que mude isso.

- É um bom modo de se conformar com a morte – Piper dizia com a voz mais firme.

- É algo que eu gosto de acreditar, um consolo – sorriu e deu um beijinho na ponta do nariz de Piper.

- Obrigada por cuidar de mim – a loira agradeceu, sorrindo ao receber beijos no rosto.

- Não é nada perto do que você faz por mim – Alex respondeu com a sua voz rouca. – Eu prometo que essa dor vai passar, ok? Você ainda é uma profissional muito jovem, coisas maravilhosas e coisas muito ruins ainda vão acontecer na sua trajetória.

Piper enfiou o rosto entre seu pescoço. – Eu não sei se dou conta.

- Não diga isso, você nasceu para fazer o que faz, e muitas pessoas ainda irão se inspirar em você.

- Isso é tão injusto, eu não entendo porque o doutor Simon não me alertou sobre a situação da paciente, como alguém pode ser tão irresponsável? – Disse inconformada, sentando-se na cama.

- Eu não sei, Pipes, mas ele precisa ser punido, a responsabilidade que ele jogou nas suas mãos não foi justa.

Piper caiu no choro novamente, era difícil para ela aceitar aquela situação. Alex se sentou de frente para ela, passando a mão em seu rosto na tentativa de secar suas lágrimas. As duas passaram alguns minutos assim, até o celular de Alex tocar.

Piper percebeu que Alex estremeceu ao ver o nome na tela, achou estranho. Alex pediu licença e foi atender ao celular fora do quarto.

A loira esperou por um tempo, deitada na cama confortável que ela tanto gostava. Ouviu o tom de voz de Alex se alterar um pouco, se levantou e foi verificar o que estava acontecendo.

- Não, você não pode vir aqui, eu não quero te ver, nunca mais! – Alex dizia nervosa. Piper ficou em um canto onde a morena não poderia vê-la.

- Eu não quero saber! Será que você não se cansa de aparecer na minha vida, destruir tudo e ir embora? – Piper se surpreendeu ao ouvir aquilo. Quem poderia ser aquela pessoa?

- Eu não quero te ver, te ouvir ou ouvir falar de você, nunca mais! Você sabe que eu também posso acabar com o seu império, não sabe? – A irritação na voz de Alex era presente, Piper sentia que ela choraria de raiva a qualquer momento.

- Eu vou desligar, e espero que você não me ligue de novo, nunca mais! – Falou firme, daquele modo que dava medo até ao mais corajoso dos humanos. Piper resolveu aparecer na sala, o que fez Alex se assustar. Logo, ela desligou o celular.

- O que aconteceu, Alex? – Piper perguntou se aproximando.

- Nada, é só um cliente insistente – sorriu sem graça, mas Piper percebia sua irritação.

- Tem certeza? – Piper perguntou carinhosa, colocando uma mecha do cabelo de Alex atrás da orelha.

- Claro, meu bem! – Sorriu, não queria, de forma alguma, colocar mais preocupações na cabeça de Piper. – Vamos voltar para a cama, você está cansadinha e eu quero aproveitar todo o tempo ao seu lado – lhe deu um beijo rápido.

Piper concordou, as duas voltaram para a cama e Piper, novamente, não segurou o choro, mas acabou dormindo nos braços da morena. Alex, apesar da circunstância que havia levado Piper até ali, se sentia no céu, e só esperava que aquilo não fosse destruído por uma figura conhecida de seu passado.


Notas Finais


Fiquei com preguicinha de corrigir, desculpem os erros ;)


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