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História Nicest Thing - Flinch


Escrita por: vausemessy

Notas do Autor


Hey girls, voltei! Mais pontual que eu? Capítulozinho básico sem muitas emoções mass não menos importante! Espero que vocês gostem! Acredito que devo demorar ainda menos com o próximo.
Boa leitura!

Capítulo 19 - Flinch


Flashback on

- Jen, eu não quero agora, eu preciso tomar um banho... – A morena dizia, levemente incomodada com os beijos da mulher mais velha em seu pescoço.

- Mas eu quero agora! Estou com tesão – a loira dizia abrindo a blusa de botões, seguida pelo olhar desanimado de Alex.

- Jen, eu acabei de transar, estou cansada, me dê um tempo – Alex ignorou Jennifer e seguiu rumo ao banheiro.

A loira logo a agarrou por trás, segurando com firmeza seus dois braços. – Cansada? Então foi bom? Você gostou? Eu me lembro de você ter dito que era lésbica – dizia irônica no ouvido de Alex.

- Você está me machucando – resmungou, soltando os braços das mãos dela. – E o que diabos tem a ver o fato de eu ser lésbica e estar cansada de transar com um homem? Que eu saiba ainda era a porra do meu corpo lésbico que estava lá – disse rude, retirando a blusa e soltando o coque que havia feito nos cabelos.

- Foi bom? Você gozou? – Jennifer perguntou com seu jeito dissimulado de sempre. Alex apenas revirou os olhos e retirou a calça, jogando-a no chão, não tinha paciência para a enxurrada de perguntas que a mulher fazia todas as vezes, como se já não bastasse o fato de ela ter que se deitar com homens indesejados.

- Isso importa, Jennifer? Eu não estou aqui com você? Vamos... Não sei, aproveitar esse tempo – falava com calma para a mulher. – Você disse que estava com saudades de mim, era de mim ou só de sexo?

- De você, Alex, óbvio! – Falou transtornada. – Mas você acha justo que esses filhos da puta transem com você e eu não? – Bateu as duas mãos na coxa. – E é lógico que importa se você gozou ou não, você não tem que gozar pra eles. Nunca ouviu falar em fingir orgasmo?

Alex sorriu incrédula e seguiu para o banheiro, não iria dar ouvido àquelas loucuras.

- Alex, eu te fiz uma pergunta! – Jennifer gritou e a seguiu. – Você gozou ou não? – Encarou-a de perto.

- E se eu tiver gozado? O que você vai fazer? – Desafiou-a.

- Eu te mato – Jennifer falou com seriedade. Alex não abaixou a cabeça por um segundo.

- Você é louca – falou para a mulher e afastou-se um pouco, retirando o sutiã e a calcinha.

- Alex, responda! – Gritou novamente.

Alex a olhou surpresa. Ela não iria desistir daquela história.

- Não, Jennifer. Eu não gozei. Agora eu posso tomar um banho? – Apontou o box do banheiro.

- Você está mentindo!

- Como você pode afirmar isso? Eu estou falando a verdade, se você não acredita, o problema é seu – ignorou os gritos da mulher.

- Você é uma desgraçada mentirosa! – Jennifer se aproximou e distribuiu alguns tapas nas costas de Alex. Ela não revidou, quase nunca revidava. Era sempre assim, depois dos momentos de loucura, Jennifer fazia de tudo para lhe agradar, e ela aceitava, perdoava, assim como qualquer mulher cegamente apaixonada faz.

A loira cessou com os tapas. Ela respirava fundo, Alex sentia seu nervosismo exalar pela pele.

- Pronto? Já me machucou o bastante para se sentir melhor? – Perguntou com seus olhos verdes brilhantes pelas lágrimas que queriam escorrer.

- Me responda a verdade, Alex – Jennifer fechou os olhos e passou a mão na testa.

- Eu já falei a verdade, porra! – Alterou-se. – Mas você quer que eu minta? Quer que eu fale que gozei para ele? Então eu falo! Gozei bastante, duas vezes, a segunda foi melhor que a primeira, eu não esperava, mas ele fazia bem gostoso – cuspia as palavras. – Satisfeita?

Sentiu o tapa esquentar seu rosto. Com rapidez, a loira aproximou-se novamente, encostou-a na parede e colocou a mão entre suas pernas. Ela tentou retirar, mas Jennifer adquiria uma força inigualável naqueles momentos, assim como ela tornava-se quase impotente.

