1. Spirit Fanfics >
  2. Nicest Thing >
  3. Simple Together

História Nicest Thing - Simple Together


Escrita por: vausemessy

Notas do Autor


Oi! Pois é, demorei mas voltei. Quero falar com vcs nas notas finais, fiquem \atentas.

Boa leitura, gatinhas :*

Capítulo 27 - Simple Together


Piper olhava para o celular nervosamente, esperando algo que não sabia o que era. Como havia pedido, Alex não havia lhe enviado mensagens ou feito ligações, pelo menos nesse sentido era obediente. Como esperado, não conseguiu dormir naquela noite. Depois de refletir sobre a atitude impulsiva de Alex, sua raiva já tinha passado, só não conseguia entender o porquê de tudo aquilo, e mesmo com as explicações, ainda não estava convencida das reais intenções de Alex.

Distraída em seus próprios pensamentos, nem percebeu quando Polly adentrou seu consultório. Ao ver a amiga, fechou a cara e passou a olhar para o computador, sem nem cumprimenta-la.

- Piper... – Polly a chamou sem paciência, sentando-se na cadeira a sua frente. – Por favor, não seja infantil.

- Eu não quero olhar para a sua cara, Polly – continuou sem olhá-la.

- Piper, me desculpa... Eu sei que errei mas, poxa, vai ficar sem falar comigo por causa disso?

- Eu deveria – finalmente olhou-a. – Da Alex eu espero esse tipo de coisa, mas não de você, não de alguém que acompanhou tudo que eu passei com essa história. O que você estava pensando?

- Sei lá, Piper! Você deve saber que a Alex consegue convencer muito bem as pessoas... Eu fiquei com pena dela, ela parecia realmente precisar disso, além do mais, ela falou que provavelmente você nem saberia disso... – Tentou se justificar.

- Então vocês planejavam fazer isso sem me falar? – Piper sorriu nervosamente.

- Não! – Gritou. – Na verdade, não sei... – Coçou a cabeça. – Esquece isso, se você não quer falar com ela, é só não ir.

- Só não ir? A Christine deve estar achando que eu pedi isso para a Alex, que eu estou desesperada para falar com ela, pedir o perdão dela – disse irritada. – Vocês mexeram com fogo.

- E o que você vai fazer com a gente? – Polly recostou-se à cadeira e perguntou.

- Eu deveria bater em vocês duas – disse com raiva e virou o rosto.

- Com a Alex você pode resolver isso, em mim você já não encosta um dedo – sorriu.

- Polly, é sério. Você não deveria ter feito isso. Poxa, imagina o quão errado tudo isso poderia dar. Imagina o que ela passou ao ver uma desconhecida na porta dela indo falar sobre mim? Você foi muito irresponsável – disse chateada.

- Pipes, eu sei... Me desculpa. Na hora me pareceu uma boa ideia. E pelo que ela me falou, a conversa foi bem tranquila e a Christine a recebeu bem.

- Eu não quero saber, vocês foram muito inconsequentes, essa era uma decisão minha – disse séria.

- Piper, eu já pedi desculpa, agora cabe a você aceitar ou não... E não fica com raiva da Alex, ela quis fazer isso muito mais por você do que por qualquer outro motivo – tentou convencê-la.

Piper a olhou e balançou a cabeça.

- Eu preciso pensar. A Alex não pode simplesmente fazer o que der na telha, isso é grave.

- Você ficou com vontade de ir falar com ela? – Polly a interrompeu.

- O que? Claro que não! – Disse indignada.

- E por que você disse para a Alex que queria isso?

- Porque isso era uma ideia distante, algo que poderia acontecer algum dia, não era para ela se sentir no direito de fazer isso por mim! – Manteve o tom.

- Certo, mas ela fez. As portas estão abertas, a Chris está disposta a ouvir você. Não te dá nem um pouco de vontade? – Insistiu.

- Polly? Você está tentando me convencer a fazer isso? Qual o seu problema? – Olhou-a como se a amiga estivesse falando um grande absurdo.

