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História Nicest Thing - Silent Shout


Escrita por: vausemessy

Notas do Autor


Obrigada a todas que estão favoritando e lendo <3

Capítulo 3 - Silent Shout


 

- Alex, acorde.

De resposta, só um gemido.

- ALEX! – A loira puxou o edredom. – Levante-se, AGORA!

- O que eu te fiz Nicole? – Finalmente ela havia tirado o rosto do meio dos travesseiros.

- O que você NÃO fez! Acordar, né? Alex, pelo amor de todos os deuses! – Nicky repetia, impaciente. – Eu não sou sua mãe, porra!

- E por que diabos eu deveria acordar a essa hora da madrugada? – Revirou-se na cama, voltando-se para a amiga.

- Porque você tem consulta e precisa estar lá em, no mínimo, uma hora.

- E... Por que você marcou pela manhã, mesmo? Você sabe que eu não existo de manhã. – A morena acomodou-se na cama novamente.

- Era o horário que tinha e você já está brincando com o perigo – puxou o edredom por completo.

- Eu sempre tive horário fixo, Nicky, o que aconteceu?

- Aconteceu que a sua médica não atende mais na cidade, então tivemos que procurar outra e, nessa, esse era o horário que tinha.

- Eu vou hoje, mas você sabe que nós vamos ter que resolver esse problema, certo?

- Alex, eu te consegui uma das melhores profissionais da cidade, pare de reclamar e levante-se agora, eu não vou pedir de novo.

A morena percebeu que dessa vez era sério e se levantou, contrariada.

- Você tem alguma coisa contra roupas, Alex? – disse olhando para a amiga que se pôs de pé, completamente nua.

- Você tem alguma coisa contra a minha nudez, Nicole? – Ela perguntou com um sorriso dissimulado.

- Se você não estiver saindo dessa casa em quarenta minutos, considere-se uma mulher morta – Alex a respondeu exibindo o dedo do meio.

 

Seguindo as ordens, a morena dirigiu-se ao banheiro e deu início a um banho quente na ducha intensa de sua suíte. Alex era a pessoa mais adepta a banhos que ela conhecia, talvez considerasse aquela uma forma de purificação, de tirar de seu corpo toques indesejados e lembranças doloridas. Ou talvez, não, talvez ela simplesmente fosse uma pessoa adepta a banhos, oras! Cada louco com as suas manias. Louca. Esse era um adjetivo muitas vezes já atribuído à Alex Vause, ela não sabia se concordava. Se tentar viver um dia de cada vez sem se importar muito com as consequências fosse loucura, talvez ela fosse louca. Mas ela não gostava muito de pensar nisso, pensar, sim, era uma atividade que a deixava louca, e a sua maior busca, todos os dias, era manter a sanidade.

 

- Alex, você tem cinco minutos para engolir esse café – Nicky disse assim que a morena entrou na sala, fazendo um coque nos cabelos.

- Não irei tomar café.

- Por que?

- Porque é madrugada, Nicole! E eu não como de madrugada – olhou-se no espelho, finalizando a arrumação meio torta que tinha feito nos fios negros.

- Alex, são quase 9h da manhã!

- Madrugada – deu de ombros, como que se o que estivesse dizendo fosse óbvio.

- Então vá logo, não quero mais te ver aqui.

- Eu também te amo – pronunciou-se enquanto pegava a bolsa e saia do apartamento.

 

***

 

- Filha, você precisa se comportar, ok? Não pode sair jogando o que estiver na sua frente em seus coleguinhas.

- Ele não é meu colega, e se ele fizer aquilo de novo, eu jogo tinta de novo nele – a garota respondeu emburrada.

- Christine, você não irá fazer isso, ok? Não é assim que se resolve as coisas, você precisa conversar com ele e ensiná-lo a respeitar os colegas, assim como você respeita.

- Mas, mamãe, eu não consigo controlar os meus impulsos – Piper Chapman paralisou, segurando os cabelos da filha nas duas mãos e olhando a sua frente, no espelho.

- Como é que é? – Perguntou, segurando o riso.

