A morena chegou em casa parecendo que havia corrido uma maratona. O semblante era cansado, rodeado de tristeza e frustração. Definitivamente aquela mulher mexia com ela, e isso era uma droga, uma pior do que as que já havia experimentado durante toda a vida, com algumas semelhanças, claro: quando estava com ela, sentia excitação, tranquilidade, vontade de rir e chorar, mas quando o efeito passava, restava a ansiedade, o nervosismo e a tristeza. E era assim que ela se sentia naquele momento, extasiada após o contato, o segundo contato, diga-se de passagem, com aquela mulher que a estava tirando de órbita. Alex tinha uma vida ocupada, conturbada e com vários problemas lhe batendo à porta, mas aquela loira parecia querer um lugar especial em seus pensamentos, mesmo com toda a recusa mental da morena que rejeitava qualquer sintoma de afeição, talvez por não se achar merecedora, talvez por ser algo que lhe causasse estranhamento, nem ela mesma sabia.
- Porra, Vause, eu vou ter que te matar, sabia? Você é uma empata foda do caralho.
A morena, que estava deitada no sofá agarrada a algumas almofadas, apenas olhou rápido para a amiga e voltou a fechar os olhos novamente.
- Eu estou falando com você, Alex! Você pode me responder, pelo menos? – Nicky gritou.
- Me desculpa, eu não queria ter atrapalhado – ela respondeu com o rosto entre as almofadas, com uma voz abafada e chorosa.
Nicole achou aquilo estranho, bem estranho. Alex não era de pedir desculpas assim tão fácil, muito menos de falar baixinho, alguma coisa estava acontecendo.
- Aconteceu alguma coisa? – A loira perguntou ainda de pé, analisando a amiga.
- Não.
- Você acha que mente para mim, Alex? Para mim?
- Foda-se.
- Uau, tem alguma coisa muito grave acontecendo – disse enquanto se sentava no sofá em que a morena estava deitada, retirando os itens que escondiam seu rosto.
- Me deixe em paz, Nicky! – Alex gritou.
- O que está acontecendo, Al? – Nicky já estava preocupada.
- Eu não quero falar! Eu quero ficar sozinha! – A morena respondeu alterada.
- Eu não te deixo sozinha, Alex, nunca. Você não é uma boa companhia para você mesma, e nós duas sabemos o que acontece quando você fica sozinha.
Alex não respondeu.
- Fale comigo, meu anjo, quem foi o filho da puta que te machucou? Eu o mato agora – a loira disse enquanto passava a mão nos cabelos da amiga.
- Ninguém me machucou.
- Então o que houve? Conte-me, bebê – Nicky disse e logo em seguida deu um beijo forçado na bochecha da morena.
- Não está mais com raiva de mim? – Vause perguntou, culpada.
- Não, eu te amo – sorriu.
- Eu vi aquela médica de novo hoje, no Central Park.
- E?
- Você não entende, Nicky – a morena se sentou no sofá, recostando-se e fechando os olhos.
- O que eu não entendo, Alex? Me explique.
- Existe alguma coisa com ela... Eu... Eu não sei explicar - gaguejou.
- Como assim?
- Eu não sei, Nicky! Ela me olha de um jeito... Parece que ela consegue desvendar todos os meus segredos só de me olhar, eu me sinto nua na frente dela!
- Você está apaixonada por uma mulher que conheceu semana passada, Alex?
- Eu não disse isso, Nicole. Não é paixão. Eu só acho que ela tem algum efeito em mim, e por mais que seja bom na hora, depois é angustiante, eu não gosto disso, entende? – A morena perguntou olhando nos olhos da amiga, a única pessoa no mundo que a conhecia de verdade.
- E qual a chance de você cruzar com essa mulher no Central Park? Que loucura!
- Ela estava dando uma volta com a filha. Eu acabei esbarrando com a garotinha, ela me adorou, eu adorei ela, depois chegou a gloriosa mamãe e quem era? Sim, a loira infernal – Alex respondeu gesticulando com as mãos.
- Uma filha, Alex? Isso é... Uma merda.
- Sim, é! E o pior é que eu dei meu telefone para elas e disse que a garotinha poderia me telefonar sempre que quisesse.
- Alex? – a loira falou em tom de indignação. – Porra, parece que você gosta de se envolver nesses problemas fenomenais. Você não vai atender esse telefonema, caso ele aconteça – a loira disse, enquanto passava as mãos nos cabelos.
- É... Eu sei, apesar da criança ser linda e não ter culpa de nada, eu não posso levar isso para frente, foi loucura de momento.
- E por que algo me diz que você vai levar isso para frente? – Nicole respondeu, concentrada na amiga a frente.
- Eu não vou, Nicky!
-Ok, vou confiar em você, branca de neve.