- Não sei, Piper, eu ficaria curiosa, só isso... Mas essa sou eu, claro – cruzou as pernas e desviou o olhar.

- Polly, vá para o seu consultório. Eu não quero mais ouvir você e esse seu discurso em defesa da Alex, tentando me convencer a algo que eu não estou preparada. Que insistência chata! – Reclamou.

- Ok... – Colocou as mãos para cima. – Já que você está me expulsando, eu vou! Mas... Eu realmente acho que você deveria pensar nisso, não custa nada, Pipes – disse ao se levantar.

- Custa muita coisa, Polly, você não entende isso – disse sem olhá-la.

- Desculpa, eu não quero te magoar, só acho que você deveria deixar de ser cabeça dura. Talvez isso seja bom para você – disse segurando a porta.

Piper não respondeu, apenas virou o rosto para a tela do computador.

- A Alex te passou os números?

- Passou – disse depois de alguns segundos. – Mas eu apaguei, não quero isso perto de mim – respondeu apática.

- Eu nunca vou entender você, Piper... – disse olhando-a. – Enfim, tenha um bom dia de trabalho, minha amiga tão amada. Não esquece que eu te amo, mesmo você sendo uma chata, ok? Se você mudar de ideia, eu ainda tenho os números... – Sorriu ironicamente.

Piper revirou os olhos e Polly a deixou ali, ainda mais confusa do que antes.

 

***

Sentada no sofá de espera, a loira tentava refazer seus passos desde quando havia saído do consultório até chegar ali, naquele escritório que não era tão distante de sua realidade mas, ao mesmo tempo, parecia um mundo completamente novo. Abandonando todas as obrigações do dia, deixando nas mãos de sua secretária a tarefa de desmarcar quase todas as consultas do período da tarde, ela decidira, do nada, que aquela era a coisa certa a se fazer. Talvez fosse. A chance de ser tudo uma grande bagunça era enorme, mas ela pensou que aquele lapso de coragem deveria honrar as pessoas que queriam vê-la bem, liberta. Além disso, sua natural curiosidade não deu trégua, é claro. Rever a pessoa que havia sido um dos maiores amores de sua vida era tentador, e talvez ela não tivesse outra oportunidade daquelas.

Ao mesmo tempo, quanto mais os minutos se arrastavam, mais ela tinha vontade de sair correndo dali. O sorriso forçado da secretária que tentava ser simpática a deixava ainda mais nervosa, e cada segundo que passava parecia um sinal para que ela desistisse daquela péssima ideia. Depois de, aproximadamente, cinco minutos, ela se levantou de uma vez, chamando a atenção da moça que a olhou com surpresa.

- Desculpe, eu me lembrei que preciso buscar a minha filha na aula de natação – sorriu. – Eu achei que o meu marido iria busca-la mas acabei de me lembrar que hoje é o meu dia. Você pode pedir desculpas para ela e...? – Tentava convencer a secretária que a olhava tentando acompanhar todas as informações.

- Claro... – Disse ainda confusa.

- Desculpa, é que eu realmente não posso...

Nesse momento, a porta do escritório se abriu e Piper conseguiu ouvir a voz da mulher enquanto falava com algum cliente que deixava o local. Seu corpo arrepiou dos pés à cabeça. Sem se virar, ela parou na posição em que estava. Sentindo uma leve tontura, apoiou-se na mesa da secretária que lhe perguntou se ela estava bem. Não respondeu, apenas fez um gesto com a mão e abaixou a cabeça.

Ouvindo os passos do homem deixarem o local, ouviu as batidas do salto se aproximando de onde estava e ficou ainda mais nervosa.

- Eu acho que ela está passando mal – ouviu a secretária falar.

- Vá buscar um copo de água para ela, por favor – a moça logo obedeceu ao pedido.

- Piper... – Ainda sem forças para levantar o rosto, foi tomada por sensações diferentes ao ouvir seu nome saindo daquela boca. – Você está bem? Fale alguma coisa – pediu com calma, apesar da firmeza na voz. Em nenhum momento a tocou.

- Eu... – Passou a mão na testa, com os olhos fechados. – Eu estou bem – assentiu. – Foi só uma tontura – abriu os olhos, ainda olhando para baixo.