- É, mamãe, ele me tira do sério – a garotinha respondeu gesticulando com as mãos.

- Você sabe o que são impulsos?

- Sim, o papai me ensinou.

- O seu pai anda te ensinando muitas coisas. Inclusive, hoje ele irá lhe levar a escola, ontem cheguei atrasada no consultório por conta dos seus atrasos. Ouviu, mocinha? – Disse terminando o rabo de cavalo que fez nos cabelos loiros amendoados da menina.

- Tudo bem, o papai não reclama dos meus atrasos, ele não reclama de nada.

- Exatamente, o seu pai não reclama de nada, ele é completamente bobo por você.

- Não chame o meu papai de bobo! – Christine gritou.

- Ele é bobo, muito bobo – Piper retrucou sarcástica.

- Não quero mais falar com você – ela disse, saindo do quarto.

- Nem se a mamãe te levar para a cozinha no colinho? – Nesse momento a garotinha parou, e olhou para trás, ela não resistiria a uma oferta daquelas. Deu os braços para a mãe e a abraçou pelo pescoço.

- Mas eu ainda não estou falando com você.

- Tudo bem, respeito sua decisão.

Assim, desceu as escadas com a menina, correndo, arrancando sorrisos e gritinhos da filha.

- Mamãe, nós vamos cair – Christine gritou, gargalhando.

- Achei que não estivesse falando comigo.

- Você não sabe seguir as regras, mamãe.

- Eu já segui muitas regras na vida, a vez agora é sua. Agora vá tomar café com o papai porque a mamãe precisa sair neste minuto, ok?

- Okay, mamãe, eu te amo, mesmo você sendo chata – a menina deu um beijo em sua bochecha.

- Que coisa absurda de se falar a uma mãe! – Se fez de ofendida.

- Ela tem razão, amor – Larry a segurou de lado pela cintura, dando um beijo em seu pescoço.

- Você precisa parar de mimar essa garota e, por favor, não deixe ela chegar atrasada, a nossa fama na escola já não está das melhores.

- Não se preocupe com isso.

- Então já vou indo porque o dia está daquele jeito que eu amo.

- Boa sorte, querida, eu te amo.

- Eu também – ela deu a resposta típica, apanhando a bolsa e o jaleco. – Quanto a você – apontou a filha – comporte-se! Estarei na sua cola.

A garota preparou-se para rebater, mas ela saiu rapidamente do local, deixando apenas o rastro de sua presença.

 

***

 

- Moço, será que você pode acelerar um pouco? Eu estou muito atrasada e serei uma mulher morta caso perca esse compromisso.

- Achei que rainhas nunca estivessem atrasadas – o taxista a respondeu com um sorriso sacana.

Alex arregalou os olhos verdes. Aquilo era sério? Ela estava sem maquiagem e com um coque mal feito nos cabelos, e mesmo assim precisava ouvir comentários daquele tipo?

- Desculpe-me, não tenho tempo para brincadeirinhas, só preciso chegar ao local que lhe indiquei, rápido – respondeu grosseiramente ao homem.

Ele, por sua vez, se sentiu intimidado e obedeceu o pedido da morena, tentando alguma rota alternativa que estivesse menos engarrafada.


 

- Bom dia, meu bem, como estamos hoje? – A loira questionou a amiga.

- Acredito que... Pontuais! A primeira paciente ainda não chegou.

- Ótimo! Hoje o Larry foi levar a Christine, se alguém tiver que ouvir, não vai ser eu – concluiu sorrindo.

- Tenho certeza que a Chris não irá aprontar mais nada. Pelo menos, por essa semana – a mais baixa pontuou.

- Se isso acontecer, já ficarei satisfeita. Meu bem, estou indo para o consultório, avise-me assim que a primeira paciente chegar.

- Sim, senhora, chefinha.

