Ela estava sentada em cima da loira, nua, completamente nua, com aquele sorriso diabólico e os cabelos negros moldando o rosto avermelhado e sacana, acabando na altura dos seios. Ah, aqueles seios... Enquanto ela se mexia, eles acompanhavam a movimentação, proporcionando uma visão quase divina. A luz fraca deixava o ambiente ainda mais sexy, fraca o bastante para dar o ar de misteriosidade, forte o suficiente para iluminar os detalhes daquele corpo que a levava à loucura.
A morena a olhava com desejo, luxúria, focada no olhar enquanto apoiava as mãos nos seios da mulher abaixo de si e rebolava com vontade, cavalgava com uma amazona, a linha de chegada era o orgasmo, e ela estava realmente empenhada a chegar lá.
A loira, por sua vez, só conseguia olhar aquele espetáculo particular. Com atenção, com tesão, com medo. Ela se sentia refém, refém dela, refém do prazer que ela a oferecia, refém de viver aquela loucura. Mas era difícil resistir, muito difícil quando ela sorria daquele jeito, quando ela se movia daquele jeito, quando ela fechava os olhos e aprofundava os movimentos, quando ela a apertava e gemia seu nome.
Ela não sabia se o maior prazer era o ato em si, ou se a visão do show juntamente com o tesão e a proibição daquilo. Era a coisa mais errada que ela fazia em anos, era seu pecado, um pecado doce, sinuoso, que lhe sorria o sorriso mais lindo de todo o mundo.
- Eu vou...
- Ahh!
Piper levantou-se de uma vez na cama. Ela estava suada, descabelada, com a pele quente e muito, muito assustada. Olhou tudo ao redor: o quarto escuro, o marido dormindo tranquilamente ao seu lado... Não, não deveria olhar para ele. Não agora que ele era traído em sonhos, agora que outra mulher à levava àquele estado. Passou as mãos pelo rosto, esfregou, como se aquilo fosse tirar lhe tirar da cabeça o sonho erótico que acabara de ter. Não era possível, ela não poderia ter sonhado aquilo, será que aquela mulher não lhe daria uma trégua? Além de invadir seus dias, seus pensamentos, ela ainda invadiria seus sonhos? Decidiu se levantar da cama, tomar uma água, lavar o rosto.
Ela não sabia mais o que fazer. Eram dias, havia apenas alguns dias que ela tinha conhecido Alex Vause. Naquele ponto, já era difícil lembrar de como era a sua vida antes disso, antes daquela invasão indesejada, antes dela lhe virar o mundo de ponta cabeça. Em alguns momentos ela se distraia, sorria, ouvia as várias histórias da filha, mas ela voltava, ela sempre voltava. Atormentando seus pensamentos e, agora, seus sonhos.
Voltou para a cama, ficaria ali nem se fosse apenas para pensar, para se punir. Será que ela se sentia da mesma forma? Não, claro que não, isso era ridículo. A essa hora deveria estar entregue a algum homem rico, ganhando dinheiro da forma mais antiga que havia no mundo. Será que ela ao menos pensava nela? Em alguma hora de seu dia, em um momento de distração... Claro que não, Piper, só você é ridícula assim, parecendo uma adolescente deslumbrada, boba. E se a contratasse? Não! Claro que não! Enlouqueceu? Perdeu completamente a cabeça? Não era mulher de fazer aquilo. Ela ia encontrar uma solução, claro que iria.
- Amor? Por que está acordada? – O homem a perguntou com a voz rouca e os olhos ainda fechados.
- Acordei do nada, pode voltar a dormir...
- Você está bem? Precisa dormir – ele lhe disse, agora a olhando.
- Larry, me come – ela disse rápido.
- O que? – Assustou-se.
- Você ouviu – ela disse séria.
- Por que isso agora, Piper?
- Não pergunte! Só faça! – Ela tirou rapidamente as peças de roupa e lhe arrancou os shorts de pijama, subindo em cima dele e o comandando. Isso era muito inesperado, ela geralmente não clamava por sexo assim, era tudo dentro da normalidade. No começo até houve algumas aventuras, algo fora do comum aqui e ali, mas agora era tudo bem formal, tudo dentro da rotina de um casal ocupado e com um tempo considerável de relacionamento.
Ele estava achando aquilo muito estranho, conhecia a mulher com quem era casado, e aquela atitude foi só mais uma das excentricidades que a cercavam nos últimos dias. Ele já havia tentado conversar, até mais de uma vez, mas o que recebia eram gritos e acusações de uma loira impaciente. Bom, já que ela queria aquilo ali, agora, ele não iria negar, sabe-se lá a próxima vez que ela estaria disposta.
***
- Que cara horrível, Piper!
- Eu preciso de silêncio, Polly, pode ser? – A loira respondeu com cara de poucos amigos.
- Sério, amiga, a noite foi tão boa assim?
- Não, Polly, não teve nada de bom essa noite – as duas se sentaram à mesa para uma pequena refeição no meio da manhã.
- O que houve? Você anda tão tensa, meu bem, não gosto de te ver assim.
- Pol... Eu não sei mais o que fazer, de verdade, você é a única pessoa que sabe disso, então...
- Não é aquela mulher, é? – A amiga a interrompeu.
Piper a olhou com seriedade.
- Meu deus, Pipes! Eu não acredito nisso! É tão sério assim?
- Pol, eu não sei! Eu só fico pensando e pensando... Não dá! Eu me sinto refém dos meus próprios pensamentos, ontem eu até sonhei – ela disse a última parte sussurrando.