- Olhe para mim – Christine pediu quase como um ordenamento.

Piper subiu o olhar, encontrando os olhos impassíveis e rígidos da mulher que não havia mudado muito e, ao mesmo tempo, era uma pessoa completamente diferente. O que antes lhe trazia paz, agora lhe dava medo.

- Aqui a água – foram interrompidas pela secretária de Christine que entregou o copo nas mãos da loira. Educadamente, ela bebeu um gole, tentando não deixa-las perceber o tremor em suas mãos. Após agradecer, deixou o copo em cima da mesa.

- Você se sente bem para entrar? – Christine perguntou formalmente, como se Piper fosse uma cliente qualquer.

Não respondeu, apenas assentiu com a cabeça. Christine deixou-a passar em sua frente e entrar primeiro, enquanto a secretária observou tudo sem entender nada, pensando na suposta filha que seria deixada na natação.

 

Após se sentarem, as duas dedicaram-se a se encarar sem reservas. Não tinha timidez ou vergonha, capturavam cada detalhe dos rostos, das posturas, dos olhares, como se aquela análise fosse revelar tudo o que cada uma passou depois daqueles sete anos.

- Eu não esperava que você viesse – Christine disse pausadamente.

- Eu também não – Piper disse tímida.

As duas continuaram se olhando, tinha tanto a ser dito, mas nenhuma das duas sabia por onde começar, se deveria começar...

- A Alex me disse que você havia desistido, eu não estava mais esperando por você – Christine tentou, novamente.

- Eu tinha desistido... – Disse distraída, observando o jeito como Christine falava. – Mas eu mudei de ideia. – Christine assentiu. – Você tem falado com a Alex?

- Não. Eu falei com ela quando disse que você poderia vir, e alguns dias depois ela me disse que você achava melhor não vir. Foi só isso – explicou.

- Não... Não tem problema, foi só uma pergunta. Vocês são adultas e podem fazer o que quiserem – disse tirando os olhos da mulher a sua frente.

Christine sorriu e balançou a cabeça. – Piper, eu e a Alex não vamos nos unir, virar amantes e planejar uma vingança contra você. Nós não somos amigas, não somos nada, falamos apenas o necessário.

- Não tinha nada a ser falado, a Alex que decidiu reviver tudo isso por conta própria – Piper disse com chateação.

- Se não houvesse nada a ser falado, você não estaria aqui.

Piper a olhou e desviou o olhar. Aquilo não havia mudado, Christine continuava imbatível em seus argumentos.

- Eu queria fazer isso um dia, mas não agora.

- Por que não agora? Você continua do mesmo jeito, sempre querendo adiar a resolução dos seus problemas.

- Eu não vim aqui para ser julgada por você por ser quem eu sou, agora eu tenho outras pessoas para fazerem isso por mim – Piper rebateu.

- Certo. Me desculpa – Christine disse, tentando ficar mais calma.

- Chris... – Piper disse e depois se corrigiu. – Christine... Eu sei que você deve estar pensando isso até hoje, mas eu juro que não pedi para a Alex vir aqui te pedir nada disso. Pelo contrário, eu fiquei muito chateada com ela. Eu decidi contar a nossa história para ela, ela ficou muito comovida e acabou fazendo isso...

- Piper, eu sei que você não pediu, não precisa se preocupar com isso. A Alex foi sincera comigo em todos os momentos.

- Você não ficou chateada com ela? Por ter vindo aqui, invadido a sua privacidade...

- Inicialmente, sim. Mas depois ela foi se explicando, falando os motivos dela. Ela não é o tipo de pessoa de quem você consegue ficar com raiva por muito tempo – moveu os ombros.

Piper sorriu. – Isso é verdade.

- Você não deveria ficar chateada com ela por causa disso. Ela fez isso pensando em você, acima de tudo – olhou a loira nos olhos.

- Eu já estou cansada de todo mundo me dizer isso – respirou fundo. – Christine, mais do que ninguém, você sabe que ela mexeu em uma coisa muito séria. As consequências poderiam ser catastróficas.