E, assim, a loira entrou no consultório, acomodou-se, ligou o computador e procurou atualizar-se em relação às notícias do dia, quando recebeu o aviso de que a primeira paciente havia chegado e, no mesmo instante, a ordenou a entrar na sala. A paciente era uma moça de 25 anos, grávida do primeiro filho, cheia de temores e dúvidas. Piper era sua médica há anos, então não houve dúvidas em relação a quem seria a responsável pelos cuidados da gravidez até o parto. A Doutora Piper Chapman tinha uma capacidade de despertar confiança em suas pacientes que era algo bonito de se ver, isso despertava a admiração de todos que a conheciam e a deixava orgulhosa, apesar da modéstia.


 

Alex entrou na sala de espera como um furacão, a morena sabia que estava atrasada e correu pelo hospital chamando a atenção de todos que passavam por ela. Não era para menos, seus 1,78m de altura e pose imponente jamais a deixavam desapercebida, ainda mais quando parecia alguém que estava indo tirar a mãe da forca. E foi assim que ela chegou ao destino: descabelada, com as bochechas vermelhas e completamente ofegante – nessas horas, repensar o uso de cigarros era uma ideia. Depois do susto, quem olhasse acharia a expressão adorável mas, até então, todas as pacientes da espera estavam sobressaltadas com a chegada nada discreta da bela mulher que parecia uma louca.

Ela, por sua vez, olhou timidamente para todas as presentes e pronunciou um “bom dia” quase sussurrado, depois dirigiu-se a mesa da moça de sorriso acolhedor que a olhava com simpatia.

- Desculpe-me e bom dia.

- Não precisa se desculpar, querida, estava tudo bem tedioso por aqui, foi engraçado.

A morena riu com a cabeça baixa.

- Então, você pode me passar seu documento de identificação e a carteira do convênio?

- Claro! Desculpe-me, ainda estou me recuperando de tudo isso – deu um sorriso fraco enquanto procurava a carteira com os itens solicitados na bolsa – está aqui – entregou os documentos à moça simpática e esperou um tempo em pé, passando as mãos nos cabelos enquanto olhava para o chão.

- Prontinho, Alexandra Vause – a moça lhe devolveu seus pertences – só que você vai ter que esperar um pouquinho porque, devido ao atraso, tivemos que passar outra paciente na sua frente.

- Claro, não tem problema. Desculpe-me o transtorno, o trânsito estava terrível.

- Tudo bem, não se preocupe, não foi problema.

Então ela sorriu e se sentou em uma poltrona vaga no canto da sala, sentindo que todas as mulheres presentes a observavam, o que era uma verdade. Depois de uns vinte minutos, a paciente que estava no consultório saiu, então a secretária entrou na sala rapidamente, provavelmente para avisar que a “atrasada” já havia chegado. Alex tinha várias falhas no que se trata de responsabilidade, mas pontualidade não era uma delas, então ela estava odiando toda a situação, só queria entrar logo no consultório e sair correndo dali.

- Alexandra, pode entrar, querida.

- Obrigada, sorriu para a moça e seguiu até a porta branca que dava acesso ao local.

 

Piper Chapman esperava pela próxima paciente enquanto anotava informações da anterior na ficha virtual. Sorriu, lembrando da própria gravidez, tinha sido difícil no começo, mas os momentos de alegria quase apagavam a parte sombria da época. Ouviu a porta abrir e viu a paciente de costas, fechando a porta, sendo assim levantou-se, sempre tinha o costume de cumprimentar as pacientes com um beijo formal no rosto, achava que aquilo a aproximava das mulheres e as faziam ser mais abertas nas consultas. Assim que a mulher virou o rosto, ela sentiu um arrepio por todo o corpo, e aquela tinha sido uma das sensações mais estranhas que já havia experimentado. A mulher era linda, tinha o cabelo preso em um coque com alguns fios caindo, contrastando com a pele alva levemente rosada, para completar, tinha os olhos verdes mais penetrantes que já observara na vida, e no mesmo instante que a encarou, sentiu a própria pele adquirir uma quentura incaracterística. Rapidamente, procurou desviar o olhar e encarou o corpo da paciente, que era coberto por roupas escuras e um casaco grosso que a impedia de ver mais, mas ela apostava que todo o resto era tão lindo como o rosto.

