História Nictofilia - Culpa

Nictofilia

Capitulo 15 – Culpa

 6 de agosto, um belo sábado ensolarado na Coreia do Sul. Com uma ótima temperatura, tempo favorável e sem indícios de chuva.

 Normalmente, num sábado como esse, estudantes dormem até tarde, afim de repor suas energias. Porém, alguma força sobrenatural insiste em tornar a minha vida mais estranha e agitada do que já é. E quando eu menciono força sobrenatural, eu me refiro a Loretta Averoff. Fui acordada as cinco da manhã, indo depois do café, para a casa de MinSoo. Eu iria treinar e aprender a usar seja lá o que eu tenha de habilidade.

 Sinceramente, eu prefiro o ChanYeol me acordando.

 Eu ainda estava grogue de sono e as vistas embaçada, mal reconheci Hoseok me esperando na porta da casa, além de Namjoon, BaekHyun, SuHo, JongIn, ChanYeol, Minseok, JongDae e MinSoo ali, só depois de fechar bem os olhos e coça-los.

 O Jung me lançou um sorriso tão brilhante que eu achei que iria ficar cega, além de um olhar irritado do Park, afinal, por que tanto ódio?

 - Hana-ssi! – Ele exclamou assim que me viu, eu só acenei levemente com a cabeça.

 Loretta me guiou até o lugar a onde o círculo estava desenhado e parou na minha frente.

 - Meu treinamento é feito na prática, então, se prepara. – Ela avisou, mas eu não raciocinei direito, apenas quando senti sua aura bem perto de mim e eu coloquei os braços na minha frente em forma de ‘X’, para me proteger.

 - O que? – Soltei indignada.

 Ela tinha me dado um murro. Eu me encolhi por instinto e então coloquei os meus braços naquela posição. A ardência veio segundos depois, junto com a minha consciência de volta. Não deu muito tempo para pensar em reagir pois ela continuou tentando me acertar com golpes rápidos. Eu conseguia capta-los e então desviar, mas por pouco não sou acertada por muitos.

 Ela não tinha medo de me acertar com força ou qualquer outra coisa? Pelos poucos segundos que eu consegui ver seu rosto, ela sorria divertida e parecia não estar levando aquilo muito a sério. O que me irritou.

 Durante sua sequência de golpes, pude perceber uma falha e então a acertei. Loretta armou a mão para me acertar com seu punho direito, então eu o segurei, puxando-o levemente para baixo e então lhe dei uma rasteira com o pé esquerdo, fazendo-a cair e então eu pulei para trás, afastando-me.

 Meu pulmão ardia por causa do esforço, eu já não me aguentava mais de pé. Os picos de adrenalina que eu sentira no momento da luta estavam acabando e então veio a exaustão. Meu corpo não estava habituado a isso e eu estava sentindo as consequências disso.

 Olhei para onde Loretta deveria estar, mas não vi nada ali e me desesperei. Olhei para trás e a vi com um sorriso orgulhoso no rosto. Arqueei uma sobrancelha, como?

 - Você aguentou bem. – Disse com a mão no meu ombro. – Agora, descanse um pouco por que não vou pegar leve daqui a umas horas. – E virou-se para as escadas da casa de MinSoo, aonde estavam os outros.

 Cedi e cai de joelhos, suspirando profundamente, quase como numa suplica.

 BaekHyun correu até mim, sorrindo.

 Ele não deveria sorrir enquanto eu estou aqui quase morrendo. Idiota.

 - Eu nunca vi alguém aguentar tanto os golpes da Loretta. – Parabenizou-me sentando na minha frente.

 - Quantos segundos? – Eu perguntei cansada.

 Ele me olhou estranhamente.

 - Não foram segundos, foram minutos. Sendo mais exato, vinte minutos. – Falou e eu abri a boca, desacreditada.

 Por isso o cansaço, mas nem parecia que tinha sido tudo isso para mim.

 Levantei com a ajuda do anjo e ele me levou até as escadas e ali fui elogiada, bastante até. Loretta também estava sentada lá e me dava algumas dicas de como usar bem a minha força. ChanYeol me olhava orgulhoso e se gabava que tinha achado alguém a altura para enfrentar Loretta, e ela respondia com um cascudo em sua cabeça.

 Eu somente ri, aguardando ansiosamente pelo próximo treino que eu sei que não vou me sair bem.

[...]