- Obrigada por cuidar de mim – Alex disse enquanto deitava no colo de Nicky. – Quem era aquela?
- Uma garota qualquer que conheci não lembro onde. O nome dela é Emma... Ella... Não sei – disse alisando os cabelos da morena que estava deitada.
- Uau, Nicky, nem os nomes você grava mais?
- Alex, ela queria só sexo, eu também... Foi bom para as duas.
- Eu não acabei com o clima?
- Não. Ela perguntou quem você era, eu respondi e ela disse que você era gostosa, não se incomodaria caso se juntasse a nós na cama.
- Mentira? – Alex se moveu no colo da loira, arregalando os olhos.
- Não mesmo, garota, juro por Cher.
- Agora sim você arranjou alguém a sua altura, Nicky.
- Eu ia te chamar, mas você já tinha saído.
Alex gargalhou. – Eu não ia recusar o convite, baby.
A loira deu um selinho na mulher deitada em seu colo. – Vá tomar um banho, vou preparar algo para nós.
- Eu estou sem fome, amor – a morena disse, desanimada.
- Alex... Amanhã mesmo irei tratar de tirar essa mulher da sua vida. E você me faça o favor de não esbarrar nela de novo, ok?
- Ok – a morena fechou os olhos sorrindo. – Sabia que você não iria ser tão má.
- Levante, Alex, você é pesada.
Em vez disso, a morena se sentou no colo da amiga, a enchendo de beijos. – Eu não sou pesada, você que é fraca! – Disse rindo.
- Sai, Alex! – Disse a empurrando. – Se quiser sentar em mim, senta na minha cara.
- Você sempre com uma piadinha na ponta da língua, não é, Nichols?
- Você me conhece, baby – a loira disse se levantando. – Vou preparar algo para você, de qualquer jeito, caso fique com fome.
- Ok, obrigada – Alex respondeu mandando um beijo para a amiga que estava de pé.
- O que você acha de irmos fazer compras amanhã? Você tá muito tristinha e precisando de roupas novas, eu também... Topa?
- Claro, meu anjo, qualquer coisa com você – sorriu desanimada.
- Vai ficar tudo bem, Al, eu prometo.
- Eu acredito em você – e assim a morena deixou a sala, dirigindo-se ao quarto e deixando uma Nicole Nichols apreensiva e preocupada na sala. Aquilo não era nada bom, e Nicky conhecia bem o fim dessa história.
***
- Pipes? – O homem a chamou, colocando as mãos em seus ombros.
- Oi, amor – ela respondeu brevemente.
- Tá tudo bem com você? Com a gente? Você tem estado... Estranha ultimamente.
- Como assim? – Ela perguntou se virando.
- Você está distante, Piper, parece que tá pensando em alguma coisa, mal se concentra no que o resto do mundo te fala.
- Acho que é impressão sua, Larry – ela disse se levantando da cama e indo até o banheiro.
- Tá fugindo da conversa, Pipes?
- Não estou fugindo, só acho que não tem o que conversar – ela disse o olhando da porta do banheiro.
- Tudo bem, vamos deixar como está. Mas se você continuar com esse comportamento estranho, nós teremos que conversar.
- Larry, não tem nada de estranho aqui, agora você que tá me deixando estressada.
- Ahh, já entendi! TPM, certo?
- Larry, vá se foder, você sabe que eu odeio quando você usa essas concepções de senso comum para falar do meu comportamento!
- Uau – o homem riu. – Não está mais aqui quem falou.
- Bom mesmo – ela disse virando as costas e entrando no banheiro.
- Pipes, quem é Alex?
A loira gelou. Por que o seu marido estava falando daquela mulher?
- Alex?
- Sim, a Christine veio me falar de uma tal de Alex ontem a noite.
Ela aliviou, claro que tinha sido a Christine.
- Ah, é uma moça que a Chris fez amizade ontem no parque, nada demais, você sabe como ela é.
- Sei... Tudo bem. Só queria saber se você sabia disso, mesmo.
- Claro que eu sei, Larry, eu estava com a Christine, além do mais ela me conta tudo, eu sei quem é cada pessoa que ela conhece.
- Ok, Pipes – Larry disse colocando as duas mãos para cima. – Foi só uma dúvida, não precisa ser agressiva.
- Desculpe – a loira disse arrependida. – Acho que isso é estresse, sabe? Talvez eu esteja precisando de férias.
- Vamos providenciar, baby – o homem a sorriu e ela se sentiu mal, muito mal, culpada por lembrar que tudo que rondava sua cabeça nos últimos dias era uma imagem feminina, sexy e de olhos tão verdes quanto uma pedra preciosa.