- Que porra, Jennifer, o que você está fazendo? – Falou em desespero, segurando a mão da mulher que insistia em penetrá-la.

- Já que você só sabe mentir, eu vou tirar a prova – insistia naquilo.

- Ficou maluca? – Alex lutava, sentindo os dedos da outra tatearem seu sexo.

- Você me deixa maluca!

- Você quer saber mesmo se eu gozei? Quer que eu conte os detalhes? Eu conto – entrou no jogo. – Sentiu Jennifer enfraquecer os movimentos e continuou. – Eu já disse que gozei duas vezes – a mulher a olhou diretamente nos olhos – a primeira vez foi com penetração, eu me surpreendi, ele tinha um pau enorme – sorriu cinicamente, ela sabia que Jennifer a odiaria, mas as palavras eram a única forma que ela encontrava de machuca-la de volta – não enorme daqueles que machucam, mas era grande e ele sabia usar muito bem – retirou a mão dela do meio de suas pernas. – Na segunda vez ele me chupou, eu não aguentei e gozei na boca dele, ele saiu se sentindo vitorioso, até pagou a mais – sorriu novamente, sentindo outro tapa arder no outro lado de seu rosto.

Tudo aquilo era mentira, ela sabia que nem Jennifer acreditava, mas a dinâmica daquele relacionamento conturbado a fazia inventar histórias como aquelas. O objetivo de uma para a outra, muito menos do que cuidar epassar bons momentos juntas, era machucar, ferir, como se aquilo fosse manter as coisas interessantes. Alex, no alto de seus 22 anos, sem família, amigos, trabalhando para outras pessoas, encontrara em Jennifer um refúgio, mesmo que fosse problemático, nada saudável e piorasse a sua situação com as drogas, era um refúgio, assim ela pensava.

Flashback off

 

Piper sentia o coração palpitar enquanto os números no elevador iam-se apagando, chegando ao seu destino. Algumas conversas que ela tinha com Alex eram regadas a tensão e, por mais que elas sempre dessem um jeito de resolver tudo, ela tinha medo de algum dia se deparar com algo que não pudesse ser solucionado tão facilmente. Ao chegar, procurou as chaves do apartamento no local que Alex havia indicado, não demorando em destrancar a porta. Nesse meio tempo, sorriu, as coisas eram complicadas em sua relação com a morena, mas qualquer pequeno tempo que arranjava para dedicar à ela era maravilhoso, a cada dia Alex se tornava mais importante em sua vida. Percebeu que a porta já estava aberta, o que indicava que Alex ou Nicky já estavam em casa.

Ao abrir, deparou-se com uma cena que lhe tirou o chão por alguns segundos: uma mulher desconhecida, loira, alta, de pose imponente colocava Alex contra a parede. A sua Alex. As duas pareciam tão rodeadas de tensão que demoraram para perceber a sua presença ali, não saberia quantificar. A morena foi a primeira a lhe voltar o olhar e adquirir uma expressão de desespero. A outra, por sua vez, não teve pressa em olhá-la e, quando o fez, destinou-a um olhar de desprezo, de superioridade. Piper já sabia que a odiava. Ela era uma mulher mais velha, daquelas que carregam a experiência de vida no olhar, e Piper sabia que só uma daquelas intimidaria Alex de tal forma. Todos esses olhares e leituras foram feitos em lapsos de segundos, até que a morena empurrou a mulher que a encurralava contra a parede e foi na direção de Piper.

- Pipes... – Caminhou devagar, Piper percebia o nervosismo em sua voz gaguejante. – Eu não sei o que você viu ou ouviu mas, por favor, não interprete isso de maneira errada – suplicou, falando baixinho, provavelmente para que a outra mulher não escutasse.

- Eu não vi nada, Alex, só uma mulher, que eu não faço a mínima ideia de quem seja, muito próxima de você – analisou as vestimentas de Alex. A morena usava um robe preto, um de seus favoritos, e aquilo deixou-a perturbada.

- Pipes, eu posso explicar tudo, eu juro, eu só preciso que você me escute – Alex tentava falar com calma, por mais que quisesse gritar em chorar devido à tensão da situação.