Alex Vause, por sua vez, não estava entendendo nada do que acontecera naqueles segundos carregados de tensão. Na verdade, ela sabia que aquela era uma das mulheres mais lindas que já havia visto e sentia que seus olhos perfuravam a sua alma. Sentiu-se invadida, de alguma forma, mas não era ruim. Não dessa vez.

- Desculpe-me por isso, acho que tive uma leve queda de pressão – a médica se pronunciou primeiro, apoiando uma das mãos em uma cadeira.

- Você está bem? Eu posso chamar alguém... – A morena apontou a saída da sala, de onde mal havia passado.

- Não se preocupe, querida, já estou muito bem – e então cumprimentou a mulher mais alta encostando seu rosto no dela. A sensação foi parecida com um choque, mas ela não ligou e aproveitou para sentir o cheiro da outra. A fragrância era algo parecido com flores e juventude, e ela sentiu vontade de chorar. Aquele era o momento mais ridículo de sua vida. Recomponha-se, Piper Chapman!

A morena percebera a demora da médica no abraço, e aquilo nem de longe a incomodou, ela apenas fechou os olhos e passou as mãos de leve nos cabelos da loira, eles eram macios e cheirosos, então ela sorriu fraco e fechou os olhos, agradecendo por aquele momento tão raro em sua vida. A sensação era de paz, pelo menos ela sabia que se daria bem com a nova ginecologista.

Depois de se soltarem, Piper voltou ao lugar e Alex sentou-se em uma das duas cadeiras em frente à mesa da doutora. O consultório era aconchegante, bem decorado e limpo – como um consultório deve ser. Após se acomodar e observar tudo a sua volta, sentiu calor e retirou o casaco, o apoiando nas costas da cadeira na qual estava sentada. Ao voltar-se a medica, flagrou a mesma a observando atentamente, com as duas mãos apoiadas em cima da mesa, entrelaçadas. Então a encarou fixamente com o olhar, e ficaram naquilo por alguns segundos, era difícil quantificar.

Ao ser observada de volta, Chapman voltou a si e resolveu dar início aos procedimentos padrões, ela rezava para conseguir levar aquela consulta até o fim sem desmaiar ou ter um ataque de pânico.

- Então, Alexandra Vause... O que lhe traz aqui? – Perguntou com um sorriso ou, pelo menos, tentando forjar um.

- Bom, na verdade a minha médica mudou de cidade e a minha melhor amiga achou que você seria uma boa escolha – sorriu timidamente.

- Certo. Espero que você também ache, querida. Conte-me tudo o que preciso saber sobre você – abriu um sorriso sincero para a mulher, não parando de observar seus detalhes por um minuto.

- Bom, espero que isso não seja constrangedor para você, doutora, caso seja, eu não me importo de ouvir a verdade – Alex disse seriamente.

- O que poderia ser tão constrangedor?

- Eu tenho uma profissão não muito convencional, e digamos que os seus cuidados serão mais que essenciais daqui para frente, caso isso dê certo.

Piper ficou realmente assustada com aquilo. Que diabos de profissão era essa? Ela fez uma expressão de dúvida e a morena prosseguiu.

- Eu sou garota de programa, poderia dizer “profissional do sexo” para parecer mais polida, mas isso seria estupidez – soltou tudo de uma vez e olhou séria para a loira em sua frente.

Piper Chapman ficou completamente sem reação. Naquele momento sim, sentiu sua pressão caindo. Ela encarava a mulher que olhava para o lado, talvez com vergonha, não se sabe.

- Alexandra, me desculpe...

- Por favor, me chame de Alex, Alexandra é bem estranho para mim – a morena voltou seu olhar à médica, percebendo uma vermelhidão em seu rosto. Droga! Ela tinha ficado assustada e daria tudo errado.

- Alex. Ok, desculpe-me pela reação imediata, mas é que não é algo que eu ouço todos os dias – ela gesticulava com as mãos – isso não é constrangedor para mim, eu jamais recusaria lhe atender e espero que você se sinta o mais à vontade possível aqui, assim como desejo o mesmo a todas as minhas pacientes – a loira finalizou com um sorriso sincero, olhando a morena com o mesmo olhar penetrante.