- Eu sei, mas agora cabe a nós fazer com que não seja desse jeito. Não é questão de apagar o que aconteceu, mas de dar um final mais digno – ainda fitava Piper, que se sentia acuada.

- Você não me odeia? – Perguntou sem olhá-la.

- Eu passei muito tempo tentando fazer isso, depois eu me foquei só em te esquecer – as palavras atingiram Piper como balas.

- E conseguiu?

- Bom, dizem que o tempo é o melhor remédio. E sim, a cada dia você se tornava uma lembrança mais e mais vaga na minha memória – Christine dizia alternando o olhar entre Piper e a mesa a sua frente, tentando parecer forte.

- Me desculpa por tudo o que eu fiz você passar. Provavelmente isso não vai te confortar, mas possa te fazer sentir melhor. Eu também sofri muito, senti muito a sua falta... Eu me arrependi muito da minha escolha – Piper disse com sinceridade, Christine a olhava de lado, séria.

- Até hoje você pensa assim?

- Não – respondeu com firmeza. – Hoje eu penso que não era para ser. Poderia ter terminado de uma forma menos dolorosa, mas não era para ser.

- Você está satisfeita com a sua vida? – As duas tentavam conseguir, por meio de perguntas curtas, as respostas que procuraram por tantos anos.

- Estou – Piper desarmou-se um pouco. – Não é nada perfeita, mas eu tenho pessoas que eu amo, que me amam, e tenho uma filha por quem eu daria o mundo.

- A Alex está inclusa nisso?

- Sim, a Alex está inclusa. Ela é muito importante para mim.

- Você a ama? – Christine perguntou, agora a olhando de frente.

- Desculpa, mas essa resposta eu não devo a você – Piper respondeu, visivelmente incomodada.

Christine sorriu disfarçadamente e abaixou a cabeça.

- E o Larry? Você o ama?

- Eu não vim aqui para fazer uma lista das pessoas que eu amo ou deixo de amar. Me desculpa, mas isso é algo que só diz respeito a mim – cuspiu as palavras.

- Esse é o seu problema. Você acha que o amor que você dá às pessoas é um problema só seu, daí você simplesmente não quer dar mais e acha que elas têm que aceitar as migalhas que sobram. Quando você vai crescer e aprender a ter responsabilidade emocional com as pessoas com quem você se envolve? Aprender que relações são feitas por duas pessoas e que não dizem respeito só a você? Eu achei que a experiência e o tempo iriam te deixar menos egoísta, mas parece que você não mudou nada! – Christine dizia com nervosismo, diante de uma Piper que ouvia cada palavra com surpresa.

- Christine, você não me conhece mais do jeito que conhecia antes. Eu mudei. Mudei muito, e não admito que você fale assim comigo. Eu estou fazendo tudo o que posso para não magoar as pessoas que eu amo, mas eu ainda não sou perfeita, me desculpa por isso – Piper respondeu no mesmo tom, pegando a bolsa que estava na outra cadeira e se levantando.

- Piper! – Christine logo se levantou, tentando impedi-la. – Por favor! Não seja infantil! Você esperava vir aqui e só ouvir coisas boas?

- Não, Christine, mas eu também não vim aqui para ser julgada por uma pessoa que nem me conhece mais. Se quiser me julgar, me xingar, me amaldiçoar pelos erros do passado, fique à vontade, mas não ache que pode falar o que quiser sobre o que eu vivo atualmente, porque ninguém sabe como é passar por isso. Se sabe, não sabe como é passar por isso na minha pele – Piper disse de pé, olhando-a nos olhos. Christine sentia sua sinceridade, e até um pouco de sua dor.

- Por favor... – gesticulou apontando a cadeira, pedindo para que Piper voltasse. A loira hesitou um pouco mas voltou, assim como Christine também voltou para seu lugar.

- É difícil conversar com você normalmente depois de todos esses anos. Como você disse, eu não te conheço mais, mas eu não posso evitar em deixar as minhas lembranças falarem mais alto – Christine confessou.