- Alex, você não vai me apresentar a sua amiga? – Jennifer finalmente manifestou-se. Piper encarou-a e percebeu o olhar da outra analisa-la dos pés à cabeça.

- Jennifer, eu preciso que você vá embora, agora. – Jennifer. Então era esse o nome da mulher petulante a sua frente, Piper pensou.

- Eu ainda não terminei o que tinha para falar com você – a postura doce, mesmo que forjada que ela havia usado anteriormente, desaparecera, e Piper odiou vê-la falando com Alex daquela forma. Quem ela pensava que era?

- Mas eu preciso que você vá embora! – Alex virou-se para ela e gritou. A mulher apenas moveu as sobrancelhas e voltou o olhar para Piper, com um sorriso dissimulado no rosto.

- É ela, não é? – Olhou novamente para Piper. Ela sentia que iria explodir, estava tão nervosa que todas as palavras que pensava em falar, evaporaram.

Alex apenas a encarou com aquele olhar matador, que surpreendentemente não parecia afetar de forma alguma a mulher.

- Prazer, o meu nome é Jennifer Handler. Você é...? – Estendeu o braço à Piper. A loira apenas observou sua mão estendida e subiu o olhar para encontrar o mesmo sorriso dissimulado no rosto da outra. Não estendeu a mão ou respondeu qualquer coisa.

Jennifer abaixou o braço, sem deixar de tirar o sorriso e o ar de superioridade do rosto.

- Oh, Al – Piper a odiou ainda mais naquele momento – ela é bonita – falava de Piper como se fosse alguém que não estivesse ali – e eu sei da sua queda por loiras – sorriu e mexeu a cabeça, como um sinal para que Piper constatasse que aquela também era a cor de seu cabelo – mas você é capaz de mais – disse sem retirar o olhar de Piper.

Alex rapidamente a puxou e segurou pelo braço. – Cala a porra da sua boca, agora! Você sabe o que eu sou capaz de fazer com você – dizia com a rigidez de sua voz acentuada enquanto olhava nos olhos azuis da mulher.

- Alex, fique calma... – Piper retirou paciência das profundezas de seu ser e falou com a morena. – Quem é você? O que te leva a pensar que você pode falar comigo dessa forma? – Piper finalmente se manifestou, chamando a atenção das duas.

- A Alex nunca te falou sobre mim? – Jennifer respondeu, ignorando a dor causada pelos dedos de Alex cravados em seu braço. – Então você é realmente nova – sorriu. – Vocês já transaram? Porque eu duvido que você dê conta da Al na cama – voltou o olhar para Alex e sorriu, quando a morena reagiu a soltando e empurrando em direção a uma estante da sala, na qual a loira se apoiou brevemente, logo levantando a cabeça e desafiando as duas.

- Você vai embora, agora, ou eu vou chamar alguém bem mais forte que nós duas para retirar você daqui – Alex anunciou.

Piper estava estática. Nunca em sua vida havia conhecido ser humano tão arrogante e asqueroso.

- Alex, eu vou embora – passou a mão firme na bolsa que carregava e nem havia chegado a retirar. – Você se entende com a sua visita, depois nos falaremos.

- Não! – Alex a olhou desesperada. – Piper, eu não vou deixar você ir embora por causa dela, nós precisamos conversar! – Chegou mais perto da loira, tocando em seu braço. Piper seguiu o seu gesto com o olhar e o voltou à Alex, usando aquilo como um aviso de que ela não deveria tocá-la, não naquele momento. Alex se sentiu um lixo. Abaixou a cabeça e deixou uma lágrima escorrer de seus olhos. – Pipes, você precisa acreditar em mim, não aconteceu nada, eu preciso que você fique para que eu possa te explicar tudo isso! – Implorou.

- Alex, eu não estou duvidando de você, eu só acho que você tem algo mais urgente a ser resolvido agora – olhou para a mulher que as observava atentamente. – Livre-se dessa mulher, depois você me procura – falou com firmeza.

- Piper, não... – Insistiu, ainda com lágrimas inundando seus olhos verdes.