Alex riu e não duvidou por um segundo que aquela mulher a poderia lhe fazer se sentir muito confortável.


 

Depois de algumas formalidades, a loira passou a fazer perguntas de praxe e algumas mais específicas, dado à informação sobre o estilo de vida da mulher.

- Algum problema com DST's, Alex? – A médica a perguntou, sempre usando o primeiro nome, outro modo de se sentir mais próxima das pacientes.

- Não. Quando mais nova tive alguns problemas relacionados a isso, mas já fazem vários anos que não tenho nada do tipo – as perguntas não a incomodavam, pelo contrário, estava gostando da eficiência da médica.

- Ótimo, isso significa que você está atenta aos riscos e se preserva bem.

- Sim, doutora, todos os cuidados anticoncepcionais e contra DSTs.

- Perfeito. Alguma ocorrência de aborto induzido ou espontâneo?

- Sim, há 7 anos, induzido.

- Ok – a informação não era, nem de longe, chocante para a doutora, não era a primeira e nem a última paciente a usar o método. Na verdade, achou a ocorrência bem reduzida, tendo em vista os riscos aos quais ela deveria ser exposta constantemente.

- Alguma outra informação que você ache relevante me falar, meu bem? – Piper perguntou olhando para a mulher, descendo o olhar para o colo exposto com um leve decote logo abaixo. Ela se sentia a pior profissional do mundo, aqueles exames preventivos iriam ser uma loucura.

E foram.

Ao seguirem para o local mais afastado do consultório, Piper fez a higiene das mãos, colocou as luvas e se sentou na banqueta esperando a mulher que se despia no trocador ao lado. A loira respirava fundo, tentando se conter, tentando entender que porra estava acontecendo ali. Ela queria sair correndo pelo hospital, mas tinha que continuar seu trabalho. Fechou os olhos e respirou fundo novamente, pedindo aos deuses – que ela nem acreditava – forças para ser a mulher profissional que sempre havia sido.

Alex abriu a porta do trocador e teve a visão da loira de olhos fechados, como se estivesse rezando, ela sorriu com a cena e ficou olhando por um tempo, achando adorável. A loira abriu os olhos e deu de cara com a mulher de pé, com a “camisola” improvisada e os braços cruzados, a observando.

- Cansada, doutora? – A morena a questionou, dirigindo-se a maca.

- É... Um pouco, sabe como é, aquela correria...

- Eu imagino – a morena disse já deitada, com as mãos segurando a camisola aberta na frente, tentando não fazer contato visual com a loira que estava de pé ao seu lado.

- Bem, Alex, eu só preciso fazer os exames clínicos padrões e recolher uma amostra especular, vai ser tudo muito rápido, tudo bem? – Piper perguntou tentando transparecer a maior calma possível, não poderia passar seu nervosismo para a paciente.

- Ok – Alex respondeu a olhando, como se fosse uma criança prestes a experimentar o desconhecido, e a loira sentiu que poderia desmontar naquele momento.

Sendo assim, a morena abriu a camisola, dando à profissional a visão de seu corpo inteiro, nu. A loira sentiu calor na região da nuca e tomou cuidado para não ficar tempo demais analisando o corpo pecaminoso da paciente. Aquilo era muito, muito errado. Mas ela tinha que prosseguir, então começou com o exame clínico de mama, no qual a médica repetia o “exame de toque” que era indicado a todas as mulheres. Começou uma conversa informal com a mulher, não poderia toca-la no completo silêncio, seus pensamentos a trairiam, ela tinha certeza.

Alex fechou os olhos e sorriu, dizendo que aquilo a causava cócegas. A médica achou o gesto a coisa mais encantadora do mundo e admirou o sorriso sincero da morena, ela queria saber mais sobre ela, queria saber porque ela tinha aquela profissão, se ela era feliz. Ao voltar em si, continuou com o exame, não percebendo nada fora do comum (ok, aqueles seios eram mais lindos que o comum), mas ela não admitiria aquilo a si mesma, ficaria apenas no inconsciente.