 Toda a minha certeza que eu não me sairia bem no próximo havia sido comprovada.

 Já eram umas duas horas da tarde e eu estava caída na terra, pois Loretta tinha me acertado uma rasteira, retribuindo a mesma coisa que eu fizera mais cedo com ela.

 Até agora, eu já tinha perdido umas três vezes em menos de uma hora e meia. Se com isso ela estava usando pouca força e pegando leve comigo, imagine o que ela fará no difícil!

 Ela me estendeu a mão para eu levantar e eu aceitei, tirando toda a poeira da minha roupa quando fiquei de pé. Os meninos vieram até mim, para se certificar que estava tudo bem. Não é como se ela fosse me matar, né?

 - Eu estou bem. – Disse para BaekHyun, que insistia em procurar algum ferimento visível em mim.

 Loretta bufou e revirou os olhos.

 - Eu não vou matar ela. Todas as outras sobreviveram, Hana também vai. – Falou com os braços cruzados e com uma expressão irritada.

 Como assim outras?

 Fiz uma expressão confusa e eles sorriram para mim.

 - Tem alguém que consegue derrotar a Loretta aqui? – Hoseok perguntou olhando para a mesma, que deu ombros.

 - Não sei. – Respondeu simplista.

 Eles se entreolharam e então SuHo levantou uma mão.

 - Posso tentar. – Disse e todos olharam para ele.

 Nos afastamos rapidamente. Sentamos na escada novamente e observamos os dois ali no centro.

 MinSoo sentou ao meu lado e seus olhos brilharam ao ver a cena, assim como os outros. Só eu que não estava entendendo nada.

 - Por que toda essa expectativa? – Perguntei e então todos olharam para mim.

 - Talvez ela venha a usar suas asas. SuHo não é tão fraco assim. – JongIn, sentado no degrau abaixo de mim, respondeu-me sorrindo.

 - O que tem de tão especial nas asas dela? – Voltei a fazer mais uma pergunta, extremamente curiosa.

 - Você vai ver. – Todos falaram ao mesmo tempo e voltaram a prestar a atenção na cena que se desenrolava ali.

 Fiz o mesmo e apoiei meus braços sujos de terra nas minhas pernas.

 Eles se posicionaram frente a frente. Loretta estava impassível e SuHo... bom, não consegui adivinhar sua expressão. Ele falara algo que eu não pude entender e assim que terminou, levou um soco no queixo. Foi só eu piscar que Loretta tinha sido rápida o suficiente para que eu não visse ela mexendo o pé para tal ato.

 O anjo bateu as costas no tronco de uma árvore, que rachou, quase caindo.

 Abri a boca, novamente, surpresa. Quando ela disse que estava pegando leve, estava mesmo.

 - MinSoo, tem problema se eu fizer um pequeno estrago? – Loretta perguntou sorrindo.

~/~

 Logo após a fala dela, Junmyeon levantou do chão, com o queixo doendo e fora do lugar. Ignorando toda a dor que reside em suas costelas e maxilar, ele voltou a caminhar e durante o percurso, colocou o osso de volta ao lugar, com uma dor insuportável.

 Ela estava com um sorriso mais que satisfeito estampado em seu rosto. Ele usou a sua velocidade e tentou devolver o murro dela, mas só tentou mesmo. Ela desviou e apertou seu pulso fortemente, a ponto de quebrar o osso dele.

 Decidiu não quebrar o osso do outro por causa daqueles que os assistiam, não iria fazer isso na frente deles. Mas se fosse em outra situação, seria a primeira coisa que ela faria.

 Ele aproveitou isso e chutou-a, empurrando-a para frente e a fez chocar-se contra uma árvore, e dessa vez, o tronco rachou e caiu. O barulho da madeira chocando-se contra o chão fez muitos pássaros voarem.

 Três segundos.

 Três segundos foi o suficiente para que ela sumisse, aparecesse na frente do anjo, chutasse-o e então as costas machucadas batessem novamente contra uma outra árvore.

 Os que assistiam estavam chocados, principalmente os dois anjos e Hana, eles nunca imaginaram que seria assim. Os dois estavam se controlando para não se matarem ali mesmo, principalmente Loretta, podia-se ver isso no olhar deles. Os que não sabiam da história achavam aquilo confuso, porém, quem sabia estava entendendo tudo. Estava tudo esclarecido nas entrelinhas.