- Eu sei. Me desculpa, mas é que eu realmente estou tentando fazer a coisa certa e é difícil para mim ouvir que eu não me responsabilizo pelas pessoas que eu amo quando isso é tudo que eu venho tentando fazer – Piper disse mais calma.

- Eu acredito em você, ou pelo menos tento – Christine deu de ombros. Piper sorriu.

- É bom ouvir isso de você – olhou-a com ternura. – É bom ver você de novo.

- Nós viramos adultas – Christine sorriu.

- É, infelizmente isso aconteceu – Piper a acompanhou. As duas ficaram em silêncio por alguns segundos estranhos.

- Você pensou como seriam as coisas se tivesse dado certo? – Piper perguntou, timidamente.

- Claro que sim. Poderia ser um conto de fadas ou nós poderíamos ter nos matado no primeiro dia juntas.

As duas sorriram juntas e se olharam sem graça, tímidas.

- Eu achei que viria aqui e você ia jogar tudo na minha cara, gritar comigo, me acusar por todo o sofrimento que eu te fiz passar, mas... Você não está fazendo isso.

- Eu também achei que faria isso. Eu estava com medo de te ver, mas, ao contrário do que eu pensei, eu estou em paz, não tem porque reviver tudo aquilo. Eu já falei o que tinha para ser falado, já sofri o que tinha para ser sofrido... Você é só mais uma pessoa que passou pela minha vida, me marcou e foi embora, talvez de forma mais significante, mas ainda assim, só isso – Christine dizia com calma.

Piper assentiu, absorvendo suas palavras. Christine não era mais a menina leve, alto astral e sorridente que ela conhecera. Era uma mulher firme, segura de si e de cada palavra que saía de sua boca, e ela sabia que era responsável por parte daquilo.

- Eu não vou cansar de me desculpar pelo sofrimento que eu te causei, você era a pessoa que menos merecia isso de mim – disse olhando em seus olhos.

- Eu sei disso. Eu não mereci, mas isso me fez crescer e amadurecer de uma forma que você nem imagina. Todas as experiências que eu tive na vida me tornaram a mulher que eu sou hoje, e você foi parte disso – Christine era tranquila. – Portanto, obrigada por ter partido o meu coração – sorriu sarcasticamente.

Piper balançou a cabeça em negativo.

- Ok, eu mereço o seu sarcasmo – disse apoiando os braços na cadeira. – Eu só espero que você esteja bem hoje, que tenha conseguido seguir em frente...

- Se eu não tivesse conseguido, você não estaria aqui hoje – olhou-a intensamente.

- Eu não gosto quando você me olha assim, é do mesmo jeito que a Alex faz, como se vocês conseguissem ler o meu pensamento – disse nervosa.

- Alex... Onde você achou essa moça, Piper? – Perguntou inclinando o corpo sobre a mesa, curiosa.

- Nem eu sei, ela simplesmente apareceu na minha vida e mudou tudo o que eu tinha planejado – sorriu de cabeça baixa, colocando o cabelo atrás da orelha.

- A Alex é uma pessoa sincera, transparente, boa. Eu consegui perceber isso só em uma conversa com ela, não me surpreendo por você estar apaixonada.

Piper a olhou rápido e abaixou a cabeça novamente.

- Ela também parece ser uma pessoa muito sensível, você precisa ter cuidado com isso – continuou.

- Eu estou tentando – disse baixinho.

- Se você está realmente apaixonada, você sabe que ela é a vida te dando uma outra chance – Christine dizia observando a postura oprimida de Piper.

- Eu sei – a loira continuava da mesma forma.

- Não estrague tudo. Sobre você, eu não sei dizer, mas ela não merece isso.

- Eu estou tentando fazer a coisa certa, você não faz ideia do quanto – Piper a olhou, Christine só assentiu.

- Posso perguntar uma coisa? – Christine franziu o cenho.

Piper ficou desconfiada mas assentiu.

- Eu perguntei para ela o que ela fazia da vida e ela não me respondeu, pelo menos não diretamente. Ela não faz nada de errado, certo?