- Sonhou com a gostosona? Tipo, sonho erótico? – Polly interessou-se.
- Não bem isso... – Piper mentiu.
- Pra cima de mim, não, loirinha! Piper, vá atrás dessa mulher, manda a real, sabe? Isso é tensão sexual, vá, faça o que tem que ser feito e pronto, tenha de volta as suas noites de sono!
- Polly, sério mesmo, com que cara você acha que eu vou chegar nessa mulher? Acha que é fácil dizer “Oi, Alex, tudo bem? Então, será que nós poderíamos transar porque eu me sinto muito atraída por você e não consigo tirar isso da cabeça?” – Ela dizia irônica.
- Então agora você admite que sente atração por ela – Polly disse sorrindo.
- Eu não sei, Polly! Pode ser isso? Pode! Mas eu realmente não sei... – Piper respondeu em uma mistura de confusão e irritação.
- Não é fácil, mas acho que você deveria tentar, ela me parece uma pessoa aberta sexualmente, acho que você está perdendo tempo.
- Como você supõe isso? Você a viu por dez segundos, sentada em uma maca de hospital!
- Eu sei ler as pessoas muito bem, ok? – Polly respondeu enquanto se dedicava a uma salada de frutas.
- Bom, realmente ela é bem aberta sexualmente – Piper retrucou antes de beber um gole de suco.
- Como assim? Já tá por dentro da vida sexual dela?
Piper riu. – Ela é garota de programa.
Polly se engasgou com as frutas, Piper teve que lhe dar um copo d’Água com urgência.
- Tá falando sério? – Polly perguntou ainda vermelha e com a voz falha.
- Claro que estou. Você acha que eu iria brincar com algo assim?
- Pipes, isso é genial! – Polly sorriu aquele sorriso de quando se tem uma ideia surpreendente.
- Genial? O que tem de genial nisso? – A loira questionou fazendo uma careta.
- Seus problemas estão resolvidos! Por que você não a contrata?
Piper a encarou. – Você acha mesmo que eu faria isso, Pol?
- Pipes, não é como se você estivesse contratando qualquer garota de programa, é a mulher que está tirando o seu sono! Só estou sendo prática. – Polly disse tranquilamente.
- Eu jamais faria isso. Você acha que eu sou o que? Um homem que acha que o meu dinheiro compra tudo? – Piper retrucou, indignada.
- Olha, Pipes, desisto de tentar te ajudar nesse assunto. Tudo que eu proponho, você nega, então eu, oficialmente, desisto! – Ela disse se levantando. – Agora preciso ir porque devem ter pacientes fervorosas a minha espera. Ah, eu ainda te amo, mesmo você sendo uma lésbica cabeça dura – finalizou dando um beijo na cabeça da loira e saindo do local.
Piper continuou sentada, pensativa. Será que era tão horrível assim contratar uma mulher? Será que ela fazia programas com mulheres? Para, Piper! Que droga de pensamentos sujos, isso não faz parte de você.
***
- Nicky, você precisa dizer que eu estou sem condições, fechada para negócio, que não vai rolar, tudo bem? – A morena ordenou enquanto estava confortavelmente deitada no sofá debaixo das cobertas.
- Nem fodendo, fale você! São os seus clientes, seus machos, você que resolva, eu faço isso somente quando necessário.
- Mas, Nicky... Eu estou impossibilitada, eu fui atropelada, sabia? – Alex retrucou.
- Se você falar mais uma vez que foi atropelada, eu juro te jogo desse prédio. Já tem uma semana, darling, isso aí agora é manhã sua, só tá aproveitando para colocar as séries em dia e descansar essa...
- NICKY! – Alex gritou. – Tudo bem, já entendi, eu vou atender aos telefonemas – Alex disse se levantando e indo em direção a amiga que colocava a mesa para o almoço. – Isso está tão cheiroso, baby – ela disse abraçando a menor.
- Eu sei, baby, sou boa em tudo o que faço – Nicky respondeu com uma piscadela e saiu do abraço. – E a sua loirinha?
- Eu não tenho nenhuma loirinha – Alex respondeu se sentando à mesa.
- Você entendeu, Vause.
- Bom, eu tenho me comunicado com ela por mensagem – Alex disse enquanto se servia do macarrão ao molho pesto que a amiga havia preparado. – Ela é muito ocupada e quase não tem tempo para nada, mas todos os dias desde o acidente tem me perguntado sobre o meu estado – a morena terminou a sentença rindo involuntariamente.
- Claro que tem, ela quer saber quando você vai ficar boa pra vocês transarem muito – Nicky disse rindo ao se sentar.
- Isso é ridículo, Nicky, ela é casada, tem uma filha, uma vida super bem equilibrada. Eu nem sei porque ela continua falando comigo – Alex respondeu séria enquanto começava a refeição.
- Baby, nós sabemos porque ela está falando com você, e ela não seria a primeira, certo? Uma vida perfeitinha é um prato cheio para a busca de aventura em alguém como você.
- Eu não acho isso sobre ela... Ela é diferente, não acho que é alguém que faria isso – A morena disse olhando para a amiga.
- Al, eu só não quero te ver machucada e de marionete nas mãos dessa mulher, eu te amo demais para aguentar ver você se destruindo por outra pessoa – Nicky disse séria.
- Não vai acontecer, eu prometo.
- Tudo bem, eu só quero que você se cuide e se preserve.