 Outro estrondo, mas tinha sido da árvore que Junmyeon havia se chocado.

 Mais uma revoada de pássaros.

 Mais golpes duros e cheios de significados.

 Os dois se envolviam em um combate interno. A cada golpe trocado eram palavras não ditas que refletiam tudo o que sentiam. Raiva, mágoa, orgulho, tristeza, arrependimento, culpa e ódio.

 Quando finalmente Loretta acertou-o com um soco com quase toda a sua força foi que ele se viu obrigado a utilizar suas asas. Os ossos cortaram tanto a pele quanto o tecido de sua roupa, já nem doía mais de tantas vezes que fizera isso em sua vida. Ele tentava se manter no chão com os calcanhares enfiados na terra, mas não foi suficiente, pois ele continuava indo para trás e a qualquer hora iria cair para trás. Então usou as asas como suporte, fincando-as no chão enquanto ia para trás, doeu um pouco, mas não se comparava a toda a dor que ele sentia emocionalmente.

 Então Junmyeon parou e olhou a figura feminina metros a sua frente, ela ofegava e os seus braços estavam com alguns cortes, assim como a sua roupa. Ele não estava diferente, desde o maxilar até o seu pâncreas, que tinha sido acertado por ela, doíam e o anjo não tinha a cura como poder principal, tão pouco secundário. Sendo assim, só lhe restava BaekHyun para cura-lo.

 Ele desapareceu, reaparecendo em cima dela, já pairando no ar, com o punho armado. Ele depositou o mínimo de força que pôde naquele golpe, então desceu rapidamente, pegando-a desprevenida. Tudo o que se vira foi uma nuvem de poeira levantando-se do local em que Loretta estava.

 Hana levantou preocupada e Namjoon a parou, colocando um braço na sua frente e acenando negativamente com a cabeça. Ela voltou a se sentar, contrariada e preocupada. Aquilo estava mais para UFC do que uma simples briga para saber quem era mais forte.

 Dali, surgiu um buraco um pouco raso, não passando dos dois metros de profundidade. Dentro, estava Loretta envolta em um casulo cinza e plumado. A asa esquerda saiu de cima da direita e então ela se levantou, de cabeça baixa e com um filete de sangue em seus lábios entreabertos num sorriso tenebroso.

 Hana abriu a boca, de novo, surpresa.

 - A cor da asa dela é cinza?! – Exclamou desacreditada e os outras acenaram com a cabeça.

 Sim, as asas delas eram a mistura perfeita de branco e preto. Loretta é única, então por que suas asas não seriam?

 - Parabéns! – Exclamou levantando os olhos e então pode-se ver a feição assustadora dela.

 Seus olhos estavam mais escuros que o normal, o sorriso de dar medo destacava-se na face branca e um pequeno caminho vermelho escorria pelo canto dos seus lábios.

 Junmyeon não se abalou, sabia que acontecia exatamente isso quando ela queria dar medo nas pessoas, mas isso não o assustava.

 Ela limpou o sangue com as costas das mãos e endireitou-se, ainda sorrindo. As asas fizeram um movimento que lembrava a do estralar de costas e então se emplumaram, dando a impressão de serem maiores do que já eram. Tanto tempo sem usa-las, Loretta estava cogitando a ideia de estarem enferrujadas.

 O clima ficou tenso novamente, ninguém sabia o que viria a seguir. É tudo tão imprevisível quando se trata daqueles dois.

 - Isso está parecendo um... – BaekHyun começa incerto. Estava com medo.

 Ele não conhecia um terço da história deles e falar sobre aquilo no céu era quase um tabu. Lembra-se vagamente de memórias soltas de quando era criança, e nelas, envolviam Junmyeon e Loretta, mas eles eram amigos não? Até hoje não demonstram isso? Então, o que estava acontecendo bem diante de seus olhos?

 - Um acerto de contas? – Namjoon, o que mais sabia do passado deles ali sem ser eles mesmos, perguntou retoricamente. – É exatamente isso que você está pensando.

 Sim, um acerto de contas. SuHo propôs aquilo para se acertar com ela, se o único jeito para que eles conversassem fosse lutando ou brigando, ele faria quantas vezes fosse o possível.