- Prontinho, aparentemente nada de errado por aqui, Alex – anunciou sorrindo.

- Ótimo – a paciente respondeu sorrindo. – Agora vem a parte constrangedora, certo?

- Acertou – Piper riu – será rápido, prometo! Primeiro eu vou fazer o exame de toque, tudo bem? Preciso que você relaxe.

Alex não estava relaxada, na verdade, ela estava apavorada. E aquilo era muito para alguém que era tocada por estranhos o tempo todo.

Ao observar o sexo da morena, Piper Chapman mordeu levemente o lábio inferior e logo se puniu pelo ato involuntário. Ela queria se matar ali, naquele momento. Já que não podia, apoiou a mão em uma das coxas da paciente e a olhou, pedindo que ela abrisse as pernas e apoiasse nos suportes laterais da maca. Assim, Alex fez, dando a visão realmente privilegiada de seu sexo. Chapman retirou forças de algum lugar desconhecido – talvez, depois desse dia, ela passasse a acreditar em Deus – e colocou a mão sobre o sexo da morena. Ela sentia as mãos suarem por dentro da luva e tentou introduzir os dedos da vagina da mulher, mas a sentiu muito contraída.

- Meu bem, eu preciso que você relaxe. Está tudo bem, ok?

A voz da loira era tão suave, tão doce, ela poderia lhe pedir para matar alguém, que Alex sentia que provavelmente o faria sem questionar. Sentindo verdade nas palavras da loira, ela relaxou, fechando os olhos.

Piper, então, introduziu dois dedos lentamente em sua entrada enquanto apoiava a outra mão no abdômen, sentindo o colo do útero da paciente. Começou a movimentar os dedos devagar dentro da mulher e sobre o abdômen, tentando sentir as trompas e os ovários. O exame era importante para diagnosticar a endometriose e inflamação da pélvis.

Como foi pedido, Alex Vause relaxou, bastante, a ponto de abrir os olhos e achar a visão da médica com seu jaleco e luvas, a examinando intimamente, muito sexy. Para alguém que precisou ser acalmada para relaxar, ela estava muito relaxada, até demais, então fechou novamente os olhos e começou a pensar em coisas nada sexuais. Imagine se a médica percebesse que ela estava ficando excitada? Piper Chapman poderia ter realizado o exame mais rapidamente, mas a batalha de pensamentos em sua cabeça atrapalharam a Piper profissional de elaborar um diagnóstico digno.

Assim que o exame acabou, pode-se dizer que Deus teria certa dificuldade em dizer quem o agradeceu mais. Chapman dirigiu-se à mesa de equipamentos para trocar de luvas e Alex Vause colocou uma mão na testa, pensando em toda a insanidade que estava acontecendo ali. A mente de Piper era uma página branca, ela tinha certeza que assim que terminasse aquilo, teria um colapso.

- Bom, agora só falta o especular, tudo bem? Esse é bem rápido, só preciso de uma amostra para saber como anda tudo por aí.

- Claro – Alex sorriu fraco e a médica sentou-se na banqueta, se dirigindo para a ponta da maca, ordenando que a morena chegasse mais perto para que ela pudesse realizar o exame. Alex obedeceu e levou os quadris para mais perto da loira. Essa, por sua vez, olhou o sexo da mulher e pensou no quanto ela deveria ser deliciosa. Ok, isso era loucura! Então ela tratou logo de pegar o espéculo descartável e realizar seu trabalho.

- Alex, – ela chamou a outra que tinha uma mão na testa – está tudo bem?

- Sim, desculpe por isso.

- Tudo bem. Bom, agora eu vou introduzir o espéculo em você, ok? Será rápido, só preciso colher uma amostra e aí acaba a tortura – a médica sorriu simpática.

- Claro. Vá em frente.

Então a médica percebeu a tatuagem enorme na perna da moça. Como não havia visto antes? Claro, Piper Chapman, você estava mais ocupada pensando em como seria o gosto de uma mulher que você acabou de conhecer. Analisando a mulher, percebeu que ela tinha várias tatuagens. Ela era extremamente bonita e, além disso, tinha um sex appeal inegável. Portanto, ela, Piper Chapman, só estava impressionada. Nada de errado. Que ela não era heterossexual, ela já sabia. Nada de novo.