- Eu já sou bem grandinha, baby, já aprendi a lição – a morena disse antes de experimentar mais uma porção do macarrão. – Porra, isso tá muito bom, Nichols – ela disse de boca cheia.
- Tá sim. A sua bunda vai ficar enorme com o seu novo estilo de vida de comer e passar o dia todo no sofá – Nicky disse tranquilamente.
Alex a olhou admirada, mas logo relaxou. – Eu não ligo, afinal quem tá comendo não tá reclamando – terminou com um sorriso irônico e satisfeito.
- Acontece que não tem ninguém...
(Celular tocando)
- Alô?
- Hi, baby, por favor me diga que você já está melhor, eu estou subindo pelas paredes – o homem disse em um tom quase desesperado.
- Na verdade, infelizmente ainda não... Desculpe.
- Poxa, Alex, onde eu processo essa mulher que te atropelou?
- Você não vai fazer nada contra ela, idiota – Alex respondeu rindo.
- Que droga! Eu posso pelo menos te ver?
- Sim, querido, a hora que você quiser, só me ligar antes – a morena respondeu rindo dos gestos obscenos que a amiga fazia a sua frente.
- O que é tão engraçado?
- A Nicky – Alex respondeu enquanto tentava bater nas mãos da loira.
- Estou com saudades da minha anã favorita. Agora preciso desligar, amor da minha vida.
- Tudo bem, espero a sua visita. Beijos – eles se despediram e ela ligou o celular.
- Por que você é má assim, Alex? – A loira perguntou.
- Eu decidi que essas são as minhas férias. Tá tão legal assim... Só eu, você, a televisão... Sem homens, sem preocupações.
- Pode ser assim sempre, Al – Nicky disse a olhando com um sorriso fraco.
Alex a olhou séria. – Vai ser um dia, eu sei disso – e encerraram ali. Aquele era um assunto delicado para as duas, algo que elas preferiam não discutir pela complexidade, principalmente Alex.
***
- Sim, Pipes, eu juro que está tudo na mais perfeita ordem, já não sinto mais nenhuma dor – a morena dizia deitada no sofá enquanto assistia televisão e conversava com Piper pelo celular.
- Sério? Não tá dizendo isso só para me deixar despreocupada não, hein? – Piper conversava pelo viva voz enquanto preparava o lanche da filha.
- Não, meu bem, já estou 100%, pronta para outra! – Alex disse divertida.
- Não brinque com isso, Alex, por favor – Piper disse em um tom triste.
- Hey, eu só estou brincando – a morena riu.
- E a cabeça?
- Senti algumas dores leves durante a semana, mas há uns dois dias não sinto nada.
- Isso é ótimo – Piper respondeu aliviada.
- Não foi dessa vez que você me fez perder a memória, loira.
- Mamãe, com quem você está falando? – A garotinha chegou à cozinha correndo com uma boneca nas mãos.
- Com a Alex, bebê.
- Mamãe, não me chame de bebê! – Reclamou.
- Mas só nós duas estamos em casa, meu amor, nem assim eu posso te chamar de bebê? – Piper perguntou fazendo um biquinho. Alex ouvia toda a conversa completamente encantada, ela esboçava um de seus sorrisos mais sinceros do outro lado da linha.
Christine pensou por alguns segundos. – Tá bom, mamãe, mas só em casa, ok? – Perguntou séria.
- Ok – Piper reagiu colocando a mão na testa fazendo posição de sentido. – Ai meu deus! Alex? Você ainda está aí? – Disse se aproximando do celular que estava em cima da bancada.
- Sim, estou aqui quietinha ouvindo o diálogo entre mãe e filha.
- OI TIA AL! – Christine gritou da mesa.
- Oi, meu amor, como você está? – Alex disse carinhosa e Piper levou o celular para o centro da mesa junto aos mistos-quentes que havia preparado.
- Eu estou muito bem, mas a mamãe disse que te atropelou, você ainda está machucada? – Ela disse enquanto pegava o misto que a mãe lhe dava.
- Não, meu anjo, eu estou muito bem, não foi tão forte assim, só tive um corte de leve no rosto que já sarou.
- Eu fiquei muito brava com a mamãe por ter atropelado você, tia Al – Christine disse com a boca cheia e Piper arregalou os olhos a reprovando.
Alex gargalhou. – Meu bem, não foi por querer, só não era meu dia de sorte.
- Mas eu já briguei com ela, tudo bem?
- Já chega, Christine, ou você come, ou você fala! – Ela disse quando, na verdade, queria evitar que Alex soubesse que havia sido assunto entre ela e a filha.
Nesse momento, Nicky chegou em casa já anunciando: – Al, hoje a noite nós iremos à Stonewal. Isso não é um pedido, é uma ordem, eu não aguento mais te ver dentro de casa – ela disse e saiu como um furacão para o quarto.
Alex só gritou: – Ok, mommy, o que você quiser – e voltou ao celular. – Sorry, Pipes, você deve ter ouvido a ordem.
- Al, eu sinto muito por ter te deixado nessa situação... – Piper disse culpada, como sempre.
- Ei, quem disse que eu não estou gostando? Eu estou adorando! Foi a minha melhor semana em muito tempo! – Alex disse empolgada.
- Você só fala isso para eu me sentir melhor...