- Al, está tudo bem, eu só não consigo ficar aqui agora – tentou acalmar a morena, sentia suas mãos tremerem ao passa-las nervosamente nos cabelos e no rosto. – Você dá um jeito nisso e me liga, ok? – Falava para a morena enquanto observava a loira as olhando de certa distância. – Quanto a você – deu dois passos até chegar perto dela – não me importa que você saiba quem eu sou ou não, mas eu não questionaria a minha performance na cama com a Alex, acho que ela pode te falar mais sobre – lhe deu o mesmo sorriso dissimulado, mesmo que estivesse morrendo por dentro e talvez não fosse nada convincente. Pela primeira vez, sentiu a mulher estremecer. Sentiu-se vitoriosa.

- Eu vou embora – disse enquanto Alex fazia sinal de negativo com a cabeça – não adianta pedir, eu não quero ficar. Resolva-se, depois eu voltarei – olhou nos olhos da morena, daquela forma sentia que lhe passaria alguma segurança. Não queria beijá-la, estava com raiva, obviamente, mas não perdeu a oportunidade de depositar um beijo demorado nos lábios de Alex só para provocar. Afinal, ela não era nenhuma mosca morta, também tinha suas armas e iria usá-las.

A ideia de deixar as duas sozinhas era enlouquecedora. Ela sabia que Alex já havia tido alguns relacionamentos conturbados, talvez aquela fosse a figura de um daqueles, mas ela confiava na morena e realmente precisava ir embora, estava sufocando.

- Tchau, Piper Chapman, espero que tenha um bom descanso com a família – Jennifer soltou quando Alex já a conduzia até a porta. As duas a olharam surpresas. Alex rapidamente entendeu, Piper a encarou por alguns segundos mas logo foi embora, dessa vez sem despedidas carinhosas.

Antes que ela entrasse no elevador, Alex insistiu mais uma vez para que ficasse, dizia que era loucura ela ir embora naquele momento. A loirava afirmava que sabia o que estava fazendo, então Vause deixou-a ir, sabia que com Piper não existia papo quando ela estava decidida.

Ao voltar para o apartamento, Alex foi com tudo para cima de Jennifer. A loira segurou firme em seus dois braços e tentou empurrá-la, mas a morena estava firme.

- Que porra você acha que está fazendo? O que você sabe sobre a Piper?

- Tudo que eu preciso saber.

- Se você encostar em um fio de cabelo da Piper ou fizer qualquer coisa que possa prejudica-la, eu te mato – apertou mais ainda seus braços.

- Fala sério, Alex, o que você viu nessa mulher? Ela é tão sem graça e não parece em nada com você – debochou.

- Talvez fosse disso que eu estava precisando, de alguém diferente de mim para me fazer perceber o buraco em que eu estive a vida toda, inclusive com você – a empurrou na parede e soltou. – Por que você veio?

- Porque eu não quero você com essa mulher.

Alex sorriu, irônica. – Certo... E qual a razão lógica que você criou na sua cabeça para me pedir isso?

- Alex, essa mulher não serve para você, seja honesta consigo mesma! Você acha o que? Que ela vai largar a família perfeita dela para ficar com a prostituta por quem ela acha que está apaixonada? – Foi sarcástica. – Vamos, Alex... Você já é vivida o bastante para saber que essas coisas não acontecem na vida real... – Falou mais baixo, como se consolasse Alex. A morena a olhou com tristeza, ver todos aqueles pensamentos que ela tentava ignorar serem colocados na mesa doía, ainda mais vindos de Jennifer.

- E o fato dela não querer ficar comigo deixa o caminho aberto para você, é isso? – Perguntou nervosa, com a voz carregada.

- Não, Al, eu só quero cuidar de você, como eu sempre quis, mesmo de longe – chegou mais perto da morena e tocou em seus cabelos, Alex não negou, então ela os retirou de seu pescoço e foi em direção à sua pele para lhe dar um beijo. Alex se afastou e retirou suas mãos de cima de si.

- Você não quer cuidar de mim. Você sabe que eu estou feliz, como nunca estive antes, e está morrendo de medo que eu esqueça você de uma vez, porque aí, já era, você vai perder a porra da bonequinha com quem você sempre fez o que quis! – Falou sentida, tentando segurar as lágrimas.

- Talvez – Jennifer falou sem ironia. – Mas você sabe que eu não estou mentindo quando digo que esse ‘relacionamento’ – gesticulou as aspas – que você acha que tem, está fadado ao fracasso.

