História Nictofilia - Error

Nictofilia

Capitulo 12 – Erro

 Fiz toda a minha rotina normalmente, totalmente imersa em meus pensamentos. Já é terça, sexta feira é o meu aniversário. Eu estou com muito, muito medo disso. Somente hoje de manhã que eu realmente lembrei que estava chegando grande dia.

 Estava ansiosa, não consegui dormir direito de noite, mas ainda sim estava bem, creio eu.

 Minha tia reclamou umas dez vezes comigo durante a noite e a madrugada. Toda hora eu levantava para beber água, o que acordava ela e gerava reclamações. No final, não consegui dormir e passei a madrugada inteira estudando para as provas finais que seriam na semana que vem.

 Pelo menos fiz algo de produtivo com minha ansiedade.

 Após terminar de me arrumar, desci esperando Loretta na sala conversando com a minha tia, mas JongIn estava ali, conversando com a minha tia. Estranhei e fui para perto deles.

 - Cadê a Loretta? – Perguntei arrumando a mochila nos meus ombros.

 - Não sabemos, esperávamos que você soubesse. – Ele disse me olhando surpreso. – Ela sumiu ontem de noite, nem a tia dela sabe a onde ela está.

 Um sentimento de preocupação me atingiu em cheio, quando eu menos esperava, eu estava levantando a voz e dizendo para ele que deveríamos procura-la.

 - Calma, uma hora ela aparece. – Minha tia me acalmou. – Vá para a escola que depois vamos procura-la, ok?

 Me acalmei e suspirei, concordando.

 - Vamos? – O anjo me chamou e eu concordei.

 Ele pegou no meu braço e num piscar de olhos aparecemos na praça deserta.

 Caminhamos em silencio até o prédio. Eu não queria conversar tão cedo com alguém, queria encontrar Loretta e contar tudo o que eu estava passando nessas últimas horas, eu queria que alguém me consolasse como ela faz tão bem.

 Quando chegamos, percebi que nem ela, nem Namjoon estavam ali. Eu ainda tinha a esperança de que ela ainda viesse para a aula, mas me enganei.

 Os outros me olharam esperançosos, esperando que eu soubesse alguma coisa sobre o paradeiro da híbrida, então balancei a cabeça negativamente. Eles desaminaram na hora.

 - Não dá para rastrear ela de alguma forma? – Perguntei enquanto caminhávamos.

 - Não. – BaekHyun disse triste. – Loretta tem uma magia que a impede de ser rastreada, é quase impossível acha-la. Só a achamos na Coréia por causa do ChanYeol.

 - Até mesmo para mim é difícil. – O ruivo do meu lado admite. – Ela sabe se esconder muito bem.

 Abaixei a cabeça, pensando.

 E então viro o meu rosto em direção a Junmyeon, que se mantinha de cabeça abaixada. Observei atentamente as suas expressões faciais, ele estava tenso, e murmurava coisas aleatórias. Isso me parece muito suspeito.

 ChanYeol aperta a minha bochecha, me chamando a atenção.

 - Vamos encontra-la, não se preocupe. – Sorriu levemente para mim e eu retribui o sorriso.

 Paramos no meio do corredor, por que a partir dali nos separaríamos para a nossas salas.

 A educação na Coréia é considerada uma das melhores do mundo, porém, eu percebo que a maioria dos estudantes não é tão feliz assim com isso. Várias horas estudando, pouco tempo para dormir, além da competividade que os próprios pais impõem neles. Parecem robôs, sem vida, sem vontade própria, dedicando-se a maior parte do tempo para estudar.

 O sistema funciona, só que isso gera problemas seríssimos, altas taxas de suicídio, insatisfação da população jovem e entre outros.

 Ás vezes me sinto culpada por estudar tão pouco e me manter no top 3 da escola. Mas eu não tenho culpa se consigo associar as informações mais rápidas do que certas pessoas, além do meu QI ser alto.

 Me sinto deslocada em meio a essas pessoas, que fazem isso. Como uma pessoa pode ser totalmente submissa a conceitos tão ruins? Estudar a ponto de desmaiar somente para agradar os pais, tudo bem que estudar é essencial, mas do jeito que eles incentivam é obsessão.