Nesse momento, Christine viu Taystee aparecer na porta da cozinha. A moça era uma espécie de babá da menina: ajudava quando Piper e Larry estavam muito ocupados ou dedicados a viagens de trabalho. As duas tinham um relacionamento quase de irmãs, a mais velha se tornava uma criança quando estava com a menina e, mesmo quando não era por trabalho, ela aparecia por lá apenas para ver a garotinha.
- Taaaaay – a garotinha disse enquanto corria para os braços da amiga que a pegou e a levantou em um abraço apertado.
- Oi, meu amor! – Nesse momento, Piper fez um sinal para as duas saírem, pois ela estava no telefone. – Opa, mamãe ocupada! Vamos para a sala, pois eu tenho muuuitas novidades, mocinha – disse com seu jeito sempre divertido e encantador.
- Desculpe, Alex, parece que não querem nos deixar terminar a ligação – Piper tirou o celular do viva voz e continuou a falar com a morena.
- Tudo bem, depois dê um beijo na Chris por mim.
- Claro... Enfim, queria saber se você estava bem ou precisando de alguma coisa... Já que você sempre recusa, acho que é só isso – a loira disse enquanto passava as mãos no cabelo e sorria fraco.
Então uma ideia espetacular passou pela cabeça de Alex.
- Piper, eu quero te ver – ela falou rápido.
- O que? – Piper perguntou assustada.
- Eu quero te ver, hoje – ela disse tranquila ou, pelo menos, aparentando.
- Bom, já é quase noite e você vai sair hoje...
- Eu quero que você venha comigo, Pipes.
- Vá com você? – Piper não compreendeu muito bem.
- Sim, vá à boate comigo e a Nicky.
Piper riu alto.
- Meu bem, você imagina quantos anos tem que eu não entro em uma boate? – Piper perguntou ainda rindo.
- Eu imagino, e exatamente por isso quero que vá comigo, já que eu sou a sua amiga diferente, quero lhe levar a lugares diferentes! – Alex disse convincente.
- Alex... Me desculpe, meu bem, mas eu não posso, de verdade, o Larry viajou a trabalho hoje e eu não tenho com quem deixar a Christine.
- Huum, ok, mas eu não vou desistir do convite. Além do mais, eu acho que você tem sim com quem deixar a Chris, mas respeito a sua decisão.
- Al, é sério, eu adoraria ir, mas é meio complicado mandar em si mesmo quando se é mãe – ela disse calmamente. Alex adorava aquela calma da voz dela.
- Tudo bem, querida, desculpe-me a insistência. Mas, enfim, você tem meu número se mudar de ideia. – Alex disse conformada, não agiria como uma criança birrenta.
- Ok, vou pensar com carinho na oferta.
- Tudo bem. Então... Tchau.
- Tchau, se cuide – e desligou o celular. Ao terminar, ficou olhando para o aparelho com um sorriso no rosto. Por vezes, o contato com a morena era tão gostoso e leve que nem parecia ser a mesma mulher que invadia seus sonhos inapropriadamente. Aquele misto de sentimentos havia se tornado sua dor e sua delícia. Ela já estava presa e não sabia como se livrar.
- Falando com alguém importante, loirinha? – Taystee perguntou ao adentrar o cômodo.
- Não... – Ela respondeu saindo do transe.
- E esse sorrisinho? – A moça de cabelos crespos perguntou, desconfiada.
- Sorriso? – Piper ficou sem graça. – Foi uma mensagem engraçada que li aqui – tentou disfarçar.
- Ok – a olhou com um olhar de “vou aceitar a sua desculpa”.
- Eu estava falando com a moça que eu... Atropelei – ela disse para a moça que procurava por algo na geladeira.
- Estou sabendo, honey, Christine já me atualizou sobre tudo.
- É muito triste não poder controlar a própria filha de seis anos, sabia? – Piper disse com raiva.
- Pipes, só aceite que pessoas como a Chris não são controláveis – Taystee fechou a geladeira e se dirigiu à mesa para se sentar junto a amiga.
- Você vai ficar por aqui hoje?
- Sim, já fui intimada pela mini loirinha.
(Campainha tocando)
- Eu atendo – Piper disse se levantando e indo até a porta.
- Polly? – Perguntou surpresa.
- Sim, meu marido também me abandonou, então vim ficar com a minha lésbica favorita – disse entrando no apartamento e dando um beijo na bochecha de Piper.
- Polly, nada desse assunto aqui! A Christine ouve absolutamente tudo que a gente fala! – Disse sussurrando, repreendendo a amiga.
- Eu sei, idiota – e saiu para falar com a menina.
Depois de um tempo de muito papo regado a petiscos e muitas risadas com as amigas, Piper recebeu uma mensagem de Alex.
Hey, não mudou de ideia? Ainda estou te esperando! Bjs :*
A loira leu a mensagem e sorriu timidamente, como se Alex pudesse lhe ver ali. Polly logo percebeu a reação da amiga.
- Viu o passarinho verde, Pipes? – Disse se sentando ao lado dela enquanto Taystee e Christine jogavam algo no videogame.
- Oi? Desculpe! – Ela disse olhando para a amiga e desligando a tela do celular.
Polly só a olhou atentamente, como se esperasse alguma explicação.
- A Alex me chamou para sair com ela hoje, satisfeita?
- Agora sim! – Animou-se. – E você vai?
- Claro que não, Polly! – Falou gesticulando com as mãos.
- Por que?
- Como assim por que? O que eu iria fazer com a Alex? Nós não temos nada a ver – disse fazendo um negativo com a cabeça.
- O que ela te chamou para fazer?