Ela realizou o exame rapidamente, introduziu o espéculo e o abriu levemente para observar o colo uterino da moça, que não aparentava alterações em relação ao que se espera que seja normal. Colheu uma amostra da secreção vaginal da morena que logo seria enviada para a citologia. Assim que terminou, anunciou o fim dos exames e a morena, literalmente, pulou da maca e foi correndo se vestir. A loira retirou as luvas, lavou as mãos e voltou a sua cadeira, passando as mãos no rosto. Sua vontade era de chorar e pedir que a moça nunca mais voltasse ali, mas ela não poderia verbalizar aquilo em ocasião alguma, então colocou seu melhor sorriso no rosto quando a morena abriu a porta do trocador e se dirigiu em sua direção.

- Alex Vause... – Ela pronunciou enquanto digitava algo no computador. – Bom, aparentemente está tudo certo, você já me disse que não apresenta coceiras, corrimentos fora do comum, a menstruação está regular... Está de parabéns, só teremos que marcar um retorno para conferir o exame citopatológico.

- Certo.

- Podemos marcar daqui a um mês?

- Perfeito – Alex sorriu.

- Então eu peço para que você marque com a minha secretária ao sair, tudo bem?

- Claro, pode deixar.

- Então, acho que é isso! – A loira disse animada, se levantando para fazer a difícil tarefa de se despedir da nova paciente. – Tchau, querida, até daqui a um mês – abraçou a mulher, sentindo novamente o choque e o cheiro a invadindo.

- Tchau, obrigada por ter me feito sentir a vontade, são poucas pessoas que conseguem isso – Alex Vause disse, sincera.

- É o meu trabalho – a loira respondeu, analisando o rosto da mulher a sua frente. Ela era realmente maravilhosa.

- Obrigada, mesmo assim – Alex percebeu claramente que era observada, então não se sentiu mal em observar também. A médica olhava fixamente para a sua boca, e ela analisava todo o conjunto: os olhos azuis, o nariz, a boca avermelhada... Foco, Alex! – Eu vou indo, até daqui um mês.

- Até – a loira respondeu baixo, ainda em transe.

 

Quando saiu dali, Alex sentiu que fez tudo no modo automático. Obviamente, não marcara o retorno ao consultório, nem se fosse paga ela voltaria ali. Aquilo tinha aparência, cheiro e provavelmente gosto de problema. Deu uma desculpa qualquer à secretária e pegou um táxi de volta para casa. Ela sentia que precisava dormir o dia inteiro para aliviar a tensão que passara na manhã. Já havia passado por vários momentos malucos na vida, mas nada se comparava àquilo. Pura insanidade.

Piper Chapman, por sua vez, teve de pedir desculpas as pacientes que a esperavam e precisou sair do prédio por um instante para tomar uma água, um ar. A secretária a acompanhou.

- Piper, o que houve? – Lorna Morello a perguntou, completamente assustada, não era do feitio da médica sair assim, no meio do expediente.

-Nada, querida, deve ter sido uma queda de pressão, só preciso de um pouco de ar, está tudo perfeito.

Lorna a analisou, a loira encostou o corpo em uma parede e fechou os olhos, respirando fundo. Piper sentia um tremor nas mãos e o corpo inteiro pegando fogo.

- Pipes, aquela mulher fez ou falou alguma coisa? Ela saiu tão estranha do consultório, eu posso barrar a entrada dela aqui, se for o caso.

- NÃO! – Piper gritou. – Ela não fez nada, imagina, isso deve ser estresse.

- Sério? – A amiga ainda estava desconfiada.

- Sim, meu anjo, eu já estou melhor, vamos voltar ao trabalho.

- Ok, mas saiba que irei marcar um check-up para a senhorita. Anda cuidando muito dos outros e pouco de si mesma.

- Como você quiser, minha linda – a loira passou o braço pelos ombros da amiga e, assim, adentraram o hospital.