 Foi então que Loretta o imobilizou colocando seus braços para trás, por cima das asas, o levando para cima, ela sumira e aparecera atrás dele e assim, pode realizar tal façanha. Ele se debatia e ela só aumentava o aperto e quando já estavam bem no alto, ela o soltou. As asas os mantinham lá no alto e seus pés tocavam o nada, seria uma boa sensação se não houvessem pensamentos homicidas na mente de Loretta naquele momento.

 - Já pode me perdoar? – Ele perguntou ofegante.

 Ela ainda continuava com aquele olhar que poderia mata-lo qualquer hora e isso só o deixava mais triste.

 - Não. – Disse friamente e então partiu para o ataque.

 Desapareceu e apareceu em cima dele, que nada fez. As mãos estavam juntas, formando algo parecido com um martelo. Ela o acertou na cabeça e então ele perdeu a consciência, perdendo todos os sentidos e então caiu como uma pessoa sem paraquedas. Ele parecia uma pluma de tão leve. Loretta, respirou fundo e voou o mais rápido o possível até Junmyeon, pegando-o antes que ele espatifasse no chão virasse poeira.

 Ela repousou majestosamente no chão com o outro em seus braços. Os que assistiam correram rapidamente até eles.

 Loretta entregou Junmyeon para JongIn e então sumiu em uma fumaça cinza, sendo seguida por Namjoon.

 SuHo se encontrava inconsciente e com vários cortes, hematomas e sangue avista. BaekHyun logo se apressou em dar os primeiros socorros no amigo e depois foram para casa, junto com JongIn.

 ChanYeol suspirou e sorriu para Hana, tentando tranquiliza-la. Eles e Hoseok foram logo para casa, desculpando-se pelo estrago causado além dos transtornos.

 Hana não sabia o que tinha acontecido ali e estava preocupada com eles, não é todo o dia que presencia uma luta daquelas proporções.

 - Acho que o meu treino não deu muito certo. – Ela comentou enquanto seguiam a trilha para a cidade.

 Os dois a olharam e então sorriram tristes.

 - Geralmente, depois que todos os acontecimentos ruins acabam, vêm as coisas boas. – Hoseok tentou anima-la.

 Ela voltou-se para seus pensamentos internos, orando para que nada de ruim tenha acontecido a eles.

ΩΩΩΩ

 Loretta tinha ido parar numa parte do bosque, não sabia aonde exatamente, mas foi o primeiro lugar que lhe veio à mente.

 Caiu de joelhos no chão, estava acabada, tanto fisicamente quanto psicologicamente. Tinha colocado todo o ódio que sentia para fora e o que sentia era um vazio, mas o ressentimento ainda estava ali cobrindo o vazio.

 As asas ainda estavam ali, ela olhou-as e sorriu tristemente, foi justamente por elas que ela tinha sofrido, mas não as odiava.

 O platinado apareceu um pouco atrás de si. Ele caminhou e então sentou-se ao seu lado.

 - Já disse que suas asas são lindas? – Comentou descontraído.

 Loretta soltou uma risada fraca e colocou seus cabelos para trás. Tombou seu corpo para o lado e encostou-se no amigo, que passou os braços por sua cintura e apertou-a contra seu corpo.

 - Você fala isso desde aquele dia, como me esquecer? – Sorriu entre o abraço e fechou os olhos. – Eu me sinto vazia agora. – Confessou.

 - É isso o que acontece quando o ódio acaba e você consegue o que queria. Você se esqueceu do que o velhote nos ensinou? – Seu tom repreensivo lhe causou arrepios e a vontade de chorar.

 - Você sabe como ninguém o quão difícil é perdoar diante da minha situação.

 É tão difícil perdoar alguém quando o orgulho nasce quase como um gene em seu DNA. Sem ao menos perceber, ele já se manifesta desde pequenos e quando acontece, é difícil retira-lo.

 - Ainda acho que você deve pelo menos dar uma chance a ele, ele se arrependeu a ponto de você deixa-lo inconsciente. – Namjoon riu.

 A Averoff olhou-o e um sentimento estranho lhe preencheu. É algo que pesa na consciência, a ponto de lhe fazer chorar, faz seu estômago ficar estranho e suas mãos soarem.

 - O que é isso? – Disse com a voz franca, olhando para suas mãos.

 - Culpa, arrependimento, chame como quiser. – Ele sorriu ao ver a reação dela.

 Exatamente o que Junmyeon sentiu por décadas, culpa. Agora, ela está sentindo, não na mesma intensidade, mas ainda era a tão famosa culpa.