- Eu não me importo com o que você acha ou deixa de achar sobre o que eu faço com a minha – colocou mão no peito – vida! Talvez eu esteja apaixonada de verdade pela Piper, e não tem nada que você possa fazer – aproximou-se novamente.

- Você sabe que tem muitas coisas que eu posso fazer – Jennifer não abaixou a cabeça.

- Tente fazer qualquer coisa e eu acabo com você e o seu maridinho de merda – falou baixo, firme.

Sentiu Jennifer estremecer.

- Eu vou te dar um tempo para pensar, para cair na real sobre tudo isso, mas eu vou voltar – desafiou.

- Eu não preciso de tempo, as minhas decisões não dizem respeito a você. E se você acha que eu vou deixar a Piper por conta do que você disse aqui, eu te recomendo não criar muitas esperanças – falou séria, sentando-se no sofá e observando Jennifer pegar a bolsa para ir embora.

- Eu te conheço como a palma da minha mão, Alex – sorriu. – Sei que você é cabeça dura mas vai acabar pensando no que eu disse. Eu vou estar de braços abertos quando você tomar a decisão certa – piscou.

Alex enojou-se. Se por um lado aquilo era ruim, muito ruim para sua relação com Piper, por outro, comprovara que seus sentimentos por Jennifer não eram mais nada parecidos com a paixão destrutiva que costumava sentir.

- Ah, sobre a Piper... – A loira que já estava de saída voltou a atenção para ela. – Ela é muito melhor do que qualquer mulher com quem eu já estive – sorriu. – Bom, nada como alguém que entende perfeitamente a anatomia feminina para esquentar as coisas – piscou novamente, cruzando as pernas e percebendo o nervosismo no corpo da mulher que saiu batendo a porta com força.

Quando ficou sozinha, Alex olhou para os lados, procurou por algo que não sabia o que era, sua fiel companheira não estava ali, então ela chorou, chorou de alívio, por perceber que não cairia mais nas garras daquela mulher, e de medo, por pensar em tudo que ela falou. Acabou pegando no sono.

 

***

A outra loira havia passado o resto da noite pensativa. Ao mesmo tempo que queria esclarecer toda aquela história com Alex, não queria nem olhar em seus olhos. Ela acreditava que a morena não havia feito nada comprometedor, mas aquela mulher parecia ter sido alguém importante em sua vida, e Piper nunca havia ouvido o seu nome, sequer. A calma que havia adotado ao ver tudo aquilo surpreendera até a ela mesma, e ela sabia que havia tomado a melhor decisão ao ir embora, mas já começava a ficar preocupada: Alex não tinha ligado até o momento, nem dado sinal de vida por mensagens, o que era estranho, já que elas sempre se comunicavam por aquele meio. Ficou apreensiva, é claro, em pensar que Alex poderia estar ainda com aquela mulher, mas tinha confiança de que não. Alex, até hoje, não havia dado motivos para que ela desconfiasse de nada, e ela iria confiar nisso.

- Mamãe! – Ouviu o grito estridente da menina que gritava de dentro do box do banheiro.

- Christine! Não precisa gritar! – Disse enquanto buscava a toalha.

- Mas eu já tinha chamado duas vezes, mamãe – reclamou.

- Ok, desculpe, meu amor – sorriu e ajudou Chris a secar os cabelos.

- Você ainda está triste, mamãe?

- Triste? Por que triste, meu bem? – Perguntou enquanto as duas seguiam para o quarto.

- Pelo que aconteceu lá no hospital – voltou os olhinhos azuis para a mãe.

- Bom, eu ainda me sinto triste por isso, mas o tempo vai deixando as coisas mais fáceis, isso é algo que você ainda vai aprender – deu um sorriso para a menina que sorriu de volta.

- Mamãe, hoje nós podemos ler o livro que a Isabela me emprestou? – Perguntou empolgada.

- Claro que sim – respondeu ajudando Christine a terminar de vestir a calça do pijama, quando viu seu celular tocar. Era Alex.

- Meu amor, termine de se vestir que a mamãe já volta, ok? – Avisou. Christine assentiu e ela saiu ansiosa para atender ao telefonema.

- Alô – atendeu séria, trancando-se no banheiro.

- Pipes, desculpe pela demora e por ligar a essa hora, mas eu precisava ouvir sua voz. Eu acabei dormindo e... – A morena falava sem respirar. Piper a interrompeu.