- Ir a uma festa, acredita? – Disse rindo. – As únicas festas que nós frequentamos são com médicos velhos cheios da grana que ficam olhando para o nosso decote, Pol.
- Por isso mesmo que você deveria ir! Aproveite a oportunidade, Pipes, saia com ela! Eu e a Tay estamos aqui com a Chris, você deveria ir, se divertir, dar uns beijos...
- Sem essa, Polly.
- Mas eu estou falando sério! Me dê um bom motivo para não ir – Polly disse a olhando fixamente.
Nesse momento, Alex mandou outra mensagem.
Não vem mesmo? :(
- Por Deus, essa mulher é insistente! – Piper disse nervosa.
- Pipes, vamos a essa festa! Eu quero ir com vocês!
- Enlouqueceu? Nem morta que eu vou sair com você e a Alex juntas! – Revirou os olhos.
- Me dê esse celular – pegou o aparelho do colo de Piper e saiu correndo.
- POLLY – as duas corriam gritando pela casa.
- Nós vamos, Piper, está decidido! - Ela disse escondendo o celular por debaixo da roupa.
- Polly, deixa de ser louca! Nem você quer ir nisso! – Ela dizia tentando pegar o celular.
- Eu quero sim! Quero sair, ver gente jovem, bonita, com vontade de viver. Pipes, nós vivemos dentro de um hospital, pelo amor de deus! – Polly dizia enquanto lutava com a loira pela posse do aparelho.
- Você não vai me devolver o celular, não é? – Piper disse desanimada.
- Não – Polly respondeu balançando a cabeça e rindo com o lábio inferior entre os dentes.
- Pol, você quer me ver metida em problema, você não deveria fazer isso...
- Pipes, eu quero te ver vivendo! Você não precisa fazer nada, oras! Nós vamos, vemos como é e decidimos se ficamos ou não, certo?
Piper olhou para a amiga por alguns segundos.
- Tudo bem.
- SÉRIO? – Polly perguntou empolgada.
- Sim, vamos, mas se eu não me sentir bem, nós voltaremos na mesma hora – disse séria.
- Como você quiser – deu um beijo na bochecha da loira.
Sendo assim, ela mandou uma mensagem para Alex.
Hey, sua insistência me convenceu. Eu vou, mas levarei uma amiga, tudo bem?
Como quiser, Pipes! Me mande seu endereço, eu vou pedir e taxi e passarei por aí.
Não precisa, Al, nós iremos de carro.
Não vai! Nós iremos beber e voltaremos todas de táxi... E não adianta me contrariar!
Ok, mocinha, você não me deu nem margem para isso...
Te busco em uma hora, tudo bem?
Perfeito! Bjs
- Nós temos uma hora para ficar prontas, Polly! – Piper disse agitada.
- Ok... Tá nervosa?
- Nervosa? Não, por que estaria? – Se fez de desentendida.
- Quer ficar gata para a gostosona, eu sei disso. Pode deixar, você vai sair daqui como uma rainha.
- Polly, você não se lembra nem por um segundo que eu sou casada?
- Eu lembro, mas aí lembro da gostosona e parece que o Larry nem existe – disse como se fosse simples.
- Pare de chama-la assim! – Disse se dirigindo ao banheiro da suíte.
- Mas ela é!
- Então fique para você – Piper gritou.
Depois de 45 minutos, as duas estavam quase prontas, só faltavam alguns detalhes da maquiagem – que Christine insistia em ajudar.
- Pipes, feche os olhos e fique quieta, confie em mim! – Taystee dizia repreendendo a loira que não conseguia ficar parada.
- Desculpe!
- Mamãe, qual sapato? O preto ou o dourado?
- Piper, não abra o olho ou você vai sair só com um lado do rosto maquiado!
- Não vou abrir! Meu amor, deixe o preto aqui pertinho da mamãe – disse à menina.
- Mas o dourado é mais bonito!
- Então deixe o dourado, Christine...
- Por que eu não posso ir com vocês?
- Porque só entram adultos lá, meu bem.
- Que chato – disse emburrada.
- É bem chato, querida, mas depois faremos um passeio com você.
- Promete?
- Você sabe que eu não lhe prometo nada. Mas, eu tentarei.
- Tudo bem... Posso jogar mais um pouco?
- Pode, mas daqui a meia hora você estará na cama com esses dentes escovados, ouviu? – Ordenou.
- Tá bom, mamãe, você é muito mandona – e saiu do local.
- Olha, Pipes, esse seu vestido não ficou nada curto em mim, não gostei – Polly chegou à sala anunciando.
- Talvez porque você seja uma anã – Piper disse rindo. – Tay, já chega dessa maquiagem, eu vou chamar mais atenção que as drag queens.
- Terminei, loirinha.
Piper conferiu em um espelho que havia na sala, havia ficado realmente bom. – Uau, ficou ótimo! Não sabia de toda essa habilidade.
- Você sabe que eu me viro... – Taystee respondeu satisfeita.
- Ela não está uma gata, Tay?
- Yes, honey. Vai arrasar na night, loirinha.
- Eu nunca achei que ouviria essa frase – Piper disse enquanto colocava os sapatos.
(Celular tocando)
- Oi!
- Já estou aqui na entrada, Pipes.
- Tudo bem, estou descendo.
- Piper levantou da cadeira e olhou para as amigas. – Estou bonita?
- Tá maravilhosa, meu amor, sua namoradinha vai amar – Polly disse e Taystee só riu sem graça.