 Sinceramente, odeio isso.

[...]

 Quando fomos para o refeitório, puxei Junmyeon pelo braço e olhei para ChanYeol. Ele entendeu que eu precisava conversar com o anjo a sós e concordou.

 Encarei ele friamente.

 - Cadê a Loretta? – Perguntei.

 Algo me dizia que ele sabia alguma coisa e meus instintos sempre estão certos e quase nunca me engano. 

 - Não sei. – Respondeu me olhando assustado.

 Soltei um riso sarcástico.

 - Você está agindo estranho desde cedo e algo me diz que você sabe de algo. – Cruzei os braços, séria.

 Ele suspirou, engolindo seco.

 - Sim, você está certa. Eu sei de algo, mas não posso contar.

 - E por que não me conta? – Digo ficando mais calma.

 - Há coisas que você não deve saber ou nem imaginar em imaginar. – Falou e depois sumiu.

 Eu estou começando a odiar essa habilidade deles.

 Fecho meus punhos com força, com muita raiva.

 Começo a andar sem rumo pela escola, pensando em mil e uma formas de matar um anjo. Tem que ter algum jeito de matar eles.

 Esses dias eu ando muito estressada e sem a Loretta por perto só dificulta.

 Acabo esbarrando em alguém por acidente, já me apresso em pedir desculpas, me curvando.

 - Hana-ssi, sem problemas. – Reconheci o tom animado do garoto.

 - Hoseok? – Digo surpresa. Nem percebi que o tratei informalmente, então tento corrigir o meu erro. – Digo, Hoseok-ssi.

 - Tem problemas com o jeito formal e informal? – Perguntou e eu assenti. – Pode me tratar informalmente, então. – Sorriu.

 - Você é estranho. – Digo informalmente, dando um passo para trás.

 Ele sorri mais ainda e solta uma gargalhada. Que pessoa ri quando ela é chamada de estranha? Só Jung Hoseok. Ele me dava uma sensação estranha, que meu corpo interpreta como medo. Eu só quero fugir dele.

 ‘Loretta, se estiver me ouvindo, me salva!’ Apertei os olhos enquanto desejava isso na minha mente, esperando que eu tivesse alguma conexão sobrenatural com ela e Loretta viesse me salvar.

 - Você é engraçada. – Disse se recuperando do riso.

 - Estou falando sério. – Engulo seco. – Você está começando a me dar medo, tanto que eu quero correr. – Simplesmente petrifiquei quando dei mais um passo para trás.

 Ele me olhava nos olhos, quase como se soubesse cada pecado meu. E isso me assustava. Ele era alguma criatura sobrenatural e eu sabia disso, mas não sabia qual.

 Alguém me tira daqui!

 Hoseok se aproximou, ficando sério a medida que se aproximava.

 - E por que não corre? – Perguntou retoricamente. Observando as minhas mãos que tremiam nervosamente.

 - Porque é isso o que o medo faz. – Respondi apertando os dedos das minhas mãos. – Ele te impossibilita de se utilizar certos comandos normais para o corpo, além de projetar em sua mente coisas que não existem. – Respirei fundo.

 - Você realmente é engraçada. – Ele sorriu sem mostrar os dentes.

 Se eu disser que depois disso parei de ter medo dele, eu estaria mentindo. O medo transformou-se em raiva.

 Não sabia ao certo de onde vinha isso, mas meus instintos acabavam ficando muito alertas quando eu estava com ele. E isso não é legal. Desde a nossa conversa anterior, eu percebi que algo no fundo da minha mente me mandava correr para bem longe dele, mas não obedeci.

 Assim que abri os olhos, minha consciência ficou leve, eu mal raciocinava. Perdi a audição, tato e paladar. A visão demorou um pouco a sumir.

 A última coisa que eu vi, foi o mundo a minha volta caindo. Eu estava caindo.

~/~

 Hoseok se assustou quando viu a garota cair como se fosse uma pluma jogada no ar. Cedeu tão rápido que mal teve tempo de reagir normalmente. Para sua sorte, tem ótimos reflexos e segurou-a antes de sua cabeça bater contra o chão. Amparou-a em seus braços e deitou a cabeça dela no seu colo.