- Shh... Acalme-se, Alex, eu estou ouvindo, ok? – Falou com calma.

- Pipes, eu preciso tanto falar com você, conversar, te explicar tudo – Piper percebeu sua voz chorosa.

- Eu sei, mas nós pensaremos nisso amanhã ou depois.

- Pipes, por favor...

- Alex, eu sei que você tem muito a falar, mas agora eu não posso, estou preparando a Christine para dormir – ela falava baixinho, afinal Larry estava em casa e poderia ouvir alguma coisa.

- Ok, me desculpa por isso, mas é que isso tudo é tão fodido, eu estou tão nervosa... – O choro já começava a dar sinais de vida.

- Alex, preste atenção – falou séria. – Eu sei que isso é provavelmente sério, mas está tudo bem, ok? Desde que você não tenha feito nada de errado, não há porque se preocupar. Durma, descanse, e amanhã nós resolveremos isso, tudo bem? Você sabe que esse seu nervosismo não dá certo e nós temos um trato. Tome um calmante ou algo do tipo e vá dormir – a loira falou de forma quase maternal, temia muito as recaídas de Alex.

- Ok – respondeu como uma criança obediente.

- A Nicky está aí?

- Sim, ela chegou faz pouco tempo.

- Ótimo, eu tenho certeza que ela vai cuidar de você. Não se preocupe, vai ficar tudo bem, ok? – Repetiu.

- Ok – respondeu baixinho. – Dê um beijo na Chris por mim – conseguiu sorrir ao lembrar da menina.

- Darei vários - Piper também sorriu. – Agora eu preciso ir, amanhã eu te ligo quando puder falar, certo?

Alex concordou e as duas desligaram. Piper ficou alguns segundos olhando para o celular até ouvir batidas singelas na porta.

- Pronto, meu bebê – saiu sorridente do banheiro.

- A gente já pode ler? – Forçou um sorrisinho enquanto segurava o livro com as duas mãos.

- Claro que sim! – Foi rápida e segurou Christine no colo, a menina deu um gritinho e começou rir, aquele com certeza era o som favorito de Piper.

- Mamãe... – Christine a chamou enquanto as duas se acomodavam na cama.

- Sim? – Piper respondeu enquanto cobria as duas com a coberta.

- Essa noite eu tive um sonho muito ruim – ela disse com a cabecinha baixa.

- O que houve, filha? – Preocupou-se, Christine costumava ficar impressionada com sonhos.

- Eu sonhei que um dia eu acordava e você não estava mais aqui, você tinha ido embora e só tinha ficado o papai – disse com sua voz fraquinha ainda olhando para baixo.

- Ei... – Colocou-a em seu colo. – Foi só um sonho, tudo bem? Eu não vou a lugar nenhum, vou ficar bem aqui, pertinho de você – apertou Christine.

A menina retribuiu o abraço, mas ainda parecia pensativa.

- Mamãe, eu não quero que você vá embora, eu gosto do papai, mas ele não sabe cuidar de mim do jeito que você cuida – reclamou.

Piper sorriu e deu um beijinho no topo de sua cabeça. – Não fale assim, o seu pai se esforçar muito para cuidar de você.

- Eu sei... – Pareceu pensar um pouco mais. Piper sabia que naqueles momentos sempre vinham bombas. – Mamãe, você também não vai deixar o papai?

- Como assim, Chris? – Falou mais séria.

- É porque, na minha escola, tem muitas crianças que não moram com o papai e a mamãe. Algumas moram só com o papai ou só com a mamãe, mas eu gosto de morar com vocês dois – explicou.

Piper respirou fundo. – Bom, acontecem algumas coisas com os adultos que fazem com que eles não queiram mais viver juntos, mas você não deveria se preocupar com isso, filhos são para sempre, eu e o seu pai iremos te amar para sempre, independente do que aconteça – tentou dar a melhor resposta que pode.

- Mas eu não quero que você e o papai fiquem separados – olhou para cima para olhar nos olhos de Piper.

- Eu sei disso – balançou a cabeça. – Mas as vezes acontecem coisas que a gente não espera ou não quer que aconteça, e nem por isso os pais deixam de amar e cuidar dos filhos – explicou. – Eu não estou dizendo que vou me separar do seu papai, mas eu não sei o que pode acontecer... – Falava sendo observada pelo olhar atento de Christine.