Aquela havia sido mais uma noite difícil, Piper passou horas e horas repassando todo o diálogo que teve com a mulher, lembrando-se de cada gesto, cada expressão, era óbvio que ela estava distante e o marido perceberia cedo ou tarde. Era hora de acabar com aquela loucura, e a loira decidiu que a partir de hoje não pensaria mais naquela mulher, era simples, ela tinha vários assuntos para pensar e esse não seria mais um deles. Iria focar em seu trabalho, sua filha e seu casamento, como sempre fizera.
***
- Esse tá bom, Nicky? – A morena perguntou, avaliando o vestido justo que moldava seu corpo.
- Bom, você não consegue respirar, tá muito gostosa e seus peitos estão pulando para fora, ou seja, perfeito – ela sorriu ao terminar a frase.
- Ok, esse vai – disse retirando o vestido e jogando-o no colo da loira.
- Cores, Alex, cores! Você já pegou três peças pretas, é o limite de hoje, o estilo gótico não agrada a todos os homens.
- Eles não ligam para a cor da minha roupa – a morena sorriu dando uma piscadela.
- É, eu sei disso, esses velhos safados. Vista esse – ela disse retirando uma peça do meio do monte de roupas que estava segurando.
- Rosa, baby? Eu nunca uso rosa.
- Hora de experimentar novas cores, Vause.
- Ok, mommy.
Nesse momento, o celular de Alex tocou.
- Alô? – ela disse tentando colocar o vestido rosa e segurar o celular ao mesmo tempo.
(...)
- Eu posso te encontrar agora, daqui a uma hora mais ou menos, pode ser?
(...)
- Ok, esteja pronto para mim – a morena disse em tom vulgar e desligou.
- Quem era?
- Daniel.
- Esse tava sumido.
- Sim, e disse que está morrendo de saudades. Eu também estou com saudades dele – a morena dizia enquanto ajustava o vestido ao corpo. – Nicky, sem chances, minha pele repele essa cor.
- O seu relacionamento com esse cara é interessante, um dia vou entender. E o vestido está ótimo, vamos levar.
- Eu tenho escolha?
- Não.
Ela retirou o vestido e já foi colocando outra peça. – Nicky... Ela me ligou hoje.
- Quem?
- A filha da médica.
- Oh, Deus. Essa mulher não vai te deixar em paz?
- Não foi ela, Nicky. A garota me disse que pegou o celular escondido, inclusive foi ela quem me acordou hoje – Alex disse sorrindo, lembrando da menina.
- E você sorri? Quando eu te acordo, você falta me bater.
- Ela é tão fofa, Nicky, você iria se dar muito bem com ela.
- Eu não gosto de crianças, e você dispensou ela, certo?
- Sim, infelizmente. Isso é uma droga, sabe? Não é justo com ela – disse ajustando uma calça que experimentava.
- Isso é para o seu bem e da garota, Al, pense assim.
- É, eu sei. Agora preciso encontrar o Danny, você pode levar as roupas? – ela disse enquanto pegava as próprias roupas e vestia rapidamente.
- O que eu posso fazer? Fala que eu mandei um beijo pra ele.
- Falo, ele vai adorar – Alex riu enquanto vestia o casaco. –Beijos, te amo, até mais tarde.
Piper Chapman estava sentindo dor de cabeça, muita. A ponto de ter que dispensar pacientes e ir para casa tentar resolver com alguma dose de remédio e um descanso forçado. Enquanto estava dirigindo, se concentrava na dor e na claridade do dia que lhe afetava mais do que o normal, as coisas pareciam estar rodando, ela realmente precisava chegar logo em casa. Saíra do hospital sozinha contra a vontade de sua secretária, disse que estava bem para dirigir, o horário não era de trânsito e faria o trajeto rapidamente. E assim ela fez, só não imaginou que a dor se acentuaria a ponto de ficar insuportável.
Enquanto isso, Alex saia correndo da loja de roupas onde estava com a amiga, indo de encontro a um ponto de táxi que ficava do outro lado da rua. Na pressa, correu pela pista sem olhar para os lados, até que ouviu um barulho ensurdecedor e um impacto abater todo o seu corpo. Ela não tinha certeza no momento, mas provavelmente havia sido atropelada.
Exatamente, era isso que estava faltando para o dia de Piper, atropelar uma estranha na rua. Ela tentou frear, mas não deu tempo, tinha alguém caído na frente de seu carro e ela precisava ajudar. Nessa hora a dor de cabeça foi embora, óbvio, só o que restou foi o nervosismo. Então ela desceu do carro, tremendo, esperando que a pessoa estivesse bem, na medida do possível. Quando olhou para a mulher deitada no chão com os olhos fechados e a mão na cabeça, não pôde acreditar. De novo, Alex Vause invadia seu caminho e, daquela vez, literalmente.
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