 Se desesperou.

 ChanYeol apareceria a qualquer momento, pronto para tirar seu couro e vender no mercado negro, se bem que um rim vale bem mais..., mas isso não importava agora, tinha que ajudar Hana.

 -  Meu deus! – Exclamou desesperado. – Hana, acorda. – Balançou o corpo dela levemente, mas não obteve nenhum resultado.

 Verificou os sinais vitais dela, estavam completamente normais. Pelo o que parecia, Hana tinha entrado em estado de coma.

 Uma luz branca surgiu no local, logo, Loretta já se encontrava curando Hana.

 - Droga! – Praguejou.

 Ela vestia uma camisa bem grande para o corpo dela, além de estar descalça e seus cabelos estarem bagunçados, dando a impressão de ter acabado de acordar.

 Ela parou de cura-la e suspirou.

 - O que ela tem? – Perguntou preocupado.

 - Por que se importa? – Rebateu com outra pergunta, olhando-o com a sobrancelha arqueada.

 E então ele ficou calado, pensando se deveria ou não contar.

 - Eu sei bem quem é você, Jung Hoseok. – Falou com a voz carregada de sarcasmo. – Clã da Luz, família Jung, aquela que praticamente extinguiu os Ichida. – Olhou-o acusatória.

 Hoseok arregalou os olhos e abriu a boca, surpreso.

 - Sua família tem muito sangue nas mãos. – Olhou para a japonesa desacordada.

 - Eles têm, eu não. – Retrucou sério. – Eu só queria concertar o que a minha família fez de errado, se eu fosse amigo de Hana e ela me aceitasse, eu teria a consciência mais limpa.

 - Se você diz... – Falou sem dar muita importância. – Hana ainda não passou pelo ritual. – Informou e foi cortada.

 - Ela ainda não tem quinze anos?! – Exclamou surpreso, recebendo um olhar de ‘sério que você perguntou isso’ de Loretta. – Ah... – Murmurou. – Me desculpe pela pergunta idiota.

 - Ótimo. – Sorriu sarcástica. – Isso é a última fase de ritual do Clã dela. Nesse momento, ela está em estado de inercia ou em coma, como preferir.    

 - Você não pode ajuda-la? – Perguntou e ela negou com a cabeça.

 Uma figura ruiva surge ao lado deles e todos os músculos de Hoseok ficam tensos.

 - Última fase? – Perguntou o demônio.

 - Sim.

 - Já mandei o purpurina dizer para a diretora que a Hana está passando mal.

 - Por que o sinal ainda não soou? – Hoseok perguntou reparando nesse pequeno detalhe.

 - Paramos o tempo desde que ela caiu. – Falaram os outros dois em sincronia.

 - Logo, logo o sinal toca. – Loretta fala pegando Hana no colo e levantando-se. – E antes que isso aconteça, eu vou leva-la para casa. – Disse sorrindo e desaparecendo.

 O sinal toca e eles se apressam em se levantar. O ruivo encara o garoto seriamente, quase com a sua expressão psicopata tão famosa.

 - Caso você faça algo que machuque a Hana, eu mesmo te caço e te torturo como ninguém antes torturou alguém na história da tortura. – Falou ameaçando-o com seus olhos vermelhos.

 Hoseok engoliu toda a saliva que tinha na boca e deu muitos passos para trás. Então era aquele o demônio ChanYeol, aquele que colocava medo em quase todas as criaturas existentes, aquele que poderia matar qualquer um só com o olhar.

 Mas mesmo assim, o Jung não desistiria tão facilmente, cumpriria a promessa que tinha feito a si mesmo e não era Park ChanYeol que o faria mudar de ideia.

 Os alunos logo lotaram o corredor, assim, o ruivo pode se misturar entre eles, sumindo da visão do coreano.

 Ele soltou todo o ar que prendia e respirava fundo para tentar controlar seu corpo trêmulo.

 Nunca tinha sentido aquilo antes, era como se a própria morte tivesse o encarado.