- Eu te odeio, não sei porque ainda sou sua amiga.
- Cale a boca e vamos!
- Tay, por favor tranque o apartamento e me ligue por qualquer coisa, ok? Eu ficarei de olho no celular.
- Não se preocupe, loirinha, não é a primeira vez que fico só com a Chris aqui. Vá e divirta-se – disse mandando beijos no ar e expulsando as duas do apartamento.
No elevador, Piper tentava conter a agitação. Tudo aquilo voltava a ser muito novo em sua vida, e por mais que ela quisesse experimentar novas sensações, ainda se sentia como uma fugitiva, como se Alex fosse a chave para algo muito maior, algo que poderia lhe trazer problemas. Mas ela não queria pensar nisso, não hoje, hoje ela iria se divertir sem preocupações. Ela era adulta, dona de si e o que de tão extraordinário poderia acontecer, não é mesmo?
- Pipes, relaxe, eu não vou deixar você fazer nada que não queira, ok? – Polly lhe disse segurando em sua mão.
Ela só assentiu com a cabeça.
Ao chegarem ao carro, Alex as recebeu do lado fora. Ela estava estonteante, mais que o normal, Piper sabia que seria uma noite difícil.
- Uau, doutora, você está um arraso! – Alex disse enquanto lhe abraçava e dava um beijo no rosto. Ela tinha o hábito de beijar de verdade, não apenas encostar o rosto. Piper não sabia se aquilo era só com ela ou era o seu normal. De qualquer jeito, não era nem um pouco ruim.
- Acho que nem preciso falar sobre você – Piper disse sem graça.
- Bom, olá Polly – a cumprimentou.
- Você lembrou meu nome – Polly disse rindo.
- Claro que sim, sou boa com nomes – Alex disse em toda sua simpatia.
- Essa é a Nicky, – apontou para a amiga que deu um tchauzinho de dentro do carro – e nós iremos encontrar outros amigos lá. São todos ótimos, não fiquem tímidas.
- Claro que não – Polly respondeu enquanto Piper ficou calada.
- Então vamos? Lá é meio cheio, então temos que conseguir vaga! – Alex disse.
- Claro! – E entraram no carro.
Durante o caminho, conversaram sobre banalidades. Polly e Nicky pareciam fazer uma competição de quem era a mais engraçada, então todas riam muito, até mesmo o motorista do táxi. Alex e Piper sentiram os olhares de uma sobre a outra, parecia inevitável que elas não se olhassem, a situação ainda era agravada pelo fato das duas estarem sentadas lado a lado. Alex usava uma saia de couro que deixava suas pernas expostas e Piper se perdia ali por alguns segundos. A loira, por sua vez, usava uma calça jeans escura e colada que valorizava suas curvas, juntamente a uma blusa preta justa de alças com detalhes em renda. Alex não ficava para trás e analisava a mulher dos pés à cabeça, ela nunca havia lhe visto com roupas informais e, como tinha imaginado, a médica escondia um belo corpo.
***
Ao chegarem ao local, enfrentaram uma fila rápida – afinal, ainda era semana – e logo entraram. Piper percebeu que Alex era quase como uma celebridade por ali, muitos homens e mulheres dos mais variados tipos lhe cumprimentavam o tempo todo, juntamente à Nicky. Achou estranha a abordagem de alguns: gritos, abraços demorados, alguns lhe davam selinhos e passavam as mãos por seu corpo. Era divertido, mas não era o que a loira estava acostumada a ver. Alex era bem educada e lhe apresentava a todos, que também a recebiam praticamente com a mesma empolgação.
O local era clássico. Contava com uma luz avermelhada que o deixava aconchegante e quente, tinha quadros que relatavam a sua história por todas as paredes e possuía um bar enorme, mesas de sinuca e uma pista de dança para aqueles que a quisessem usar. Polly andava de mãos dadas com Piper, a loira imaginou que por medo de ser abordada por outra mulher, Nicky havia sumido e Alex acompanhava as duas mostrando o local, já que elas não o conheciam. Elas achavam tudo encantador, drag queens e pessoas com traços de androginia passavam por elas o tempo todo, as duas se sentiam as mais “esquisitas” dali, mas a sensação era ótima, o clima contagiante e a música tão boa quanto todo o resto.
- Por que uma boate gay, Alex? – Polly perguntou quando elas chegaram ao bar.
- Como você pode ver, as pessoas são ótimas, o ambiente é aconchegante e nenhum homem irá nos importunar por aqui – Alex disse alto no ouvido de Polly por conta do som.
- Ok, você me convenceu! – Polly disse sorridente.
- O que vocês vão querer beber? – Alex perguntou.
- Eu não vou beber... – Piper respondeu colocando as duas mãos para cima na altura dos seios.
- Sem essa, doutora, eu disse que você iria beber e não gosto de ser contrariada – Alex disse descontraída.
- Tudo bem, Alex, mas só um drink, ok?
- Combinado – Alex sorriu. – O que você vai querer?
- Eu quero uma cerveja – Polly se pronunciou e Piper a olhou com estranhamento.
- Pipes, nada de reprovação hoje, tudo bem? – Polly disse enquanto se movia fraquinho ao ritmo da música.
- Eu não falei nada e... Vou querer um cosmopolitan.
Alex riu. – Tudo bem, Carrie Bradshaw.