 - Descanse um pouco e depois vá ajuda-lo, posso sentir as dores dele daqui. – Disse e depois deu um beijo no topo da cabeça dela, que assentiu e então fechou os olhos, dormindo.

 Podia se curar sozinha, sem esforço algum e dormindo seria a forma mais rápida.

[...]

 Seu corpo doía em todas as partes possíveis. Mesmo com BaekHyun fazendo o possível, ele ainda não sabia utilizar direito seus poderes de cura, só aliviou um pouco as dores. Mal podia se mexer e respirar sem sentir dor. Se soubesse que ela iria pegar tão pesado assim, nem tinha feito aquela loucura, mas esperava que tinha surtido efeito, porque se não, tudo tinha sido em vão.

 Já estava de noite e tentava dormir, mas o sono não vinha e resolveu olhar para o teto, pensando em qualquer besteira que lhe distraísse.

 Sentiu a presença dela perto de si e olhou em sua direção, embora escuro, ele podia muito bem enxergar através da escuridão. Loretta veste um vestido branco simples e seus cabelos estão soltos. Ela se aproxima lentamente dele, sem proferir palavra alguma. Senta-se na cama e as palmas de sua mão ficam brancas. Em todos os momentos Junmyeon a acompanhou com o olhar.

 Ela coloca as mãos aonde ficariam as costelas dele do lado esquerdo, começando a juntar todas as costelas que a mesma quebrou. A pele dele formigou com o contato, assim como seus tecidos internos. Esse repentino toque o fez corar, pois o mesmo estava sem camisa, mas ela nem se importou.

 Diferente de BaekHyun, que só curava ‘por cima’, diga-se de passagem, ela conhecia toda a anatomia humana – que se assemelha a dos anjos, se não igual – e assim, podia curar qualquer tecido ou célula. Ela sabia a onde estava o problema e agia rapidamente.

 Seu rosto estava iluminado pela luz e finalmente SuHo pode vê-lo claramente. Ele estava sereno demais, talvez sua ideia maluca tenha dado certo.

 E do mesmo modo foram as outras costelas e depois de uns segundos, ele já conseguia respirar direito.

 - Obrigado. – Murmurou respirando fundo por causa da dor.

 - De nada. – Respondeu já com as mãos no maxilar dele, lembrava-se muito bem do golpe que acertara de primeira nele, fora libertador para ela.

 Junmyeon olhou para ela novamente, ela se concentrava no que estava fazendo e tinha um olhar perdido.

 - Por que está fazendo isso? – Perguntou estranhando o comportamento dela. Não era muito comum Loretta ajuda-lo, principalmente com machucados.

 - Você pode ficar sentado? Preciso curar suas vertebras. – Disse despreocupada. Ajudou ele a ficar sentado e levantou, ficando atrás dele e começando a curar ali. – Não sou tão ruim assim, Junmyeon. Diga-se de passagem, que algo chamado culpa se apossou em minha mente.

 Ele abriu a boca surpreso e depois sorriu. ‘Finalmente’! Pensou.

 - Eu só... Ai! – Começou incerto, mas foi parado por que ela acabou encostando em um hematoma em seu braço. Ela murmurou ‘desculpa’ envergonhado e voltou a fazer o que estava fazendo. Os dedos suaves começaram a bater contra a pele do mesmo, ele corou novamente não estava acostumado com o toque feminino e vindo dela principalmente. – O que está fazendo? – Murmurou.

 - Procurando algum hematoma interno, avisa quando doer. – Disse e bateu o dedo num hematoma perto do ombro direito dele, que soltou uma exclamação de dor. – Achei! – Comentou divertida, que o fez rir.

 - Eu só queria que você me perdoasse. Eu consegui? – Remexeu-se para trás e a encarou. – Se não, não me importo em ganhar outra surra. – Sorriu.

 Loretta revirou os olhos, colocando as mãos agora nos braços dele, curando agora os hematomas que estavam visíveis ali.

 - Você sempre teve pensamentos suicidas? – Resmungou vendo as manchas roxas desaparecendo.

 - Na verdade... – Sorriu envergonhado e a outra o olhou, balançando a cabeça negativamente.

 - Seu outro braço. – Pediu esticando a mão e o braço esquerdo foi lhe oferecido. Ela segurou o punho dele suavemente e as manchas foram desaparecendo.