ΩΩΩΩ

 Loretta colocava um cobertor em cima da amiga, que dormia tranquilamente. Ela se preparava psicologicamente para o que estava por vir. Os gritos, a dor e as lágrimas de Hana. É como o velo ditado diz: sem dor, sem ganho. Só que nesse caso, é elevado ao extremo.

 Já tinha avisado a tia dela sobre o ocorrido e a mesma começara a chorar. A sua menininha sofreria como sofrera, ela sabia muito bem como era e o peso que a partir de agora ela carregaria consigo.

 Nada na vida é um mar de rosas.

 - Por que você está com o cheiro dele? – Junmyeon falou atrás de Loretta.

 Ela pulou com o susto e colocou a mão no coração.

 - Que susto! – Murmurou.

 - Me responda, por que você está com o cheiro dele? – SuHo perguntou sério.

 Ela recuperou a compostura e devolveu o olhar.

 - Isso não lhe interessa. – Respondeu com ignorância.

 Ele abriu a boca para retrucar, mas lembrou que realmente ele não tinha poder sobre a vida dela. Loretta Averoff é livre para fazer o que bem quisesse.

 - Ok. – E sumiu novamente, aparecendo banheiro da escola.

 Ele socou a parede com o mínimo de força o possível, já que um soco seu poderia comprometer toda a estrutura do edifício.

 Sentia-se um lixo.

 Perdera sua amiga e estava a um fio de estragar suas novas amizades.

 Realmente, aquilo tudo era um carma na sua vida.

Alguns momentos antes da Hana desmaiar

 Loretta acordara sentindo-se estranhamente bem. Levantou da cama de casal e colocou os pés descalços no assoalho frio da pequena cabana de Namjoon.

 Coçou os olhos e levantou, levantando os braços para cima. Sua coluna estralou juntamente com as ligações dos seus braços. Ela se sentia renovada, como se tudo o que passou na noite passada não passasse de um pesadelo.

 Caminhou para fora do quarto, encontrando Namjoon lendo um livro sentado no sofá. Continuou seu caminho até ele e sentou do seu lado, começando a ler o livro também. Ele riu pela atitude dela e fechou o livro.

 - Ei! Eu estava lendo. – Protestou sorrindo.

 - Corrigindo, você estava me imitando. – Bateu o livro na cabeça dela.

 Ela riu e colocou o cabelo que se encontrava no seu rosto para trás com os dedos.

 - Está melhor? – Perguntou colocando o livro de lado e prestando atenção nela.

 - Sim, obrigado. – Sorriu. – E você, dormiu?

 - Não, passei a noite toda te observando, por quê? – Sorriu mostrando suas covinhas.

 - Credo! – Pegou uma almofada próxima e jogou nele. – Maníaco! – Acusou apontando o dedo para ele.

 Namjoon recebeu a almofada em sua cara e depois jogou-a para longe. Puxou a grega para perto e começou a fazer cócegas nela. Uma coisa que ninguém sabe sobre a híbrida é que ela é muito sensível a cócegas, somente o demônio sabe disso e se aproveita disso.

 Ela soltava altas gargalhadas pela casa, se contorcendo de dor e tentando acertar ele com os pés ou as mãos, mas sempre falhava. Isso continuou por alguns minutos até ela não aguentar mais.

 - Para, por favor! – Suplicou com lágrimas nos olhos.

 Ele atendeu o pedido e parou, voltando a sua atenção ao livro ao seu lado.

 Por um momento, Loretta para subitamente de se mover e fica com o olhar perdido.

 Ela some e ele sorri.

 - Não importa quanto tempo passe, você sempre colocará as necessidades dos outros a cima das suas. – Falou sozinho enquanto voltava a sua leitura de onde tinha parado, só que dessa vez com um sorriso enorme no rosto.

 Aquele lado anjo dela sempre esteve ali, somente não percebiam pela armadura fria que a própria construíra a fim de se proteger do mundo, aquele era seu lado demoníaco.

 As aparências enganam.

 Um anjo poderia ser mal, assim como um demônio pode ser bom.

 Nada é completamente impossível.

 Poderia um demônio e um anjo se amarem?

 Um erro pode mudar tudo.

 Seria um erro amar seu oposto?