Alex também pegou uma cerveja e as três ficaram por ali observando o movimento, até que algum conhecido puxou Alex para a pista, ela tentou arrastar Piper mas a loira resistiu e ficou por ali a analisando. A morena usava uma saia de curta e uma blusa fina branca de alças, o look ficava perfeito e Piper não conseguia tirar os olhos dela, ela dançava sensualmente ao ritmo da música e flashes do sonho da loira apareciam a todo momento, portanto ela decidiu beber mais um pouco para tentar esquecer o fato.
Depois de alguns drinks e do sumiço de Polly, Piper ria para as paredes e parecia que as luzes do local se moviam o tempo todo.
- Pipes, anda, vem dançar! – Alex chamou a puxando pela mão.
- Eu não sei dançar, Alex! – Piper disse sorrindo.
- Ninguém se importa com isso aqui, anda logo! – E então puxou a loira para a pista.
As duas seguiram juntas para o centro, várias pessoas dançavam por ali ao som dos mais variados hits que iam da década de 60 até os dias atuais. Piper acabou se soltando, a leveza que o álcool juntamente com as luzes e o som reuniam era extraordinariamente agradável, ela não se sentia daquela forma há muito tempo, e a presença de Alex ali só melhorava – ou piorava, não conseguia definir – tudo. A morena movia o corpo e os cabelos em um ritmo constante, colocando os braços pra cima e movendo os quadris de uma forma envolvente. Piper a olhava como se ela fosse uma miragem, algo de outro mundo.
Com uma sessão de David Bowie, as duas dançaram como se não houvesse mais ninguém na pista, elas criavam passos, sincronizavam os movimentos e, claro, riam muito durante todo o processo. Provavelmente, aquela era a primeira vez que as duas estavam na presença uma da outra e apresentavam-se de forma genuína, sem máscaras e sem esconder sentimentos confusos e conturbados. Alex achou Piper extremamente adorável, ela tinha um humor peculiar, ria de todas as suas piadas e não hesitava em segui-la nos passos da dança improvisada, além disso, ver a loira ali, junto a si, sem fazer um papel, sendo verdadeiramente ela mesma era cativante. Alex se sentia confusa, no fundo ela sabia o que era todo esse encantamento, mas preferia aguardar para ver o que a vida lhe reservava.
Ao som de Modern Love, as duas cantavam o mais alto que conseguiam e dançavam juntas. A cena era um deleite aos olhos de quem via, as duas mulheres se divertiam como crianças, parecia que o mundo, naquele momento, só se referia a elas, nada mais existia.
- Alex, você é maravilhosa, sabia? – Piper, alterada, disse à Alex em seu ouvido, enquanto a abraçava segurando sua cintura.
- Você que é, meu bem, estou tão feliz em te ver assim, essa já é a minha versão favorita de você – Alex respondeu também a abraçando.
- Então você não gosta das outras?
- Eu não disso isso, eu gosto de você, Piper, de verdade! – A morena lhe disse em seu ouvido e Piper a olhou nos olhos.
- Hey, Al – um rapaz chamou Alex. – Toma aqui, por minha conta – ele disse a beijando no rosto e lhe entregou algo que Piper não conseguia ver. Alex segurou o objeto e voltou o olhar para Piper.
- O que é isso? – Piper perguntou.
- Algo para deixar essa festa ainda mais legal. Você quer? – Piper a encarou por um tempo e depois compreendeu.
- Não quero, e você também não deveria usar – disse colada ao corpo de Alex.
- É só uma diversãozinha, Pipes – Alex lhe disse com aquele sorriso convincente. – Me espere aqui por um minuto – Alex saiu em busca de uma bebida e Piper ficou ali observando tudo, até que...
- O que? – Viu a cena mais inusitada da noite: Polly aos beijos com... Nicky?
A loira se dirigiu ao local. – Polly? – Chamou a amiga a puxando pelo braço. Polly ficou completamente surpresa.
- Pipes?? Onde você tava, eu não te achei... – Ela disse sem graça.
- O que você tá fazendo, Polly? – Piper gritou.
Polly olhou para Nicky, que só moveu os músculos da testa com expressão de “não tenho nada a ver com isso", olhou para Piper... – Olha, to fazendo o que você deveria estar fazendo! Agora vá atrás da sua gostosona gigante e me deixe! – Disse dando as costas para a amiga e voltando ao que estava fazendo.
Piper ficou chocada, era sério aquilo? Fora a imagem mais inusitada que ela vira em muitos anos, mas tudo bem, não havia nada de normal naquela noite mesmo.
- Ei, você não ficou onde eu pedi – Alex voltou.
- Desculpe, é que...
- Vem, eu adoro essa música! – Alex a puxou.
A música era algum pop dos anos 2000, não saberia nomear a cantora. Alex fazia uma coreografia sexy dançando encostada ao corpo de Piper que ficou um pouco sem graça, mas não o bastante para não aproveitar o showzinho particular. Alex a incentivava a dançar junto, a puxava para mais perto, ela usava a desculpa da dança para ter mais contato com a loira, a bebida junto aos alucinógenos a deixavam ainda mais desinibida, ela dançava com toda a sensualidade que sabia que tinha: rebolava, mexia no cabelo, abraçava a loira e lhe dava beijos em lugares estratégicos. Piper já sentia algum grau de excitação, normalmente ela fugiria dali, mas toda a situação não lhe permitia.
- Alex... Sabia que eu sonhei com você? – Ela disse rindo abraçada à mulher.
- Sonhou? – Alex abriu seu melhor sorriso. – Como foi isso?