 - Lotte. – Chamou-a pelo apelido num sussurro, ganhando toda a atenção que ele tanto queria. – Você me perdoou? – Suplicou, quase chorando.

 Suspirou e deixou o braço alheio pois já tinha terminado. Passou os dedos por entre a madeixas castanhas, deixando-as para trás, mas não adiantou muito porque elas voltaram caindo suavemente na sua testa. Pela primeira vez, olhou diretamente nos olhos castanhos dele, pensando nas suas palavras.

 - Eu te perdoo, mas você sabe que não é tão difícil esquecer. Não posso voltar a agir como eu agia contigo antes, mas posso tentar te dar uma chance. – Sorriu fracamente e um sorriso iluminado surgiu na face do anjo.

 Junmyeon a abraçou pelo pescoço, colocando a cabeça no ombro dela, sentindo os cabelos dela fazerem cocegas em seu rosto, apertando-a ainda mais. Loretta ficou sem reação de início, mas logo passou os braços ao redor da cintura dele e escondeu o rosto na curvatura do pescoço dele. Aproveitando que foi correspondido, puxou-a para mais perto com os braços.

 Era tão bom saber que ela estava voltando a ser o que era antes e sentir que ela estava correspondendo seu abraço parecia mais um sonho do que a realidade.

 - Junmyeon, não é normal ficar abraçado tanto tempo assim. – Disse com a voz abafada após dois minutos na mesma posição.

 Ele riu e se separou dela.

 Pegou o pingente dentro do bolso da calça moletom que usava, em seguida, pegou o braço dela e puxou para si, colocando o pingente lá. Usando seus poderes, fez uma pequena corrente de cristal que corresponde ao tamanho exato do pulso dela e prendeu o pingente de narcíseo ali.

 - Lembra-se da lágrima que você deixou escapar aquele dia? – Perguntou e ela assentiu. – É ela. Eu queria que ficasse com isso. – Sorriu ao vê-la entretida com a peça.

 - É linda. – Confessou ao olhar pela terceira vez a flor. – Obrigada. – Agradeceu sorrindo, dessa vez, um sorriso sincero. – Desculpa por ter causado tantos ferimentos em você, acabei perdendo um pouco do controle. – Desviou o olhar para suas mãos, que se encontravam na cama.

 - O que importa é que todo o ódio que você sentia acabou saindo de alguma forma. – Sorriu sem mostrar os dentes e levou a mão até o rosto dela, levantando-o para encarar-lhe. – Eu estou feliz por ter você de volta, só isso importa. – Fez carinho em sua bochecha com o polegar.

 A hibrida esboçou um sorriso triste, como resposta, ganhou um selar dele no topo de sua cabeça, assim como o próprio fazia quando crianças assim que ela ficava triste. Loretta fechou os olhos, aproveitando a sensação.

 Ele acabou que se mexendo demais naquele ato e descobriu mais um hematoma na região da barriga. Murmurou algo relacionado a dor e voltou a se deitar, com a mão no local. Ela riu e voltou ao seu antigo trabalho de curar o que ela mesma causara.

 - Quando foi que você ganhou tantos gominhos na barriga? – Observou quando prestou atenção no local.

 Junmyeon gargalhou a ponto de fazer sua barriga doer.

 - Treinamento. – Respondeu enquanto limpava uma lágrima no canto do olho.

 - Tá. – Deu de ombros, e finalmente terminara. – Consegue levantar e ficar de pé? – Ele assentiu e ela o ajudou a se levantar.

 Sentia um leve incômodo nos músculos das pernas, mas nada preocupante.

 - Acho que já estou um pouco melhor. – Falou enquanto se soltava de Loretta. – Não doí tanto.

“Por favor, não saia da minha vista”

 - Então acho que já posso ir embora. – Fez alusão a começar a caminhar até a porta, mas ele puxou seu braço e lhe deu outro abraço. – Isso tudo é carência? – Perguntou enquanto retribuía o abraço.

 - Deixa de ser reclamona, sua chata. – Resmungou enquanto a apertava.

 - Quer mais uma costela quebrada? – Ameaçou e o anjo riu.

 Na verdade, ele ainda não acreditava que finalmente tinha quebrado uma barreira do frio coração de Loretta. Era surreal demais. Se fosse um sonho, ele queria pelo menos aproveitar. Não queria que ela fosse embora tão rapidamente, era seu instinto protetor falando mais alto.

“Não desapareça mesmo quando o amanhã chegar”