_O que você vai fazer agora, Nick?- Ela perguntou na esperança que eu dissesse "seguir em frente" para que eu pulasse o penúltimo, e o pior, estágio; a depressão. Mas para que mentir?
_Provavelmente vou ir para casa e fumar. Talvez beber. Ah, você pode me devolver meu cantil?- Eu disse em um tom meio abatido e ela percebeu.
_Quer conversar sobre o que aconteceu?
_Não. Não há o que falar. _Tudo bem então. Quando sair chame o Johnny, por favor. Me levantei e sai do consultório. Johnny me esperava como sempre e eu dei o recado.
_A doutora quer falar com você.
_Compreendido.
_Vou esperar no carro.- Ele estranhou eu me autoconvidando para a carona, não pela parte do autoconvite, mas pela parte de eu aceitar, já que todas as vezes eu voltei sozinho.
Fui para o carro e depois de um tempo ele apareceu. Havia em seu rosto uma preocupação maior que de costume e a todo momento ele parecia tentar ver minhas reações.
~~~~~~~ Johnny ~~~~~~~
No consultório a doutora lontrina me disse algo que me chocou.
_Como Nicholas, o malandro, pode estar propenso a depressão?- Aquela idéia me incomodava demais.
_É bem simples: Algo terrível aconteceu, ele descarregou toda a raiva e energia que tinha, fez merda e perdeu as esperanças quando terminou a xícara e faltava a parte mais importante. O que lhe resta agora é o sofrimento.
_Isso é... Isso não é vida.- Disse com um tom enojado pensando na vida apenas com sofrimento.
_É maravilhoso que você pense assim. Tenho coisas a te pedir.
_Pode mandar.
_Você vai prestar atenção em tudo o que Nick faz, tudo e também no que ele não faz.
_Certo.
_Se eu estiver correta, e torço para que não esteja, ele vai ficar cada vez mais em... Como posso dizer? Cada vez mais em um foda-se para o mundo. Ele vai se fechar cada vez mais. Você tem que retirar uma reação dele, de preferência que seja boa, mas tem que fazer ele se mexer.
_Mais alguma coisa?- Eu disse em um tom de eu quero ajudar.
_Sim, tente não deixar ele sozinho... Ele tem família, certo? Tentei tirar alguma coisa dele, mas ele é muito esquivo nesse assunto.
_Ele jamais comentou e eu não quis me intrometer, mas vejo se consigo algo.
_Apenas não force a barra... _Tudo bem e obrigado, doutora.
Sai de lá e fui direto para o carro. Nick estava olhando para fora pela janela, pensativo e com uma expressão um pouco caida.
_Quer ir comer alguma coisa? Eu pago.- Disse querendo ver uma reação positiva.
_Comida de graça? Aceito.- Ele disse tentando parecer animado.
_Vamos para um dos meus locais preferidos, o maior rodízio de pizza de LS.
_O que a doutora disse?- Não entendi como, mas sua expressão se tornou seria e um pouco sombria do nada.
_Nada fora do comum. Pra mim ficar de olho em você e fazer você se mexer.- Não envolvi a parte da depressão... Creio que se ele ache que está tudo bem então vai ficar tudo bem.
_Sei. Você sabe que quando se vive entre vigaristas e crápulas aprendemos a reconhecer mentiras. Não sabe?- Ele quer me fazer recuar?
_E o que tem a ver isso com o que a doutora falou?- Não recuei e não mostrei que estava mentindo. Acho que mandei bem.
_Até você?- Ele sussurrou bem baixo e então permaneceu em silêncio o tempo todo.
Chegamos ao local e eu comi como um desesperado, enchi a pança e um pouco a cara, porém Nick não comeu muito e nem quis beber. Isso não é bom. O levei até em casa e ele mantia um olhar sério e triste pela janela. O acompanhei até o apartamento e entrei para usar o banheiro.
_Gostou, Nick?- Perguntei tentando tirar algo dele, mas consegui apenas:
_Sim, obrigado Johnny.
_Nick, como vai a família? Você mal fala deles... Tem irmãos?
_Não há o que falar da família quando não se tem.- Ele disse em um tom meio poético.
_Sinto muito.
_Já passou.
_Então você sabe que vai passar.
_Porem jamais esquecerei.
Eu estava perdendo feio em todos os diálogos e ele nem se esforçava, apenas falava. Fui obrigado a jogar a toalha para não causar mais estrago.
_Bom, Nick, eu tenho que ir... Preciso chegar em casa e já estou começando a sentir o efeito do álcool...
_Até mais.
_Até... - Sai do apartamento e fui para casa... Cheguei rápido no meu apartamento e fui dormir, sabia que os dias a frente seriam difíceis.
Na manhã seguinte eu fui visitar Nick e algo estranho aconteceu.
_Nick, abre a porta por favor.- Esperei um pouco e nada.
_Nick?- Não ouvia nenhum som, então foi para o terraço do prédio... Pode parecer estranho, mas eu realmente gosto da vista que o prédio do Nick oferece, da pare ver o mar bem ao longe e a elevação da terra na direção contrária.
Cheguei lá e tive uma visão que me gelou o corpo. Nick no parapeito com uma foto na mão. Fui chegando perto aos poucos, sem que ele percebesse e quando estava próximo o suficiente me joguei nele.
_Você tem algum problema?- Disse Nick com uma raiva imensa.
_Por que você queria pular?- Ele me olhou e entendeu aos poucos.
_Não estava pensando em pular, apenas gosto da vista daqui de cima... Me faz recordar... lembranças boas.- Quando ele terminou eu queria enterrar minha cara em qualquer lugar, mas pelo menos a raiva dele havia passado.
_Que foto é essa?- perguntei vendo a foto na mão dele que tremia e se movimenta devagar demais, acho que ferrei com a mão dele sem querer.
_Uma foto que nem lembrava que existia... Estava em um buraco na minha carteira... É a Judy, a foto 3 por 4 que ela usou para entrar na polícia, estava nas coisas dela. Eu a guardei e acabei esquecendo... Por parte foi bom, eu não a destruí.
_Acho que...- Eu ia me desculpar, mas ele falou antes.
_Eu quero ficar só agora.- Acenei com a cabeça demonstrando que entendi e fui embora.
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_E então?- Perguntou a doutora um pouco ansiosa por notícias.
_Ele ainda está triste e se isolou um pouco, mas nada fora do normal. Diminuiu as atividades mas não parou. Mesmo sabendo que ele poderia estar muito pior é incomodo ve-lo dese jeito. Não tem como saber quando isso vai passar?
_Tudo depende dele e apenas dele.
_Compreendo. Espero que ele melhore logo.
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