- Uau – Piper sorriu, sem graça. – Eu achei que você soubesse, mas se ela não quis dizer, não cabe a mim falar, me desculpa...

- Piper... – Insistiu de forma infantil. Piper sorriu por ver algo da menina que ela conhecia na mulher que estava a sua frente.

- É complicado, Christine. Não é que ela faça algo errado, mas é algo muito pessoal e até meio problemático...

- Ela é...? – Fez uma careta. – Não, esquece.

- Provavelmente, o seu pensamento está certo – Piper confirmou.

- A Alex não é prostituta, é? – Foi direta, mas ainda achando aquilo impossível.

Piper assentiu e abaixou a cabeça, novamente. Christine parecia completamente chocada, as duas ficaram em silêncio por alguns instantes.

- Você não...?

- Não, Christine, eu não contratei a Alex em hora nenhuma, por isso você não precisa me julgar.

- Por que isso, Piper? Por que ela faz isso? Por que você se envolveu com alguém assim? Eu... Eu não entendo.

- Ela tem as razões dela, e eu me envolvi porque gosto dela, esse é só um detalhe quase irrelevante para mim. A Alex é muito mais do que isso – disse firme, não admitiria que qualquer pessoa julgasse Alex por isso.

- Ok... Me desculpa – balançou a cabeça. – Eu não quero parecer preconceituosa ou mente fechada, mas isso é muito surpreendente... Eu jamais imaginaria – ainda parecia confusa.

- Não tem porque imaginar isso. A Alex é uma mulher normal, ela tem uma vida, problemas, contas a pagar como qualquer pessoa.

- Você sabia desde o começo?

- Sim, a Alex nunca mentiu para mim – confirmou.

- Você não morre de ciúmes? Desculpa, é que eu me imaginei nessa situação...

- Bom, não é uma situação confortável de se estar, mas nós conversamos muito sobre o assunto, eu tento ser o mais compressiva possível... – Suspirou. – Também não é como se eu tivesse em posição de julgá-la. Nós duas temos nossas vidas cheias de problemas, esse é só mais um – não abaixou a cabeça para aquilo. Apesar do modo de vida de Alex ser algo que lhe afligia, não era o aspecto mais relevante da relação entre as duas.

Nesse momento, a secretária de Christine bateu à porta e pediu licença, alegando que a advogada precisava assinar alguns documentos com urgência. Pedindo licença a Piper, ela assinou os papéis e levou-os de volta à moça que esperava. Ao voltar, ficou parada na porta.

- Você quer beber alguma coisa? – Perguntou a Piper que virou e lhe olhou com surpresa. – Não sei se é apropriado, mas toda essa conversa me fez querer tomar alguma coisa – disse dirigindo-se a uma pequena mesa que continha algumas garrafas com bebidas diferentes.

- Não sei, talvez eu ainda volte a trabalhar hoje... – Piper disse tentada, até que não era má ideia. – Além disso, é estranho beber com você – brincou.

- Um drink, Piper. Você não vai ficar bêbada – sorriu, servindo algo em dois copos.

Piper levantou-se e foi em sua direção, Christine lhe deu um dos copos e as duas brindaram, olhando-se com timidez e cumplicidade, ao mesmo tempo.

- E então, isso é um “sim, eu te perdoo por ter me iludido, me maltratado e ido embora”? – Piper perguntou enquanto se sentava no sofá de couro próximo à mesa de bebidas.

Christine se sentou ao seu lado, não muito próxima.

- Talvez – moveu as sobrancelhas.

Piper sorriu sem graça. – Chris, – dessa vez não se corrigiu – eu não vim aqui exatamente para pedir que você me perdoasse, eu sei que eu não tenho esse direito. O que eu espero é que você tome essa decisão, que se sinta livre do ressentimento e da raiva que sentiu de mim. Se isso acontecer, eu já posso me sentir melhor – disse olhando em seus olhos. Quando terminou, as duas beberam um gole juntas.