- Não posso te falar – disse gargalhando.
- Por que? – Alex a abraçou e elas foram seguindo devagar para um canto mais afastado da pista.
- Eu não posso – Piper disse rindo descontroladamente. – Foi muito louco, sabe?
- Foi bom? – Alex perguntou aproveitando para arrastar levemente o lábio na orelha da loira. Piper arrepiou.
- Foi... Muito bom – respondeu ainda sorridente.
- Então me conte, o que custa?
- Acho que custa a nossa mais nova amizade.
Alex a olhou nos olhos, Piper desceu o olhar para a boca dela.
- Por que você faz isso? – Piper perguntou.
- O que? – Alex riu.
- Me deixar assim... Você sabe que isso é loucura, não sabe? – Piper a apertou mais forte, pela cintura.
- Eu não faço nada, você que sempre chega até mim.
- Você me acha bonita, Alex? Assim, de verdade! - A loira perguntou falando alto, por conta do som.
- Você tem alguma dúvida disso? Você é maravilhosa, deslumbrante – Alex disse tirando alguns fios de cabelo do rosto avermelhado de Piper.
- Por que você faz programa, Alex?
Alex ficou sem graça e riu. – Eu não tenho uma resposta para isso – nesse momento, o cabelo de Piper parecia brilhar como ouro, Alex apertou os olhos mas não adiantava, lá estavam eles dourando em sua visão.
- Você deve ser tão boa nisso – Piper disse rindo. Alex riu mais ainda.
- A minha fama é das melhores – piscou para Piper, que ainda brilhava. – Sabia que seu cabelo está brilhando? – Perguntou gargalhando.
Piper não entendeu, inicialmente, mas logo compreendeu que deveria ser consequência da substância.
- Alex, você não deveria usar essas porcarias! Eu sou médica, não devia ter deixado você tomar isso – disse gritando, brava.
- Não se preocupe, loirinha, isso não faz nem cócegas em mim – disse rindo e jogando a cabeça para trás. Piper lhe deu um beijo no pescoço.
- O que você está fazendo? – Alex lhe perguntou.
- Algo que eu provavelmente vá me arrepender amanhã – disse olhando para a boca da morena.
- Piper, eu não vou ser o brinquedinho que você brinca escondida por ser inapropriado – Alex disse passando os dedos entre os cabelos loiros, eles brilhavam ainda mais quando ela mexia.
- Cala a boca, Alex – disse virando as posições e encostando a morena na parede.
- Você tem coragem de me calar? – Alex perguntou rindo e mordendo o lábio.
- Você acha que eu não sei que também mexo com você? Você não me engana – Piper disse muito próxima a Alex, elas podiam sentir o hálito uma da outra.
- Eu não tenho nada a esconder – Alex disse rindo provocante. Piper odiava aquela prepotência misturada a mistério que ela possuía... Filha de uma puta cínica, descarada, gostosa...
Nesse momento, Polly viu as duas de longe. Elas estavam perto, muito perto, e apesar de torcer por aquilo, ela sabia que Piper não estava em seu estado natural e resolveu interferir.
- Pipes? – Disse lhe tocando na cintura. Piper a ignorou e continuou a olhar para Alex.
- PIPER! – Gritou.
- O que, Polly? – Ela disse estressada.
- Hora de ir embora – Polly disse séria.
- Eu não quero ir agora.
- A sua cabeça é enorme – Alex disse rindo olhando para Polly.
- O que? – Polly fez uma careta.
- Ela tá drogada – Piper se pronunciou.
- Mais um motivo para irmos embora.
- Mas eu não quero, Polly! – Piper disse parecendo uma criança.
- Piper – ela puxou a amiga e lhe falou ao ouvido – vocês estão a ponto de transarem aqui na frente de todo mundo! Eu não teria problemas com isso mas sei que amanhã você iria querer me matar, então estou lhe prevenindo! – Disse séria.
Piper a ouviu e parou por um tempo, calada. – Tudo bem, vamos embora. – Polly sorriu.
- Eu tenho que ir, Alex – se voltou para a mulher que olhava para as próprias mãos, muito curiosa.
- Nãaao, por quê? – Ela lamentou.
-A Polly disse que nós precisamos ir agora ou eu vou fazer uma loucura – a loira disse rindo. Alex riu junto.
- Você ainda precisa aprender muito para fazer loucuras, Pipes – lhe disse ao ouvido. – E eu ainda quero saber sobre o seu sonho.
Piper riu. – Um dia eu te conto.
Então, Alex segurou o queixo de Piper com a mão e lhe deu um selinho. A loira alertou-se na hora.
- Tchau, baby, até a próxima – e então ela voltou à pista, indo dançar com Nicky e outras moças que estavam por ali e vibraram com sua presença.
Polly e Piper a olhavam boquiabertas.
- A gostosona te beijou? Uau! – Ela disse com um sorriso no rosto.
- Vamos embora... – Piper disse passando a mão nos lábios.
No caminho de volta, Polly apagou e Piper ficou acordada, se recuperando dos efeitos da bebida, pensando naquela loucura de noite. Só ali, naquele local, ela havia vivenciado várias novas sensações e emoções, e a cada dia se convencia mais de que era esse o objetivo de Alex Vause em sua vida, só tinha medo das sensações que viriam pela frente e ela tentaria, inutilmente, evitar.
New York City is the place where they said hey baby, take a walk on the wild side
I said hey Joe, take a walk on the wild side
Lou Reed
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