- Eu não quero mais falar disso – falou com seu jeitinho emburrado e saiu do colo da mãe. Piper riu e agradeceu internamente por ela ter encerrado o assunto, estaria mentindo se dissesse que não pensava naquilo quase diariamente, sem nunca deixar de colocar Christine como prioridade.

A loirinha pediu para que elas fossem ler o livro, o que significava que ela leria e Piper apenas corrigiria sua pronuncia ou ajudaria em alguma palavra mais complicada.  Ela já ia muito bem na leitura, e os pais a incentivavam de todas as formas que podiam. Quase no fim, alegou que estava com muito sono e continuaria depois, Piper guardou o livro e ficou ali, pertinho dela, velando seu sono tranquilo enquanto pensava em todas as complicações da vida adulta. Deu um beijinho no rosto de Christine, aquele que Alex havia pedido, e também acabou pegando no sono ao lado do pequeno amor de sua vida.

 

***

No dia seguinte, Piper tentava controlar os nervos de uma morena que parecia que ia entrar em combustão a qualquer momento. Por mais que tentasse convencer Alex de que estava “tudo bem”, ela não deixava de insistir em ver logo a loira. Piper combinou que tentaria ver Alex depois que saísse do hospital, o que a deixou um pouco mais tranquila. Em meio a um atendimento e outro, esqueceu-se um pouco do drama pessoal que vivia e envolveu-se no trabalho.

- Pode chamar a próxima paciente, por favor, Morello – sorriu para a moça que havia lhe levado um relatório.

- Agora, chefinha – respondeu com o seu jeitinho educado e prestativo.

Piper estava distraída vendo detalhes do relatório quando ouviu uma voz conhecida lhe chamar de “doutora Piper”, o que ela achou estranho. Ao subir o olhar, encontrou a última pessoa que desejava ver: Jennifer.

- O que você está fazendo aqui? – Respondeu assustada.

- Bom, você é médica, talvez eu seja a paciente – disse enquanto se sentava em uma das cadeiras a frente de Piper.

- O que você quer comigo? – Foi direta.

- Os seus serviços, doutora – deu aquele sorriso cínico que Piper já odiava.

- Eu sei que você não quer os meus serviços, minha senhora – falou irônica. – Aliás, como você conseguiu encaixar um horário comigo logo hoje? – Perguntou. – Ou melhor, como você sabe quem eu sou e o que eu faço? A Alex te falou alguma coisa? – Desconfiou.

Jennifer sorriu de uma forma que fazia parecer que ela sentia pena de Piper. A loira sentia o sangue ferver com a postura daquela mulher.

- A Alex não me falou nada, querida, eu tenho que admitir que ela está bem apaixonadinha por você, ficou toda nervosinha quando eu toquei no seu nome... – Deu uma pausa e sorriu. – Não sei o que você fez, mas foi a coisa certa – olhou nos olhos de Piper.

Apesar de todo o ódio que sentia pela mulher, sentiu-se secretamente feliz por ouvir aquilo dela.

- Por que você não deixa a Alex em paz? Ela claramente não gosta da sua presença.

- Oh, você pode ser encantadora mas ainda não conhece direito a Alex. Ela tem toda aquela pose, parece resistente, mas ela cede, ela sempre cede – falou e recostou-se na cadeira, como se conhecesse Alex muito melhor do que Piper conhece.

- Olha só, Jennifer – respirou fundo – eu não conheço você, não sei o que você faz, qual é a sua história com a Alex, e eu realmente não me importo com isso – gesticulou com as mãos. – Mas, eu preciso que você fale o que quer de mim, eu não tenho tempo para essas ironias, esses joguinhos mentais que você pode fazer com ela, mas não comigo – fixou o olhar nos olhos também azuis de Jennifer.

- Decidida. Gosto disso – Jennifer assentiu e passou a mão nos cabelos. – Eu quero a Alex, como eu sempre quis e sempre tive, mas você está atrapalhando o meu caminho – falou com a normalidade de quem contava um fato cotidiano. Piper surpreendeu-se e não pode deixar de rir da petulância da mulher.