- Sabe, Piper – Christine falou depois de alguns segundos em silêncio. – Até antes de você entrar por essa porta, eu achei que eu ainda tinha ressentimento e raiva de você, que eu ia querer te bater, te xingar, fazer qualquer coisa se te visse na minha frente. Mas aí você chegou e eu não senti mais essa vontade. Isso é passado para mim. Nós éramos jovens, achávamos que o mundo abriria as portas para a gente... Você tinha medo, secretamente eu também tinha. Eu não vou dizer que está tudo esquecido e vai ficar tudo bem, porque nunca vai, mas não tem porque eu guardar isso dentro de mim, me destruindo, sofrendo... Eu não mereço isso, não mais – finalizou.

Uma lágrima escorreu dos olhos de Piper. Ela realmente sentia muito por tudo o que tinha feito aquela mulher passar, e aquilo era suficiente para saber que estava perdoada, livre. Sem se importar com a possibilidade de ser rejeitada, aproximou-se e deu um abraço na mulher que, inicialmente, surpreendeu-se, mas logo retribuiu. As duas choraram juntas, descarregando o peso da culpa e do perdão.

- Promete que não vai fazer o mesmo com a Alex? Por você, por mim, por ela – Christine disse ainda com a voz chorosa, quando as duas se separaram do abraço.

Piper apenas assentiu, secando as lágrimas.

- Bom, eu não esperava por tudo isso – Christine disse sorrindo, limpando debaixo dos olhos sujos de maquiagem. Piper apenas sorriu.

- Como você está? – Piper perguntou mudando o tom.

- Eu estou bem – Christine sorriu. – Sou realizada profissionalmente, vivo em paz comigo mesma, tenho uma pessoa que é tudo o que eu sempre precisei na vida, e não tenho filhos, mas tenho duas gatinhas que dão um trabalho semelhante – sorriu, descontraída. Não havia perdido a capacidade de melhorar qualquer situação com seu sorriso e seu jeito reconfortante, pensou Piper.

- Eu fico tão feliz por você – Piper sorriu, sentando-se de lado e apoiando-se no encosto do sofá. – Você merece toda a felicidade do mundo. – Christine levantou o copo e as duas brindaram.

- E você? Como tem sido a sua vida? Tirando a parte da sua amante que é linda, gostosa e também é prostituta, do jeito que você gosta? – Ironizou.

Piper sorriu e lhe repreendeu com o olhar.

- Você me conhece – disse antes de beber mais um gole. – Bom, infelizmente a minha caminhada não tem sido tão feliz quanto a sua. Não teve um dia em que eu não pensei no que eu fiz, que eu não tenha me arrependido, lamentado... Acho que a vida fez um bom trabalho me punindo. Por outro lado, eu estou me tornando a profissional que sempre quis ser, tive uma vida confortável ao lado dele – não citou o nome de Larry – e tenho uma filha que me dá toda a força que eu preciso para não enlouquecer – sorriu, olhando para o nada. – Sabe, se fosse possível, eu diria que ela era sua filha. Ela é exatamente igual a você – olhou para Christine.

- Isso foi alguma divindade te castigando, fazendo você ter que viver pelo resto da vida comigo – disse convencida. Piper riu e concordou.

- Ela é um anjo, o amor da minha vida – Piper disse olhando para baixo, rodeando a boca do copo com o dedo.

- Eu posso vê-la? – Christine pediu e Piper a olhou assustada. – Uma foto, Piper...

A loira assentiu e buscou o celular na bolsa, selecionando algumas fotos para que Christine visse.

- Ela é perfeita – Christine disse olhando as fotos. – Ela é o que você precisava.

- Eu nunca vou poder te agradecer o bastante por ter me convencido a não abortar, não sei como seria a minha vida sem ela – Piper disse sincera.

Christine sorriu e balançou a cabeça, ainda olhando as fotos.

- Eu sempre fui uma pessoa sábia – disse e Piper sorriu, bebendo mais um pouco.

- Eu preciso ir, essa sua bebida é forte e já está me deixando meio alta...

- Certo... – devolveu o celular.

As duas se levantaram, meio sem jeito.

- Isso é estranho – Piper disse.

- É estranho nós ficarmos estranhas uma com a outra, não? – Christine questionou.