O resto do dia foi um tormento para Piper Chapman. Ela conseguia ser profissional, óbvio, mas a imagem, o cheiro... Tudo sobre aquela mulher não saia de sua cabeça. Horrível. A noite, em casa, distraiu-se um pouco com o marido e a filha, e esperou que na próxima manhã, outros pensamentos tomassem conta de sua mente, não aqueles impuros, pecaminosos e, acima de tudo, nada profissionais.

 

***

 

- Nicky, eu não posso voltar naquele consultório nunca mais, eu te disse que era uma má ideia – a morena chegou em casa gritando, jogando bolsa, casaco, roupas, tudo pelos cantos da casa.

- Primeiramente, você vai arrumar essa bagunça. O que aconteceu, Alex?

- Eu não posso voltar lá!

- Por que? – A loira fez uma expressão de dúvida. – Porra, você já saiu com a médica? Com o marido da médica? Você deu em cima dela?

- Não, Nicky – Alex respondeu, se deitando no sofá e fechando os olhos, desfazendo o coque.

- O que houve? Ela te desrespeitou? Não aceitou ter você como paciente?

- Nicky, a médica é um amor e eu nunca transei com ela ou o marido dela. Bom, não que eu saiba. Como eu saberia quem é o marido dela, porra? Ela pode nem ser casada.

- Então por que você não conta o que aconteceu, PORRA? – Nicky já estava irritada.

- Não grita comigo!!!

A loira apenas a olhou séria.

- Nicky, aconteceu alguma coisa muito estranha. A consulta foi toda tensa, na hora dos exames de toque eu... – A loira a olhava ansiosa – eu fiquei meio excitada. Ela me olhava de um jeito estranho. Tudo foi estranho ali, e como ela não vai recusar me atender, eu prefiro mudar de médica – Alex disse com um incômodo na voz.

- Então vocês quase transaram no consultório? – A loira perguntou, sarcástica.

- Não fale comigo por hoje – a morena se levantou e se dirigiu ao quarto, irritada.

- Amooor, eu estou brincando, você está muito tensa – abraçou a mais alta por trás.

- Nicky, me solta, porra – ela gritou.

- Não. Desculpe-me, eu não estou fazendo pouco de você. Mas deve ter sido impressão, amor, essa médica é super renomada e todos dizem que ela trata as pacientes como amigas, você deve ter estranhado isso.

- Se você não acredita em mim, solte-me, eu preciso procurar uma nova ginecologista.

- Nada disso, você não pode perder a chance de ter essa médica lhe acompanhando. Vamos fazer assim: na próxima, eu vou com você, tudo bem? Então eu faço as minhas piadinhas normais e nada e tensão, ok?

- Você promete?

- Prometo – deu um beijo nas costas da amiga.

- Eu estou com sono, vem dormir um pouquinho comigo? – A morena pediu manhosa, uma marca registrada.

- Você aguenta outro exame de toque hoje, gatinha?

Alex não aguentou e riu, indo até o quarto. – Nós vamos ter que testar isso, amorzinho.

- Prometo que faço com carinho.

- Não caio mais nas suas promessas – a morena disse tirando a calça, ficando de camiseta e calcinha.

Assim, as duas se deitaram na cama e Nicky ficou fazendo cafuné nos cabelos pretinhos de Vause até que a morena dormisse, logo depois, ela caiu no sono. Alex tinha apenas fingido, a agitação em seu corpo estava grande demais para o sono lhe abater, então ela abriu os olhos e ficou observando a amiga dormir, pensando em alguma maneira de convencê-la a não ir mais naquela médica. Ela não tinha sangue de barata e sabia muito bem o que havia ocorrido ali e, naquele tipo de problema, ela não queria se meter. Não agora, não enquanto tivesse aquela vida, não enquanto não se sentisse pronta para ser livre.

 

I never knew this could happen to me
 I caught a glimpse now it haunts me
I caught a glimpse now it haunts me
The Knife - Silent Shout

 


Notas Finais


E então? O que acharam desse encontro?


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