- Você acha que as coisas são assim? Que isso é uma novela ou uma história adolescente mal escrita? Que você é a vilã que vai fazer de tudo para separar o casal? Sério, me desculpe a indiscrição, mas você parece ser uma mulher – analisou-a – experiente... Isso é muito ridículo e infantil para uma mulher como você – disse com franqueza, sentiu Jennifer a fuzilar com os olhos.

- Eu não me importo com o que você pensa – vociferou. – Eu quero a Alex e eu tenho como tirá-la de você em um instante, mas eu ainda estou tentando ser educada ao vir aqui conversar como uma pessoa civilizada. Se você não contribuir, eu tenho outros meios de conseguir o que eu quero rapidamente – falou com raiva e séria, sem a ironia comum.

- E o que você vai fazer? – Piper falou com a mesma firmeza.

- Eu já sei tudo sobre você. Eu posso sair daqui e falar com o seu marido agora mesmo.

Piper hesitou por um segundo. Aquilo seria uma tragédia e um escândalo em sua vida pessoal e profissional. Jennifer percebeu o nervosismo da médica e se sentiu vitoriosa.

- Bom... Jennifer... Handler – Piper a olhou e deu um sorriso rápido. – Isso certamente seria algo ruim para mim, para a minha família, para o meu casamento – listou – mas sabe de uma coisa? – Apoiou os dois braços na mesa e se aproximou um pouco da outra mulher. – No final do dia, o máximo que poderia acontecer é o meu marido pedir o divórcio e eu poder, finalmente, ficar com a Alex, livre de qualquer impedimento – sorriu. – Eu pensaria duas vezes antes de dar esse passo – Piper surpreendeu-se consigo mesma, não sabia nem de onde tinha tirado aquele pensamento.

Jennifer pareceu perturbada, aparentemente ela também não havia pensado por aquele ângulo.

- Eu não tenho nada a perder se fizer isso – respondeu trêmula.

- Você tem, você sabe que tem.

- E quanto a sua reputação como médica? Você acha que vai ser bem vista quando as pessoas souberem que você seduziu a sua paciente? – Tentou ameaçar Piper novamente.

- O que te faz pensar que eu conheci a Alex aqui? Ou que eu a seduzi? Você pode saber o meu nome, a minha profissão e até o nome do meu marido, mas você não sabe nada sobre a minha história com a Alex – falou com firmeza, ela não era ruim em mentir.

- Bom, Piper Chapman, eu só quero que você saiba quem eu sou, e quem a Alex é, também. Ela deve ter feito a minha caveira para você, mas ela também não é nenhuma santa. Vocês estão nesse encantamento do começo, de achar tudo lindo, mas eu não sei se você vai gostar dela o bastante para aguentar a vida que ela tem, para saber que você e mais cem têm acesso ao corpo dela, que tem dias que você vai estar toda animada e ela vai chegar e não vai querer olhar na sua cara porque acabou de trepar com um homem qualquer por aí – dizia olhando para Piper sem hesitar. – Eu aguentei – apontou para si mesma. – Eu aguentei os homens, as mulheres, as drogas, as crises, tudo. E eu sinceramente não sei se você é forte o bastante para isso.

- Você não me conhece – Piper disse com a voz embargada.

- Mas eu conheço a Alex. Conheço como a palma da minha mão – sorriu.

- Terminou? Eu não tenho nada a falar com você – Piper alterou-se e se levantou.

- Eu já disse tudo o que tinha para dizer. Como sou uma alma muito boa e evoluída, vou te dar um tempo para pensar no que eu disse, eu tenho certeza que você é inteligente e vai tomar uma decisão sensata – disse também de pé, com o sarcasmo de sempre.

- Eu não devo resposta nenhuma a você e, por favor, não apareça mais no meu local de trabalho – Piper disse nervosa.

- Como quiser, eu tenho vários outros meios – Jennifer sorriu e saiu do consultório.

Piper se sentou novamente e sentiu uma lágrima molhar seu rosto. Parecia que o seu sonho adolescente estava prestes a ter um fim. 

 

Soon I'll grow up and I won't even flinch at your name
Soon I'll grow up and I won't even flinch at your name
Alanis Morissette - Flinch


Notas Finais


Esqueci de colocar no post original, mas queria agradecer duas leitoras (Camis e Vidal) que me ajudaram muito nesse capítulo, mesmo que de formas totalmente diferentes! Não tenho como agradecer, só espero que vcs curtam o capítulo, beijãaao <3


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