- Muito estranho – Piper afirmou, colocando as mãos nos bolsos da calça. – Obrigada por isso, obrigada por todas as palavras, por ter aceitado falar comigo, e por sempre dizer algo bom e construtivo para mim, mesmo depois de tudo o que eu fiz – Piper falou já sentindo mais lágrimas molharem seu rosto.

- O perdão é bom para quem recebe, mas melhor ainda para quem dá – Christine se aproximou e secou, delicadamente, suas lágrimas. – Você pagou a sua dívida, só precisa tomar cuidado para não cometer o mesmo erro novamente – fixou os olhos castanhos claros nos azuis de Piper.

Piper a abraçou novamente, e novamente as duas choraram.

- Você sempre vai ser especial para mim – Christine disse em seu ouvido, Piper assentiu, sem controlar as lágrimas.

- Me desculpa por tudo, por ser quem eu era, por ter errado tanto, por ter te machucado – tentava pronunciar as palavras.

- Eu te perdoo – Christine disse, passando as mãos nos cabelos loiros. Piper chorou ainda mais ao ouvir aquilo, e afastou um pouco o rosto, olhando para a mulher.

- Tem certeza? – Perguntou, ofegante.

Christine não respondeu, passou as mãos em seu rosto, gesto que fez Piper fechar os olhos. Analisou cada detalhe de seu rosto avermelhado com ternura, e Piper abriu os olhos novamente. Nesse momento, aproximou-se um pouco mais e lhe puxou para um beijo. Piper não se opôs, não que o beijo não tivesse significado, mas também não significava algo sexual. Não era sobre atração, mas sobre afeição.

Retribuiu da forma torta que conseguiu, sabendo que jamais viveria aquele momento novamente. Ao se afastarem, Christine sorriu singelamente e lhe deu mais um beijo na bochecha.

- Me des... – Começou a falar e foi interrompida por Piper.

A loira colocou o dedo levemente em sua boca e fez sinal de negativo.

- A única pessoa que precisa se desculpar, sou eu – disse com a voz rouca.

Sem falar nada, pegou a bolsa, sorriu para a mulher que lhe sorriu de volta e deixou o local.

Depois que saiu da sala de Christine, não conseguiria refazer o caminho de seus passos. Deu-se conta de tudo o que havia acontecido no carro, enquanto ouvia uma música alta e chorava copiosamente, alternando com acessos de riso, não acreditando que algo que imaginava ser tão distante, agora era real. Precisava se encontrar com a responsável por aquilo tudo, a pessoa que lhe dava coragem dia após dia de ser um ser humano, de errar, acertar e simplesmente, ser.

Ao chegar ao prédio de Alex, ansiava um pouco mais a cada número que o elevador marcava. Ao chegar em seu andar, praticamente correu até o apartamento da morena, ansiosa.

Quando a porta se abriu, revelando exatamente quem ela queria ver, não pensou duas vezes em deixar todo o seu afeto, desejo e amor transbordarem, atacando a mulher com um beijo desajeitado que logo foi se ajustando, como sempre. Nunca havia sentido nada igual ao que sentia naquele momento por Alex, e demonstraria cada detalhe por meio de seu toque, de sua pele. 


Notas Finais


Então... primeiramente, eu queria meio que me desculpar pelos últimos capítulos, que eu acho que não foram o melhor que eu poderia fazer. A real é que eu to bem sem inspiração, e estou me esforçando muito para escrever os capítulos pra vcs e postar com uma frequência aceitável. Mas acho que essa não é a solução, não é bom pra mim, pra fic e consequentemente, pra vcs. Eu acho que preciso de um tempinho para voltar a me sentir animada em escrever, em terminar essa história dando o meu melhor... Portanto, é provável (vai que não) que eu demore mais que o normal para postar de novo, e pra nao ficar colocando aviso, eu prefiro deixar vcs cientes logo. Apesar disso, como sempre, eu prometo tentar não demorar muito, e talvez até pensar em ideias novas que me animem e me inspirem. Enfim, chega de textão, comentem sobre o capítulo (quem quiser, óbvio). Um beijão e até mais, não desistam de mim :P


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...